29 de jan. de 2011

Os "adoradores" de Serpentes

"Sede prudentes [3]  como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mt 10:16)

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Moisés e a  Serpente de Bronze


Conhecemos menos sobre os verdadeiros grupos esotéricos do que sobre os místicos, porque aqueles não são cerceados por juramentos secretos que os impedem de divulgar suas experiências interiores. Sigilo absoluto sobre tudo o que é dito e feito atrás dos portais da Câmara Sagrada sempre foi um dos requisitos exigidos dos candidatos à iniciação nos Mistérios. A natureza sigilosa das atividades desses grupos é tida como necessária para salvaguardar a humanidade da má utilização de seus segredos por indivíduos egoístas e sem a devida capacitação moral. Essa obrigação foi tão estritamente observada ao longo dos milênios que nenhuma narrativa dos verdadeiros segredos dos Mistérios jamais chegou ao conhecimento dos curiosos ou dos historiadores. O voto não se estendia a todos os elementos de um Mistério, mas sim aos detalhes cerimoniais, às revelações feitas no templo, à interpretação esotérica do mito representado de forma dramática, às palavras de passe da fraternidade e seu significado, às fórmulas de iluminação e sabe-se lá que outros fatos de interesse oculto.[1]  


Os místicos, ao contrário, sempre sentiram a obrigação de compartilhar suas experiências com seus irmãos buscadores, de forma a confirmar que é possível a união com Deus para aqueles que seguem o árduo, mas gratificante, caminho da entrega total ao Pai Supremo até alcançarem o merecimento de receber a graça da Luz Divina. 

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Os membros dos grupos esotéricos podem, num certo sentido, ser considerados como místicos, porém, com uma característica toda especial, eles também se valem de uma série de rituais e outros procedimentos para facilitar e acelerar o processo de transformação interior que, com o tempo, leva à iluminação. Esses grupos, geralmente estabelecidos por iniciados com elevados dons espirituais, utilizam a teurgia, ou seja, a energia divina direcionada por aqueles devidamente capacitados, para promover condições facilitadoras para as progressivas expansões de consciência que caracterizam o caminho espiritual.  


Esses procedimentos não devem causar nenhuma surpresa ao estudioso, pois Jesus demonstrou ser um grande teurgo, usando a energia divina tanto para curar o corpo como, principalmente, a alma. Jesus era familiarizado com os grupos ocultos de sua época, pois acredita-se que ele era um essênio e recebeu instrução de seu tio o Rabbi Jehoshuah e, mais tarde, do Rabino Elhanan, renomado cabalista em sua época, sobre os mistérios da Cabala. Os essênios eram grandes ocultistas e buscavam, principalmente em seu centro de treinamento em Qumrã, o ideal místico de todos os séculos, a união com Deus. O mesmo deve ser dito dos grupos cabalistas, que mantiveram acesa a chama do conhecimento divino entre os judeus.   


Não seria de estranhar, portanto, que Jesus ministrasse ensinamentos reservados a um grupo de discípulos mais avançados, como é mencionado na Bíblia: "Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13:11). Esse grupo de discípulos foi o núcleo do primeiro grupo esotérico da tradição cristã. Dele derivou-se, ao longo dos séculos, toda uma série de outros grupos sempre com o objetivo de perseguir a gnosis divina que levava ao prometido ?Reino dos Céus.?  


É lógico supor-se que após a morte de Jesus esse grupo interno continuou seus trabalhos e procurou manter, com todo o zelo característico dos discípulos mais próximos do Mestre, a tradição oculta que lhe havia sido transmitida. Assim, as instruções secretas, rituais, sacramentos e todo o instrumental transformador ensinado por Jesus foram mantidos por seus discípulos. Como sói acontecer, na prática de todos os grupos verdadeiramente esotéricos, seus membros comprometem-se solenemente a manter acesa a chama divina da gnosis [2] para o benefício de todos os verdadeiros buscadores que puderem ser admitidos ao ádito sagrado.   


