28 de dez. de 2012

Encarnação


"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Pitágoras


29 - Disse Jesus: se a carne veio a existir por causa do espírito, isto é uma maravilha; mas se o espírito veio a existir por causa dela, é a maravilha das maravilhas. Mas o que me maravilha é como essa grande riqueza fez morada em tal pobreza.

O corpo humano é produto do espírito – e que produto maravilhoso!

Mas, será que a nossa alma é produto do corpo? À primeira vista, parece que não. E, no entanto, também este paradoxo é um fato ainda mais maravilhoso do que aquele. Sem o nosso corpo, a alma não se teria evolvido. Antes da nossa encarnação, o nosso espírito era espírito, um espírito individual, emanado do Espírito Universal da Divindade. Mas, antes da nossa encarnação, o nosso espírito não era alma, não era anima, porque ainda não animava o nosso corpo. Desde a nossa encarnação terrestre, o nosso espírito é a alma que anima a matéria do nosso corpo.

E que maravilha a nossa alma fez do nosso corpo! Quanto mais estudamos os componentes do nosso corpo, o coração, os pulmões, as vias digestivas, o cérebro, os nervos, as células, as moléculas, os átomos, o nosso sentir e pensar, o nosso querer e amar – tanto mais estupefatos nos quedamos em face desse universo em miniatura, que é o homem.

Mas a nossa estupefação atinge a sua culminância quando nos tornamos plenamente conscientes desse paradoxo dos paradoxos: porque tamanha riqueza espiritual foi habitar tamanha pobreza material, transformando a impotência da matéria na potência do espírito.

Parece que a Divindade creadora quis dar uma prova da sua onipotência, reunindo em síntese tão flagrantes antíteses como espírito e matéria, luz e treva, vida e morte, atividade e passividade.
Em face disto, exclama o Salmista: “Que é o homem, Senhor, que dele te lembres? E o Filho do homem que o visites? Pouco abaixo dos anjos o colocaste, de honras e glórias o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos”.

E Paulo afirma que o corpo humano é o templo do Espírito Santo, habitáculo da própria Divindade.

Que grande sabedoria vemos em Jesus, que nunca hipertrofiou nem atrofiou o seu corpo, mas sempre manteve perfeita harmonia entre o santuário do seu corpo e o espírito que habita nesse santuário. Ele, o “homem sem pecado”, era também o homem sem doença; ele, o homem perfeito, o homem cósmico, o homem integral.

 

 



 

27 de dez. de 2012

Vinho Inebriante


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28 - Disse Jesus: tomei meu lugar no meio do mundo e em carne apareci a eles; encontrei-os todos ébrios e, no meio deles, ninguém encontrei sedento. E minha alma turbou-se pelos filhos dos homens porque eles são cegos em seu coração e não vêem que vazios vieram ao mundo e vazios tentam sair do mundo outra vez. Mas agora estão ébrios. Quando se livrarem do vinho, aí então arrepender-se-ão.

O homem profano vive numa permanente embriaguez das coisas do ego material-mental-emocional. E por isto não tem sede das coisas espirituais do Eu. São cegos para a Verdade, porque só enxergam as ilusões.

Todo o homem entra neste mundo sem nada, mas não deve sair do mundo sem nada. A razão-de-ser da nossa encarnação é adquirirmos algo que não nos foi dado, crearmo-nos mais do que Deus nos creou. De Deus recebemos a nossa alma como carta branca; mas não lha podemos devolver como carta branca. Se devolvermos a Deus o que de Deus recebemos, seremos iguais àquele “servo mau e preguiçoso” da parábola dos talentos, que devolveu o mesmo talento que recebera.

A nossa missão terrestre é realizarmos pelo poder creativo do livre arbítrio valores que Deus não nos deu, mas para cuja creação nos deu potencialidade creativa. O homem deve atualizar as suas potencialidades creadoras; isto é ser “servo bom e fiel e entrar no gozo do seu Senhor”.

Quanto ao corpo, sim, sairemos do mundo assim como no mundo entramos, sem nada. O corpo nos foi emprestado como embalagem pelos nossos pais e pela natureza. Devolveremos à natureza o que da natureza recebemos. Mas temos de restituir a Deus o que de Deus recebemos mais aquilo que creamos com o nosso livre arbítrio, porque o homem não é apenas uma creatura creada, como os animais, mas uma creatura creadora. Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, crea débito – e todo débito gera sofrimento.

