28 de dez. de 2012

Encarnação


"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Pitágoras


29 - Disse Jesus: se a carne veio a existir por causa do espírito, isto é uma maravilha; mas se o espírito veio a existir por causa dela, é a maravilha das maravilhas. Mas o que me maravilha é como essa grande riqueza fez morada em tal pobreza.

O corpo humano é produto do espírito – e que produto maravilhoso!

Mas, será que a nossa alma é produto do corpo? À primeira vista, parece que não. E, no entanto, também este paradoxo é um fato ainda mais maravilhoso do que aquele. Sem o nosso corpo, a alma não se teria evolvido. Antes da nossa encarnação, o nosso espírito era espírito, um espírito individual, emanado do Espírito Universal da Divindade. Mas, antes da nossa encarnação, o nosso espírito não era alma, não era anima, porque ainda não animava o nosso corpo. Desde a nossa encarnação terrestre, o nosso espírito é a alma que anima a matéria do nosso corpo.

E que maravilha a nossa alma fez do nosso corpo! Quanto mais estudamos os componentes do nosso corpo, o coração, os pulmões, as vias digestivas, o cérebro, os nervos, as células, as moléculas, os átomos, o nosso sentir e pensar, o nosso querer e amar – tanto mais estupefatos nos quedamos em face desse universo em miniatura, que é o homem.

Mas a nossa estupefação atinge a sua culminância quando nos tornamos plenamente conscientes desse paradoxo dos paradoxos: porque tamanha riqueza espiritual foi habitar tamanha pobreza material, transformando a impotência da matéria na potência do espírito.

Parece que a Divindade creadora quis dar uma prova da sua onipotência, reunindo em síntese tão flagrantes antíteses como espírito e matéria, luz e treva, vida e morte, atividade e passividade.
Em face disto, exclama o Salmista: “Que é o homem, Senhor, que dele te lembres? E o Filho do homem que o visites? Pouco abaixo dos anjos o colocaste, de honras e glórias o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos”.

E Paulo afirma que o corpo humano é o templo do Espírito Santo, habitáculo da própria Divindade.

Que grande sabedoria vemos em Jesus, que nunca hipertrofiou nem atrofiou o seu corpo, mas sempre manteve perfeita harmonia entre o santuário do seu corpo e o espírito que habita nesse santuário. Ele, o “homem sem pecado”, era também o homem sem doença; ele, o homem perfeito, o homem cósmico, o homem integral.

 

 



 

27 de dez. de 2012

Vinho Inebriante


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28 - Disse Jesus: tomei meu lugar no meio do mundo e em carne apareci a eles; encontrei-os todos ébrios e, no meio deles, ninguém encontrei sedento. E minha alma turbou-se pelos filhos dos homens porque eles são cegos em seu coração e não vêem que vazios vieram ao mundo e vazios tentam sair do mundo outra vez. Mas agora estão ébrios. Quando se livrarem do vinho, aí então arrepender-se-ão.

O homem profano vive numa permanente embriaguez das coisas do ego material-mental-emocional. E por isto não tem sede das coisas espirituais do Eu. São cegos para a Verdade, porque só enxergam as ilusões.

Todo o homem entra neste mundo sem nada, mas não deve sair do mundo sem nada. A razão-de-ser da nossa encarnação é adquirirmos algo que não nos foi dado, crearmo-nos mais do que Deus nos creou. De Deus recebemos a nossa alma como carta branca; mas não lha podemos devolver como carta branca. Se devolvermos a Deus o que de Deus recebemos, seremos iguais àquele “servo mau e preguiçoso” da parábola dos talentos, que devolveu o mesmo talento que recebera.

A nossa missão terrestre é realizarmos pelo poder creativo do livre arbítrio valores que Deus não nos deu, mas para cuja creação nos deu potencialidade creativa. O homem deve atualizar as suas potencialidades creadoras; isto é ser “servo bom e fiel e entrar no gozo do seu Senhor”.

Quanto ao corpo, sim, sairemos do mundo assim como no mundo entramos, sem nada. O corpo nos foi emprestado como embalagem pelos nossos pais e pela natureza. Devolveremos à natureza o que da natureza recebemos. Mas temos de restituir a Deus o que de Deus recebemos mais aquilo que creamos com o nosso livre arbítrio, porque o homem não é apenas uma creatura creada, como os animais, mas uma creatura creadora. Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, crea débito – e todo débito gera sofrimento.

O homem é uma creatura potencialmente creadora, e seu dever é fazer-se uma creatura atualmente creadora.

É esta a grande Verdade insinuada pelas palavras de Jesus acima citadas.

"Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas."  Huberto Rohden
 

26 de dez. de 2012

Jejum do Mundo


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27 - Jesus disse: se não fizerdes jejum do mundo não encontrareis o Reino; se não guardardes o Sabbath como Sabbath, não vereis o Pai.

Frases tão enigmáticas como estas fazem lembrar Lao-Tse no seu Tao. Pela tradição, consta que Tomé esteve na Índia, e na Catedral de São Tomé, em Madras, existe o seu túmulo.

Que é jejuar em face do mundo?
Que é guardar o sábado como sábado?

Jejuar é abster-se do alimento. Jejuar em face do mundo é abster-se das coisas do mundo. Quem se alimenta das coisas do mundo material sem as transformar é um homem profano, e não um homem espiritual.

Quem não guarda o dia do descanso para dar descanso ao ego e ativar o Eu, esse não celebra devidamente o dia do descanso.

Jejuar e descansar não quer dizer necessariamente fugir, abandonar; mas sim libertar-se da tirania do mundo, mesmo vivendo no meio do mundo. O verdadeiro iniciado pode viver no meio do mundo sem ser do mundo. O semi-iniciado tem de abandonar o mundo para não sucumbir ao mundo.

O profano vive impuro no meio dos impuros.
O semi-iniciado vive puro longe dos impuros.
O pleni-iniciado vive puro no meio dos impuros.
O primeiro é como lama.
O segundo é como água.

O terceiro é como luz.
“Vós sois a luz do mundo”.
No princípio, o homem é ego-pensante, ego-vivente, ego-agente – o profano.
Depois ele se torna cosmo-pensado, cosmo-vivido, cosmo-agido – o místico.

Por fim o homem se torna cosmo-pensante, cosmo-vivente, cosmo-agente – o homem cósmico, crístico.

Jejuar em face do mundo é viver no meio do mundo profano sem se mundanizar nem se profanizar.

24 de dez. de 2012

Percepções

26 - Disse Jesus: vês o cisco que está no olho... de teu irmão, mas a trava que está no teu olho, esta não vês. Quando tirares a trave de teu olho, aí poderás ver claramente para tirares o cisco do olho de teu irmão.

Estas mesmas palavras se encontram em Mateus e Lucas. O sentido é por demais conhecido e não necessita de ulterior elucidação. Todo o homem sem auto-conhecimento enxerga facilmente os erros pequenos em seu semelhante, mas não percebe os erros grandes dele mesmo. Para os erros pequenos dos outros, o egoísta usa uma lente de aumento; para os erros próprios ele inverte a lente de maneira que ela diminui, em vez de aumentar os seus próprios defeitos.

Tudo isto é consequência da falta de auto-conhecimento. Quem se conhece realmente a si mesmo, percebe com facilidade até os menores deslizes em si mesmo, e presta pouca atenção às faltas do próximo; e, no caso que as perceba, não é para censurar, mas para ver se pode ajudar a corrigi-las.

Esta última parte vem expressa com palavras cautelosas: Não diz o Mestre que o homem vai tirar do olho do próximo o argueiro dos pequenos erros; mas diz que o homem de auto-conhecimento se torna tão vidente, tão clarividente, para descobrir um modo como tirar, ou para mostrar ao outro como ele mesmo pode corrigir os seus defeitos. Na realidade, ninguém pode fazer o outro bom, só lhe pode fazer bem, mostrando-lhe o caminho de ele mesmo se fazer bom. Cada um deve fazer-se bom por si mesmo. O que o homem bom pode fazer é crear em torno de seu semelhante um ambiente tão favorável que ele resolva torna-se bom. Esse ambiente favorável não consiste primariamente em atos e bons conselhos, nem no bom exemplo, mas sim numa permanente atitude de ser bom. Ser bom quer dizer ter a consciência humana sintonizada com a consciência divina e viver de acordo com essa atitude permanente. O maior impacto benéfico que um homem pode exercer sobre outro homem é ser bom, crear e manter uma permanente sintonia entre si e o Infinito.

