28 de abr. de 2012

A Gnosis de Roger Waters

Um texto de Giordano Cimadon -  Sociedade Gnóstica

Há algum tempo vimos insistindo que a Gnosis não é propriedade intelectual de qualquer um, seja mestre, discípulo ou leigo, que a tenha experimentado e comunicado na forma de alegorias ou doutrinas. Pelo contrário, a Gnosis corresponde à uma experiência mística única e transcendente de lembrança e reconhecimento de uma identidade divina original.

Desta forma, qualquer um que experimente a Gnosis em sua intimidade espiritual, se assim desejar, pode comunicá-la com o instrumental simbólico de que dispõe, dando origem a uma mitologia particular e exclusiva, mas que em essência está conectada com a jornada de todas as essências espirituais que num momento perdido no tempo desprenderam do absoluto e hoje estão condenadas à existência humana.

Mesmo que alguns resistam à ideia, aqueles que já viveram a experiência da Gnosis jamais deixariam de reconhecer que uma destas mitologias gnósticas particulares é a ópera rock The Wall, idealizada por Roger Waters, um dos fundadores e líder da banda britânica de rock progressivo Pink Floyd, conhecida mundialmente por suas letras filosóficas e sua música psicodélica.
 
Em síntese, The Wall fala sobre a angústia vivida pelo personagem Pink, que não consegue lidar com os fatores que o oprimem desde a infância e acaba se isolando atrás de um muro metafórico. As músicas narram os episódios de sua vida física e psíquica, dos tormentos sofridos pela ausência do pai, a sufocação de uma mãe protetora e da opressão sofrida na escola por professores tirânicos. Estas vivências se tornam tijolos que vão formar o muro de seu isolamento.
 
The Wall foi convertido em um filme que por vezes é considerado um mega videoclipe, mas qua a maioria considera uma animação musical. Foi produzido no ano de 1982 pelo diretor britânico Alan Parker, baseado no álbum The Wall, da banda Pink Floyd. O roteiro foi escrito pelo vocalista e baixista da banda, Roger Waters, e possui poucos diálogos, sendo mais metafórico e movido pelas músicas de fundo sendo interpretadas e sequências de animação.

No filme de Alan Parker, o personagem central acaba se tornando uma estrela do rock, e seus relacionamentos são marcados pela infidelidade, pelo abuso de drogas e por rompantes de violência. A ruína de seu casamento é o elemento que completa a construção do muro. Ali dentro, escondido, Pink se refugia num mundo de fantasia que cria para si, onde se transforma num ditador ao estilo fascista, que ordena a perseguição daqueles que são considerados diferentes e indignos.
 
Depois de muitos abusos, Pink se arrepende e se submete a um julgamento, onde é acusado de mostrar seus sentimentos humanos. Ele enfrenta os três personagens que causaram a construção do muro: o professor tirano, a esposa superexigente e vingativa que o acusa de abandono para justificar sua infidelidade e a mãe excessivamente protetora. No fim, ele é condenado, e seu juiz interior ordena a destruição do mundo.

Sem dúvida, The Wall é uma impressionante e profunda metáfora do isolamento humano provocado pela a submissão do indivíduo às rígidas estruturas sociais formadas pelas instituições religiosas, pelas forças militares e pelo complexo educacional, que dificultam relacionamentos baseados na autenticidade e causam embotamento emocional. Além disso, a biografia de Waters e algumas de suas experiências desagradáveis com um antigo membro da banda e com um fã canadense serviram de inspiração para a história.
Não é nossa intenção reduzir esta complexa mistura de experiências a uma revelação mística traduzida através de elementos traumáticos e psicodélicos, mas sim ressaltar os aspectos presentes em The Wall que narram a epopeia gnóstica da alma desde o seu desprendimento de sua fonte primária, passando pelo tormento da prisão existencial até o seu retorno apoteótico à origem mediante a resignificação de suas próprias experiências.

Em síntese, a mitologia gnóstica que descreve a jornada da alma consiste na existência de uma fonte primária espiritual, chamada em algumas correntes gnósticas de Absoluto, de onde foram emanadas as essências espirituais, chamadas Eons. Um destes Eons, chamado Demiurgo, construiu um mundo material semelhante ao mundo espiritual, mas falho, cheio de regras e de mecanicidade, e marcado pela impermanência. Neste mundo vieram parar as essências emanadas do Absoluto, na mitologia representadas por Sophia, que aqui chega e fica aprisionada, padecendo de múltiplos sofrimentos, até resolver se arrepender e retornar à sua origem.

Para os gnósticos, o mundo criado pelo Demiurgo é o nosso mundo material e finito, um ambiente falho e ilusório. Contudo, o Absoluto precisa deste mundo demiúrgico pois é somente através dele que as essências espirituais serão capazes de alcançar o conhecimento de si mesmas, fenômeno este que é chamado de Gnosis. Uma vez conciliadas em corpos materiais, estas essências sofrem, choram, riem e brincam, e em todas estas experiências humanas existe a oportunidade de alcançar a Gnosis.