O homem é uma creatura potencialmente creadora, e seu dever é fazer-se uma creatura atualmente creadora.

É esta a grande Verdade insinuada pelas palavras de Jesus acima citadas.

"Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas."  Huberto Rohden
 

26 de dez. de 2012

Jejum do Mundo


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27 - Jesus disse: se não fizerdes jejum do mundo não encontrareis o Reino; se não guardardes o Sabbath como Sabbath, não vereis o Pai.

Frases tão enigmáticas como estas fazem lembrar Lao-Tse no seu Tao. Pela tradição, consta que Tomé esteve na Índia, e na Catedral de São Tomé, em Madras, existe o seu túmulo.

Que é jejuar em face do mundo?
Que é guardar o sábado como sábado?

Jejuar é abster-se do alimento. Jejuar em face do mundo é abster-se das coisas do mundo. Quem se alimenta das coisas do mundo material sem as transformar é um homem profano, e não um homem espiritual.

Quem não guarda o dia do descanso para dar descanso ao ego e ativar o Eu, esse não celebra devidamente o dia do descanso.

Jejuar e descansar não quer dizer necessariamente fugir, abandonar; mas sim libertar-se da tirania do mundo, mesmo vivendo no meio do mundo. O verdadeiro iniciado pode viver no meio do mundo sem ser do mundo. O semi-iniciado tem de abandonar o mundo para não sucumbir ao mundo.

O profano vive impuro no meio dos impuros.
O semi-iniciado vive puro longe dos impuros.
O pleni-iniciado vive puro no meio dos impuros.
O primeiro é como lama.
O segundo é como água.

O terceiro é como luz.
“Vós sois a luz do mundo”.
No princípio, o homem é ego-pensante, ego-vivente, ego-agente – o profano.
Depois ele se torna cosmo-pensado, cosmo-vivido, cosmo-agido – o místico.

Por fim o homem se torna cosmo-pensante, cosmo-vivente, cosmo-agente – o homem cósmico, crístico.

Jejuar em face do mundo é viver no meio do mundo profano sem se mundanizar nem se profanizar.

24 de dez. de 2012

Percepções

26 - Disse Jesus: vês o cisco que está no olho... de teu irmão, mas a trava que está no teu olho, esta não vês. Quando tirares a trave de teu olho, aí poderás ver claramente para tirares o cisco do olho de teu irmão.

Estas mesmas palavras se encontram em Mateus e Lucas. O sentido é por demais conhecido e não necessita de ulterior elucidação. Todo o homem sem auto-conhecimento enxerga facilmente os erros pequenos em seu semelhante, mas não percebe os erros grandes dele mesmo. Para os erros pequenos dos outros, o egoísta usa uma lente de aumento; para os erros próprios ele inverte a lente de maneira que ela diminui, em vez de aumentar os seus próprios defeitos.

Tudo isto é consequência da falta de auto-conhecimento. Quem se conhece realmente a si mesmo, percebe com facilidade até os menores deslizes em si mesmo, e presta pouca atenção às faltas do próximo; e, no caso que as perceba, não é para censurar, mas para ver se pode ajudar a corrigi-las.

Esta última parte vem expressa com palavras cautelosas: Não diz o Mestre que o homem vai tirar do olho do próximo o argueiro dos pequenos erros; mas diz que o homem de auto-conhecimento se torna tão vidente, tão clarividente, para descobrir um modo como tirar, ou para mostrar ao outro como ele mesmo pode corrigir os seus defeitos. Na realidade, ninguém pode fazer o outro bom, só lhe pode fazer bem, mostrando-lhe o caminho de ele mesmo se fazer bom. Cada um deve fazer-se bom por si mesmo. O que o homem bom pode fazer é crear em torno de seu semelhante um ambiente tão favorável que ele resolva torna-se bom. Esse ambiente favorável não consiste primariamente em atos e bons conselhos, nem no bom exemplo, mas sim numa permanente atitude de ser bom. Ser bom quer dizer ter a consciência humana sintonizada com a consciência divina e viver de acordo com essa atitude permanente. O maior impacto benéfico que um homem pode exercer sobre outro homem é ser bom, crear e manter uma permanente sintonia entre si e o Infinito.