 

23 de dez. de 2012

Ação e Reação




25 - Disse Jesus: Ama teu irmão como tua alma, protege-o como a pupila dos teus olhos.

Por mais estranho e paradoxal que pareça à primeira vista, o verdadeiro amor é auto-amor ou auto-afirmação. Aos inexperientes parece isto puro egoísmo, porque eles entendem por autós o seu ego, e não o seu  Eu. O nosso Eu, porém, é Deus, é a alma do Universo, é o Uno e o Infinito da Essência, embora manifestado existencialmente na forma individual do Eu. Por simples coincidência da nossa língua, o Eu é parte da palavra Deus, e Deus é um alargamento de Eu. O meu Eu, minha alma, meu atman, é o próprio Deus universal e transcendente em forma individual e imanente.

Graficamente, poderíamos ilustrar essa verdade do modo seguinte:


Se o Eu ama o Tu linearmente, há um amor de ego para ego. Mas, se o Eu ama o Tu triangularmente, via Deus, então o Eu ama o Tu, não como um ego humano, mas como um Eu divino; o Eu ama no Tu o mesmo Deus que ele ama em si mesmo. De maneira que quem ama a Deus realmente, integralmente, ama-o a) em Deus, b) no Eu, c) no Tu; ama o único Deus na fonte Deus e em dois canais humanos, no canal Eu e no canal Tu.

Amar Deus em Deus e Deus no Eu é experiência mística; amar Deus no Tu é vivência ética. A verdadeira ética é um transbordamento natural e espontâneo da mística.


Amar seu próximo apenas linearmente, como no primeiro caso, é apenas altruísmo ou moralidade, mas não é verdadeira ética.


A vivência ética da fraternidade humana supõe necessariamente a experiência mística da paternidade divina.
É este o sentido profundo das palavras de Jesus acima citadas: amor-alheio é o transbordamento espontâneo do amor-próprio bem entendido: ama teu próximo como a ti mesmo – suposto que esse amor-próprio seja amor de Deus no homem.



21 de dez. de 2012

Morada de Deus


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Escada de Jacob por William Blake (c. 1800, British Museum, Londres)

24 - Seus discípulos disseram: mostra-nos o lugar em que estás, pois é necessário que nós te busquemos. Respondeu-lhes ele: aquele que tem ouvidos que ouça. Dentro de um homem iluminado há luz e ele ilumina o mundo todo. Quando ele não brilha, há trevas.

http://www.sedentario.org/wp-content/uploads/2009/05/jacobs_ladder.jpgMilênios antes do nosso tempo disse Moisés que a luz foi a primeira creatura de Deus, e da luz vieram todas as outras coisas.

Em nosso século escreveu Einstein que todas as coisas são produto da luz; todas são lucigênitas e todas podem ser lucificadas.

Mas, além da luz externa há uma luz interna, que é a causa e a fonte daquela.
“Eu sou a luz do mundo – vós sois a luz do mundo”.

A luz do mundo, de que o Cristo fala, é a luz metafísica, que creou a luz física.
Espírito é luz metafísica, luz imaterial, luz invisível.
A alma humana é uma emanação dessa luz infinita.

Quando o homem chega à plena consciência da sua alma-luz, então ele ilumina o ambiente em que vive, e, por fim lucifica as próprias coisas opacas, tornando-as transparentes como uma luz intensa diafaniza o prisma que permeia. A intensificação da luz da alma depende da conscientização. Quando o homem atinge o zênite da sua conscientização, então sabe e saboreia ele “Eu e o Pai somos um; o Pai está em mim e Eu estou no Pai”.

O principiante pensa que o Céu seja um certo lugar a que o homem deva ir; mas o iniciado sabe que o Céu é a conscientização da luz da alma.

A luz física tem a tendência de se difundir exteriormente em todas as direções; e tanto maior é a expansão da luz quanto mais intensa for a sua concentração. A mesma lei rege também a luz metafísica, quanto mais intensamente o homem se concentra em si mesmo, tanto mais extensamente irradia ele essa luz em derredor em benefício dos outros. O maior benfeitor da humanidade é o místico focalizado na luz divina. A grande lei da “constância das energias”, que a física conhece, impera também na metafísica: nenhuma energia se perde; todas as energias são constantes e se transformam.

Neste sentido dizia Mahatma Gandhi: “Quando um único homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de muitos milhões”.

Ninguém pode fazer bem aos outros, sem ser bom em si mesmo.
Ninguém pode difundir luz para os outros, sem ser luz em si mesmo.
Se o homem não for luminoso em si, será treva para si e para os outros.


18 de dez. de 2012

Reencarnação


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23 - Disse Jesus: eu vos escolherei na razão de um em mil, dois em dez mil, e sereis todos como um só.

O homem sensorial é pluralista.
O homem mental é dualista.
O homem espiritual é unista ou monista.

Pelos sentidos o homem percebe o Universo como uma imensa diversidade sem a menor unidade.
Pela inteligência, o homem analisa o Universo como uma dualidade entre causa e efeito.
Pela razão espiritual o homem intui o Universo como uma Essência Una e Única que se manifesta em existências múltiplas.

O homem univérsico, o homem da cosmo-visão, existe e sempre existiu sobre a face da terra, mas é ainda uma pequena elite; a grande massa é ainda pluralista ou dualista. O homem monista é apenas 1 entre 1.000, ou 2 entre 10.000.

Esta visão monista começa, quase sempre, como monismo unitário, como uma visão do Uno no Uno, como uma experiência mística da Essência Única da Divindade Divina, da Realidade solitária. Pouco a pouco, o monismo unitário se expande num monismo diversitário, como Realidade Univérsica, como o Deus do mundo no mundo de Deus; o misticismo unilateral se desdobra em mística onilateral; a consciência mística desabrocha em consciência cósmica.

O homem de consciência cósmica vê Deus no mineral, no vegetal, no animal  no hominal. Vê a única essência transcendental como existência imanente, inconsciente no mineral, subconsciente no vegetal, semi-consciente no animal, ego-consciente no homem intelectual – e pleni-consciente no homem racional.

Esta longuíssima jornada ascensional do ser humano tem o seu início aqui no jardim de infância do planeta terra; mas continuará, por milhares de anos, séculos e milênios, através das muitas estâncias que há na casa do Pai celeste, nesse Universo de incomensurável grandeza e amplitude.

Quanto mais o homem progride nessa jornada evolutiva rumo à Essência Una, mais ele se une aos outros companheiros de jornada, até finalmente se tornar Uno com os outros.

Se Sócrates, Platão e Jesus, escreve Santo Agostinho, se tivessem encontrado, teriam harmonizado admiravelmente em suas ideias.

Uma só é a Verdade, muitos são os caminhos que conduzem à Verdade. Um viajor que vem do norte parece ser contrário ao que vem do sul; um viajor que vem do leste parece ser adversário de outro que vem do oeste. Entretanto, todos são unidos quando vistos do centro, embora pareçam desunidos e contrários quando contemplados da periferia.

“Creio na comunhão dos Santos”, diz um dos artigos do Credo Apostólico. A comunhão dos santos é a convergência dos viajores rumo à Verdade única; é a complementaridade de todos os pólos aparentemente contrários.

A divergência é da massa – a convergência é da elite.
A discórdia é dos muitos – a concórdia é dos poucos.

Hoje em dia está crescendo notavelmente a elite e diminuindo a massa. Cada vez maior é a fome da religião – e cada vez maior é o fastio das religiões.

Quanto mais o homem se aproxima de Deus, tanto mais o homem se aproxima dos outros homens.
Quanto mais crescer a consciência mística da paternidade única de Deus, tanto mais crescerá a vivência ética da fraternidade dos homens.

A verdadeira mística transborda em verdadeira ética.

17 de dez. de 2012

O Néctar da Vida


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22 - Jesus viu criancinhas que estavam sendo amamentadas. Disse aos seus discípulos: essas criancinhas que estão sendo amamentadas são semelhantes àqueles que entrarão no Reino. Disseram-lhe: Poderemos então, como crianças, entrar no Reino? Jesus disse-lhes: quando fizerdes de dois um e quando fizerdes o interno tal qual o externo e o externo tal qual o interno, e o de cima tal qual o de baixo, e quando tornardes o homem e a mulher em um só, de tal forma que o homem não seja homem e a mulher não seja mulher, quando dispuserdes olhos no lugar de olhos e a mão no lugar da mão, e o pé no lugar do pé, uma imagem no lugar de uma imagem, aí, então, entrareis no Reino.

