31 de jan. de 2013

Ser Humano

56 – Disse Jesus: Quem conhece o mundo, achou um cadáver; e quem achou um cadáver, dele não é digno o mundo.

Deus é a alma do Universo, e o mundo é o corpo de Deus.

Deus é também a alma do homem, e o homem sem Deus é um corpo sem alma, um cadáver.

Tudo que é material é invólucro morto, mas o que é espiritual é conteúdo vivo.

Sabemos que a alma crea o corpo, mas o corpo não pode crear a alma.

Há quem só se interesse pelo corpo, como quem adora um cadáver.

Há quem só se interessa pela alma sem corpo, como se a alma fosse fantasma.

Mas o homem não é corpo sem alma, nem alma sem corpo. O homem é alma-corpo, uma interpenetração orgânica de corpo e espírito. Não é nem cadáver nem fantasma. O homem é um espírito que se revestiu de um corpo. Por ora, o corpo é material; mas o espírito transforma o corpo material num corpo imaterial. O espírito individualizado, a alma, sempre terá corpo; somente o Espírito Universal, a Divindade não tem corpo.

O homem integral a tal ponto intensifica o princípio espiritual da sua alma que esta, aos poucos, permeia e penetra totalmente o corpo e faz dele uma perfeita manifestação do espírito.
Paulo afirma que nosso corpo é um templo do espírito, e, por isto, é necessário fazer do corpo um veículo digno do espírito.

O homem que considera o mundo como um cadáver já possui uma visão superior da Realidade, porque já sabe que o Creador do mundo é espírito, e deste homem espiritual não é digno o mundo.
Hoje em dia, até os maiores corifeus da ciência afirmam que o Universo é governado pelo espírito, pela consciência cósmica, e que o homem pode ter consciência desse espírito.

SOMENTE RESPIRAÇÃO

Nem Cristão ou Judeu ou Muçulmano, nem Hindu,
Budista, sufi, ou zen. Nem nenhuma religião
ou sistema cultural. Eu não sou do Oriente
ou do Ocidente, nem do oceano ou
da terra, nem natural ou etéreo, nem
composto de elementos de qualquer tipo. Eu não existo,
eu não sou uma entidade neste mundo ou no próximo,
não descendo de Adão e Eva ou qualquer
história da origem. Meu lugar é sem lugar, um traço
do sem traço. Nem corpo nem alma.

Eu pertenço ao amado, vi os dois
mundos como um e o chamado deste e sei,
primeiro, último, exterior, interior, somente essa
respiração respirando ser humano.

     

Há um caminho entre voz e presença
onde a informação flui.

Em silêncio disciplinado ele se abre.
Com conversa vã ele se fecha.
 
RUMI

30 de jan. de 2013

Igualdade


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55 - Disse Jesus: Quem não odiar seu pai e sua mãe não pode ser meu discípulo. Quem não odiar seus irmãos e suas irmãs não é digno de mim.

Estas palavras drásticas também se encontram nos outros Evangelhos, e, através de séculos, têm escandalizado muitos.

Quem lê estas palavras e as interpreta à luz do ego humano, como acontece geralmente, revolta-se e acha impossível que Jesus tenha dito isto, ele que tanto insiste em amar o próximo como a nós mesmos.

Mas, quando alguém compreende estas palavras de uma perspectiva superior, compreende-as e concorda com elas. Compreende a sua alma, e não se limita ao corpo delas. Compreende até a expressão mais drástica ainda: “Quem não odiar a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.

O Mestre manda que o homem renuncie a tudo que tem para poder ser seu discípulo. Todo o ter nos escraviza, somente o ser nos liberta.

Em todas essas expressões há um paralelismo entre as ilusões que o homem tem e a verdade que o homem é. Mesmo pai, mãe e irmão são creacões do ego humano, que nos podem escravizar, e nada têm que ver com a verdade do nosso Eu divino que nos liberta. Todo o parentesco carnal é ilusório, somente a afinidade espiritual é verdadeira. Quem não odiar o erro não pode amar a verdade.

Mas, como o homem profano nada sabe da verdade, não pode compreender a linguagem dos iniciados. Podemos amar os egos por amor ao Eu, que é a fonte deles, mas não podemos amar o ego por amor ao ego; porque o ego é uma ilusão e ninguém deve amar uma ilusão.

Nos outros Evangelhos se lê: “Quem amar seus pais e irmãos mais do que a mim não é digno de mim”, estabelecendo o paralelo entre o mundo do ego humano e do Eu divino.

Para que o homem possa concordar com certas palavras veementes do Cristo, deve ele assumir a mesma perspectiva em que Cristo estava – e tudo lhe será evidente.

 

29 de jan. de 2013

Pobre de Espírito


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54 - Disse Jesus: benditos os pobres, porque deles é o Reino dos Céus.

É este o início do chamado Sermão da Montanha. Em Mateus lemos “pobres pelo espírito”, que ilustra o verdadeiro sentido dessas palavras. Jesus proclama felizes e herdeiros do Reino de Deus os que se desapegaram interiormente dos bens materiais. Muitos homens são materialmente pobres, porque nasceram na pobreza e não conseguiram enriquecer. Não são estes os felizes por serem materialmente pobres. Outros nasceram na riqueza material e continuam apegados aos bens materiais; nem estes são os felizes.

Felizes e herdeiros do Reino são somente os que, quer ricos quer pobres materialmente, não estão apegados aos bens materiais, nem pela posse nem pelo desejo da posse. Felizes são os que, pelo poder do espírito se libertaram da tirania da matéria, quer possuam quer não possuam externamente bens materiais. A pobreza pelo espírito não vem das circunstâncias de fora, mas sim da substância de dentro. Nenhum fato representa valor. O fato de alguém ser rico ou pobre não representa valor espiritual. Fatos são circunstâncias externas; valor é substância interna. Valor é creação do livre arbítrio, da consciência.

Fatos nos podem fazer gozar ou sofrer.

Valor nos faz feliz ou infeliz.

Felizes são os que, pelo poder do espírito, se libertaram da tirania da matéria, quer possuindo quer não possuindo bens materiais.

Circuncisão Espiritual


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53 - Seus discípulos disseram a ele: é a circuncisão vantajosa? Respondeu-lhes ele: se fosse vantajosa, vossos pais vos gerariam circuncidados em vossas mães. Mas a verdadeira circuncisão no Espírito, essa se torna vantajosa em todos os sentidos.

Paulo também compreendeu a circuncisão em sentido espiritual e não deu importância à circuncisão material, embora fosse israelita circuncidado.

A circuncisão prescrita por Moisés era uma medida higiênica, que, ainda hoje, é praticada por muitos povos não israelitas. Mais tarde, a circuncisão judaica passou a ser interpretada como cerimônia religiosa.

A circuncisão, como símbolo material, não tem valor espiritual; o simbolizado espiritual, porém, representa a saúde e higiene do espírito, como Paulo explicou maravilhosamente em suas Epístolas.

 

28 de jan. de 2013

O Profeta Diário


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52 - Seus discípulos disseram a ele: Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos eles falaram de ti. Disse-lhes ele: rejeitai o vivo que está à vossa frente e falais dos mortos.

É exatamente isto que está acontecendo há quase 2.000 anos no cristianismo: os teólogos revolvem velhos manuscritos e apelam para homens mortos, a ver se descobrem o Deus vivo. Se encontram Deus nos escritos dos mortos, acham que o encontraram de verdade, e fabricam teologias e dogmas sobre esse Deus do passado. Mas será que Deus só é o Deus do passado e o Deus dos mortos? Será que Deus não é também o Deus do presente e o Deus dos vivos? Será que Deus não está presente em cada um de nós? Se Deus é um Deus onipresente e oni-vivente, porque não seria possível encontrá-lo aqui e agora? Por que somente crença num Deus longínquo – e não experiência num Deus propínquo? Por que Deus se teria revelado a Abraão, Isaac e Jacob – e não a Mahatma Gandhi, Albert Schweitzer e outros homens de nosso século?

A teologia chegou ao cúmulo do absurdo de codificar que a revelação de Deus começou com Abraão, cerca de 2.000 anos antes de Cristo, e terminou com João, cerca de 100 anos depois de Cristo. Quer dizer, Deus teria aberto o expediente das suas revelações apenas durante 2.100 anos, e depois o teria fechado para todo o sempre – por que? – Será que esgotou o repertório das suas revelações e nada mais tem que acrescentar? Ou será que não existe mais um homem capaz de receber revelação divina?

Além disto, Deus teria revelado somente a um pequeno povo de Israel, que não perfaz e nunca perfez um por cento da humanidade. Esqueceu-se de sumérios, assírios, babilônios, persas, gregos, egípcios, hindus, germanos, romanos, etc – isto é, esqueceu-se de mais de 90% da humanidade.