Mas esta humanidade que as essências espirituais adquirem fica registrada como memória e acaba formando uma espécie de identidade, que é chamada de Ego. À princípio, este Ego é criado como uma forma da alma se proteger da angústia que sente por estar longe do Absoluto. Mas, logo o Ego se mostra inútil para este fim, e se converte em um grande obstáculo para a lembrança da unidade transcendente e uma grande fonte de novos sofrimentos.

Esta breve descrição mitológica possui elementos que são identificáveis em The Wall, mesmo que Roger Waters nunca tenha se declarado gnóstico, pois a mitologia gnóstica é conta a história da alma, não importa em qual corpo ela esteja encarnada.

E o primeiro, e talvez mais evidente, elemento gnóstico presente em The Wall é o sentimento da ausência paterna, retratado logo pela primeira música, intitulada In The Flesh (Em Carne e Osso), e que se apresenta como resultado da emanação da alma da fonte primária absoluta e espiritual e a sua consequente encarnação, que é o mesmo que entrar na carne.

Nesta primeira canção, Roger Waters apresenta o drama da alma que, sob a ótica gnóstica, desejava separar-se da luz e fazer-se de carne e osso para experimentar um espetáculo de múltiplas sensações oferecidas pela criação, mas que aqui chegando se deu conta de que cometeu um engano ao perseguir uma ilusão, e encontrou apenas a sensação esquiva de felicidade e a frieza da matéria:
So ya’… Thought ya’… Might like to… Go to the show… To feel… The warm thrill of confusion… That space cadet glow… Tell me is something eluding you sunshine?… Is this not what you expected to see?… If you wanna’ find out what’s behind these cold eyes… You’ll just have to claw your way through this disguise!… ”Lights! Turn on the sound effects! Action!”… ”Drop it, drop it on ‘em! Drop it on them!” (In The Flesh)
Então você… achou que… poderia gostar de… ir ao espetáculo… Para sentir… A excitação calorosa da confusão… Aquele jovem brilho espacial… Diga-me… Tem algo o iludindo querido (luz do sol)?… Não era isso o que você esperava ver?… Se você quiser encontrar o que esta por trás deste olhos frios… Você terá de atravessar com dificuldades este disfarce!… “Luzes! Ligue os efeitos sonoros! Ação!”… “Solte, solte-os sobre eles! Solte-os sobre eles!” (Em Carne e Osso)
A alma é chamada de jovem brilho espacial e de luz do sol, algo muito significativo, pois para os gnósticos a alma é um raio proveniente das profundezas da luz cósmica universal que concilia a si mesma no universo material. Para Waters, a criação e a matéria são um disfarce que oculta um mistério, que é a própria alma, e que ela mesma será capaz de encontrar somente depois de muitos esforços.

E é aqui que entra em cena o segundo elemento gnóstico, agora representado pelas canções seguintes, tratando da angústia experimentada por Pink – a alma – ao sentir-se oprimido pela estrutura social – o mundo material. De início, a segunda música, intitulada Thin Ice (Gelo Fino), narra a dificuldade de viver nesta estrutura, e a perspectiva sempre presente de retorno ao abismo espiritual, que implicaria numa saída de si mesmo.
Momma loves her baby… And Daddy loves he too… And the sea may look warm to you Babe… And the sky may look blue (…) If you should go skating… On the thin ice of modern life… Dragging behind you the silent reproach… Of a million tear stained eyes… Don’t be surprised, when a crack in the ice… Appears under your feet… You slip out of your depth and out of your mind… With your fear flowing out behind you… As you claw the thin ice. (Thin Ice)
Mamãe ama o seu filho… E papai também o ama… E o mar pode parecer morno para você querido… E o céu pode parecer azul… Se você patinasse… Sobre o gelo fino da vida moderna… Arrastando atrás de você a censura silenciosa… De um milhão de olhos cheios de lágrimas… Não fique surpreso, quando uma rachadura no gelo… Aparecer debaixo de seus pés… Você deslizaria na sua profundidade e sairia fora de si… Com seu medo fluindo atrás de você… Enquanto você arranha o gelo fino. (Gelo Fino)
A metáfora do andar apreensivo sobre o gelo fino que se forma sobre o oceano profundo e misterioso descreve como as próprias estruturas sociais e os condicionamentos demiúrgicos dão origem ao medo da liberdade, que em conjunto com as promessas do amor maternal e da proteção paternal aprisionam a alma numa sensação de segurança. Esta última, ao longo de toda a obra, será provada insuficiente para aplacar a angústia, levando à construção do muro.