O Mestre não espera que seus discípulos sejam crianças, mas que sejam como crianças. O que a criança faz por primitiva ignorância, deve o homem espiritual fazer por avançada sapiência. A criança ignorante age por vacuidade, o homem sapiente age por plenitude. Vistos por fora, a criança e o sapiente são muito parecidos, mas por motivos diametralmente opostos, pois os extremos se tocam.

O que é instintivo e espontâneo é simples – o que é intuitivo e espontâneo também é simples; mas o que é intelectivo e artificial é complicado.

O homem unilateralmente erudito é, quase sempre, um homem cheio de complexos e complexidades, cheio de artificialismos e arrevezamentos curvilíneos.

Por outro lado, o homem de sabedoria onilateral, de experiência profunda e vasta, é sempre um homem simples e benévolo, um homem de atitude lhana e retilínea.

Em face do sexo a criança não tem malícia, não se escandaliza com nudez masculina ou feminina, acha tudo natural e puro.

Ao passo que o homem no plano ego malicia tudo e descobre perversidade em tudo – mas o homem na dimensão do Eu espiritual é cândido como a criança, não por ignorância, mas por sapiência.

No Universo e na humanidade tudo é bipolarizado; mas no homem-ego essa bipolaridade tem caráter de contrariedade, ao passo que no homem-Eu essa bipolaridade se transforma numa harmoniosa complementaridade. De maneira que o dois, sem deixar de ser dois, aparece como um perfeitamente unificado.

O homem Cristo-cómico vê o Uno no Verso e vê o Verso no Uno, porque atingiu as alturas do homem univérsico, do homem integral, a que se refere Jesus nas palavras acima citadas.

 

14 de dez. de 2012

Os discípulos de Jesus


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21 - Disse Maria a Jesus: A que se parecem teus discípulos? Ele lhes respondeu: Eles são como crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo aparecerem e lhes disser: devolvam nossos campos, eles se despojam de suas roupas e diante deles lhes devolvem os campos. Entretanto, eu digo: se o dono da casa souber que o ladrão vai vir, ficará de vigia e não o deixará entrar na sede de seu reino para levar seus haveres. Deveis, então, tomar cuidado com o mundo; cingi fortemente vossos rins para que os salteadores não encontrem uma forma porque encontrarão o proveito que imaginais. Deixai que haja entre vocês um homem compreensivo; quando a fruta amadurece, ele vem depressa, com a foice na mão e a colhe. Aquele que tem ouvidos que ouça.

Maria – a mãe de Jesus, ou alguma das outras Marias do Evangelho – quis saber com quem se pareciam os discípulos de Jesus, e o Mestre deu a maravilhosa resposta acima: O verdadeiro discípulo do Cristo se parece com alguém que vive num campo alheio, exatamente como a alma humana que não vive em sua pátria, mas num campo de imigração terrestre, onde tem de passar alguns decênios para colher experiências através do corpo material, que lhe foi emprestado por seus pais. Este mundo é de outro dono, como afirma o próprio dono quando diz: “Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, porque são meus e eu os dou a quem eu quero”; e Jesus confirma as palavras do anticristo dizendo: “O dominador deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós”. A alma humana, que veio de outras regiões foi enviada temporariamente para o campo alheio desta terra, não por punição, mas para ulterior evolução.

Ultimamente, um grupo de cientistas atômicos da Universidade de Princeton, publicaram a sua Cosmo-visão, ou “Gnose”, em que declaram que sem uma “resistência” entre espírito e matéria não é possível a evolução do espírito, que, em forma individual se chama alma. Resistência é dificuldade, sofrimento, fator indispensável para a evolução.

Depois de certo tempo, os donos do campo Terra expulsam da sua propriedade o imigrante alma, e ela deixa o campo do mundo, sem levar nada, totalmente desnuda no seu Eu espiritual; devolve aos donos do campo até o material do seu corpo, que da terra recebera.

Se Didymos Thomas, o autor deste Evangelho, não tivesse escrito nada senão estas palavras, seria suficiente para incluí-lo entre os grandes iniciados cósmicos da humanidade.

Todo o verdadeiro discípulo do Cristo se considera um emigrante do Além e imigrante do Aquém; não se apega fanaticamente ao campo alheio do mundo material, nem o rejeita acerbamente; mas serve-se dele benevolamente para sua evolução ascensional, como um meio para colher experiências na longa jornada através das muitas estâncias que há em casa do Pai celeste.

Graças a ti, Maria, que deste oportunidade a Jesus para dizer tão maravilhosas palavras a seu discípulo Tomé.

Estas palavras são a continuação da parábola precedente sobre a criança inocente em campo alheio. Os donos do campo terra são ladrões profissionais e procuram sempre roubar-vos os tesouros do reino da alma. Por isto, deveis estar sempre alerta, para que o mundo profano não penetre no santuário do vosso espírito.

Estar de quadris cingidos é estar prontos para a viagem, dispostos para partir a qualquer momento para regressar do exílio terrestre à pátria celeste, com rica colheita de experiências. Então tereis seguro o tesouro que adquiristes durante a vossa estada no campo alheio da terra.

Tende a visão da vossa maturidade, e não queirais permanecer em terra alheia quando é chegada a hora da vossa partida para regressardes à querência do Além.

Morrer é tão natural como nascer e viver.

Silêncio é Morte

"Recentemente ouvi uma frase bem curta e completa que diz: “Silêncio é morte”. A autora da frase é a Gangaji. “Silêncio é morte” – ela diz. Confesso que fiquei um tanto quanto em choque, enquanto ouvia sua fala. Pois, o que mais pode haver depois disso?

O convite é repousar no Silêncio – e, atualmente, ousamos dizer que esse Silêncio, no qual você está sendo convidado a repousar, é você. Às vezes me pego sem esperanças, porque este convite não é bem vindo para a maioria das pessoas. Mas, num ato de teimosia, trago à baila mais uma vez: você é o Silêncio! E o Silêncio é a morte de quem você pensa que é.


Se tem acesso a isso, celebre. Ou, então, continue procurando – levante pedra, moa pedra, coma pedra... mas continue procurando. Eventualmente haverá uma rendição. Digo “haverá” arrogantemente – porque se não for seu destino acordar para o segredo, você permanecerá buscando e tentando obter respostas para as suas perguntas. Mas, se o Silêncio é morte, é a morte do quê? É a morte desse que está constantemente buscando respostas.


Isso me lembra o diálogo entre um monge e seu mestre:


O monge diz:


“Mestre, você pode me dizer o que é a iluminação?”


O mestre responde:


“Sim, poderia. Mas você seria capaz de compreender?”


Uma vez vislumbrada a resposta da pergunta “Quem sou eu?” – se tiver coragem de colocar de lado tudo o que acredita –, o acesso ao Silêncio a que me refiro será imediato."   Satyapren

 

11 de dez. de 2012

O Abrigo


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20 - Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos com que se parece o Reino dos Céus. Ele lhes disse: é como a semente da mostarda, a menor de todas as sementes. Mas quando ela cai na terra arada, produz grandes galhos e se torna um abrigo para os pássaros do céu.

A parábola do grão de mostarda se encontra em todos os três Evangelhos sinópticos, Mateus, Marcos e Lucas. O detalhe que Tomé acrescenta é o fato de ser a terra em que cai a semente trabalhada pelo homem. Sendo que o grão de mostarda é a palavra de Deus, e o terreno é a alma humana, a germinação e o desenvolvimento da planta dependem da idoneidade da terra em que cai. E a maior ou menor idoneidade depende do livre arbítrio do homem. O livre arbítrio é Deus no homem, o Creador na creatura creadora. O livre arbítrio é o Deus imanente no homem, é a zona onde Deus, por assim dizer, abdicou da sua jurisdição a favor do homem.

A pequenez da semente e a grandeza da planta ilustram bem o fato de ser a vida algo infinitamente pequeno, ou melhor, nulo, quantitativamente considerado, embora seja infinitamente grande, qualitativamente conscientizada. A Vida é o próprio Creador, os vivos podem tornar-se grandes em extensão quantitativa, porque são efeitos da Vida de infinita intensidade qualitativa.

O qualitativo é pequeno aos olhos dos profanos, que só têm olhos para enxergar o quantitativamente grande. Mas, quando o homem cruza a invisível fronteira entre a visão material e a visão espiritual, descobre ele a grandeza na pequenez, o Tudo no Nada.