“Se o Deus da nossa teologia existe, escreve o historiador britânico Arnold Toynbee, então é ele o maior dos monstros”.

Deus se revela através de cada homem capaz de ouvir a voz dele. E tem havido através de todos os tempos e em todos os povos homens capazes de ouvirem a voz de Deus. Na vida de Mahatma Gandhi não há menos verdades inspiradas do que nos livros dos profetas de Israel.

Por que renegamos o Deus dos vivos e andamos em busca do Deus dos mortos? Não está Deus além da vida e da morte?

Nos últimos tempos, uma parte da humanidade está descobrindo Deus aqui e agora, dentro da própria alma, através da verdadeira meditação.


26 de jan. de 2013

Advento do Novo Mundo



51 - Seus discípulos disseram a ele: quando sucederá o repouso dos mortos e quando chegará o novo mundo? Respondeu-lhe ele: o que esperais já veio, mas não sabeis.

Passado são ilusões dos nossos sentidos; somente presente é a verdade. O eterno agora é o onipresente aqui. Tudo que está sujeito à sucessividade de tempo e espaço é ilusão; a verdade é a simultaneidade. Nada foi e nada será, tudo é.

Difícil é isto compreender para o homem que nunca se libertou da tradicional escravidão dos sentidos e da mente, e não entrou na gloriosa liberdade dos filhos de Deus, que é do espírito.

Do mesmo modo, perguntaram a Jesus: quando virá o Reino de Deus? E ele respondeu: O Reino está dentro de vós; não virá no futuro, mas está aqui e agora no presente. O aqui e agora são a Realidade; o ali e acolá, o antes e depois são ilusões dos nossos sentidos. O homem comum só percebe objetos sensoriais.

Quando o homem é iniciado na realidade do espírito tudo lhe é presente no Eterno e Infinito, nada lhe é ausente no tempo e no espaço.

O Eterno não é a soma total dos tempos. O Infinito não é a soma total do espaço. O Eterno é a negação de qualquer parcela de tempo. O Infinito é a negação de qualquer partícula de espaço.

Quando o homem se esvazia de todas as percepções sensoriais e de todas as análises mentais, então lhe acontece a grande invasão do Eterno e do Infinito; então tudo que lhe estava ausente se torna presente, e tudo que lhe era distante se torna próximo. Para o homem assim ego-esvaziado e cosmo-plenificado, nada é sucessivo, tudo é simultâneo; ele está em Deus, e Deus está nele; ele está no Universo, e o Universo está nele.

Santo Agostinho, nos seus “solilóquios”, pergunta a Deus: onde estavas tu, quando eu vivia nos meus pecados? E Deus lhe responde: Eu estava no teu coração. Agostinho replica: Como podias tu, a Infinita santidade, estar em mim, o maior pecador? E Deus responde: Eu estava sempre presente a ti, mas tu andavas sempre ausente de mim. Agostinho protesta: Como podias tu estar presente a mim, se eu estava ausente de ti? E Deus responde: A tua ausência era uma ilusão, a minha presença é a Verdade; tu fazias de conta que estavas ausente de mim, para poderes viver tranquilamente nos teus pecados; mas Eu a Verdade, não posso estar ausente de ninguém, porque eu sou a Onipresença.

Os discípulos querem saber quando começa o mundo novo e quando será o repouso dos mortos; e Jesus lhes faz ver que isto não depende de um quando ou de um onde objetivo, mas sim de um como subjetivo.
Semelhantemente, a mulher samaritana do Evangelho quer saber de Jesus onde se deve adorar a Deus, se no monte Garizin, se no Templo de Jerusalém. E o Mestre responde com um como: Deus deve ser adorado, não aqui e acolá, mas “em espírito e em verdade”. O onde se referia a um lugar objetivo, o como designa uma disposição subjetiva do homem. Quando o homem adora a Deus em espírito e em Verdade, então desaparece a diferença entre esse onde e esse quando.

Não depende do quando do tempo nem do onde do espaço se o mundo novo se vai manifestar e se os mortos têm repouso; depende unicamente de uma nova consciência do homem... A superação da pequena ego-consciência ilusória e o despertar da grande consciência verdadeira.

"Faz parte desse momento histórico a desmitificação da espiritualidade. Você tem que abrir os olhos para o que há de espiritual na simplicidade de tomar um café, de comer um sanduíche, de ler um bom livro... ou de, simplesmente, respirar.
Não pode estar relacionado às sensações, pois a essência, o Buda/cristo está além dos sentidos. Toda a busca que ocorre através dos sentidos, em algum ponto, se frustra.
A verdadeira experiência mística não é sensorial, nem intelectual. Não é sequer uma experiência tal qual estamos condicionados a compreender o que seja uma experiência. Não existe imagem, conceito ou pensamento que definam a Consciência que você é.
A mente insiste em conceitualizar, em tonificar, em imaginar. Ela, inclusive, investe boa parte do seu tempo em comparar. – "Você viu as barbas longas daquele yogi hindu? Somente quando a minha barba estiver daquele tamanho, estarei onde ele se encontra." É assim que a mente pensa. E você a segue sem pudor – tornando o seu despertar inalcançável.
A mente foi condicionada e a única coisa que você precisa fazer é ver isso transparentemente. Se você puder ver o funcionamento da mente, destacado dela, poderá desidentificar-se das suas propostas. Nesse ponto, se abre uma miríade de possibilidades, nasce o Ser. Novo. Fresco. Virgem. Intocável. Livre de qualquer discurso pregresso. Autêntica e originalmente, você."  SATYAPREM


 

25 de jan. de 2013

O Ser


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50 - Disse Jesus: se vocês disserem qual a vossa origem, dizei-lhes: viemos da Luz, de onde a Luz se originou dela mesma. Ela permaneceu e revelou-se a si mesmo em sua imagem. Se vos disserem quem sois vós, dizei-lhes: somos seus filhos e somos eleitos do Pai Vivo. Se vos perguntarem qual é o sinal do vosso Pai em vós, respondei-lhes: é o movimento e o repouso.


A luz é a origem de todas as coisas. Isto disse Moisés, numa grandiosa intuição cósmica: No primeiro AEOM  Deus creou a luz. Isto escreveu Einstein, no auge das suas análises matemáticas e da sua intuição espiritual.

Tudo é lucigênito – tudo pode ser lucificado.

O que vale na física vale também na metafísica. Em sentido simbólico, a Divindade é luz. E a mais alta emanação da luz divina é o Cristo. Nós também somos emanações da luz divina, embora a nossa luz esteja ainda debaixo do velador do corpo material. Somos lucigênitos – e podemos lucificar-nos. Pela creação divina somos lucigênitos. Pela creatividadde humana podemos lucificar-nos.

O egresso é luz.
O regresso será luz, se o ingresso for luz.
A lucigenitura é de Deus.
A lucificação é do homem.
Entre o egresso e o regresso decorre o ciclo evolutivo do ingresso. É esta a razão de ser da encarnação terrestre do homem.
Somos repouso e movimento – simultaneamente.
Que palavras paradoxais!
Que verdade sublime!

O homem integral, entre o egresso e o regresso, é repouso e movimento, porque é o Ser e o Agir, o Eu e o ego.

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Roda do dharma / Roda da lei

Dai-me um ponto fixo, disse Arquimedes, e eu terei poder sobre todo o Universo.
Dai-me a consciência do Uno imóvel do meu Ser – e eu terei poder sobre todo o verso movediço do meu agir.

Quando uma roda recebe movimento pelo eixo, as periferias estão em movimento, e em movimento tanto mais rápido quanto maior for a distância entre a periferia e o eixo. Mas no centro do eixo não há movimento algum; há repouso absoluto – e esse repouso é força integral. O 100 da força é o 0 do movimento. A força central se revela em movimento periférico. A força imóvel é energeia isto é ergon (atuação) en (de dentro), atuação interna, energia.

Quando o homem chega ao zênite da sua atuação de dentro, da sua energia, parece ele inativo, sem atuação, quando, na realidade, esse não-agir, como diria Lao-Tse, é a fonte de todo o seu agir – e então o seu agir é correto, porque nasceu do não-agir.

O profano pretende agir pelo agir – e o seu agir é ilusório.

O iniciado, e sobretudo, o realizado, age pelo não-agir – e o seu agir é verdadeiro.

Eu sou repouso no meu ser – e por isto posso ser movimento no meu agir.

Se o ego-agir não nasce do Eu-repouso, é um pseudo-agir.

Agir pelo não agir – é esta a quintessência de toda a sabedoria.