 

23 de dez. de 2012

Ação e Reação




25 - Disse Jesus: Ama teu irmão como tua alma, protege-o como a pupila dos teus olhos.

Por mais estranho e paradoxal que pareça à primeira vista, o verdadeiro amor é auto-amor ou auto-afirmação. Aos inexperientes parece isto puro egoísmo, porque eles entendem por autós o seu ego, e não o seu  Eu. O nosso Eu, porém, é Deus, é a alma do Universo, é o Uno e o Infinito da Essência, embora manifestado existencialmente na forma individual do Eu. Por simples coincidência da nossa língua, o Eu é parte da palavra Deus, e Deus é um alargamento de Eu. O meu Eu, minha alma, meu atman, é o próprio Deus universal e transcendente em forma individual e imanente.

Graficamente, poderíamos ilustrar essa verdade do modo seguinte:


Se o Eu ama o Tu linearmente, há um amor de ego para ego. Mas, se o Eu ama o Tu triangularmente, via Deus, então o Eu ama o Tu, não como um ego humano, mas como um Eu divino; o Eu ama no Tu o mesmo Deus que ele ama em si mesmo. De maneira que quem ama a Deus realmente, integralmente, ama-o a) em Deus, b) no Eu, c) no Tu; ama o único Deus na fonte Deus e em dois canais humanos, no canal Eu e no canal Tu.

Amar Deus em Deus e Deus no Eu é experiência mística; amar Deus no Tu é vivência ética. A verdadeira ética é um transbordamento natural e espontâneo da mística.


Amar seu próximo apenas linearmente, como no primeiro caso, é apenas altruísmo ou moralidade, mas não é verdadeira ética.


A vivência ética da fraternidade humana supõe necessariamente a experiência mística da paternidade divina.
É este o sentido profundo das palavras de Jesus acima citadas: amor-alheio é o transbordamento espontâneo do amor-próprio bem entendido: ama teu próximo como a ti mesmo – suposto que esse amor-próprio seja amor de Deus no homem.



21 de dez. de 2012

Morada de Deus


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Escada de Jacob por William Blake (c. 1800, British Museum, Londres)

24 - Seus discípulos disseram: mostra-nos o lugar em que estás, pois é necessário que nós te busquemos. Respondeu-lhes ele: aquele que tem ouvidos que ouça. Dentro de um homem iluminado há luz e ele ilumina o mundo todo. Quando ele não brilha, há trevas.

http://www.sedentario.org/wp-content/uploads/2009/05/jacobs_ladder.jpgMilênios antes do nosso tempo disse Moisés que a luz foi a primeira creatura de Deus, e da luz vieram todas as outras coisas.

Em nosso século escreveu Einstein que todas as coisas são produto da luz; todas são lucigênitas e todas podem ser lucificadas.

Mas, além da luz externa há uma luz interna, que é a causa e a fonte daquela.
“Eu sou a luz do mundo – vós sois a luz do mundo”.

A luz do mundo, de que o Cristo fala, é a luz metafísica, que creou a luz física.
Espírito é luz metafísica, luz imaterial, luz invisível.
A alma humana é uma emanação dessa luz infinita.

Quando o homem chega à plena consciência da sua alma-luz, então ele ilumina o ambiente em que vive, e, por fim lucifica as próprias coisas opacas, tornando-as transparentes como uma luz intensa diafaniza o prisma que permeia. A intensificação da luz da alma depende da conscientização. Quando o homem atinge o zênite da sua conscientização, então sabe e saboreia ele “Eu e o Pai somos um; o Pai está em mim e Eu estou no Pai”.

O principiante pensa que o Céu seja um certo lugar a que o homem deva ir; mas o iniciado sabe que o Céu é a conscientização da luz da alma.

A luz física tem a tendência de se difundir exteriormente em todas as direções; e tanto maior é a expansão da luz quanto mais intensa for a sua concentração. A mesma lei rege também a luz metafísica, quanto mais intensamente o homem se concentra em si mesmo, tanto mais extensamente irradia ele essa luz em derredor em benefício dos outros. O maior benfeitor da humanidade é o místico focalizado na luz divina. A grande lei da “constância das energias”, que a física conhece, impera também na metafísica: nenhuma energia se perde; todas as energias são constantes e se transformam.

Neste sentido dizia Mahatma Gandhi: “Quando um único homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de muitos milhões”.