Esta visão cósmica depende do abrimento do “terceiro olho” da Cristo-vidência.

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6 de dez. de 2012

Doutrina Espiritualista Ecumênica


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19 -  Jesus disse: “Bendito aquele que era antes de existir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minha palavra, estas pedras vos servirão. Há, pois, cinco árvores no paraíso* que não se movem no verão nem no inverno, e suas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará da morte.

 O homem é, na essência divina do seu Ser, antes de existir na existência humana do seu agir. A essência divina da alma vem de Deus; a existência humana vem dos nossos pais e da natureza. A alma é uma emanação individual da Divindade Universal; o corpo material é apenas uma geração transitória.

Quando o homem morre, depois de haver vivido corretamente, imortaliza também o seu corpo, não a matéria, mas a substância imaterial do seu corpo. As cinco árvores do seu paraíso são os cinco sentidos.

Até as pedras e a natureza toda servirão espontaneamente ao homem que se cristificar totalmente; a hostilidade entre a natureza e o homem começou com o despertamento do ego mental, e terminará com o despertamento do seu Eu espiritual. A natureza toda é amiga de Deus, e amiga também do homem divinizado, como mostra a vida de certos homens altamente espiritualizados, como a de Francisco de Assis, e sobretudo do próprio Jesus, que dava ordem aos elementos da natureza e era por ela obedecido.


* Segundo as mitologias hindu e buddhista, as árvores dos desejos ou Kalpadrumas são as cinco árvores celestiais que dão como fruto tudo aquilo que desejamos.

* 1 / Excertos de "Mitologia Cristã" 
Manuel João Ramos

Certas temáticas teológicas dualistas, caras ao gnosticismo helênico assim como às tradições sírias e iranianas, valorizam a referência às noções de «invólucro», de «espelho» e de «imagem» no âmbito particular de uma ontologia mística. O recurso a esta literatura permitirá, adicionalmente, circunscrever os contornos que envolvem a figura, quase tutelar nessas tradições, do apóstolo Tomé, e a sua associação com o Preste João, tal como é expressa na Carta.

No logion 84 do Evangelho segundo Tomé, que segundo Henri-Charles Puech constitui uma das passagens mais enigmáticas e fundamentais do texto (Puech, 1978, II:111-112), está escrito: «Jesus disse: vendo a vossa aparência, vós alegrai-vos. Mas vendo as vossas imagens («enhikon»)1, produzidas antes de vós, que não morrem nem se manifestam, muito será o que suportareis» (Puech, 1978, II:23). Evocado o pessimismo do dualismo gnóstico e as ligações e divergências entre a Gnose e o neoplatonismo (Puech, 1978, I:55 segs., 83 segs.), Puech propõe interpretar este aforismo, em confronto com o logion 19 («feliz o que foi antes de o ser; aquele que conhecer as cinco árvores do Paraíso2 não conhecerá a morte»), nos termos seguintes: «(...) o eikon particular de cada Espiritual (individual) é a «imagem» eterna e pré-existente deste: ela é ele próprio tal como era originalmente, no seu princípio, antes da sua aparição no mundo, ele — arriscar-nos-íamos a escrever — tal como pré-existia a si próprio, a sua pessoa inteligível, integral, verdadeira, anterior ao personagem de quem, revestido de carne, ele tomou e conserva atualmente a aparência» (Puech, 1978, II:114)3. No contexto específico do Evangelho, uma dialética ontológica assente sobre a oposição Corpo (corruptível) / Espírito (eterno), sugere a necessidade de conhecer e sofrer a corrupção exterior para a poder negar (renunciando a ela): «Jesus disse: aquele que conheceu o mundo encontrou o corpo, e o mundo não é digno daquele que encontrou o corpo» (logion 80) 4. Porque «o Reino (de Deus) está no interior de vós e no exterior de vós» e porque «quando vós vos conhecerdes sereis conhecidos (por Deus)» (logion 3), este conhecimento é em si condição para a união dos termos contrários (Interior/Exterior, Eu/Outro, Espírito/Corpo, Homem/Divindade). O indivíduo, ao ver a sua alma imortal, ao ver as «imagens» (logion 84) ou ao ouvir as «palavras» escondidas (logia 13 e 108), e ao encontrar-se a si próprio (logion 111), tornar-se-á um com Deus (logion 108), isto é, tornar-se-á «estranho» ao mundo corruptível e à morte (logia 19 e 111).
* 2 / Panchavati — Pequeno bosque onde se praticam disciplinas espirituais; compõe-se de cinco árvores sagradas — uma ashvattha (ou pipal), um baniano, um bel (ou bilva), uma amalaki e uma ashoka — plantadas em círculo, de acordo com as indicações das Escrituras, tendo ao centro um altar. O panchavati do jardim de Dakshineswar foi plantado por Sri Ramakrishna e Hriday.
* 3 / Arvore dos Desejos - No conceito Védico indiano, o Paraíso é composto por Árvores dos Desejos. Basta alguém sentar debaixo de uma delas e desejar qualquer coisa, que imediatamente o desejo se realizará, sem intervalo de tempo entre o desejo e a realização.
Conta uma velha lenda que, certa vez um homem estava viajando e acidentalmente, sentou-se embaixo de uma dessas Árvores dos Desejos. Sem nada saber sobre isso e dominado pelo cansaço, o homem pegou no sono, à sombra de sua frondosa copa. Quando despertou estava com muita fome, e então disse: - Estou com tanta fome! Ah, como eu desejaria conseguir alguma comida agora! E imediatamente apareceu um prato de comida à sua frente, vinda do nada, simplesmente uma deliciosa comida, flutuando no ar.
Ele estava tão faminto que não prestou atenção de onde viera a comida. Começou a comê-la assim que a viu. Somente depois que sua fome foi saciada é que voltou a olhar ao redor. Outro pensamento surgiu em sua mente: - Se ao menos eu conseguisse algo para beber... Imediatamente apareceram excelentes sucos e vinhos. Bebendo e relaxando na brisa fresca, sob a sombra da árvore, o homem começou a pensar: - O que está acontecendo? O que está havendo? Estou sonhando ou existem espíritos ao meu redor que estão fazendo truques comigo?
E diversos espíritos apareceram. O homem começou a tremer e novamente um pensamento surgiu em sua mente: - Serão esses espíritos perigosos?... Logo os espíritos se tornaram nauseantes, ferozes e começaram a fazer gestos ameaçadores para ele. Ai, meu Deus! Agora certamente eles vão me matar! E assim aconteceu...
Esta parábola tem apenas um significado: sua mente é a Árvore dos Desejos, e o que você pensa, mais cedo ou mais tarde, há de se realizar. Às vezes o intervalo entre o pensamento e o acontecimento é tão grande que nos esquecemos completamente que, de alguma maneira, desejamos o ocorrido. Mas, se olharmos profundamente, perceberemos que todos os nossos pensamentos, desejos, medos e receios estão criando nossas vidas. Eles criam nosso inferno ou nosso paraíso, criam nosso tormento ou nossa alegria.
Todos nós temos mentes "mágicas" capazes de manifestar externamente, nossos desejos e pensamentos. Estamos fiando a trama de nossas vidas, tecendo o mundo dentro e fora de nós, sem ao menos termos consciência disso. Sua vida está em suas mãos. Você pode escolher transformá-la num inferno ou num paraíso. A responsabilidade é toda sua. Isso depende somente de você! (Osho)
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5 de dez. de 2012

Vida Espiritual




18 - Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos como será nosso fim. Jesus lhes disse: descobristes então o princípio para que possais perguntar sobre o fim? Bendito aquele que se mantiver no princípio, pois que não provará da morte.

Toda a creatura que teve princípio também terá fim. Não existe creatura imortal. Imortal é só o Creador, o Infinito, o Eterno, o Absoluto.

Mas a creatura humana, embora não seja imortal, é imortalizável, pode tornar-se imortal. Quando o homem atinge o zênite da intuição e conscientiza que “Eu e o Pai somos um”, que há uma única essência em todas as existências, em mim e em Deus, então a existência da creatura se imortaliza e se integra na essência do Creador.

Esta imortalização da creatura imortalizável é o supremo destino do homem aqui na terra; este homem não provará a morte, porque superou a morte pela vida. Aqui na terra começa o processo da imortalização, para culminar em outras regiões do Universo, porque “na casa do Pai celeste há muitas moradas”.