A luz age sem movimento nem ruído. O sol nasce silencioso, e silencioso percorre a imensidade do espaço; silencioso desperta epopéias de vida, beleza e felicidade. O segredo da luz é sua onipotência na aparente impotência do seu repouso e do seu silêncio.

Quanto mais o homem se lucifica, mas ele age pelo silêncio e pelo repouso.

Quando compreenderão os profanos que ruído é fraqueza e silêncio é força? Quando compreenderão eles que silêncio é presença, onipresença, e repouso é plenitude, cosmo-plenitude?

"O Amor Transcende Todo Entendimento" -  SÃO PAULO 



 

 

24 de jan. de 2013

Solitário


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49 - Disse Jesus: Felizes sois vós, os solitários e os eleitos, porque achareis o Reino. Sendo que vós saístes dele, a ele voltareis.

O mundo proclama felizes os homens sociais e ruidosos. O homem ego detesta o silêncio e a solidão, porque é para ele ausência e vacuidade – ao passo que a sociedade ruidosa é, para o profano, presença e plenitude.

Muitos são os chamados, poucos os escolhidos e muitos são os vocados, poucos os evocados.
As eternas leis cósmicas são essencialmente hierarquizantes, verticalizantes, servindo-se de grandes multidões para realizar uma pequenina elite. Não interessa às leis cósmicas a massa quantitativa, mas sim a elite qualitativa. A elite conduz, a massa é conduzida. A elite é alma, a massa é corpo.

Todos vieram do Reino; todos fizeram o seu egresso, poucos realizarão o seu regresso, porque poucos conscientizam o ingresso. Quem não conscientiza o seu ingresso não realiza o seu regresso ao Reino. O egresso do Reino é obra de Deus, o ingresso em si e o regresso ao Reino são obra do homem. Deus creou o homem o menos possível, para que o homem se possa crear o mais possível.

A auto-creação do homem pelo ingresso místico é a suprema razão de ser do homem aqui na terra. Esse ingresso em si só é possível graças à resistência que o espírito encontra em face da matéria e sua vitória sobre a matéria.

Onde não há resistência não há sofrimento.
Onde não há sofrimento não há evolução.
Onde não há evolução não há auto-realização.
Onde não há auto-realização não há regresso ao Reino.

"Não concordo quando dizem que sou um sábio ou um “iniciado” na sabedoria. Certo dia um homem encheu o chapéu com água tirada de um rio. O que significa isso? Eu não sou esse rio, estou à sua margem, mas nada faço. Outros homens estão à beira do mesmo rio e em geral pensam que deveriam fazer as coisas por iniciativa própria. Eu nada faço. Nunca imaginei ser “aquele que cuida para que as cerejas tenham haste”. Fico lá, de pé, admirando os recursos da natureza.
Há uma velha lenda, muito bela, de um rabino a quem um aluno, em visita, pergunta: “Rabbi, outrora havia homens que viam Deus face a face; por que não acontece mais isso?” O rabino respondeu: “Porque ninguém mais, hoje em dia, é capaz de inclinar-se suficientemente”. É preciso, com efeito, curvar-se muito para beber no rio.
A diferença entre a maioria dos homens e eu, reside no fato de que em mim as “paredes divisórias” são transparentes. É uma partidularidade minha. Nos outros, elas são muitas vezes tão espessas, que lhes impedem a visão; eles pensam, por isso, que não há nada do outro lado. Sou capaz de perceber, até certo ponto, os processos que se desenvolvem no segundo plano; isso me dá segurança interior. Quem nada vê não tem segurança, não pode tirar conclusão alguma, ou não confia em suas conclusões. Ignoro o que determinou a minha faculdade de perceber o fluxo da vida. Talvez tenha sido o próprio inconsciente, talvez os meus sonhos precoces, que desde o início marcaram meu caminho.
O conhecimento dos processos do segundo plano estabeleceu, muito cedo, minha relação com o mundo. No fundo esta relação é hoje o que já era na minha infância. Quando criança, sentia-me solitário e o sou ainda hoje, pois sei e devo dizer aos outros coisas que aparentemente não conhecem ou não querem conhecer. A solidão não significa a ausência de pessoas à nossa volta, mas sim o fato de não podermos comunicar-lhes as coisas que julgamos importantes, ou mostrar-lhes o valor de pensamentos que lhes parecem improváveis. Minha solidão começa com a experiência vivida em sonhos precoces e atinge seu ápice na época em que me confrontei com o inconsciente. Quando alguém sabe mais do que os outros, torna-se solitário.
Mas a solidão não significa, necessariamente, oposição à comunidade; ninguém sente mais profundamente a comunidade do que o solitário, e esta só floresce quando cada um se lembra de sua própria natureza, sem identificar-se com os outros.
 É importante que tenhamos um segredo e a intuição de algo incognoscível. Esse mistério dá à vida um tom impessoal e “numinoso”. Quem não teve uma experiência desse tipo perdeu algo de importante. O homem deve sentir que vive num mundo misterioso, sob certos aspectos, onde ocorrem coisas inauditas – que permanecem inexplicáveis – e não somente coisas que se desenvolvem nos limites do esperado. O inesperado e o inabitual fazem parte do mundo. Só então a vida é completa. Para mim, o mundo, desde o início, era infinitamente grande e inabarcável.  

Conheci todas as dificuldades possíveis para me afirmar, sustentando meus pensamentos. Havia em mim um daimon que, em última instância, era sempre o que decidia. Ele me dominava, me ultrapassava e quando tomava conta de mim, eu desprezava as atitudes convencionais. Jamais podia deter-me no que obtinha. Precisava continuar, na tentativa de atingir minha visão. Como, naturalmente, meus contemporâneos não a viam, só podiam constatar que eu prosseguia sem me deter.

Ofendi muitas pessoas; assim que lhes percebia a incompreensão, elas me desinteressavam. Precisava continuar. À exceção dos meus doentes, não tinha paciência com os homens. Precisava seguir uma lei interior que me era imposta, sem liberdade de escolha. Naturalmente, nem sempre obedecia a ela. Como poderíamos viver sem cometermos incoerências?

Em relação a alguns seres, era sempre próximo e presente, na medida em que mantínhamos um diálogo interior; mas podia ocorrer que, bruscamente, eu me afastasse, por sentir que nada mais havia que me ligasse a eles. Tinha que aceitar, penosamente, o fato de que continuassem lá, mesmo quando nada mais tinham a me dizer. Muitos despertaram em mim um sentimento de humanidade viva, mas só quando esta era visível no círculo mágico da psicologia; no instante seguinte, o projetor poderia afastar deles seus raios e nada mais restaria. Podia interessar-me intensamente por alguns seres, mas, desde que se tornavam translúcidos para mim, o encanto se quebrava. Fiz, assim, muitos inimigos. Mas, como toda personalidade criadora, não era livre, mas tomada e impelida pelo demônio interior.

“Vergonhosamente, uma força arrebata-nos o coração Pois todos os deuses exigem oferendas, E quando nos esquecemos de algum, Nada de bom acontecerá”, disse Hoelderlin.
A falta de liberdade causava-me grande tristeza. Tinha às vezes á impressão de encontrar-me num campo de batalha. – Caíste por terra, meu amigo! Mas devo prosseguir, não posso, não posso parar! Pois “vergonhosamente uma força arrebata-nos o coração.” Eu te amo, eu te amo, mas não posso ficar! – No momento isso é dilacerante. Mas eu mesmo sou uma vítima, não posso ficar. Entretanto, o daimon urde as coisas de tal modo que é possível escapar à inconseqüência abençoada e, em oposição à flagrante “infidelidade”, permaneço totalmente fiel.  

Poderia talvez dizer: necessito das pessoas mais do que os outros, e, ao mesmo tempo, bem menos. Quando o daimon está em ação, sentimo-nos muito perto e muito longe. Só quando ele se cala é que podemos guardar uma medida intermediária. O demônio interior e o elemento criador se impuseram a mim de forma absoluta e brutal. As ações habituais que eu projetava passavam, geralmente, para o segundo plano, mas nem sempre ou em toda parte. Creio, entretanto, que sou conservador até a medula. Encho o cachimbo, usando o porta-tabaco de meu avô e guardo ainda seu bastão de alpinista ornado de casco de camelo, que ele trouxe de Pontresina, onde foi um dos primeiros veranistas.