O início de Thin Ice introduz os fatores que formam a sensação de segurança que anda de mãos dadas com o autoritarismo, sua única garantia, ao mencionar as figuras paternais e a promessa de um oceano morno e de um céu azul. Adiante, nas canções que seguem, Waters apresenta com mais detalhes a censura e as regras rígidas mescladas com o conforto que premia os que as respeitam e a elas se adaptam. Antes disso, contudo, a saudades do pai e a ânsia de sua recordação reaparecem na forma de uma certa decepção manifestada por uma alma que não compreende ainda os motivos e as razões da existência, o que se converte no primeiro dos tijolos do muro que começa a ser construído.
Daddy’s flown across the ocean… Leaving just a memory… The snapshot in the family album… Daddy what else did you leave for me?… Dad, what you leave behind for me?… All in all it was just a brick in the wall… All in all it was all just bricks in the wall. (Another Brick In The Wall, Pt. 1)
Papai voou através do oceano… Deixando apenas uma memória… A foto no álbum da família… Papai, o que mais você deixou para mim?… Pai, o que mais você deixou para trás para mim?… Foi tudo apenas um tijolo na parede… Tudo foram apenas tijolos na parede. (Outro Tijolo no Muro, Pt. 1)
Esta decepção dá origem à rebeldia da alma em relação ao objetivo de sua existência, que para os gnósticos corresponde ao retorno à unidade com a fonte espiritual originária através do encontro com o eterno que está conciliado na multiplicidade da criação. Mas a alma também começa a se mostrar revoltada com as estruturas sociais, prenunciando o desajuste social que será revelado mais adiante.
When we grew up and went to school… There were certain teachers… Who would hurt the children any way they could… By pouring their derision upon anything we did… Exposing every weakness… However carefully hidden by the kids… (mananical laughter)… We don’t need no education… We don’t need no thought control… No dark sarcasm in the classroom… Teachers leave them kids alone… (The Happiest Days of Our Lives & Another Brick In The Wall, Pt. 2)
Quando nós crescemos e fomos para a escola… Havia certos professores… que machucavam as crianças de qualquer forma possível… Zombando de qualquer coisa que fazíamos… E expondo qualquer fraqueza… Tão bem escondida pelas crianças… (gargalhada mecânica)… Nós não precisamos de nenhuma educação… Nós não precisamos de nenhum controle de pensamento… Nenhum humor negro na sala de aula… Professor, deixe essas crianças em paz… (Os Dias Mais Felizes de Nossas Vidas & Outro Tijolo No Muro, Pt. 2)
Em Mother (Mãe), a verdadeira face da sensação de segurança se revela ao oferecer conforto e proteção em troca da vigilância e do controle pelo medo. Este processo iniciado em Thin Ice culmina com Goodbye Blue Sky (Adeus Céu Azul), onde ocorre o reconhecimento da decepção provocada pela falha do cumprimento da promessa de um admirável mundo novo.
Did you ever wonder?… Why we had to run for shelter?… When the promise of a brave new world… Unfurled beneath a clear blue sky. (Goodbye Blue Sky)
Você já se perguntou?… Por que tivemos que correr em busca de abrigo?… Quando a promessa de um admirável mundo novo… Abriu-se sob um limpo céu azul? (Adeus Céu Azul)
Nada do que a criação demiúrgica ofereceu até agora foi suficiente para aplacar o desconforto da alma que decorre de sua separação do absoluto espiritual, representado na obra pela figura paterna morta na guerra. O vazio primordial que ela sentiu em sua vinda para o espetáculo da matéria – expresso em In The Flesh – aumentou ao invés de diminuir, obrigando a alma a partir em busca de meios para preencher com sensações materiais esta falta que, para os gnósticos, é completamente espiritual.
What shall we use to fill the empty… Spaces where we used to talk… How shall I fill the final places… How shall I complete the wall. (Empty Spaces)
O que devemos usar para preencher vazios… Espaços onde costumávamos falar… Como devo preencher os últimos lugares… Como posso completar o muro… (Espaços Vazios)
Na canção Empty Spaces acontece uma das mais belas cenas do filme de Alan Parker, onde as faces de atração e repulsa provocadas pelo erotismo são mostradas numa representação artística perfeita. De acordo com o gnosticismo, o erotismo é o elemento biológico e espiritual que move o indivíduo na direção da complementação, também biológica e espiritual, oferecendo a possibilidade do reencontro tântrico com a divindade através do prazer sempre crescente em intensidade e sublimidade, ao mesmo tempo em que também apresenta a possibilidade de alienação espiritual devido à concupiscência.
A três canções seguintes, Young Lust (Desejo Imaturo), One of My Turns (Uma de Minhas Crises) e Don’t Leave Me Now (Não Me Deixe Agora), mostram a dificuldade que a alma enfrenta diante dos múltiplos e deslumbrantes prazeres que o erotismo lhe traz através de seus desejos. Contudo, esta dificuldade mostra sua verdadeira face quando a alma constata a impossibilidade de satisfação completa destes mesmos desejos, levando Pink ao desespero, ao aprofundamento da fragmentação de sua identidade e ao consequente rompimento de sua união matrimonial.