 

3 de dez. de 2012

O Reino Esquecido

“A primeira função de uma mitologia viva é conciliar a consciência com as precondições da sua própria existência – quer dizer, com a natureza da vida. (...) O mito deve fazer o indivíduo atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois à senilidade e à morte. (...) você deve ter a coragem de assumir aquilo em que acredita. (...) aquilo que na mitologia se chama o outro mundo é na verdade o mundo interior”. Mito e Transformação – Joseph Campbell.





 

30 de nov. de 2012

Vida de Jesus


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17 - Disse Jesus: dar-vos-ei o que os olhos jamais viram e os ouvidos jamais ouviram e as mãos jamais tocaram, e o que nunca brotou do coração do homem.

Olhos, ouvidos, mãos, coração – são coisas do ego humano. Mas o que o novo Eu divino nos dá é algo além de tudo isto.

Todo homem-ego é louco por novidades; corre sem cessar através de coisas novas – e é por causa disto que ele envelhece rapidamente. Quanto mais freneticamente o homem corre atrás de novidades tanto mais rapidamente perde a sua verdadeira vitalidade espiritual. Por que? Porque não há nada de novo debaixo do sol, como já dizia, há milhares de anos, o sábio rei Salomão. E como todas as supostas novidades são rotina velhas em roupagem nova, o caçador dessas velharias envelhece com elas.


Por outro lado, o que nem os olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem mãos tangeram, nem mente alguma pensou, isto é sempre novo e inédito, por ser eterno; isto renova o homem, e não o deixa envelhecer.


Quem é dominado por tempo e espaço, não pode ficar jovem, porque tempo e espaço são sucessividades que nos fazem envelhecer. Mas quem vive na simultaneidade do Eterno, além de tempo e espaço, no Eterno presente, esse não envelhece, vive na indefectível juventude do aqui e agora.

"Perca as esperanças e descomprometa-se com a mentira. É legítimo não estar comprometido com o que não existe. Loucura é ter compromisso com o temporário, com o que não tem permanência. Observe como é fácil equacionar isso. Não existe nada errado em desrespeitar o irreal e buscar a realidade com coerência e respeito total.

O que é a realidade? O que está no fundo de todas as coisas? O que anima tudo? Os seus pensamentos, emoções, a comida que você come? Não. O que corresponde totalmente às suas expectativas? O que está sempre presente e nunca te abandona? Quem é você por trás de todas as camadas?

Acabe com a complexidade e fique com o simples. A simplicidade anterior à decisão de você ser isso ou aquilo. Assista a este espetáculo. Vejamos aquilo que está antes de qualquer definição. "

Satyapren

 

27 de nov. de 2012

Paz


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16 - Disse Jesus: os homens possivelmente pensam que vim para derramar a paz sobre o mundo, e o que eles não sabem é que vim para derramar a discórdia na terra, fogo, espada, guerra. Haverá pois cinco em uma casa: três estarão contra dois e dois estarão contra três, o pai contra o filho e o filho contra o pai, e eles serão solitários.

 Palavras análogas aparecem em diversos Evangelhos.

Quando desperta no homem o Cristo interno, logo o ego humano se revolta contra o Eu divino, tentando impedir uma “subversão”; porquanto, como diz a Bhagavad Gita, o ego é o pior inimigo do Eu, embora o Eu seja o melhor amigo do ego. Sendo que o ego anti-crístico é “o dominador deste mundo, o poder das trevas”, sendo que o ego “tem poder sobre vós” – é inevitável que o homem profano não tolere ser deposto do seu governo pelo homem sagrado, mobilizando contra o homem crístico todas as hostes anticrísticas.

Nenhum ego mental tolera a transmentalização, a soberania do Eu espiritual; toda a estratégia do Anti-cristo é uma guerra contra o Cristo em todas as frentes. O Cristo é considerado como um invasor ilegal nos domínios do Anticristo.

E, não raro, essa guerra do ego contra o Eu se projeta também para o plano externo e social, dentro da mesma família, quando em alguns dos seus membros o Eu crístico já despertou, e em outros continua a dormir. Neste sentido afirma Jesus: “Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa”.

Inúmeras experiências na vida de cada homem comprovam essa discórdia entre pessoas da mesma família. O ego só conhece parentesco carnal, nada sabe de afinidade espiritual. Ou, no dizer de Paulo, “carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus”.

E então os homens cristificados se sentem como solitários no meio de um mundo anticrístico. Mas, a sua solidão é uma solidão profundamente feliz.

 

25 de nov. de 2012

Filiação


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15 - Jesus disse: quando virdes aquele que não nasceu de mulher, prosternai-vos de face no chão e adorai-o: ele é vosso pai.

Em face dos relatos de Mateus e Lucas, negando a paternidade de José relativamente a Jesus, deveríamos antes esperar que Jesus fosse chamado filho de mulher. Estranhamente, porém, ele insiste dezenas de vezes no seu título predileto “Filho de Homem”. Para compreender este mistério, temos de remontar milhares de anos. Os dois citados evangelistas traçam a genealogia de Jesus através dos ascendentes de José – e depois negam a paternidade física dele. Mas essas duas genealogias – uma desde Abraão, outra desde Adão – têm a finalidade de mostrar através de que canais fluiu o elemento vital que cooperou para a formação do corpo de Jesus. Esse elemento é real, embora não material, uma vez que segundo os Evangelhos, José não teve contato físico com Maria.

Já no Gênesis estava prevista uma geração hominal em vez de animal. Os primeiros seres humanos tinham ordem dos Elohim (potências divinas) de “evolver e multiplicar-se”; mas eles se multiplicaram animalescamente, em vez de primeiro evolverem hominalmente, e por isto veio sobre eles a maldição dos Elohim, que perdura até o presente.


Também João, no seu Evangelho, fala de homens que “não nasceram da fusão de sangues nem do desejo do varão nem do desejo da carne, mas de Deus”.


No caso de José e Maria – e, possivelmente, de alguns grandes avatares – se atualizou a potencialidade da procriação hominal prevista no Gênesis. Por isto Jesus se intitula constantemente “Filho do Homem”, hominalmente gerado, e não animalmente, como outros homens, que, segundo ele, são filhos de mulher”.
No caso da misteriosa entidade de Melquisedec, não houve sequer procreação hominal, tanto assim que os livros sacros afirmam que ele não tinha “geração humana”.


A procriação genuinamente hominal parece efetuar-se, não através do corpo material, como no animal e no homem de hoje, mas através do corpo astral, ou bioplásmico, como no caso de Jesus, onde esse fator vital é chamado “sopro sagrado” e “potência suprema”.


A doutrina teológica de que Maria tenha sido fecundada pelo “Espírito Santo” é mitologia; em caso algum pode uma mulher humana ser fecundada por uma entidade puramente espiritual. O pneuma hágion, de Lucas, é o elemento vital de José, que, através das genealogias milenares referidas por Mateus e Lucas, se refinou e atuou sobre Maria no momento em que “o Verbo se fez carne”. O “esposo divino” (gabri-el) de José, realizou a fecundação, razão porque Jesus se chama “Filho do Homem”, produto de uma geração 100% hominal, que, por isto é antes uma creação do que procreação. A humanidade atual só se transanimalizou do pescoço para cima, despertando a inteligência; mas da cabeça para baixo continua animal. O “Filho do Homem”, porém, é a antecipação de uma nova humanidade; e por isto devemos prostrar-nos diante dele como diante de um homem plenamente realizado.



 

  

23 de nov. de 2012

Vigiai



14 - Jesus lhes disse: se jejuardes, pecareis contra vós próprios, se orardes, sereis condenados e se derdes esmolas, levareis malefícios a vosso espírito. E quando fordes a quaisquer terras, e, ao vaguear pelas redondezas, vos receberem, comei o que puserem à vossa frente, curai os que estiverem doentes em meio deles, pois o que entrar pela vossa boca não vos corromperá, mas o que sair de vossa boca, eis o que vos corromperá.

As primeiras palavras parecem diametralmente opostas aos ensinamentos de Jesus referidos pelos outros evangelistas. Mas, convém não esquecer que Tomé é intransigente defensor da pura interioridade, que condena frontalmente todo e qualquer ato oriundo do ego humano. De fato, jejuar, orar, dar esmola, pode ser pecado, quando esses atos são praticados meramente pelo ego externo, como Jesus faz ver repetidas vezes. A Filosofia Budista chega ao ponto de ver uma profunda e permanente tragicidade em toda e qualquer atividade humana, porque o nosso agir é, quase sempre, um ego-agir, um agir em nome e por amor ao nosso ego ilusório. Parece que nunca nenhum pensador ocidental desceu a esse último nadir de profundidade, de ver tragicidade e pecaminosidade em toda e qualquer atividade humana. Entretanto o budismo tem razão, porque todo o agir do homem profano é um falso-agir, um agir, não somente através do ego, mas também em nome e por amor a esse ego, uma permanente egolatria, ou idolatria, que onera o homem de sempre novos débitos ou karmas.