Ninguém pode fazer bem aos outros, sem ser bom em si mesmo.
Ninguém pode difundir luz para os outros, sem ser luz em si mesmo.
Se o homem não for luminoso em si, será treva para si e para os outros.


18 de dez. de 2012

Reencarnação


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23 - Disse Jesus: eu vos escolherei na razão de um em mil, dois em dez mil, e sereis todos como um só.

O homem sensorial é pluralista.
O homem mental é dualista.
O homem espiritual é unista ou monista.

Pelos sentidos o homem percebe o Universo como uma imensa diversidade sem a menor unidade.
Pela inteligência, o homem analisa o Universo como uma dualidade entre causa e efeito.
Pela razão espiritual o homem intui o Universo como uma Essência Una e Única que se manifesta em existências múltiplas.

O homem univérsico, o homem da cosmo-visão, existe e sempre existiu sobre a face da terra, mas é ainda uma pequena elite; a grande massa é ainda pluralista ou dualista. O homem monista é apenas 1 entre 1.000, ou 2 entre 10.000.

Esta visão monista começa, quase sempre, como monismo unitário, como uma visão do Uno no Uno, como uma experiência mística da Essência Única da Divindade Divina, da Realidade solitária. Pouco a pouco, o monismo unitário se expande num monismo diversitário, como Realidade Univérsica, como o Deus do mundo no mundo de Deus; o misticismo unilateral se desdobra em mística onilateral; a consciência mística desabrocha em consciência cósmica.

O homem de consciência cósmica vê Deus no mineral, no vegetal, no animal  no hominal. Vê a única essência transcendental como existência imanente, inconsciente no mineral, subconsciente no vegetal, semi-consciente no animal, ego-consciente no homem intelectual – e pleni-consciente no homem racional.

Esta longuíssima jornada ascensional do ser humano tem o seu início aqui no jardim de infância do planeta terra; mas continuará, por milhares de anos, séculos e milênios, através das muitas estâncias que há na casa do Pai celeste, nesse Universo de incomensurável grandeza e amplitude.

Quanto mais o homem progride nessa jornada evolutiva rumo à Essência Una, mais ele se une aos outros companheiros de jornada, até finalmente se tornar Uno com os outros.

Se Sócrates, Platão e Jesus, escreve Santo Agostinho, se tivessem encontrado, teriam harmonizado admiravelmente em suas ideias.

Uma só é a Verdade, muitos são os caminhos que conduzem à Verdade. Um viajor que vem do norte parece ser contrário ao que vem do sul; um viajor que vem do leste parece ser adversário de outro que vem do oeste. Entretanto, todos são unidos quando vistos do centro, embora pareçam desunidos e contrários quando contemplados da periferia.

“Creio na comunhão dos Santos”, diz um dos artigos do Credo Apostólico. A comunhão dos santos é a convergência dos viajores rumo à Verdade única; é a complementaridade de todos os pólos aparentemente contrários.

A divergência é da massa – a convergência é da elite.
A discórdia é dos muitos – a concórdia é dos poucos.

Hoje em dia está crescendo notavelmente a elite e diminuindo a massa. Cada vez maior é a fome da religião – e cada vez maior é o fastio das religiões.

Quanto mais o homem se aproxima de Deus, tanto mais o homem se aproxima dos outros homens.
Quanto mais crescer a consciência mística da paternidade única de Deus, tanto mais crescerá a vivência ética da fraternidade dos homens.

A verdadeira mística transborda em verdadeira ética.

17 de dez. de 2012

O Néctar da Vida


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22 - Jesus viu criancinhas que estavam sendo amamentadas. Disse aos seus discípulos: essas criancinhas que estão sendo amamentadas são semelhantes àqueles que entrarão no Reino. Disseram-lhe: Poderemos então, como crianças, entrar no Reino? Jesus disse-lhes: quando fizerdes de dois um e quando fizerdes o interno tal qual o externo e o externo tal qual o interno, e o de cima tal qual o de baixo, e quando tornardes o homem e a mulher em um só, de tal forma que o homem não seja homem e a mulher não seja mulher, quando dispuserdes olhos no lugar de olhos e a mão no lugar da mão, e o pé no lugar do pé, uma imagem no lugar de uma imagem, aí, então, entrareis no Reino.