Não é demais lembrar que, para muitos grupos gnósticos da antiguidade, havia um sacramento chamado Mistério da Câmara Nupcial, através do qual era possível compreender e trabalhar positivamente com os desejos e com a força erótica, de modo que sua multiplicidade não ocasionasse um mergulho num estado anímico esquizofrênico, mas que servisse de impulso para o encontro do mistério divino conciliado nos matizes do universo material.

Finalmente, depois de tantos sofrimentos, tantos erros e tantas tentativas frustradas de recuperar sua identidade espiritual originária e fugir do medo que de diversas formas lhe foi imposto pela criação material, vem a canção Another Brick in the Wall, Pt 3, onde o personagem começa a consolidar o muro que vem construindo desde a segunda canção, e que representa uma identidade ilusória, chamada pelas tradições orientais e pelos gnósticos contemporâneos de Ego.
I don’t need no arms around me… And I dont need no drugs to calm me… I have seen the writing on the wall… Don’t think I need anything at all…. No!… Don’t think I’ll need anything at all… All in all it was all just bricks in the wall… (Another Brick In The Wall, Pt. 3)
Eu não preciso de braços ao meu redor.. E eu não preciso de nenhuma droga para me acalmar… Eu vi a escrita na parede… Não pense que eu preciso de alguma coisa… Não!… Não pense que vou precisar de algo… Afinal, foram apenas tijolos no muro. (Outro Tijolo Na Parede, Pt. 3)
O Ego é o elemento psíquico responsável pela separação definitiva da alma do mundo espiritual e pelas sensações de auto-suficiência, superioridade e onipotência. Esta separação da alma do Pleroma, termo gnóstico que corresponde ao mundo espiritual, decorre da ausência de Gnosis, o conhecimento (no sentido de lembrança e reconhecimento) de Deus, e pode ser encontrada nas canções seguintes, Good Bye Cruel World (Adeus Mundo Cruel), Hey You (Ei, Você), Is There Anybody Out There (Tem Alguém Aí Fora) e Nobody Home (Ninguém em Casa).

Mas a obra permite entender os sofrimentos que se transformam nas razões pelas quais a alma acaba assumindo o Ego como sua identidade, já que ele oferece a ela a possibilidade de permanecer Comfortably Numb, a música seguinte, que significa “confortavelmente paralisado, entorpecido, insensível e ignorante”. E assim, ela estaria definitivamente livre da sua angústia primordial, das decepções do mundo e da culpa pelos seus próprios erros.

Com a identificação completa da alma com o Ego ocorre um novo nascimento, representado pelo retorno da música In The Flesh (Em Carne e Osso). Nesta encarnação psíquica o personagem principal é um ditador carismático e adorado, distante como a figura paterna morta na guerra, controlador como a figura materna acolhedora e vigilante, autoritário e discriminador como o professor que escarnece os erros dos outros e exigente como a ex-mulher que o abandonou e traiu.

Seu Ego é mostrado emulando as características que formaram seu muro, e esta é a última alternativa da alma para enxergar sua própria ignorância. Inclusive os membros do auditório que assistem ao discurso do ditador gritam “hammer, hammer, hammer”, ou seja, “martele, martele, martele”, representando que mesmo os elementos que formam seu egoísmo oferecem uma alternativa de libertação.

É muito fácil julgar os erros alheios, aqueles que enxergamos à distância, estando nós confortáveis em nossa própria ignorância. Mas quando somos nós os autores dos erros, aí sim temos a possibilidade de enxergá-los In The Flesh, na própria carne, e desta auto-observação virá a oportunidade de quebrar o muro mediante o arrependimento, exatamente o que acontece na canção Stop (Pare):
Do you remember me… How we used to be… Don’t you think we should be closer?… And I put out my hand just to touch your soft hair… To make sure in the darkness that you were still there… And I have to admit… I was a little afraid…  Stop… I wanna go home… Take off this uniform… And leave the show… I’ve been waiting in this cell… Because I have to know… Have I been guilty all this time? (Stop)
Você se lembra de mim… Como costumava ser… Não acha que deveríamos nos aproximar?… Eu estico minha mão pra tocar seu cabelo macio… Para ter certeza que você está aí no meio da escuridão… E tenho que admitir… Eu estava com medo… Pare… Quero ir pra casa… Tirar este uniforme… Deixar o espetáculo… Estive esperando nesta cela… Porque tenho que saber… Tenho sido culpado todo este tempo? (Pare)
No filme, a sequência traz a angustiante cena do julgamento, no qual todos os medos e todos os elementos que ajudaram a construir o muro são trazidos diante de Pink. Curiosamente, ao longo de todo o julgamento ele permanece absolutamente neutro, sem manifestar desespero ou revolta, como se contemplasse serenamente seus erros do passado, aprendendo sobre eles ao invés de sofrer.