Em face dessa tragicidade do agir, que gera débito, muitos orientais preferem o não-agir ao agir. Somente os grandes Mestres da espiritualidade descobriram uma terceira atitude, equidistante do agir e do não-agir, que é o reto-agir, isto é, agir em nome e por amor ao nosso Eu divino, ao nosso Cristo interno.

As palavras de Jesus acima referidas condenam jejuar, orar, dar esmola, como falso-agir, agir em nome e por amor ao ego; mas não condenam o reto-agir, agir por amor do Eu divino, da auto-realização.
 
Mas, para que o homem possa reto-agir, agir por amor ao seu Eu divino, embora através do seu ego humano, deve ele conhecer esse seu Eu divino. De maneira que, reto-agir supõe como premissa auto-conhecimento.

Na segunda parte da sentença acima, volta o Mestre a demolir um dos mais queridos ídolos de muitas das nossas sociedades espiritualistas, interessadas em fazer depender a evolução espiritual do conteúdo do estômago. Alguns vegetarianos consideram a comida como fator decisivo de espiritualidade, quando Jesus nunca deu preceitos sobre isto. Para ele, o alimento mental e emocional é muito mais importante para a espiritualidade do que qualquer alimento material. A saúde espiritual depende mais do que nasce e sai do coração e da mente do que daquilo que entra pela boca e vai para o estômago. Todo o homem sinceramente espiritual sabe instintivamente o que lhe convém comer ou não comer; o seu cardápio não lhe é ditado por nenhum livro, preto sobre branco, mas pela intuição da sua alma.

21 de nov. de 2012

Conceitos (2)

13- (A) Então levou Jesus Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras.
E, quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, estes lhe perguntaram: Que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me – e das pedras romperia fogo para vos incendiar.


Quais seriam essas três palavras que Jesus disse a Tomé? Palavras tão inauditas e tão revoltantes que levariam os outros discípulos a apedrejar o companheiro como culpado de blasfêmia? Pensam alguns intérpretes que teriam sido as palavras “Eu sou tu”, ou “Tu és eu”. Em sânscrito, os iniciados, quando remontam à mais alta sapiência e vislumbram a essencial identidade entre Atman e Brahman, dizem “Tat twam asi” (Isto és tu). Será que Tomé, depois de beber do cálice da sapiência crística, ouviu do Mestre esta sabedoria suprema? Ele diz que das próprias pedras que seus companheiros lhe atirariam sairia fogo para os incendiar. Deviam, pois, ser palavras de fogo aquilo que o Mestre lhe disse e que ele não pôde dizer a seus companheiros. E como, pouco antes, Tomé havia citado as palavras do Cristo que ele lançara à terra, é possível que esse fogo crístico tenha a tal ponto deflagrado em Tomé que ele se tornasse um verdadeiro Cristóforo ou porta-Cristo. Mas os outros não compreendiam essa identidade do Cristo no homem e do Cristo em Jesus.

Tudo isto deve ter ocorrido entre a ressurreição e a ascensão nos quarenta dias que o ressuscitado dava instruções a seus discípulos. Parece que, depois do Pentecostes, Tomé, que fora sempre meio separatista, se separou definitivamente dos colegas palestinenses e se dirigiu ao Egito, onde foram, em 1945, encontrados os preciosos fragmentos que reproduzem parte do seu Evangelho. Nos primeiros séculos do cristianismo, nos desertos áridos da Tebaida, no Egito, viviam centenas de eremitas, solitários yoguis cristãos, em perpétua meditação. Possivelmente, Tomé, após a grande revelação das três palavras indizíveis sobre o Cristo, se isolou nessa inóspita solidão. Se ele não podia revelar a Pedro e Mateus as três palavras inefáveis, como as poderia revelar a outros homens mais profanos do que eles? E cada um de nós tem de descobrir dentro de si mesmo esse sacro trigrama.

20 de nov. de 2012

Conceitos


13 - Disse Jesus aos seus discípulos: fazei uma comparação e dizei-me com quem me pareço. Simão Pedro respondeu-lhe: és como um anjo justo. Mateus lhe disse: és como um sábio. Disse-lhe Tomé: Mestre, meus lábios são totalmente incapazes de dizer-te com quem te pareces. Jesus disse: não sou teu Mestre porque bebeste e te tornastes ébrio com a fonte borbulhante que te desvelei. 

 Pedro e Mateus falam da personalidade humana de Jesus de Nazaré, que um compara com um anjo justo, o outro com um homem sábio. Estes dois apóstolos vêem em Jesus um homem altamente evolvido, muito mais avançado do que outro ser humano aqui na terra; mas nenhum deles visualizou a entidade cósmica dentro da personalidade humana, exatamente como numerosos espiritualistas de nossos dias. Mas, segundo o Evangelho e segundo as próprias palavras de Jesus, o Cristo não é uma personalidade humana, e sim a primeira e mais alta emanação individual da Divindade Universal.

No texto acima citado, Tomé não ousa responder à pergunta de Jesus; prefere calar-se a falar, porque qualquer comparação que ele fizesse seria absurda; pois seria sempre uma comparação entre uma creatura humana e outra creatura humana. Mas, já nesse tempo Tomé vislumbrava algo para além da personalidade de Jesus de Nazaré; adivinhava o Cristo divino invisível para além do invólucro humano visível. E por isto se calou. E Jesus lhe fez ver que ele, o Jesus humano, não era Mestre de Tomé, desde que Tomé havia bebido e se inebriado da borbulhante Fonte da revelação que o Cristo lhe havia oferecido. Quem vislumbra a Realidade espiritual não pode falar, porque entrou na zona dos “ditos indizíveis”.


A ciência analítica, a erudição humana, fala – mas a sapiência intuitiva, a visão espiritual, se cala, porque sabe...


Um dia, como referem os Evangelhos, Tomé quis “ver para crer”; mais tarde, porém, como prova o texto acima, ele preferiu “crer para ver” – ou melhor: ter fé, fidelização, sintonia, para ver o Cristo divino no Jesus humano. E quem vê sabe, e quem sabe não fala – cala-se, porque vê e sabe. Os outros falam porque não sabem nem veem; Tomé prefere calar-se porque bebeu da taça da suprema sabedoria.


 

18 de nov. de 2012

Justiça e Livre Arbítrio


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12 – Os discípulos disseram a Jesus: sabemos que te apartarás de nós. Quem será aquele que nos vai chefiar? Jesus disse-lhes: No presente estágio, dirigi-vos a Tiago, o Justo para que os assuntos do céu e da terra incorporem-se no ser.

O apóstolo Tiago (em hebraico Jacob) é, no Evangelho, cognominado o Justo; foi, depois da ascensão do Mestre, chefe espiritual da cristandade de Jerusalém, onde morreu mártir.

A este discípulo recomenda Jesus os outros discípulos, após a sua partida, porque “ele está ao par das coisas do céu e da terra”, isto é, das coisas necessárias ao homem nesta vida terrestre. À primeira vista causa estranheza que o Mestre não tenha mandado seus discípulos ter com Tomé, que, logo no próximo capítulo 13, aparece como mais esotérico-místico de todos os discípulos. Nem Pedro, nem João, o “discípulo amado” são mencionados por Jesus, porque, nesta ocasião, necessitavam eles mais de alguém que os guiasse nas coisas da vida presente, como indicam as palavras “no ponto onde estais”.

Aliás, todo o Evangelho copta, encontrado no Egito, se move numa dimensão transcendental, diferente dos quatro Evangelhos chamados “canônicos”; nem mesmo Pedro goza da primazia de que os outros evangelhos o revestem. O Evangelho de Tomé reveste um caráter totalmente espiritual, extra-terreno. Sendo que Tomé, segundo a tradição, demandou a longínqua Índia, depois da ascensão de Jesus, não foi o seu evangelho atingido pelo espírito dos outros, discutidos, mais tarde, pelas autoridades hierárquicas. O Evangelho de Tomé revela um caráter anterior à teologização dos outros Evangelhos, conservando um espírito puramente místico, que lembra os três primeiros séculos do cristianismo.