Seria lícito perguntar, portanto, por que a Igreja nunca reconheceu oficialmente a existência de grupos que seriam os mantenedores da tradição esotérica cristã? A resposta é óbvia. O grupo que mais tarde tornou-se a Igreja Católica, consolidada no século IV, sob a égide de Constantino, não era o ramo esotérico da tradição, mas sim aquele que manteve a tradição aberta, a tradição das parábolas de Jesus ministradas aos muitos (ao público). Entende-se, portanto, porque as autoridades eclesiásticas sempre relutaram em reconhecer a existência de uma tradição interna e, com o tempo, cada vez mais preocupadas com sua autopreservação, tornaram-se inimigas coléricas e perseguidoras dos grupos ocultistas, usando de todos os meios para neutralizá-los, desacreditá-los e destruí-los.  


Os primeiros grupos internos de nossa tradição foram conhecidos como gnósticos, podendo-se destacar dentre eles os ofitas. Esses termos, gnósticos e ofitas, tão injustamente vilipendiados pela ortodoxia merecem um esclarecimento. Gnóstico é o buscador da gnosis, que em grego significa conhecimento, não um conhecimento meramente intelectivo, mas sim a percepção direta, intuitiva da verdade, sobre a qual Paulo fez tantas alusões em suas epístolas. Esse conhecimento só é adquirido por aqueles que conseguem silenciar a mente e ouvir a voz silenciosa do Cristo interior, que tudo revela aos seus bem amados. É importante lembrar que os grupos gnósticos já eram conhecidos antes do ministério de Jesus.   


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Ofita vem do termo grego ofis, serpente. Esses grupos não eram adoradores da serpente, como maldosamente lhes é atribuído. A serpente sempre foi o símbolo da sabedoria em todas as grandes tradições, daí a instrução de Jesus a seus discípulos: "Sede prudentes [3] como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mt 10:16). A serpente sempre foi um símbolo usado para representar a sabedoria nas tradições da antigüidade. Entre os judeus, a serpente, (Gênesis 3) aparece como a primeira reveladora do conhecimento divino.[4] Os antigos cabalistas judeus usavam a serpente nechushtan, com sua cauda segura entre os dentes, como  símbolo da sabedoria e da iniciação. [5] Tanto na tradição hinduísta como na budista, os grandes nagas (serpentes,em sânscrito) são representados como os instrutores primordiais. É possível que isso reflita o fato de que certos buscadores passam pela experiência interior de visualização de uma ou várias serpentes, na verdade um teste de sua coragem e determinação. Caso o buscador não se retraia com medo, é dito que a experiência prossegue com a serpente se aproximando do devoto, abrindo sua boca e, finalmente, fundindo-se com o fiel indômito. Essa visão parece ser uma espécie de iniciação que possibilita a abertura de um processo de revelação progressiva da verdadeira sabedoria ao buscador da verdade. É dito na tradição budista que, no momento da iluminação do Senhor Buda, estando em profunda meditação, uma enorme serpente aproximou-se e postou-se por trás e acima dele como que o protegendo e inspirando durante toda a experiência interior. Finalmente, a serpente é também o símbolo da kundalini, o fenômeno de subida da energia conhecida como ?fogo serpentino?, dormente no chacra básico, até o centro da cabeça, onde se encontra com a energia superior, causando a iluminação.  


        Portanto, os gnósticos e os ofitas cristãos, formavam os grupos de buscadores da verdade, ou sabedoria divina, fundados pelos discípulos mais chegados de Jesus. Mais tarde esses grupos passaram a ser conhecidos por diferentes nomes dependendo de características regionais e ênfase da doutrina externa exposta. Dentre os grupos mais ativos nos dois primeiros séculos de nossa era destacam-se os naasenos (palavra aramaica com o mesmo significado de ofitas, de origem grega), perates, sethianos (gnósticos de orientação judaica), docéticos (propunham que a natureza exterior do Cristo era ilusória), carpocráticos, basilidianos e valentinianos. Vale a pena mencionar que ainda hoje existem dois grupos remanescentes do movimento original no primeiro século de nossa era, conhecidos como mandeanos e drusos.  