Por fim, o muro é destruído por ordem do juiz interior de Pink, o que corresponde à libertação da alma mediante seus próprios esforços de arrependimento, palavra que vem do grego metanoia, e significa mudança de perspectiva. Mesmo que representado de forma bizarra e psicodélica, a figura do juiz representa a figura mítica do Cristo, o elemento salvífico da mitologia gnóstica, que resgata a alma de seu aprisionamento no mundo material e no Ego e a leva à uma reunião com as demais essências divinas no Peleroma, o mundo espiritual, que para Waters é o lado de fora do muro:
All alone, or in twos… The ones who really love you… Walk up and down outside the wall… Some hand in hand… Some gathering together in bands… The bleeding hearts and the artists… Make their stand… And when they’ve given you their all… Some stagger and fall after all it’s not easy… Banging your heart against some mad buggers wall… (Outside The Wall)
Sozinhos, ou em pares… Aqueles que realmente te amam… Caminham pra cima e pra baixo do lado de fora do muro… Alguns de mãos dadas… Outros em bandos… Os de coração aberto e os artistas… Se manifestam… E quando eles tiverem dado tudo de si à você… Alguns tropeçam e caem, afinal não é fácil… Bater seu coração contra o muro de algum maluco indesejado… (Fora do Muro)


 

13 de abr. de 2012

O Diabo Fascinosum

Lygia Aride Fuentes - Instituto Junguiano do Rio de Janeiro

Vou iniciar este trabalho com uma declaração:

“Eu faço um profissão amoral, onde todas as possibilidades humanas podem ser discutidas. Numa profissão como essa você tem que se lambuzar na alma humana! Nada que é próprio do homem pode te estarrecer ou inibir.”

A propósito, essa declaração é da atriz Fernanda Montenegro que nos faz questionar se, como analistas, temos a mesma disponibilidade para acolher imagens tão aterradoras quanto as que se apresentaram a nós. Estou convidando vocês a experimentarem a emoção do encontro com o Diabo, ou seja, com essa imagem que surge autonomamente na psique humana.


A experiência emocional com o Diabo, esse ser monstruoso, nos faz constatar o quanto ele é, também, sagrado e divino. Nas palavras de Rudolf Otto: “O divino, sob forma do demoníaco, é para a alma objeto de terror e de horror. A imagem demoníaca é, também, numinosa por conter em si um mysterium terrible et fascinans. O mistério não é só o espantoso, é também o maravilhoso.” Este é ao mesmo tempo terrível, porque se dá como prufundo choque, e fascinante porque, paradoxalmente, exerce uma atração irresistível.

Jung diz que, mesmo que não possuíssemos nenhuma imaginação para o mal, ele ainda assim nos possuiria. E isso nos fez compreender o que nos ocorreu, pois que nós não procuramos o Diabo, ele é que veio até nós.

Foi mais ou menos assim como nos fala um personagem de Guimarães Rosa:

“Enquanto a gente brincava, descuidoso, as coisas ruins já estavam armando a assanhação de acontecer. Elas esperavam a gente atrás das portas.”3



E foi assim que ele se apresentou num sonho de uma cliente, o primeiro de uma série. Em suas palavras:
“Encontro-me diante de uma grande porta pesada que está se fechando. Isso se dá num rítmo compassado, e conta-se assim: ’1, 2, 3, ...’. No instante em que a porta vai se fechar, num milionésimo de segundo, o Diabo passa por ela, sorrateiramente, e então ela se fecha no compasso de número 4.” Lá do outro lado da porta, ela diz, “sei que é a casa de Deus. E agora sei, também, que Deus e o Diabo se encontram ali reunidos.”

A cliente fica assustada e atônita com esta constatação, pois vivencia este sonho como uma verdade irrefutável, a ponto de sentir necessidade de dividir essa experiência com todo mundo. Ou, como ela diz, “pelo menos com aquelas pessoas que se iludem sobre um Deus que está no Céu, e que o Inferno fica lá embaixo, bem separado.” Não interpretamos este sonho enquanto referido à Sombra Pessoal da cliente, mas à Sombra Arquetípica, a partir da observação de que essa imagem do inconsciente estaria tratando da transformação da visão maniqueísta de Bem e Mal, constelado na consciência dessa cliente a partir da cultura judeu-cristã, onde ela está inserida. Compreendemos essas imagens como uma experiência gnóstica.

Tanto a cliente quanto os gnósticos foram fortemente afetados por experiências íntimas dessa natureza, e essas experiências contêm uma idéia que compensa uma assimetria divina introduzida e preconizada pela Igreja Cristã, influenciada tanto pela doutrina da Privatio boni, ou seja, da idéia do mal apenas como privação do bem, tanto quanto pela idéia de Deus como Summum Bonum, isto é, totalmente bom. Idéias essas que influenciaram toda a cultura Ocidental.