 

15 de nov. de 2012

Mundo Espiritual



11 - Jesus disse: o céu passará e também passará aquele que estiver acima dele, e os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão. Nos tempos que comíeis o que era morto, vós os tornáveis vivos; quando vierdes à luz, que havereis de fazer? No dia em que éreis um, vós vos tornastes dois. Mas, quando vos tornastes dois, que fizestes?

 Estas palavras do Evangelho de Tomé são de imensa profundidade, e dificilmente encontrarão paralelo em outros livros sacros.

O céu físico passará, e mesmo os outros céus – astral, etéreo, mental, ou que outro nome tenham – são estágios evolutivos não definitivos.


Todos os seres que não integrarem a sua individualidade viva na Vida Universal são mortos, porque mortais, embora se considerem fisicamente vivos. O que não é metafisicamente vivo não é realmente vivo. Somente o vivo que se integra na Vida é que é real e definitivamente vivo. Os vivos não integrados na Vida são mortos, pseudo-vivos, mas realmente mortos. Imortal é somente a Vida, a Divindade, o Infinito, o Eterno, o Absoluto; todas as creaturas são mortais, ou então imortalizáveis; nenhuma creatura é realmente imortal; imortal é somente o Creador.


A Sagrada Escritura chama “morto” o homem que vive na ego-consciência, porque não integrou o seu ego, pseudo-vivo, na Vida; o homem da ego-consciência não é realmente vivo. Realmente vivo é somente o homem da cosmo-consciência, que integrou o seu vivo individual na Vida Universal.


Os verdadeiramente vivos não podem morrer jamais, porque integraram o seu indivíduo potencialmente imortal na Realidade atualmente mortal.


O homem ainda não realmente imortal come coisas mortas, como são todos os alimentos assimiláveis, mesmo os que a ciência chama vivos, como vegetais crus. O homem definitivamente imortalizado não se nutre de nada que seja morto ou mortal.


Quem digere e assimila o morto ou mortal torna-o imortal. Assimilar quer dizer tornar o assimilado semelhante ao assimilador. A Filosofia Oriental manda “comer o mundo”. O profano, porém, é comido pelo mundo, e por isto é mundanizado ou profanizado. O místico isolacionista recusa comer o mundo e se isola longe do mundo; não é mundano nem mundanizado. Somente o homem cósmico, o místico dinâmico, não é comido pelo mundo, nem recusa comer o mundo, mas come o mundo e o digere devidamente; e, neste caso, o mundo, devidamente digerido e assimilado, ajuda o homem a crescer e realizar-se cada vez mais. O homem cósmico é o homem realmente vivo e imortalizado.


Só o homem, quando definitiva e realmente vivo, não necessita de comer, a não ser luz, que é a última fronteira do mundo material; a luz cósmica é energia descondensada, a substância mais sutil que existe no mundo creado.


O homem, lucigênito e lucificado, é também lucífago.


No princípio, todo o Verso era Uno. O Uno creador manifestou-se no Verso creado, em infinitos graus de diversidade e diversificação. Agora o Universo existe como Realidade Uno e Facticidades Verso. Quando o Verso morre, volta ao Uno, o Vivo se dilui na Vida; ou então, como no homem, o Verso do Vivo se integra no Uno da Vida. As creaturas infra-humanas se diluem no Creador e deixam de existir como creaturas distintas. Somente o homem, em vez de se diluir, pode integrar-se na Vida do Creador.


 

14 de nov. de 2012

Amor Universal


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Jesus disse: vim para atear fogo ao mundo e, vede, eis que estarei vigiando até que ele arda.

O texto dos outros evangelistas difere ligeiramente, mas o sentido é o mesmo.

Em todo ser humano existe esse fogo divino; existe em estado latente, dormente, potencial, em forma de brasa, por assim dizer. Depende do livre arbítrio de cada um transformar em viva chama a brasa dormente e não permitir que ele continue apenas como brasa, ou até se apague totalmente. O flamejar do fogo potencial em fogo atual, como aconteceu no primeiro Pentecostes, depende de cada homem. 


As circunstâncias externas podem, certamente, dificultar ou facilitar esse rompimento do fogo; mas nenhuma circunstância pode impedir a atuação da substância interna.

O Uno do Universo, o Creador, creou imensa variedade no mundo do Verso, ou das creaturas. Além de creaturas apenas creadas, há algumas creaturas creativas, como o homem aqui na terra. Estas creaturas creativas podem e devem tornar-se melhores do que o Creador as fez, como ilustra maravilhosamente a parábola dos talentos. O homem não deve devolver ao Creador apenas o que dele recebeu, mas deve duplicar com a sua creatividade o talento que recebeu, deve transformar em atualidade a potencialidade recebida; se assim fizer, será “servo bom e fiel”; se não o fizer, será “servo mau e preguiçoso”, e perderá até a potencialidade creativa que recebera, perdendo a sua natureza humana; a brasa, em vez de flamejar, se extinguirá.


As leis cósmicas não permitem estagnação, que, cedo ou tarde, acabará em involução; as leis cósmicas exigem imperiosamente evolução, exigem que a brasa da creatividade potencial deflagre em chama viva de creatividade atual.


Diz o texto do Evangelho de Tomé que o fogo potencial no homem é “vigiado” pelo Cristo até que deflagre em viva chama. É este o Cristo interno presente em cada homem, que deve manifestar-se, como aconteceu em Jesus de Nazaré.


Obs: A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento.
Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas.

 

13 de nov. de 2012

Campo para Semeadura


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9 – Jesus disse: Vede, o semeador saiu, encheu suas mãos e semeou. Algumas sementes caíram no caminho; os pássaros vieram e as recolheram. Outras caíram na pedra e não puderam enraizar-se na terra, e não germinaram. E outras caíram em solo fértil; e germinaram e deram bons frutos; nasceram na proporção de 60 por unidade e 120 por unidade.

Esta parábola do semeador é quase igual à dos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, à exceção de divergências insignificantes.

O que é notável em todos os textos é o fato de ter o semeador – que é o Filho do Homem – lançado a semente da palavra de Deus indistintamente em terrenos bons e maus. Segundo a nossa agronomia, não devia ter semeado no caminho, no rochedo e nos espinhos, mas exclusivamente em terra boa. Mas, como o principal da parábola não é o símbolo material, e sim o simbolizado espiritual, o procedimento do semeador é correto; não concorda com a agronomia material, mas condiz com a agronomia espiritual, onde o campo é a alma humana dotada de livre arbítrio. O solo físico não pode modificar a sua receptividade; mas o solo metafísico, humano, é responsável por sua receptividade, maior ou menor. Sendo a semente a própria palavra de Deus, sempre ótima, a sua diferença de produção não corre por conta da semente, mas por conta do terreno em que é semeada, isto é, a alma humana.

A parábola visa, portanto, a advertir os homens da sua responsabilidade em face da semeadura espiritual; os terrenos improdutivos da humanidade são culpados por sua improdutividade. O livre arbítrio humano é responsável pelo fato de produzir nada, pouco ou muito.

Aqui está mais uma apoteose do livre arbítrio do homem, sempre de novo negado por certos cientistas incompetentes. O livre arbítrio existe potencialmente em todo ser humano normal; mas a sua atualização depende do desenvolvimento da consciência de cada um. As leis cósmicas produzem não somente creaturas creadas, mas também creaturas creativas. Estas últimas podem crear-se melhores ou piores do que Deus as creou. A semente da palavra de Deus é ótima, mas o terreno humano é variável: mau, bom, ótimo.


12 de nov. de 2012

Alimentação espiritual


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8 – Ele disse: O homem se parece com um pescador ajuizado, que lançou sua rede ao mar. Puxou para fora a rede cheia de peixes pequenos. Mas entre os pequenos o pescador sensato encontrou um peixe bom e grande. Sem hesitação, escolheu o peixe grande e devolveu ao mar todos os pequenos. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

 Nestas palavras aparece o homem de consciência cósmica, que saberá lidar com todas as coisas pequenas do mundo material, mental, e social, que entram na rede da sua vida diária; mas terá o dom do discernimento espiritual, em virtude do qual distingue de relance o que é importante e duradouro para sua verdadeira evolução; dá a Deus o que é de Deus e dá a César o que é de César: escolhe a “única coisa necessária” de Maria, e deixa as coisas facultativas para Marta. Fica com o peixe grande e liberta-se dos pequenos.

Esta pequena parábola faz lembrar as duas parábolas do “tesouro no campo” e da “pérola preciosa”, em que o feliz descobridor se desfaz de todas as outras coisas e adquire o tesouro e a pérola.