Os mandeanos, também conhecidos como discípulos de São João, praticam seus rituais de batismo por imersão em água corrente, como fazia seu fundador, João o Batista. Atualmente, encontram-se pequenas comunidades de mandeanos na região sul do Iraque, principalmente em Basra, Amarah e Nasiriya, bem como no Irã, na província de Khuzistan, especialmente em Ahwaz e Shushtar. A denominação dessa seita deriva-se da antiga palavra ?mandeana? que significava ?percepção ou conhecimento?; portanto, o termo refere-se ?àquele que conhece, ou gnóstico.? A literatura existente sobre essa tradição é considerável, dado o número relativamente pequeno de seus membros. Dentre seu acervo literário destacam-se: "o Tesouro" (Ginza) e o "Grande Livro" (Sidra Rabba). Sua cosmologia é muito semelhante à dos antigos gnósticos, incluindo uma deidade suprema (Ferho) e um deus criador inferior (Ptahil). Os números sete e doze ocorrem com freqüência em sua hierarquia espiritual. O ponto alto da cosmogonia é a redenção, que ocorre com os ?Mistérios? que proporcionam a ?Gnosis da Vida.? [6]  


A referência mais confiável que temos sobre os drusos foi escrita há pouco mais de um século por Blavatsky. Essa autoridade informa que os misteriosos drusos do Monte Líbano são descendentes dos grupos originais de gnósticos, ou ofitas. Os drusos eram de origem copta, e caracterizavam-se por serem estudiosos e diligentes, podendo ser encontrados em pequenas comunidades em vários países do oriente médio. De acordo com Blavatsky, havia na sua época "cerca de 80.000 guerreiros, espalhados desde a planície oriental de Damas até a costa ocidental. Não fazem proselitismo, fogem da notoriedade, mantêm a fraternidade - na medida do possível - seja com os cristãos, seja com os muçulmanos, respeitam a religião de qualquer outra seita ou povo, mas jamais revelam seus segredos. Quanto aos não iniciados, jamais se lhes permitiu ver os escritos sagrados, e nenhum deles tem a mais remota idéia do local onde estão escondidos." [7] O pouco que se sabe a seu respeito vem de uma comunicação escrita por um de seus iniciados a Blavatsky, que aparentemente tinha autorização para fazê-lo. Nessa carta, é mencionado que os mandamentos da seita, erroneamente divulgados por outros autores, são da mais alta ética e comparáveis aos mais avançados códigos de outras tradições.
 

O grupo de maior repercussão no cenário ocidental e no oriente médio foi provavelmente o dos chamados maniqueus. Isso se deve ao impacto das idéias e do trabalho de seu fundador Mani, que no século III revolucionou a vida de muitas centenas de milhares de buscadores com suas revelações. Como não poderia deixar de ser, esse grupo foi imediatamente alvo de críticas por parte da então nascente Igreja Católica, sendo seu fundador perseguido e finalmente morto sob intensa tortura por parte das autoridades civis e religiosas, em circunstâncias que lembram o martírio do próprio Jesus. Mani deixou uma extensa obra literária e, apesar da constante perseguição a seus seguidores ao longo dos séculos, inúmeros grupos locais foram estabelecidos em diferentes países, geralmente com nomes diferentes para tentar escapar da perseguição sistemática a que eram submetidos. 
 

"A vitalidade dos maniqueístas permaneceu poderosa, não obstante as severas perseguições que suportaram durante o Império Romano, ateu e cristão; mas sobreviveram no Oriente e no Ocidente, tendo reaparecido com freqüência na Idade Média, em diferentes partes da Europa. O maniqueísmo ousou aquilo que os gnósticos jamais se aventuraram: entrar abertamente em conflito com a Igreja, no século V. Ademais, a autoridade civil auxiliou a religiosa na sua repressão. Os maniqueístas, onde quer que aparecessem, eram imediatamente atacados; foram condenados na Espanha no ano 380 e em Treves, em 385, por intermédio de seus representantes, os priscilianistas." [8]  