Sinto-me contente de que minha vida tenha sido aquilo que foi: rica e frutífera. Como poderia esperar mais? Ocorreram muitas coisas, impossíveis de serem canceladas. Algumas poderiam ter sido diferentes, se eu mesmo tivesse sido diferente. Assim, pois, as coisas foram o que tinham de ser; pois foram o que foram porque eu sou como sou. Muitas coisas, muitas circunstâncias foram provocadas intencionalmente, mas nem sempre representaram uma vantagem para mim. Em sua aioria dependeram do destino. Lamento muitas tolices, resultantes de minha teimosia, mas se não fossem elas não teria chegado à minha meta. Assim, pois, eu me sinto ao mesmo tempo satisfeito e decepcionado. Decepcionado com os homens, e comigo mesmo. Em contacto com os homens vivi ocasiões maravilhosase trabalhei mais do que eu mesmo esperava de mim. Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno vida e o fenômeno homem são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo.


Sinto-me espantado, decepcionado e satisfeito comigo. Sintome triste, acabrunhado, entusiasta. Sou tudo isso e não posso chegar a uma soma, a um resultado final. É para mim impossível constatar um valor ou um não-valor definitivos; não posso julgar a vida ou a mim mesmo. Não estou certo de nada. Não tenho mesmo, para dizer a verdade, nenhuma convicção definitiva – a respeito do que quer que seja. Sei apenas que nasci e que existo; experimento o sentimento de ser levado pelas coisas. Existo à base de algo que não conheço. Apesar de toda a incerteza, sinto a solidez do que existe e a continuidade do meu ser, tal como sou. O mundo no qual penetramos pelo nascimento é brutal, cruel e, ao.mesmo tempo, de uma beleza divina. 


Achar que a vida tem ou não sentido é uma questão de temperamento. Se o nãosentido prevalecesse de maneira absoluta, o aspecto racional da vida desapareceria gradualmente, com a evolução. Não parece ser isto o que ocorre. Como em toda questão metafisica, as duas alternativas são provavelmente verdadeiras: a vida tem e não tem sentido, ou então possui e não possui significado. Espero ansiosamente que o sentido prevaleça e ganhe a batalha. Quando Lao-Tse diz: “Todos os seres são claros, só eu sou turvo”, exprime o que sinto em, minha idade avançada. Lao-Tse é o exemplo do homem de sabedoria superior que viu e fez a experiência do valor e do não-valor, e que no fim da vida deseja voltar a seu próprio ser, no sentido eterno e incognoscível. O arquétipo do homem idoso que contemplou suficientemente a vida é eternamente verdadeiro; em todos os níveis da inteligência, esse tipo aparece e é idêntico, quer se trate de um velho camponês ou de um grande filósofo como Lao-Tse. 

Assim, a idade avançada é... uma limitação, um estreitamento. E no entanto acrescentou em mim tantas coisas: as plantas, os animais, as nuvens, o dia e a noite e o eterno no homem. Quanto mais se acentuou a incerteza em relação a mim mesmo, mais aumentou meu sentimento de parentesco com as coisas. Sim, é  como se essa estranheza que há tanto tempo me separava do mundo tivesse agora se interiorizado, revelando-me uma dimensão desconhecida e inesperada de mim mesmo.
Carl G. Jung

  
 

23 de jan. de 2013

Doação da Razão


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48 – Disse Jesus: Se dois viverem em paz e harmonia na mesma casa, dirão a um monte “sai daqui!” – e ele sairá.

Nestas palavras focaliza Jesus a onipotência do espírito sobre todas as potências da matéria e da mente. Por via de regra, onde há dois egos no mesmo lugar há discórdia, e onde há três há guerra; porque o ego é centrífugo e dispersivo por sua própria natureza. Assim como na eletricidade não se pode unir dois pólos negativos, do mesmo modo, dois egos são incompatíveis, enquanto não ultrapassarem a sua egoidade dispersiva e encontrarem o seu Eu unitivo.

Quando o Eu do homem atinge o máximo da sua consciência divina, então adquire poder sobre todo o mundo inferior e pode dar ordens ao mundo material, e será obedecido. Os chamados “milagres” não são outra coisa senão a onipotência do espírito sobre as potências da matéria e da mente. Quando o homem realiza um alto potencial de magia mental, pode ele mobilizar a matéria e suas forças, pode realizar “milagres” mentais, ou magias mentais. É difícil ao homem comum discernir a magia mental da mística espiritual, porque ambas transcendem o nível da matéria. Por isto, Jesus nunca permitia que promulgassem os seus feitos maravilhosos, para que o povo não os interpretasse como magia mental. Jesus também avisou insistentemente que, no fim dos tempos, apareceriam falsos profetas e falsos cristos que fariam prodígios estupendos, dizendo “eu sou o Cristo”. O verdadeiro Cristo é a culminância do poder espiritual, divino, em toda a sua pureza e autenticidade. A magia mental é o ponto culminante do ego; é uma deslumbrante mentalização do dominador deste mundo, mas não é uma transmentalização crística. Na cena da tentação, o anticristo mental afirma que todos os reinos do mundo e sua glória são dele, e falou verdade, porque tudo que há de grandioso no mundo material humano é creação mental. Mas o Cristo afirma que seu Reino não é deste mundo material e mental. A magia anticrística e a mística crística situam-se em duas dimensões totalmente diversas, e, não raro, diametralmente opostas. Por isto, o ocultismo da magia mental é, quase sempre, o maior obstáculo à realização espiritual. A magia mental se enamora do penúltimo, e não chega ao último da mística espiritual. “Naquele dia, muitos me dirão: Senhor, Senhor, não curamos doentes em teu nome? Não ressuscitamos mortos em teu nome? Não fizemos tantos prodígios em teu nome? Eu, porém lhes direi: Não vos conheci jamais; afastai-vos de mim, vós que trabalhais fora da lei”. Esses trabalhadores fora da lei são os que não realizam os seus trabalhos dentro da lei cósmica, mas trabalham em virtude da mente humana. São os “operários da anomia”, da ilegalidade; são os subversivos, os que realizam grandes coisas contra o regime espiritual do espírito de Deus.



22 de jan. de 2013

Desejos




47 - Disse Jesus: é impossível para um homem montar dois cavalos e retezar dois arcos, e é impossível a um escravo servir a dois senhores, pois que honrará a um e ofenderá a outro. Nenhum homem bebe um vinho velho e em seguida deseja beber um vinho novo; e não se põe vinho novo em odre velho, para que não se o quebre, e não se põe vinho velho em odre novo, para que não se o estrague. Não se cose um remendo de pano velho em roupa nova, porque se tornará um buraco.

Nestas palavras de Jesus, referidas também por outros evangelistas, frisa o Mestre a unidade essencial do homem a despeito das suas diversidades existenciais.

Montar em dois cavalos, tender dois arcos ao mesmo tempo, servir a dois senhores – são coisas tão impossíveis como o homem manter a sua unidade interna e não agir de acordo com essa unidade do seu ser.

Essas palavras frisam pois, mais uma vez, a absoluta necessidade do monismo essencial do homem, não obstante todos os seus pluralismos existenciais; focalizam o homem univérsico, que, apesar de ter de agir diariamente na pluralidade diversitária de fora, deve conservar a sua unidade de dentro.

Mas, como pode o homem-ego dispersivo manter a unidade do homem-Eu concentrativo?

Bebendo e inebriando-se a tal ponto do “vinho velho” da verdade divina que nenhum “vinho novo” de facticidades humanas o possam desviar do caminho reto da sua experiência profunda, a despeito de todos os zigue-zagues das novidades de cada dia. O “vinho velho” do Eu divino deve eclipsar todos os “vinhos novos” do ego humano.

Mas, para que isto seja possível, deve o homem inebriar-se totalmente do espírito do vinho da Eterna Divindade, como os discípulos de Jesus no primeiro Pentecostes, chamados bêbados pelo povo ignorante. Deveras, o homem que se inebria de Deus parece ser um bêbado aos olhos do mundo, um louco aos olhos dos “sensatos” da mediocridade dominante.

Entretanto, como diz Paulo, “a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força dos homens”.

Quem saboreou o vinho velho de Deus não tem desejos dos vinhos novos dos homens.

Tão grande deve ser o centripetismo convergente da unidade do nosso Ser que todos os centrifuguismos divergentes da nossa diversidade de agir não eclipsem aquilo.

Lao-Tse insiste no agir pelo não agir, no agir pelo Ser.

Mahatma Gandhi foi acusado de ser incoerente na sua política com os ingleses na Índia, e respondeu: “Sou incoerente – por amor à minha coerência.”.

O homem totalmente unificado na consciência do seu Ser pode ser diversificado na vivência do seu agir, e, contudo, todos sentem a harmonia cósmica desse homem.

O profano é como argila, que não tem forma certa.

O místico é como cristal, com faces e arestas rigorosamente definidas, duras e inflexíveis.

O homem cósmico é como mola de aço, dura e flexível ao mesmo tempo – inflexível unidade com flexível diversidade.

E não era o próprio Cristo esse homem universificado?