O homem-Eu possui uma espécie de faro cósmico, ou intuição, em virtude da qual ele discerne o que é qualidade duradoura, e o que é apenas quantidade efêmera; enxerga as coisas sub specie aeternitatis, como dizem as biografias dos santos.

O homem profano só se interessa pelas coisas quantitativas, e não percebe a coisa qualitativa.

O homem místico do misticismo unilateral apanha na sua rede somente o peixe grande da espiritualidade isolada.

O homem de consciência cósmica, ou da mística onilateral, apanha na rede da sua vida coisas de toda a espécie, mas devolve ao mundo as coisas sem valor e se apodera da única coisa valiosa. “Examinai todas as coisas – disse Paulo  – e ficai com aquilo que é bom”.

 

11 de nov. de 2012

Poder


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7 – Bendito o leão comido pelo homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão!

O leão simboliza o ego humano, que o apóstolo Pedro, na sua primeira epístola, identifica com o diabo.

Segundo as palavras de Jesus, satanás ou diabo é o ego mental do homem, quando se opõe ao Eu.

Bendito o Eu espiritual quando devora e assimila o ego mental.

Maldito o Eu divino (Self) se se deixa matar e devorar pelo ego humano.

De acordo com todos os livros sacros, sobretudo do Evangelho do Cristo, o homem-Eu não deve mandar embora o homem-ego, mas sim colocá-lo na retaguarda da sua vida (vade retro). O homem espiritual deve servir-se do homem físico-mental-emocional para espiritualizar-se cada vez mais; deve integrar o ego no Eu, o humano no divino, o seu Jesus no seu Cristo.

A Filosofia Oriental diz que o homem deve “comer o mundo”, isto é, aproveitar-se do mundo assimilando-o para sua evolução espiritual; mas ai do homem que se deixa comer pelo mundo.

Para que o homem não seja devorado pelo leão, mas possa devorá-lo, deve ele torna-se tão forte que nenhum leão o possa derrotar.

O homem que vive permanentemente nas profanidades da sociedade não possui força suficiente para triunfar sobre os leões do mundo. Para ser amigo e benfeitor da sociedade, deve o homem isolar-se frequentemente na solidão do seu interior – e terá forças para integrar em si o leão, em vez de ser desintegrado por ele.

Joel Goldsmith, no seu livro “A Arte de Curar pelo Espírito”, diz que, em sua cidade natal, Honolulu, é considerado como homem anti-social, porque não frequenta reuniões sociais, não lê jornal, não tem rádio nem televisão, nem recebe visitas inúteis. E ele responde: “Sou um homem anti-social por amor à sociedade, porque, para poder ajudar a sociedade, devo isolar-me em Deus”. Quem nunca foi solitário em Deus não pode ser solidário com os homens sem perigo de se perder. Só pode viver no mundo de Deus quem aprendeu a viver no Deus do mundo.

10 de nov. de 2012

Atos


 
6 – Perguntaram os discípulos a Jesus: Queres que jejuemos? Como devemos orar? Como dar esmola? E quais os alimentos que devemos tomar?

Respondeu Jesus: Não mintais a vós mesmos, e não façais o que é odioso! Porquanto todas estas coisas são manifestas diante do céu. Não há nada oculto que não seja manifestado, e não há nada velado que, por fim, não seja revelado.

Atos e fatos externos não têm valor em si mesmos. O que vale é unicamente a atitude interna. Praticar atos e realizar fatos objetos que não nasceram de uma boa atitude subjetiva, é mentir e fingir amar o que realmente se odeia. O agir deve ser o efluxo do ser. A vivência ética deve ser o fruto espontâneo da consciência mística.

Que devemos comer?

Há pessoas que dão grande importância à qualidade dos alimentos, ao conteúdo do estômago, como se a qualidade espiritual dependesse da qualidade material dos manjares. No Evangelho de Jesus não se encontra uma única prescrição nem proscrição de alimentos, porque, segundo as suas palavras, “o que de fora entra no homem não o torna impuro, mas sim o que de dentro sai do homem”.

Da mesma forma, Jesus não prescreveu nenhuma fórmula de oração ritual; o chamado “Pai Nosso” não é uma reza ou recitação verbal; é um roteiro espiritual que indica a direção a quem abre a alma rumo ao Infinito. Jesus orava espontaneamente em qualquer lugar: nos montes e desertos, no templo e na sinagoga, entre as dores do Getsêmane e do Gólgota, bem como nas glórias do Tabor. A oração deve ser tão espontânea e natural como a respiração, que acontece ao homem sadio inconscientemente.

Nesta palavra do Evangelho de Tomé, volta o Mestre a frisar que o mundo espiritual é uma Realidade Universal, supra-consciente, e não uma espécie de ocultismo, infra-consciente. As coisas do ego consciente, ou do id sub-consciente, atraem os profanos, mas a Realidade do Eu cosmo-consciente encanta o iniciado, porque é manifesta como a luz solar. A magia mental e o ocultismo infra-mental são como uma noite fria de luar, ao passo que a mística espiritual é semelhante a um dia cálido repleto de luz solar.

9 de nov. de 2012

Visão Espiritual


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5 – Disse Jesus: Conhece o que está ante os teus olhos – e o que te é oculto te será revelado; porque nada é oculto que não seja manifestado.

Aqui se trata de um paralelo entre dois modos de ver: o homem profano vê o que está diante dele, mas não o conhece – ao passo que o iniciado conhece o que não está diante dele. A Realidade não é visível, como as facticidades. A visão puramente empírico-analítica dos sentidos e do intelecto não é conhecimento verdadeiro. O verdadeiro conhecimento é uma intuição, ou intro-visão, uma visão de dentro da Realidade, e não uma visão externa, uma extra-visão ou pseudo-visão de facticidades ilusórias. Quando a ex-tuição do profano é substituída pela in-tuição do iniciado, então o homem sabe e saboreia a alma do Universo, que é a Realidade, e a alma do seu próprio ser.

Quem nunca passou da extra-visão ilusória para a intro-visão verdadeira, nada sabe da verdade; e quem não está na verdade não está liberto da ilusão.
Verdade, liberdade, felicidade – estas três são uma só.

 

8 de nov. de 2012

Nascimento


 
 4 – Jesus disse: O homem idoso perguntará, nos seus dias, a uma criança de sete dias pelo lugar da vida – e ele viverá. Porque muitos primeiros serão últimos, e serão unificados.

Uma criança saiu da Vida Universal e entrou no vivo Individual. Um ancião está prestes a sair do vivo e voltar à Vida. A vivência dos vivos aqui na terra é como que um parêntesis no texto da Vida Universal; na criança, o vivo individual está no princípio, no ancião o vivo individual está no fim; a criança abriu o parêntesis, o ancião está para fechá-lo. Mas a Vida é Una, Eterna, sem princípio nem fim; a criança abriu o parênteses, o ancião está para fechá-lo. Mas a Vida é Una, Eterna, sem princípio nem fim. Não importa o tempo em que alguém entra ou sai da vivência do vivo temporário; o importante é que o homem integre a sua vivência temporária na Vida eterna, onde não há criança nem ancião. A vivência é do ego, a vida é do Eu.

A criança pode dizer ao ancião: “Eu vim da Vida, e tu voltas para a Vida”.

Esta integração do vivo na Vida não é presente de berço, nem dádiva de esquife – é uma conquista da consciência. E onde impera o livre arbítrio da conquista não há primeiro nem último; essa conquista não depende da idade do corpo, mas da idoneidade do espírito.

O invólucro ego nos foi dado para que através dele o Eu se realize plenamente (Dharma, Verdadeira Vontade, etc...).  É necessário que a alma encontre resistência no corpo, porque sem resistência não há evolução. O envolvimento da alma espiritual pelo corpo material não tem caráter punitivo, e sim evolutivo. A alma é uma emanação individual da Divindade Universal; mas essa individualidade espiritual é apenas uma potencialidade, que deve transforma-se em atualidade. A alma realizável deve realizar-se plenamente através do corpo; e essa realização se processa através da passagem pelo corpo, que, por enquanto, é grosseiramente material. A realização da alma começa no corpo material e continuará através de outros corpos não materiais, até chegar ao corpo mais sutil, que talvez é o corpo-luz. Quanto mais a alma intensificar a consciência da sua essencial identidade com o espírito divino, tanto mais se aperfeiçoa também o seu invólucro corpóreo.

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