O Mestre não espera que seus discípulos sejam crianças, mas que sejam como crianças. O que a criança faz por primitiva ignorância, deve o homem espiritual fazer por avançada sapiência. A criança ignorante age por vacuidade, o homem sapiente age por plenitude. Vistos por fora, a criança e o sapiente são muito parecidos, mas por motivos diametralmente opostos, pois os extremos se tocam.

O que é instintivo e espontâneo é simples – o que é intuitivo e espontâneo também é simples; mas o que é intelectivo e artificial é complicado.

O homem unilateralmente erudito é, quase sempre, um homem cheio de complexos e complexidades, cheio de artificialismos e arrevezamentos curvilíneos.

Por outro lado, o homem de sabedoria onilateral, de experiência profunda e vasta, é sempre um homem simples e benévolo, um homem de atitude lhana e retilínea.

Em face do sexo a criança não tem malícia, não se escandaliza com nudez masculina ou feminina, acha tudo natural e puro.

Ao passo que o homem no plano ego malicia tudo e descobre perversidade em tudo – mas o homem na dimensão do Eu espiritual é cândido como a criança, não por ignorância, mas por sapiência.

No Universo e na humanidade tudo é bipolarizado; mas no homem-ego essa bipolaridade tem caráter de contrariedade, ao passo que no homem-Eu essa bipolaridade se transforma numa harmoniosa complementaridade. De maneira que o dois, sem deixar de ser dois, aparece como um perfeitamente unificado.

O homem Cristo-cómico vê o Uno no Verso e vê o Verso no Uno, porque atingiu as alturas do homem univérsico, do homem integral, a que se refere Jesus nas palavras acima citadas.

 

14 de dez. de 2012

Os discípulos de Jesus


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21 - Disse Maria a Jesus: A que se parecem teus discípulos? Ele lhes respondeu: Eles são como crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo aparecerem e lhes disser: devolvam nossos campos, eles se despojam de suas roupas e diante deles lhes devolvem os campos. Entretanto, eu digo: se o dono da casa souber que o ladrão vai vir, ficará de vigia e não o deixará entrar na sede de seu reino para levar seus haveres. Deveis, então, tomar cuidado com o mundo; cingi fortemente vossos rins para que os salteadores não encontrem uma forma porque encontrarão o proveito que imaginais. Deixai que haja entre vocês um homem compreensivo; quando a fruta amadurece, ele vem depressa, com a foice na mão e a colhe. Aquele que tem ouvidos que ouça.

Maria – a mãe de Jesus, ou alguma das outras Marias do Evangelho – quis saber com quem se pareciam os discípulos de Jesus, e o Mestre deu a maravilhosa resposta acima: O verdadeiro discípulo do Cristo se parece com alguém que vive num campo alheio, exatamente como a alma humana que não vive em sua pátria, mas num campo de imigração terrestre, onde tem de passar alguns decênios para colher experiências através do corpo material, que lhe foi emprestado por seus pais. Este mundo é de outro dono, como afirma o próprio dono quando diz: “Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, porque são meus e eu os dou a quem eu quero”; e Jesus confirma as palavras do anticristo dizendo: “O dominador deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós”. A alma humana, que veio de outras regiões foi enviada temporariamente para o campo alheio desta terra, não por punição, mas para ulterior evolução.

Ultimamente, um grupo de cientistas atômicos da Universidade de Princeton, publicaram a sua Cosmo-visão, ou “Gnose”, em que declaram que sem uma “resistência” entre espírito e matéria não é possível a evolução do espírito, que, em forma individual se chama alma. Resistência é dificuldade, sofrimento, fator indispensável para a evolução.

Depois de certo tempo, os donos do campo Terra expulsam da sua propriedade o imigrante alma, e ela deixa o campo do mundo, sem levar nada, totalmente desnuda no seu Eu espiritual; devolve aos donos do campo até o material do seu corpo, que da terra recebera.

Se Didymos Thomas, o autor deste Evangelho, não tivesse escrito nada senão estas palavras, seria suficiente para incluí-lo entre os grandes iniciados cósmicos da humanidade.

Todo o verdadeiro discípulo do Cristo se considera um emigrante do Além e imigrante do Aquém; não se apega fanaticamente ao campo alheio do mundo material, nem o rejeita acerbamente; mas serve-se dele benevolamente para sua evolução ascensional, como um meio para colher experiências na longa jornada através das muitas estâncias que há em casa do Pai celeste.