"Pois vontade pura, desaliviada de propósito, livre da ânsia de resultado, é de todo perfeita." (AL I, 43-44)
 
 

21 de jan. de 2013

Maior no Reino


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João Batista -  Leonardo da Vinci

46 - Disse Jesus: de Adão a João Batista, não há quem, entre eles, nascido de mulher, haja sido maior que João Batista, para que seus olhos não sejam danificados. Mas eu disse que dentre vós quem se tornar criança conhecerá o Reino, e se tornará maior que João.

http://www.cantodapaz.com.br/images/menino_jesus_natal.jpgMateus e Lucas referem textos semelhantes. Dentre os filhos de mulher é João o mais iluminado, mas não era ainda lucificado como o Cristo. Se João fosse lucificado como o Cristo, os seus olhos não suportariam esse fulgor integral daquele que é a “Luz do mundo”.

João é chamado filho de mulher porque nasceu pela união material do sexo, ao passo que Jesus foi concebido sem contacto material de homem e mulher, mas sim por um “sopro sagrado” (pneuma hagion), pela “potência do supremo” (dynamis hypsistou), como escreve Lucas.

Uma concepção real mas imaterial, produz o corpo perfeito sem enfermidades e sem morte compulsória, como foi a de Jesus.

Quando o homem ego, que se propaga através da matéria, atinge as alturas do homem Eu, que se imortaliza pela luz, então será proclamado o Reino dos Céus sobre a face da terra, e haverá um novo Céu e uma nova terra.

Para que o homem seja grande deve ele tornar-se pequeno porque, a grandeza do Eu supõe a voluntária pequenez do ego.


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“Aqueles que se desencarnam quando neles arde o fogo do amor divino, iluminados pela Luz do verdadeiro conhecimento recebido do Sol da Sabedoria, conhecem o Espírito Supremo e com Ele se unem; esses passam pela porta dos deuses e não são mais obrigados a renascer. Aqueles, porém, que desencarnam no meio da fumaça dos erros, na noite da ignorância, hão de voltar à esfera da mortalidade, e renascerão até que adquiram o necessário grau de amor e de sabedoria. Esses passam pela porta dos homens”.
Bhagavad Gitâ

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Janus-Vatican.JPG
Estátua de Jano Bifronte - Museu do Vaticano

20 de jan. de 2013

Crítica


 http://decoy.iki.fi/atheist/pictures/atheism2

45 - Disse Jesus: não se colhem uvas de espinheiros nem se apanham figos de cardos, pois que eles não dão frutos. Um bom homem faz sair o bem de seu tesouro, um homem mau faz sair coisas más de seu tesouro mau, que está em seu coração, e fala coisas más. Pois da abundância do coração ele faz sair coisas más.

 Essas palavras são uma continuação do precedente. É uma paráfrase do antigo adágio filosófico agere sequitur esse, o agir segue ao Ser. O agir externo do homem manifesta o que ele é internamente. Atos e fatos externos não têm valor em si mesmos, mas são valorizados ou desvalorizados pela atitude interna do Ser.

O melhor exemplo disto é a matemática: nenhum “0” tem valor em si, mas pode ser valorizado pelo “1” colocado diante dele: 10. Aqui, a nulidade do “0” é desnulificada pelo valor positivo “1”, que simboliza o Real; o irreal é realizado pelo Real. O Real é a qualidade, que pode quantificar a irrealidade. O Todo pode fazer Algo do Nada.

O nosso Eu interno é o Espírito de Deus em forma individual; o nosso ego é um zero em si, porque é pura ilusão; mas quando o nosso ego se põe do lado direito do Eu, isto é, quando o nosso ego tem a consciência da Realidade do Eu, então é ele um canal que pode ser plenificado pelas águas vivas da Fonte do Eu.

Jesus exprime esta verdade do modo seguinte: “De mim mesmo (do meu ego) eu nada posso fazer; quem faz as obras é o Pai (Eu) que em mim está”.

Não se trata, todavia, de fazer apenas uma “boa intenção” prévia para que as coisas do ego sejam valorizadas pelo Eu, porque essa tal “boa intenção” seria outro zero do nosso ego, e zero não valoriza zero. A consciência do nosso Ser é uma permanente atitude da nossa substância total. Valorizar os atos do ego é agir de dentro da substância profunda e total de nosso Ser, manifestar o próprio Ser divino em forma de um Agir humano. Esse Ser divino é a consciência da Verdade “Eu e o Pai somos um”.

Não há dualidade no Ser; o Ser é de absoluta unidade. A essência do homem e de todas as creaturas é idêntica à essência do Creador; a diferença está apenas na existencialidade.

Assim como a luz vermelha, verde ou azul é essencialmente a luz incolor, do outro lado do prisma, mas em visão parcial, assim toda a creatura é essencialmente o Creador em visão existencial parcial e imperfeita.
A identidade única é da Essência.

As alteridades múltiplas são da Existência.

Este é o monismo essencial de todas as coisas, manifestado no pluralismo existencial. Quando o homem só enxerga o Universo pelos sentidos e pela mente, vê ele apenas as existencialidades, ou Verso pluralista, as facticidades, como faz o profano. Quando ele vê somente o Uno da Essência, então o homem procura ignorar o Verso das Existências, como faz o místico isolacionista. Mas, quando o homem vê o Universo em sua totalidade, o Uno no Verso e o Verso no Uno, então tem ele a visão da Realidade Integral, como o homem de consciência cósmica.

O homem cósmico ou univérsico contempla de relance, por uma intuição universitária, a essência e as existências do Universo; professa um Monismo Cósmico unitário-diversitário.

Esta visão cósmica não pode ser adquirida pelo homem ego, mas pode ser recebida pelo homem Eu, quando este se abre totalmente ao impacto e à invasão da Alma do Universo, que é a Divindade, a Divindade como Uno e Verso, como Causa e Efeito, como Invisível e Visível, como Infinito e Finito.
Em última análise, como se vê, tudo depende da maior ou menor abertura do homem em face do Universo Total.  




 

19 de jan. de 2013

Perdão

44 - Disse Jesus: aquele que blasfemar contra o Pai será perdoado, e aquele que blasfemar contra o Filho será perdoado; mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, este não será perdoado nem na Terra nem no céu.

 Os outros Evangelhos referem as mesmas palavras de Jesus, com ligeiros variantes; mas o sentido é invariavelmente o mesmo.

Esse sentido, porém, é incompreensível à luz das nossas teologias analíticas, que entendem por Pai, Filho e Espírito Santo três pessoas ou personalidades divinas.
Na linguagem dos livros sacros, não se trata de três personalidades, mas de três aspectos ou funções da única e suprema Divindade.

Quando o homem conhece apenas o primeiro ou segundo aspecto da Divindade, peca por ignorância, e dele se pode dizer: Liberta-o, porque ele não sabe o que faz. As conhecidas palavras “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”, não correspondem nem ao texto grego do primeiro século, nem à tradução latina da Vulgata; ambos dizem: “libertar” (aphíemi, em grego; demittere, em latim). Perdoar pecados, no sentido tradicional da palavra não é o mesmo que libertar de pecados.

Mas, quando homem peca por maldade pleni-consciente, se exclui ele mesmo da possibilidade de libertação, fechando todas as portas à sua conversão; quem se torna auto-inconvertível não se converte.

Há quem julgue impossível uma creatura pecar por maldade; há quem diga que todo o pecado é cometido por ignorância. Na presente humanidade primitiva talvez seja exata esta tese; mas numa humanidade altamente evolvida, numa humanidade conscientemente satanizada, é possível essa “blasfêmia contra o Espírito Santo”, esse pecado contra a própria consciência.

O livre arbítrio abre duas portas para o Infinito: para o Infinito positivo (vida eterna) e para o Infinito negativo (morte eterna). O livre arbítrio é uma onipotência creadora, rumo ao Todo – ou então uma onipotência destruidora rumo ao Nada.

Não há creatura imortal, mas há creatura imortalizável.

A creatura que, pela blasfêmia contra o Espírito Santo, nadifica a sua creaturidade acaba necessariamente no nadir do Nada.

Assim como a creatura que realiza a sua creaturidade vai rumo ao zênite do Todo.

A metafísica e a mística são idênticas à matemática. E, na matemática, diz Einstein, reside o princípio creador – e reside também seu contrário, o princípio nulificador.

 

18 de jan. de 2013

Posse Intelectual



43 - Seus discípulos disseram a ele: quem és tu que dizeis tais coisas a nós? Disse Jesus a eles: pelo que eu vos falo, não sabeis quem sou? Pois vos tornastes como os judeus que amam a árvore, odeiam seu fruto, e amam o fruto mas odeiam a árvore.