Esse sonho parece compensar a cisão que se deu na divindade Cristã, resgatando uma coniunctio oppositorum, melhor dizendo, uma antinomia interna total em Deus.

A cliente, após este sonho, entrou em contato com um problema profundo, apresentado não racionalmente, que é a relação entre o homem e a Sombra de Deus. Ou seja, aqui, a questão que se coloca é a do Mal Absoluto preexistindo em Deus. Em termos psicológicos, inicia-se uma profunda relação dialética entre o Ego e a Sombra do Arquétipo do SI-Mesmo.

Segundo Jung4, é bem possível que o indivíduo possa reconhecer o aspectorelativamente mau de sua natureza, isto é, confrontar-se com a Sombra Pessoal ou com a Sombra Coletiva, mas defrontar-se com o absolutamente mau, ou seja, com a Sombra Arquetípica, representa uma experiência ao mesmo tempo rara e assustadora. A O mal é uma realidade e não é possível desembaraçar-se dele por meio de eufemismo, de negação ou de projeção, por isso é necessário aprendermos a conviver com ele. E, ainda, como diz Jung: “o Diabo quer participar da vida, mesmo que até a hora atual, ainda é inconcebível como isso será possível, sem maiores danos.”5

Jung também reconhece que há algo intrínsico ao próprio Si-Mesmo que não se coaduna, não se relaciona, e que, fundamentalmente, não se submete a uma hierarquia. Considerar o Si-Mesmo apenas como o centro ordenador da psique é deixar “escapar” este aspecto sombrio do próprio Si-Mesmo, que é o diabólico, o suicida, o terrorista, etc. Ou como diz Hillmann: “atrás da escuridão reprimida e da sombra pessoal (...) existe a sombra arquetípica, o princípio do não-ser, que foi chamado e descrito como o Demônio, o Mal, o Pecado Original, a Morte, o Nada.”6

Isso nos faz pensar nas palavras de Jung quando ele diz ter esperança que o homem possa, APESAR do mal, libertar-se Deo concendente (pela Graça de Deus), ou seja, obter o impossível que só é possível por Graça. Da mesma forma que Jó, que, após ter esgotado racionalmente suas tentativas para compreender seu sofrimento, abandona-se à antinomia divina dizendo: “(...) meus olhos recorrem a Deus, desfeitos em lágrimas, para que Deus defenda o homem diante de Deus”. 7

A partir daquele primeiro sonho, outros vieram, e o Diabo não mais deixou a cliente em paz até que lhe déssemos a devida atenção, até que dialogássemos com ele, até que o acolhêssemos e o entendêssemos. Soubemos, então, que o Diabo tem seus motivos, e podemos afirmar, agora, que eles são bem legítimos.
A questão da existência ou não do Diabo, enquanto uma entidade externa, real, no sentido literal, perdeu, então, a razão de ser. Pois que se tratava, com efeito, e que efeitos!, da experiência emocional com ele. 

Com isso nos limitamos a confirmar a terrível presença da fenomenologia do Diabo na vida e nos sonhos dos homens; sua relaidade transcendental, enquanto realidade psíquica; a evidência de sua sacralidade, e o significado psicológico correspondente a profundos conflitos internos que ele vem representar.

Na compreensão psicológica de Jung, os enunciados religiosos, tais como Deus, Diabo, Espírito, constituem uma realidade psíquica que não se pode duvidar, pois são a expressão de afetos autônomos da alma. Falamos, então, não da existência do Diabo literalmente, mas sim de um fenômeno que tem seu quantum de energia psíquica, ou afeto, constelado num complexo, desligado da consciência, que podemos observar somente através de símbolos ou imagens organizados a partir de estruturas arquetípicas. A imagem do Diabo é sempre uma projeção da experiência emocional, vivida no momento de uma confrontação e uma tensão entre opostos, criada por uma cisão psíquica, e que tem uma função psicológica.

Percorreremos, então, a imagem do Diabo, tal como um espírito ou um daimon, cuja existência jamais poderá ser provada no mundo exterior, nem ser conhecida por via racional.

Jung recomenda que esse daimon, que foi traduzido por demônio sob a influência dos valores cristãos, não seja tomado neste sentido, mas sim, no sentido do vocábulo grego usado por Diotima, quando se dirige a Sócrates, no Symposium de Platão, correspondendo, então, a um poder determinante, sem consciência, que vem ao nosso encontro, tal como o poder da Providência e do destino. Ficando as decisões éticas, resultantes dessa confrontação, relegadas ao próprio homem.

Assim também se faz necessário explicar que o termo espírito é empregado no Oriente com uma conotação metafísica, mas que, no Ocidente, desde a Idade Média, ele perdeu esse sentido e, posteriormente, se diferenciou a partir do pensamento de Kant, filósofo este que influenciou Jung em algumas de suas idéias.