Graças a ti, Maria, que deste oportunidade a Jesus para dizer tão maravilhosas palavras a seu discípulo Tomé.

Estas palavras são a continuação da parábola precedente sobre a criança inocente em campo alheio. Os donos do campo terra são ladrões profissionais e procuram sempre roubar-vos os tesouros do reino da alma. Por isto, deveis estar sempre alerta, para que o mundo profano não penetre no santuário do vosso espírito.

Estar de quadris cingidos é estar prontos para a viagem, dispostos para partir a qualquer momento para regressar do exílio terrestre à pátria celeste, com rica colheita de experiências. Então tereis seguro o tesouro que adquiristes durante a vossa estada no campo alheio da terra.

Tende a visão da vossa maturidade, e não queirais permanecer em terra alheia quando é chegada a hora da vossa partida para regressardes à querência do Além.

Morrer é tão natural como nascer e viver.

Silêncio é Morte

"Recentemente ouvi uma frase bem curta e completa que diz: “Silêncio é morte”. A autora da frase é a Gangaji. “Silêncio é morte” – ela diz. Confesso que fiquei um tanto quanto em choque, enquanto ouvia sua fala. Pois, o que mais pode haver depois disso?

O convite é repousar no Silêncio – e, atualmente, ousamos dizer que esse Silêncio, no qual você está sendo convidado a repousar, é você. Às vezes me pego sem esperanças, porque este convite não é bem vindo para a maioria das pessoas. Mas, num ato de teimosia, trago à baila mais uma vez: você é o Silêncio! E o Silêncio é a morte de quem você pensa que é.


Se tem acesso a isso, celebre. Ou, então, continue procurando – levante pedra, moa pedra, coma pedra... mas continue procurando. Eventualmente haverá uma rendição. Digo “haverá” arrogantemente – porque se não for seu destino acordar para o segredo, você permanecerá buscando e tentando obter respostas para as suas perguntas. Mas, se o Silêncio é morte, é a morte do quê? É a morte desse que está constantemente buscando respostas.


Isso me lembra o diálogo entre um monge e seu mestre:


O monge diz:


“Mestre, você pode me dizer o que é a iluminação?”


O mestre responde:


“Sim, poderia. Mas você seria capaz de compreender?”


Uma vez vislumbrada a resposta da pergunta “Quem sou eu?” – se tiver coragem de colocar de lado tudo o que acredita –, o acesso ao Silêncio a que me refiro será imediato."   Satyapren

 

11 de dez. de 2012

O Abrigo


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20 - Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos com que se parece o Reino dos Céus. Ele lhes disse: é como a semente da mostarda, a menor de todas as sementes. Mas quando ela cai na terra arada, produz grandes galhos e se torna um abrigo para os pássaros do céu.

A parábola do grão de mostarda se encontra em todos os três Evangelhos sinópticos, Mateus, Marcos e Lucas. O detalhe que Tomé acrescenta é o fato de ser a terra em que cai a semente trabalhada pelo homem. Sendo que o grão de mostarda é a palavra de Deus, e o terreno é a alma humana, a germinação e o desenvolvimento da planta dependem da idoneidade da terra em que cai. E a maior ou menor idoneidade depende do livre arbítrio do homem. O livre arbítrio é Deus no homem, o Creador na creatura creadora. O livre arbítrio é o Deus imanente no homem, é a zona onde Deus, por assim dizer, abdicou da sua jurisdição a favor do homem.

A pequenez da semente e a grandeza da planta ilustram bem o fato de ser a vida algo infinitamente pequeno, ou melhor, nulo, quantitativamente considerado, embora seja infinitamente grande, qualitativamente conscientizada. A Vida é o próprio Creador, os vivos podem tornar-se grandes em extensão quantitativa, porque são efeitos da Vida de infinita intensidade qualitativa.

O qualitativo é pequeno aos olhos dos profanos, que só têm olhos para enxergar o quantitativamente grande. Mas, quando o homem cruza a invisível fronteira entre a visão material e a visão espiritual, descobre ele a grandeza na pequenez, o Tudo no Nada.

Esta visão cósmica depende do abrimento do “terceiro olho” da Cristo-vidência.

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6 de dez. de 2012

Doutrina Espiritualista Ecumênica


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19 -  Jesus disse: “Bendito aquele que era antes de existir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minha palavra, estas pedras vos servirão. Há, pois, cinco árvores no paraíso* que não se movem no verão nem no inverno, e suas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará da morte.