É pelos frutos que se conhece a árvore, e é pela árvore que se conhece os frutos. Não é possível conhecer os atos exteriores a não ser pela atitude interna, nem é possível conhecer a atitude a não ser pelos atos. Não se pode conhecer o ego visível senão pelo Eu invisível, e não se pode conhecer o Eu senão pelo ego.

O homem não é um Ser sem um Agir, nem é um Agir sem o Ser.
Para conhecer alguém deve-se tomá-lo em sua totalidade onilateral, e não encará-lo em parte unilateralmente. Somente uma visão integral é que garante uma compreensão real e verdadeira.

Mas, infelizmente, o homem egóico é unilateralmente analítico, e não é onilateralmente intuitivo, como o homem cósmico, e por isto não pode compreender Jesus como o Cristo, senão apenas como o Jesus humano. Os judeus rejeitaram Jesus, porque não viram nele o Cristo divino, mas tão-somente o Jesus humano.

Misticismo ilusório é aquilo que o homem pensa de Deus – mística verdadeira é aquilo que Deus revela ao homem. Mas esta verdade não é pensável nem dizível. O homem ego-pensante nada sabe da verdade; somente sabe da verdade o homem cosmo-pensado e o homem cosmo-pensante.

A verdade não é do ego-fasciente, que age do aquém para o além; a verdade é do cosmo-feito, que recebe do além para o aquém.

 

17 de jan. de 2013

Apego


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42 - Disse Jesus: tornai-vos transeuntes

Esta mensagem de Jesus consta somente do Evangelho do apóstolo Tomé.
Paulo escreve aos cristãos do primeiro século: “Não temos aqui morada permanente; somos peregrinos na terra – a nossa pátria é o Céu”.

Viver na consciência da transitoriedade da vida terrestre preserva o homem de querer estabelecer-se aqui em caráter definitivo, de querer erguer suntuosos palácios e mansões maciças à beira da estrada da vida, em vez de se contentar com modestas choupanas ou barracas de nômades. Como os hebreus durante os 40 anos da sua peregrinação pelo deserto, entre o Egito e Canaã, não nos convém firmar residência sólida e definitiva em parte alguma – somos apenas transeuntes.

O nosso próprio corpo não é habitáculo fixo. Daqui a pouco o material dele voltará para quem o emprestou por alguns anos ou decênios, voltará para a natureza donde veio. O nosso corpo não é nosso, é da natureza; nele não existe nada que não exista na terra, nas águas ou no ar. Quando o corpo é sepultado, volta à terra lentamente; quando o corpo é cremado, volta ao ar rapidamente, sobrando apenas um punhado de cálcio, que o fogo não pôde consumir.

O nosso espírito, porém, não é sepultado nem cremado; o espírito não é meu, o espírito sou eu. O Eu não volta à natureza material, porque dela não veio. O Eu volta para a Divindade, donde veio.

Mas a creatura creativa, que é o homem, não deve devolver ao Creador a alma assim como a recebeu. Minerais, vegetais e animais, sim, devolvem a Deus o que de Deus receberam, tal qual, porque não podem fazer outra coisa, não têm poder creador.

Mas o homem não deve devolver a Deus o que de Deus recebeu; isto seria ser “servo mau e preguiçoso”. Para que o homem seja “servo bom e fiel”, tem de devolver a Deus o que de Deus recebeu mais outro tanto que ele mesmo creou. Quem recebeu cinco talentos deve restituir dez; quem recebeu dois talentos deve restituir quatro.

O homem não é apenas uma creatura creada, ele é uma creatura creadora. Quem pode deve, e quem pode e deve e não faz, crea débito – e todo débito gera sofrimento. O homem que não se crear mais do que Deus o creou, torna-se devedor, culpado, e toda a culpa, cedo ou tarde, provoca sofrimento, que é a reação das leis cósmicas contra o devedor.

A única razão de ser da nossa encarnação terrestre está em crearmos durante o nosso estágio terrestre, algo que Deus não nos deu, sermos creadores. Ser creatura creadora é ser semelhante ao Deus Creador. Somos peregrinos, imigrantes em trânsito, com visto temporário. Durante a nossa permanência em terra estranha, devemos despertar e ativar a nossa consciência cósmica e regressar “à alma do Universo” mais ricos do que dela emigramos.

Sejamos transeuntes!

Posse Espiritual


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41 - Disse Jesus: Aquele que tem a mão cheia, a este lhe será dado; e aquele que não tem, dele será tirado até o pouco que tem.

Este texto de Tomé é uma paráfrase modificada das conhecidas palavras de Jesus na parábola dos talentos referida por outros Evangelistas. Nesta parábola somente o primeiro e o segundo servo, que haviam recebido 5 e 2 talentos respectivamente, atualizaram a sua potencialidade creadora, duplicando 5 em 10 e 2 em 4 talentos; ao passo que o terceiro servo, que recebera apenas um talento – que tinha pouco – enterrou este pouco e se entregou à inércia, e por não ter atualizado a sua pequena potencialidade, perdeu até esta, ficando sem nada.

 Mas se esse terceiro servo, em vez de cair na inatividade tivesse ativado o pouco que tinha numa mão, a pequena potencialidade que tinha, teria enchido também a outra mão, atualizando em dois o único talento que tinha.

Essas palavras são pois uma advertência e um convite alvissareiro para os poucos dotados no sentido de não considerarem zero o pouco que têm e não fazerem nada, mas para trabalharem honestamente com a exiguidade dos seus dotes e realizarem-se deste modo.

As leis cósmicas nunca repetem as suas doações mecanicamente; nunca distribuem por igual os seus dons, nunca repetem rotineiramente a distribuição dos seus bens. Sendo que o Uno do doador é de infinita intensidade qualitativa, assim o Verso do doado é também de Infinita extensidade quantitativa. Entre os homens pode o autor talentoso repetir as suas obras porque talento é sinônimo de limitado – mas o autor divino nunca repete nenhuma das suas obras, porque gênio é homônimo de ilimitado, infinito. O Creador não crea duas creaturas iguais; crea sempre creaturas desiguais, porque o Creador é o gênio de Infinita potência ao passo que qualquer creatura é apenas um talento de potencialidade finita.

Há quem veja injustiça nessa distribuição desigual que Deus faz às creaturas; certas sociedades espiritualistas fazem depender essa desigualdade das creaturas, de merecimentos ou desmerecimentos, de uma existência anterior; apelam para créditos ou débitos da creatura, porque não admitem desigualdade de distribuição por parte do Creador. Essa suposta justiça, porém, não existe. Deus não tem acima de si um supremo tribunal ao qual deva prestar contas de seus atos; se Deus dependesse de uma instância superior, deixaria de ser Deus. Nem tão pouco deve às creaturas essa suposta igualdade de distribuição, porque nenhuma creatura tem direitos perante o Creador, o qual, neste caso fictício, teria obrigações para com a creatura.

Deus não faz algo por ser justo, mas tudo que Deus faz é justo, porque Deus o faz. Deus não é justo, mas é a própria justiça, e tudo que a Infinita justiça faz é ipso facto justo. Tudo que o Uno dá ao Verso é graça, e não merecimento.


16 de jan. de 2013

O Amanhã

  

40 - Disse Jesus: uma videira foi plantada sem o Pai, e como não se firmou, será arrancada por suas próprias raízes e será destruída.

A comparação completa sobre a videira que o Pai plantou e os ramos da videira se encontra nos Evangelhos de João XV e de Mateus XV, onde Jesus faz ver que o ramo só pode frutificar enquanto a seiva vital do tronco da videira o alimentar. Sendo que o Cristo se compara com o tronco da videira e os homens com os ramos, segue-se que a mesma vitalidade que flui pelo Cristo flui também pelos outros homens. Mas, se o homem não tem consciência desse Cristo interno e não vive de acordo com essa consciência crística, será cortado e lançado fora. Se, porém, um homem tem consciência do seu Cristo interno e a manifesta pela vivência, então será podado ou purificado para que produza fruto mais abundante ainda.

Destas últimas palavras se segue que a Cristo-consciência e Cristo-vivência não isentam o homem de sofrimento; mas o levam a um sofrimento crédito evolutivo.

Tomé frisa apenas um aspecto dessa parábola mística: que o homem que julga poder produzir fruto por si, pelo seu ego humano é como um ramo da videira que pretende frutificar sem receber a seiva do tronco da videira; esse homem acabará estéril e será lançado fora.

Sempre de novo, os Mestres espirituais da humanidade fazem ver que, na zona do livre arbítrio, não há alo-determinismo automático, como na natureza extra-hominal, mas sim autodeteminação voluntária; que o destino metafísico do homem não depende de Deus, mas do próprio homem, seja para sua integração no Infinito (vida eterna), seja na sua própria desintegração (morte eterna). Podemos dizer que, na zona do seu livre arbítrio, o homem é seu próprio Deus. O homem ou se realiza – ou se desrealiza; ou se integra – ou se desintegra, como, mais uma vez se depreende do texto acima.