Jung diz: “A psicologia não os considera [os espíritos] como possuidores de valor absoluto, nem também lhes reconhece a capacidade de expressar uma verdade metafísica”.8

Jung nos diz, ainda, que “os enunciados religiosos são uma espécie de confissão da alma, os quais (...) têm suas raízes em processos inconscientes e (...) transcendentais.”9

Ao utilizar o termo transcendental, Jung baseia-se em Kant, referindo-se àquilo que torna possível o conhecimento da experiência e não vai mais além da experiência, diferindo do termo transcendente, que alude ao que se encontra mais além de toda experiência, é incognoscível e, portanto, inominável.
Jung, tal como Kant, nos fala da falta de meios intelectuais que nos permitam verificar a existência de algo transcendental, pois que “a imagem e o enunciado são processos psíquicos que não se confundem com o seu objeto transcendental”.10 Os processos psíquicos não produzem o objeto transcendental, simplismente o indicam. Dito isto, concluimos que menos meios teríamos, ainda, para conhecer o transcendente. Vemos, então, que Jung trabalha com conceitos tais como: o Inominável, Deus, Diabo, Espírito, Realidade, Verdade, como transcendentais, no sentido kantiano, e não num sentido absoluto. Jung constata também o quanto é reduzida a nossa capacidade de representação e as limitações e pobreza de nossa linguagem para apreendermos esses conceitos na sua realidade última.

Encontramos no filósofo Alain Badiou idéias que corroboram as de Jung a este respeito. Sobre a Verdade Alain Badiou diz: “Que a verdade não tenha potência total significa (...) que a língua-sujeito, produção do processo de verdade, não tem poder de nomeação sobre todos os elementos da situação. Deve haver ao menos um elemento real (...) que permanece inacessível às nominações. (...) Chamaremos esse elemento de o inominável de uma verdade.”11

Mais importante ainda, para a nossa discussão, é percebermos a aproximação das idéias de Jung e desse filósofo acerca, não da existência ou não do Mal ou do Diabo no sentido absoluto, mas sobre a origem do Mal, quando Badiou diz que “toda a absolutização da potência de uma verdade organiza um mal.”12

Jung nos ensina sobre as estruturas arquetípicas, que estas são potencialidades, como o arquétipo do Si-Mesmo, e que este, apesar de constituir a potencialidade da totalidade da psique, não é possível ser apreendido enquanto tal. Sabemos com Jung, que só podemos apreender partes ou aspectos do Si-Mesmo quando estes se constelam na consciência. Se entendemos Deus como uma representação desse arquétipo total, podemos considerar o Diabo como o Todo em forma de parte, ou mesmo, a expressão daquela parte que ficou fora do Todo. Dito isto, nos parece, então, que o Diabo não é, em si, o Mal, mas um mal é criado dependendo de como nos relacionamos com qualquer das potências arquetípicas inconscientes. Quando tomamos, por exemplo, a parte pelo Todo, aí se cria um mal.Além do que, com isso, nos aproximamos do perigo da inflação, ou seja, em função da possessão pela hybris, o homem possuído por uma imagem de totalidade corre o risco de entrar num estado de inflação.

Ao pesquisarmos sobre o Diabo, estamos irremediavelmente ligados à religiosidade e à idéia de Deus, contudo, restringimo-nos à idéia de divindade formulada pela religião judeu-cristã.
Como nos diz a historiadora Karen Armstrong: “Sempre que um conceito de Deus deixou de ter sentido ou importância, foi discretamente abandonado e substituído por uma nova ideologia. (...) Apesar de sua transcendência, a religião é muitíssimo pragmática.”13

Acompanhamos as teorias de Jung, a partir de seus estudos sobre o processo da metamorfose nessa divindade judeu-cristã, e compreendemos como esta metamorfose antecipa uma transformação histórica, na consciência ocidental. Através das mudanças ocorridas em Javeh, da criação de um Deus cristão e da atualização desse Deus, na figura de Cristo, o homem acreditou vislumbrar a totalidade da divindade. Ã primeira vista, pode parecer que os homens haviam se libertado das trevas, do inconsciente, mas o que surgiu foi um monoteísmo unilateral: Deus havia se despojado de seus elementos sombrios e nefastos e se tornara o Summum bonum.

O Mal, era, inicialmente, deflagrado pela mão esquerda de Javeh, além do que, o próprio Javeh operava através de inversões tais como a exigência à Abraão para que matasse o próprio filho Isaac, desobedecendo o mandamento “não matarás”; ou como na história de Jacó, onde este, ludibria seu irmão Esaú, e também o pai. Ele luta contra um anjo durante toda a noite e é ferido na coxa. Jacó exige ao anjo que se revele, este o abençoa, então Jacó vê a sua face e vê que é Deus. Com isso, tornou-se um iniciado e recebeu um novo nome: Israel, que significa, aquele que lutou contra o Senhor.