Com o passar do tempo, os herdeiros da tradição gnóstica e maniqueísta foram mudando de nome. Sem tentar um levantamento exaustivo da matéria, que não é o objetivo deste estudo, podemos indicar o aparecimento dos seguintes grupos: entre os séculos III e IX: Euchites, Magistri Comacini, Artífices Dionisianos, Nestorianos e Eutychianos; no século X: Paulicianos e Bogomilos; no século XI: Cátharos, Patarini, Cavaleiros de Rodes, Cavaleiros de Malta, Místicos Escolásticos; no século XII: Albigenses, Cavaleiros Templários, Hermetistas; no século XIII: a Fraternidade dos Winklers, os Beghards e Beguinen, os Irmãos do Livre Espírito, os Lollards e os Trovadores; no século XIV: os Hesychastas, os Amigos de Deus, os Rosa-cruzes e os Fraticelli; no século XV: os Fraters Lucis, a Academia Platônica, a Sociedade Alquímica, a Sociedade da Trolha e os Irmãos da Boêmia (Unitas Fratrum); no século XVI: a Ordem de Cristo (derivada dos Templários), os Filósofos do Fogo, a Militia Crucífera Evangélica e os Ministérios dos Mestres Herméticos; no século XVII: os Irmãos Asiáticos (Irmãos Iniciados de São João Evangelista da Ásia), a Academia di Secreti e os Quietistas; no século XVIII: os Martinistas; no século XIX: a Sociedade Teosófica. [9] O fato de um determinado grupo ter aparecido num século não significa que tenha atuado somente naquele período. Diversos grupos, como os cátaros, os albigenses, os rosa-cruzes, os templários e os alquimistas permaneceram ativos por dois ou mais séculos.  


Foge ao escopo desta obra descrever o trabalho e a doutrina desses grupos que, ao longo dos séculos, mantiveram acesa a chama da verdade, servindo como foco de transformação interior e inspiração para as transformações da sociedade de seus dias. Esses grupos geralmente trabalhavam veladamente, pois, quando conhecidos abertamente, eram invariavelmente perseguidos, como ocorreu com os albigenses no século XIII.  


Para entender o chocante genocídio dos albigenses, devemos lembrar que a insatisfação e as críticas generalizadas sobre o estado de podridão moral da Igreja na Idade Média fez com que o papado agisse com crescente rigor, não para promover uma renovação interior, mas para perseguir todos os dissidentes e potenciais inimigos, valendo-se de sua supremacia. O exemplo de virtude e religiosidade dos cátaros não podia ser deixado livre para florescer, pois iria certamente estimular movimentos semelhantes em outras regiões, solapando o poder da Igreja. Portanto, o Papa Inocêncio III e seus prelados atacaram os albigenses com toda a fúria dos fanáticos que vêem seus interesses ameaçados. A campanha de trinta anos contra os albigenses prenunciou um período de quinhentos anos de repressão brutal pela "Santa Inquisição" em todas as áreas de influência da Igreja, que se estendeu, mais tarde, às colônias européias nas Américas e na Ásia. [10]





[1] Samuel Angus, The Mystery-Religions and Christianity (N.Y.: Citadel Press, 1966), pg. 78-79.


[2] O termo gnosis, que significa conhecimento, no original grego, não é o conhecimento usual obtido pelas regras aceitas de raciocínio metódico, mas sim por revelação interior. Para os gnósticos, como para os ocultistas, a gnosis era um conhecimento que oferecia a salvação, portanto, era basicamente de natureza interior. Na definição de Reitzenstein a gnosis era: ?Conhecimento imeditato dos Mistérios de Deus, recebido por meio de relacionamento direto com a Deidade ... Mistérios que devem permanecer ocultos ao homem natural, um conhecimento que exercita, ao mesmo tempo, uma reação decidida em nosso relacionamento com Deus e também com nossa própria natureza ou disposição.? Citado por G.R.S. Mead em A Gnosis Viva do Cristianismo Primitivo (Brasília: Núcleo Luz, 1995). Para outro autor, ?Aqueles que tinham a gnosis sabiam o caminho para Deus, de nosso mundo material visível para o reino espiritual do ser divino; sua meta final era conhecer ou ?ver? a Deus que, às vezes, ia a ponto de tornar-se unido com Deus ou permanecer em Deus.? Roelof van Den Broek, Gnosticism and Hermeticism in Antiquity, em Gnosis and Hermeticism edit. por R.V.D. Broek e W.J. Hanegraaff (N.Y.: State University of New York Press, 1998), pg. 1.


[3] A expressão original, como formulada no Evangelho de Tomé (vers. 39, op.cit., pg. 131), era: ?Sede sábios como as serpentes e mansos como as pombas,? tendo sido mudada mais tarde para que as palavras de Jesus não fossem usadas para fortalecer os grupos ofitas. 