 

 

15 de jan. de 2013

Chave do Conhecimento


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39 - Disse Jesus: os fariseus e os escribas receberam as chaves do Conhecimento e as esconderam. Eles não entram e não deixam entrar aqueles que querem. Mas vós, tornai-vos espertos como as serpentes e inocentes como as pombas.

Esses dois textos são conhecidos por outros Evangelhos, mas sem a conexão que Tomé estabelece.

Os fariseus e os escribas ensinavam teologia, que é uma ciência analítica sobre Deus, mas não é a visão intuitiva de Deus, que é verdadeira Religião. E assim fechavam a entrada no Reino de Deus a seus adeptos, que se guiavam por esse horizontalismo intelectual, porquanto “do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores, porque estes vêm de outra região” (Einstein). Quem se contenta com fatos e os identifica com valores, com a própria Realidade, obstrui o caminho que leva a Deus; adora ídolos fictícios mas não o Deus verdadeiro.

Valor, Realidade, Deus, não são fatos que possam ser descobertos pela inteligência analítica; Deus é a Realidade que se revela ao homem que esteja em condições de receber esta revelação.

A inteligência é simbolizada pela serpente; a intuição é representada pela pomba.

Quando a inteligência substitui a intuição, impede o homem de conhecer Deus.

Mas, se a inteligência serve de precursora da intuição e é integrada nesta, então é útil para a experiência de Deus. É neste último sentido que Jesus recomenda a seus discípulos que sejam inteligentes como as serpentes e simples como as pombas.

A própria ciência, no seu estágio mais avançado, compreendeu a necessidade da união entre análise e intuição. Einstein disse: “Eu penso 99 vezes, e nada descubro; eu deixo de pensar e mergulho num grande silêncio – e eis que a verdade me é revelada”.

Tomás Edison escreveu: “Eu necessito de 90% de transpiração (esforço pessoal) para ter 10% de inspiração”.

Tanto Einstein como Edison reconhecem a necessidade do trabalho da inteligência como fase preliminar necessária a ser superada; ambos concedem que suficiente é somente a revelação ou inspiração intuitiva.

A mentalização se torna obstáculo somente quando pretende substituir a transmentalização; quando ela se põe na vanguarda da nossa vida, em vez de ficar na retaguarda.

Neste sentido diz a Bhagavad Gita: “O ego é um péssimo senhor da vida, mas é um ótimo servidor”.
A inteligência é como João Batista, precursor da intuição, do Cristo; e deve dizer: “Convém que ele cresça e que eu desapareça”.


 

14 de jan. de 2013

Religiões



"Ser ou não ser, eis a questão" Hamlet

 
38 - Disse Jesus: muitas vezes desejastes ouvir estas palavras que eu vos digo, e não tivestes a quem mais recorrer para ouvi-las. Haverá dias em que me procurareis e não me achareis.


Milhares de homens de boa vontade, homens altruístas, homens virtuosos, andam em busca do Cristo – e não o acham.

Por que não?

Por mais estranho que pareça, ninguém pode achar o Cristo, ninguém pode achar Deus.

Deus, porém, pode achar o homem, suposto que o homem se torne achável.

É esta a mais paradoxal de todas as verdades: o homem deve fazer todo o possível para achar Deus; deve pensar, deve orar, deve trabalhar, deve sofrer – e, no fim de tudo isto, convencer-se dolorosamente que não achou Deus.

Se Deus fosse um fato, poderia o homem achá-lo – mas Deus não é um fato, nem o maior dos fatos – Deus é a Realidade.

E a Realidade não é algo que o homem possa achar – a Realidade só pode achar o homem, se ele consentir em ser achado.

Infelizmente, porém, raros são os homens que permitem ser achados pela Realidade. Poucos homens permitem ser achados por Deus.

Por que?

Porque, para que o homem seja achado por Deus, deve ele perder-se a si mesmo. Só o homem que voluntariamente se perdeu a si mesmo pode ser achado por Deus.

Mas entre 100 homens, mesmo homens virtuosos, dificilmente há um disposto a se perder a si mesmo, a morrer para seu ego humano, a passar pelo misterioso egocídio – e por isto esses ego-plenos não podem ser teoplenificados. "Deus resiste aos soberbos (aos ego-plenos), mas dá sua graça aos humildes (ego vácuos)!

Infelizmente, muitos homens, embora virtuosos, são ego-plenos, como aquele fariseu no Templo que, apesar da sua virtuosidade ascética e filantrópica, voltou para casa não ajustado com Deus, ele, o ego-ajustado, ele o teo-desajustado. O único caminho que conduz a Deus é o total ego esvaziamento.

Quem foi encontrado por Deus ou pelo Cristo em plena ego-vacuidade, nunca mais o perderá. Mas, quem procura Deus ou o Cristo em ego-plenitude, mesmo na plenitude do ego-virtuoso, não o achará.

Não adianta mentalizar-se como ego superior; é necessário transmentalizar-se, superar o ego, tanto vicioso como virtuoso, e deixar-se invadir por Deus.

Quem não se integrar será desintegrado.
Quem não se esvaziar não será plenificado.
Quem não morrer não nascerá.

 

12 de jan. de 2013

Alcançando Jesus


37 - Seus discípulos disseram: quando irás desvelar-te a nós e quando haveremos de ver-te?” Respondeu-lhes Jesus: quando vos despirdes sem sentir-vos envergonhados e puserdes vossos vestidos sob vossos pés, e como crianças pisardes neles, aí podereis ver o Filho daquele que é Vivo e não tereis medo.

 Assaz misteriosas são essas palavras.

Os discípulos, que viam diariamente o Jesus humano, evidentemente não perguntam por essa visão; querem saber quando eles verão o Cristo divino, e quando este se lhes manifestará.

Para verem o Cristo divino no Jesus humano, ou mesmo sem o Jesus humano, responde-lhes o Mestre, devem seus discípulos despojar-se do pudor, despir-se totalmente e pisar aos pés as suas roupas, como crianças, que nada sabem do pudor dos adultos.

Que quer Jesus dizer com essas palavras esotéricas? Que significa desnudar-se, pisar aos pés a sua roupagem? Quando é que o homem aparece em toda a sua desnudez infantil? E por que é que somente assim, em total desnudez pode ele ver o Cristo?

Nossa alma é o espírito de Deus em forma individual. Nossa alma é luz, um raio solar emanado do sol.
Mas a nossa alma foi revestida duma roupagem por nossos pais e pela natureza, a roupagem do nosso ego terrestre.

Por que essa materialização do nosso espírito?

Sem essa materialização corpórea, o nosso espírito não encontraria resistência.

E sem resistência não há evolução. Resistência é dificuldade, é sofrimento. A nossa alma se achava em estado neutro, amorfo, antes da sua encarnação. Encarnou no corpo a fim de encontrar resistência, e assim poder atualizar a sua creatividade potencial. Essa resistência, tensão ou tentação indispensável para a evolução do espírito é a nossa viagem evolutiva rumo a Deus. A epístola aos hebreus declara que o próprio Jesus passou por essa mesma resistência, embora não tenha sucumbido a ela pelo pecado. E o próprio Jesus declara aos discípulos de Emaús que tudo isso era necessário para entrar em sua glória.

Enquanto o homem anda envolto na pesada e opaca roupagem do seu corpo e se identificar com esse invólucro, não pode ele ver o Cristo. Mas, quando se desnuda do seu ego e aparece em seu Eu divino, então sabe ele que “Eu e o Pai somos um”, que ele é o Cristo interno, puro como a luz do mundo.

Esse desnudamento metafísico nada tem que ver com a morte física do corpo; depende do seu voluntário egocídio.

A criança não conhece pudor, por inocência; o homem espiritual não conhece pudor, por sapiência.

 Entre a inocência da criança e a sapiência do homem espiritual há a inteligência do homem profano. Quando o homem saiu da inocência do Éden e entrou na inteligência da serpente, diz o Gênesis, sentiu ele vergonha da sua nudez. Mas, quando o homem ultrapassar a zona do seu ego e entrar no Reino do Eu, nada saberá de vergonha, porque a sua nudez será sagrada e pura como a da luz e do Cristo. Pudor e vergonha têm que ver com sexos, que é do ego masculino e feminino. Mas o Eu divino está para além do sexo. Não mais haverá quantificação pela união da creatura com o Creador. As núpcias místicas entre a alma e o Cristo se realizarão entre o puro Eu e o puro Cristo.