 O homem é, na essência divina do seu Ser, antes de existir na existência humana do seu agir. A essência divina da alma vem de Deus; a existência humana vem dos nossos pais e da natureza. A alma é uma emanação individual da Divindade Universal; o corpo material é apenas uma geração transitória.

Quando o homem morre, depois de haver vivido corretamente, imortaliza também o seu corpo, não a matéria, mas a substância imaterial do seu corpo. As cinco árvores do seu paraíso são os cinco sentidos.

Até as pedras e a natureza toda servirão espontaneamente ao homem que se cristificar totalmente; a hostilidade entre a natureza e o homem começou com o despertamento do ego mental, e terminará com o despertamento do seu Eu espiritual. A natureza toda é amiga de Deus, e amiga também do homem divinizado, como mostra a vida de certos homens altamente espiritualizados, como a de Francisco de Assis, e sobretudo do próprio Jesus, que dava ordem aos elementos da natureza e era por ela obedecido.


* Segundo as mitologias hindu e buddhista, as árvores dos desejos ou Kalpadrumas são as cinco árvores celestiais que dão como fruto tudo aquilo que desejamos.

* 1 / Excertos de "Mitologia Cristã" 
Manuel João Ramos

Certas temáticas teológicas dualistas, caras ao gnosticismo helênico assim como às tradições sírias e iranianas, valorizam a referência às noções de «invólucro», de «espelho» e de «imagem» no âmbito particular de uma ontologia mística. O recurso a esta literatura permitirá, adicionalmente, circunscrever os contornos que envolvem a figura, quase tutelar nessas tradições, do apóstolo Tomé, e a sua associação com o Preste João, tal como é expressa na Carta.