É com esses homens que Deus fará uma aliança, os terá como “o filho eleito” e dará sua proteção. Mas não nos enganemos, pois a natureza dessa aliança com Deus significava responsabilidade, não privilégio. Ou seja, num nível psicológico, essas experiências requerem uma atitude moral do indivíduo que com elas se relacionam. Nas palavras de Jung: “o critério da ação ética não pode consistir no fato de que aquilo que é considerado bom tome o caráter de um imperativo categórico; inversamente, o que é considerado mau não deve ser evitado de modo absoluto.”14

Goethe parece ir ao âmago da questão ao confessar jamais ter ouvido falar de um crime que ele mesmo não fosse capaz de cometer.

Acompanhamos esse jogo de inversões como um exercício fundamental para que não nos esqueçamos e não nos mantenhamos rigidamente acreditando apenas em um dos lados de qualquer história.

Em uma das passagens mais interessantes do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo15, o romancista português José Saramago, apresenta-nos um diálogo entre Jesus, Deus e o Diabo numa barca em alto mar. Jesus ao perguntar ao Diabo se é mesmo verdade que ele, com a finalidade de levar os homens à tentação, atormentava suas pobres vidas, obtem do Diabo a seguinte resposta: “Mais ou menos, limitei-me a tomar para mim o que Deus não quis, a carne, com a sua alegria e a sua tristeza, a juventude e a velhice, a frescura e a podridão, mas não é verdade que o medo seja uma arma minha, não me lembro de ter sido eu quem inventou o pecado e o seu castigo, e o medo que nelas há sempre.” Além do que, Saramago inverte que seja o Bem algo de Deus, e o Mal, do Diabo, quando, ao continuar o diálogo, Jesus pergunta à Deus: “Com quanto de sofrimento e de morte se pagarão as lutas que, em seu nome e no meu, os homens que em nós vão crer travarão uns contra os outros?”. E Deus desfia inúmeros feitos terríveis: atrocidades, carnificinas, torturas, perseguições, guerras, assassinatos e mortes; que, em nome Dele ou pelas suas próprias mãos, já teriam havido e continuariam ocorrendo ao longo da história da humanidade.

Percebemos nesses confrontos entre o homem e essas entidades tais como Deus, anjos, e o Diabo, a presença do numinoso, e a busca de significação que esse conflito moral impõe.

Jung diz que o problema da moralidade e da ética se apresenta psicologicamente ao homem quando, por um lado, ele tem que refletir e agir de acordo com um julgamento moral que esteja em concordância com sua própria consciência, e por outro, estar em relação com as exigências supra-ordenadas do Si-Mesmo, que é capaz de fazer as mais arbitrárias e penosas solicitações. Ele enfatiza que por trás da ação de um homem não se encontra nem a opinião pública nem o código moral, mas a personalidade da qual ele ainda é inconsciente. E é por ela, por esta personalidade inconsciente, que o homem terá que responsabilizar-se.

1 - Tema Livre apresentado no V Simpósio da Associação Junguiana do Brasil, realizado em setembro de 1997, em Belo Horizonte, M.G., baseado na Dissertação O Diabo Fascinosum apresentada ao Instituto Junguiano do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de analista no mesmo ano.
2 - OTTO, Rudolf. O Sagrado. Ed. Edições 70. Série Perspectivas do Homem. RJ. 1992. Pg 49.
3 -APUD, Guimarães ROSA, in O Sertão Místico de Rosa. Caderno Mais do Jornal Folha de São Paulo. SP.30/06/96.
4 - JUNG, Carl Gustav. Aion. Vol.IX/2 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1986. Pg 08.
5 - JUNG, Carl Gustav. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira. 6a Edição. RJ. 1984. Pg 284.
6 - APUD James HILLMANN, in Ao Encontro da Sombra, Connie ZWEIG e Jeremiah ABRAMS (Org.). Ed. Cultrix. SP.1991. Pg 150.
7 - JUNG, Carl Gustav. Resposta à Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 10.
8 - JUNG, Carl Gustav. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental. Vol. XI das Obras Completas. Ed. Vozes. 1983. Pg 481.[O grifo é nosso].
9 - JUNG, Carl Gustav. Resposta a Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 02. [O grifo é nosso].
10 - JUNG, Carl Gustav. Resposta a Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 05.
11 - BADIOU, Alain. Ética - Um Ensaio sobre a Consciência do Mal. Ed. Relume-Dumará. RJ. 1995. Pg 94.
12 - BADIOU, Alain. Ética - Um Ensaio sobre a Consciência do Mal. Ed. Relume-Dumará. RJ. 1995. Pg 93. [O grifo é nosso].
13 - ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus: Quatro Milênios de Busca do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Ed. Companhia das Letras. SP. 1994. Pg 10.
14 - JUNG, Carl Gustav. Memórias,Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira. 6a Edição. RJ. 1984. Pg 284.
15 - SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Ed. Companhia das Letras. SP. 1992. Pgs 380 e 386.


   

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