Para que o homem possa despir-se da roupagem do ego e pô-la debaixo de seus pés, deve ele contemplar o seu Eu pelo auto-conhecimento e pela auto-realização.
 

 

 

11 de jan. de 2013

Preocupação


 
36 - Disse Jesus: não vos preocupeis de manhã à noite, e da noite à manhã com o que haveis de vestir.

Os outros evangelistas referem essas mesmas preocupações dos profanos com mais palavras.
Quando o homem vive no estreito círculo visual e mental do seu pequeno ego humano, as necessidades materiais da vida diária enchem às 24 horas do seu dia, não só da manhã até a noite, mas também da noite até a manhã; nem o deixam dormir sossegado, e assim lhe vão abreviando a vida e fazendo da sua vida um inferno.

E estas preocupações não são apenas dos pobres, que não possuem o necessário para uma vida decentemente humana, são ainda mais dos ricos, que quanto mais possuem tanto mais desejam possuir; e os desejos do ego humano não conhecem fim. O homem profano vive num eterno círculo vicioso: quanto mais tem tanto mais deseja ter.

As estatísticas provam que a imensa maioria dos suicídios ocorre entre pessoas ricas. Dificilmente um pobre se suicida por ter fome, mas muitos ricos se suicidam por fastio, porque o excesso do ter e do querer ter geram um tormento insuportável.

Os grandes Mestres espirituais da vida não recomendam não ter nada, mas ter o necessário para uma vida decentemente humana; se não recomendam a posse, permitem o usufruto.

Jesus nunca foi milionário nem mendigo – e nunca lhe faltou nada. Até andava tão bem vestido que, na hora da sua morte, quatro soldados romanos repartiram entre si as vestimentas do crucificado, e ainda sobrou a túnica inconsútil sobre a qual lançaram sorte.

O que há de estranho e dificilmente compreensível no espírito do Nazareno é uma espécie de matemática cósmica referente aos bens materiais necessários à vida terrestre: não recomenda a sua aquisição mediante uma esfalfante lufa-lufa, como fazem os profanos, mas afirma que todas as coisas necessárias nos serão dadas de acréscimo, isto é, de graça, sem nenhuma caça frenética, suposto que o homem estabeleça dentro da sua consciência um centro de sucção, em virtude do qual essas coisas materiais sejam sugadas ou atraídas, segundo misteriosas leis cósmicas ou divinas. Sendo que todas as coisas da natureza têm, por assim dizer, um pólo inconscientemete negativo, e sendo que o ego humano representa um pólo conscientemente negativo, dá-se uma espécie de repulsão automática entre o negativo da natureza e o negativo do homem-ego; mas, se o homem passar do pólo negativo do seu ego para o pólo positivo do seu Eu, então se dá uma atração natural entre o positivo consciente do homem e o negativo inconsciente da natureza. Sabemos que tal lei existe na física da eletricidade – e por que não existiria na metafísica da Divindade?

Essa lei de sucção ou atração complementar é chamada por Jesus a conscientização do “Reino de Deus e sua harmonia”, que faz acontecer espontaneamente as coisas materiais que nos são necessárias.

Nessa ignota matemática de Jesus as coisas necessárias não vêm do esforço humano, mas de uma força divina; basta que o homem conscientize, e assim mobilize, essa força cósmica do além, e então a natureza se encarrega de canalizar para dentro da vida humana todas as coisas necessárias. Essas coisas geralmente já existem no seio da natureza, ou na sociedade humana, mas somente são canalizadas para dentro da nossa vida, quando estabelecemos em nossa alma essa força de sucção, essa consciência do Reino de Deus e sua harmonia, harmonia essa que, no texto grego se chama dikaiosyne, e em latim justitia. Nossa conscientização não é a causa, mas apenas a condição necessária para o advento dessas coisas; a causa é o próprio Deus e seu mundo cheio de harmonia e complementaridade. Mas a nossa consciência espiritual deve mobilizar forças cósmicas do além, para que elas sejam canalizadas até nós. Somente o homem intensamente cristificado compreende intuitivamente essa misteriosa matemática e logicidade do Reino de Deus. 

 

10 de jan. de 2013

O Ladrão


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35 - Disse Jesus: Não é possível que alguém entre na casa de um forte e o submeta; a não ser que lhe ate as mãos; aí, então, pode pilhar-lhe a casa.

Quem é este forte?

Nos outros Evangelhos, este texto é relacionado com o episódio em que Jesus expulsara um demônio, e seus inimigos o acusaram ser aliado de satanás ou o diabo. Então Jesus fez o paralelo entre “o forte”, que é satanás, e “o mais forte”, que é o Cristo. Podemos pois admitir que também aqui, no Evangelho de Tomé, o forte seja satanás.

Por outro lado, Jesus identifica satanás com o ego humano, quando este se opõe a Deus; assim no caso de Pedro, cujo ego é chamado satanás. Também Judas quando descrente das palavras de Jesus é chamado diabo, palavra grega equivalente ao hebraico satan, adversário.

O forte é pois o ego humano, antidivino, anticrístico.

E o mais forte?

Se o forte no homem é seu ego, o mais forte é seu Eu, sua alma. Para que a alma espiritual possa penetrar na casa do ego mental, é necessário que ela seja mais forte do que este; só assim o pode prender e apoderar-se dos seus haveres.

Este texto é pois um convite para auto-realização. Enquanto o homem está dominado pelo seu ego humano, o mais forte, o seu ser divino não pode penetrar nos domínios do ego poderoso.

É pois necessário que o Eu divino se fortaleça ao ponto de se igualar, ou até superar o poder do anticristo no homem.

Como fortalecer o Eu divino no homem? E por que fortalecê-lo se o Eu é Deus? Não basta revelá-lo? Não deveríamos antes falar em auto-revelação em vez de auto-realização?
É verdade que o Eu é Deus, é o Pai em nós, é o Cristo interno – e, apesar disto, deve todo homem realizar o seu Eu, o seu Deus, o seu Cristo.

Deus em sua transcendência, em sua essência, não pode ser realizado, porque é a própria realidade. Mas o Deus em sua imanência, em sua existencialidade humana, pode e deve ser realizado.

A tarefa do homem aqui na terra é realizar o seu Deus, que consiste no despertamento da consciência divina. Esta realização de Deus no homem não se faz a não ser por meio de resistência, de dificuldade e sofrimento. Assim como na física, a eletricidade só se revela como luz, calor e força, quando encontra resistência nos filamentos metálicos da lâmpada (luz), na passagem por um ferro cromado (calor) ou por um enrolamento no dínamo (força) – de modo análogo também na metafísica: o espírito de Deus individualizado em forma de alma, encarnou na matéria para se realizar pela resistência que encontra em luta com a matéria. Quando a alma é derrotada pela matéria, ela se extingue; mas, quando ela é vencedora da matéria, ela se realiza plenamente. Quanto maior a resistência (sofrimento) e quanto maior a superação da matéria, tanto mais se fortalece e realiza a alma. O mais forte derrota o forte.


À noite novamente retornaram os mortos, dizendo entre queixas: - Uma coisa mais devemos saber, pois esquecemos de discuti-la: ensina-nos a respeito do homem!

- O homem é um portal por meio do qual penetramos, do mundo exterior dos deuses, demônios e almas, no mundo interior; do mundo maior no mundo menor. Pequeno e insignificante é o homem; logo o deixamos para trás e assim entramos uma vez mais no espaço infinito, no microcosmo, na eternidade interior.

À imensurável distância cintila solitária uma estrela, no ponto mais alto do céu. Trata-se do único Deus desse solitário ser. É seu mundo, seu Pleroma, sua divindade.

Nesse mundo, o homem é Abraxas, que dá discernimento a seu próprio mundo e devora-o.
Essa estrela é o Deus do homem e seu destino.
Ela é sua divindade tutelar; nela o homem encontra o repouso.

A ela conduz a longa jornada da alma após a morte; nela reluzem todas as coisas que, de outro modo, poderiam afastar o homem do mundo maior, com o brilho de uma grande luz.

A esse Ser, o homem deveria orar.
Tal prece aumenta a luz da estrela.
Tal prece constrói uma ponte sobre a morte.
Ela aumenta a vida no microcosmo; quando o mundo exterior esfria, essa estrela ainda brilha.

Nada poderá separar o homem de seu Próprio Deus, se ele ao menos conseguir desviar o olhar do feérico espetáculo de Abraxas.

Homem aqui, Deus lá. Fraqueza e insignificância aqui, eterno poder criador lá. Aqui, há somente treva e frio úmido. Lá tudo é luz solar.
Tendo assim ouvido, os mortos silenciaram e elevaram-se como a fumaça da fogueira do pastor que guarda o seu rebanho à noite.

 
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