No logion 84 do Evangelho segundo Tomé, que segundo Henri-Charles Puech constitui uma das passagens mais enigmáticas e fundamentais do texto (Puech, 1978, II:111-112), está escrito: «Jesus disse: vendo a vossa aparência, vós alegrai-vos. Mas vendo as vossas imagens («enhikon»)1, produzidas antes de vós, que não morrem nem se manifestam, muito será o que suportareis» (Puech, 1978, II:23). Evocado o pessimismo do dualismo gnóstico e as ligações e divergências entre a Gnose e o neoplatonismo (Puech, 1978, I:55 segs., 83 segs.), Puech propõe interpretar este aforismo, em confronto com o logion 19 («feliz o que foi antes de o ser; aquele que conhecer as cinco árvores do Paraíso2 não conhecerá a morte»), nos termos seguintes: «(...) o eikon particular de cada Espiritual (individual) é a «imagem» eterna e pré-existente deste: ela é ele próprio tal como era originalmente, no seu princípio, antes da sua aparição no mundo, ele — arriscar-nos-íamos a escrever — tal como pré-existia a si próprio, a sua pessoa inteligível, integral, verdadeira, anterior ao personagem de quem, revestido de carne, ele tomou e conserva atualmente a aparência» (Puech, 1978, II:114)3. No contexto específico do Evangelho, uma dialética ontológica assente sobre a oposição Corpo (corruptível) / Espírito (eterno), sugere a necessidade de conhecer e sofrer a corrupção exterior para a poder negar (renunciando a ela): «Jesus disse: aquele que conheceu o mundo encontrou o corpo, e o mundo não é digno daquele que encontrou o corpo» (logion 80) 4. Porque «o Reino (de Deus) está no interior de vós e no exterior de vós» e porque «quando vós vos conhecerdes sereis conhecidos (por Deus)» (logion 3), este conhecimento é em si condição para a união dos termos contrários (Interior/Exterior, Eu/Outro, Espírito/Corpo, Homem/Divindade). O indivíduo, ao ver a sua alma imortal, ao ver as «imagens» (logion 84) ou ao ouvir as «palavras» escondidas (logia 13 e 108), e ao encontrar-se a si próprio (logion 111), tornar-se-á um com Deus (logion 108), isto é, tornar-se-á «estranho» ao mundo corruptível e à morte (logia 19 e 111).
* 2 / Panchavati — Pequeno bosque onde se praticam disciplinas espirituais; compõe-se de cinco árvores sagradas — uma ashvattha (ou pipal), um baniano, um bel (ou bilva), uma amalaki e uma ashoka — plantadas em círculo, de acordo com as indicações das Escrituras, tendo ao centro um altar. O panchavati do jardim de Dakshineswar foi plantado por Sri Ramakrishna e Hriday.
* 3 / Arvore dos Desejos - No conceito Védico indiano, o Paraíso é composto por Árvores dos Desejos. Basta alguém sentar debaixo de uma delas e desejar qualquer coisa, que imediatamente o desejo se realizará, sem intervalo de tempo entre o desejo e a realização.
Conta uma velha lenda que, certa vez um homem estava viajando e acidentalmente, sentou-se embaixo de uma dessas Árvores dos Desejos. Sem nada saber sobre isso e dominado pelo cansaço, o homem pegou no sono, à sombra de sua frondosa copa. Quando despertou estava com muita fome, e então disse: - Estou com tanta fome! Ah, como eu desejaria conseguir alguma comida agora! E imediatamente apareceu um prato de comida à sua frente, vinda do nada, simplesmente uma deliciosa comida, flutuando no ar.
Ele estava tão faminto que não prestou atenção de onde viera a comida. Começou a comê-la assim que a viu. Somente depois que sua fome foi saciada é que voltou a olhar ao redor. Outro pensamento surgiu em sua mente: - Se ao menos eu conseguisse algo para beber... Imediatamente apareceram excelentes sucos e vinhos. Bebendo e relaxando na brisa fresca, sob a sombra da árvore, o homem começou a pensar: - O que está acontecendo? O que está havendo? Estou sonhando ou existem espíritos ao meu redor que estão fazendo truques comigo?
E diversos espíritos apareceram. O homem começou a tremer e novamente um pensamento surgiu em sua mente: - Serão esses espíritos perigosos?... Logo os espíritos se tornaram nauseantes, ferozes e começaram a fazer gestos ameaçadores para ele. Ai, meu Deus! Agora certamente eles vão me matar! E assim aconteceu...
Esta parábola tem apenas um significado: sua mente é a Árvore dos Desejos, e o que você pensa, mais cedo ou mais tarde, há de se realizar. Às vezes o intervalo entre o pensamento e o acontecimento é tão grande que nos esquecemos completamente que, de alguma maneira, desejamos o ocorrido. Mas, se olharmos profundamente, perceberemos que todos os nossos pensamentos, desejos, medos e receios estão criando nossas vidas. Eles criam nosso inferno ou nosso paraíso, criam nosso tormento ou nossa alegria.
Todos nós temos mentes "mágicas" capazes de manifestar externamente, nossos desejos e pensamentos. Estamos fiando a trama de nossas vidas, tecendo o mundo dentro e fora de nós, sem ao menos termos consciência disso. Sua vida está em suas mãos. Você pode escolher transformá-la num inferno ou num paraíso. A responsabilidade é toda sua. Isso depende somente de você! (Osho)
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5 de dez. de 2012

Vida Espiritual




18 - Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos como será nosso fim. Jesus lhes disse: descobristes então o princípio para que possais perguntar sobre o fim? Bendito aquele que se mantiver no princípio, pois que não provará da morte.

Toda a creatura que teve princípio também terá fim. Não existe creatura imortal. Imortal é só o Creador, o Infinito, o Eterno, o Absoluto.

Mas a creatura humana, embora não seja imortal, é imortalizável, pode tornar-se imortal. Quando o homem atinge o zênite da intuição e conscientiza que “Eu e o Pai somos um”, que há uma única essência em todas as existências, em mim e em Deus, então a existência da creatura se imortaliza e se integra na essência do Creador.

Esta imortalização da creatura imortalizável é o supremo destino do homem aqui na terra; este homem não provará a morte, porque superou a morte pela vida. Aqui na terra começa o processo da imortalização, para culminar em outras regiões do Universo, porque “na casa do Pai celeste há muitas moradas”.

 

3 de dez. de 2012

O Reino Esquecido

“A primeira função de uma mitologia viva é conciliar a consciência com as precondições da sua própria existência – quer dizer, com a natureza da vida. (...) O mito deve fazer o indivíduo atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois à senilidade e à morte. (...) você deve ter a coragem de assumir aquilo em que acredita. (...) aquilo que na mitologia se chama o outro mundo é na verdade o mundo interior”. Mito e Transformação – Joseph Campbell.





 
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