[4] Vide Helmuth Koester, History and Literature of Early Christianity (N.Y., Walter de Gruyter, 1987), pg. 231.


[5] Dion Fortune, The Mystical Qabalah (N.Y.: Samuel Weiser, 1996), pg. 25.


[6] Vide Kurt Rudolph, Gnosis. The Nature and History of Gnosticism (Harper SanFrancisco, 1977), pg. 343-366.


[7] H.P. Blavatsky, Isis Sem Véu (S.P.: Pensamento), vol. III, pg. 269-270.


[8] P. Marras, Secret Fraternities of the Middle Ages (Londres, 1865), pg. 19-20.


[9] Vide Isabel Cooper-Oakley, Maçonaria e Misticismo Medieval (S.P., Pensamento), pg. 21-22. 
                                                                                                               
[10] As atrocidades cometidas pela inquisição guardam um paralelo com os regimes totalitários da atualidade. Assim como os torturadores das ditaduras justificam seu barbarismo em nome da segurança nacional, os inquisidores justificavam suas atrocidades em nome do Deus de compaixão para a salvação das almas dos supostos hereges. A frieza com que esses inimigos da humanidade agiam com o respaldo dos bispos e do Papa, pode ser aquilatada numa obra chocante intitulada Manual dos Inquisidores, escrita por Nicolau Eymerich em 1376 e revista e ampliada por Francisco de Peña em 1578, ambos experientes inquisidores da ordem dos dominicanos. Esse livro foi publicado pela Fundação Universidade de Brasília em 1993, com uma excelente introdução de Leonardo Boff.


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Roman coin (AD 62/63)

Top of a Roman standard with Jupiter Dolichenus motif





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Iconografia Comunista


                                        

fonte: http://www.levir.com.br/ensinosdejesus.php 

Sobre os Ofitas (Wikipédia) -  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ofitas  



24 de jan. de 2011

All Is Full Of Love

 77. Disse Jesus: Eu sou a luz, que está acima de todos. Eu sou o “Todo”. O Todo saiu de mim, e o Todo voltou a mim. Rachai a madeira – lá estou eu. Erguei a pedra – lá me achareis. 
"Evangelho Apócrifo de Tomé"
 

21 de jan. de 2011

A serpente emplumada





Os astecas acreditavam que viviam sob o sol de Quetzalcoatl, o deus serpente emplumada, deus da criação, da aprendizagem e do vento. O sol se move levado por sua respiração. Quando os guerreiros morrem, suas almas se transformam em raras aves emplumadas e voam para o sol.
Quetzalcoatl era o rei da Cidade dos Deuses. Era totalmente puro, inocente e bom. Nenhuma tarefa era humilde demais para ele. Ele até varria os caminhos para os deuses da chuva, para que eles pudessem chegar a fazer chover.
Seu irmão esperto era Tezcatlipoca, o deus dos guerreiros, do céu noturno e do raio. Seu nome significa "espelho de fumaça" e vem do espelho mágico no qual ele podia ver tudo e ler o pensamento dos outros.
Tezcatlipoca ficava furioso com tanta bondade e perfeição de seu irmão. Com alguns amigos decidiu pregar uma peça em Quetzalcoatl e ransformá-lo em um velhaco preocupado apenas com seu prazer. "Vamos dar a ele um corpo e cabeça humanos", disse. E mostraram a Quetzalcoatl seus novos traços em um espelho de fumaça.
Quando Quetzalcoatl olhou no espelho e viu sua face, foi possuído por todos os desejos terrenos que afligiam a humanidade. Gritou de horror. "Já não posso mais ser rei. Não posso aparecer assim diante do meu povo".
Ele chamou o coiote Xolotl, o deus asteca da estrela da noite; seu nome significa "gêmeo", e muitas vezes ele é chamado de duplo de Quetzalcoatl. O coiote lhe fez um manto de plumas verdes, vermelhas e brancas do pássaro Quetzal. Também fez uma máscara turquesa, uma peruca e uma barba de penas azuis e vermelhas. Pintou de vermelho os lábios do rei, de amarelo sua testa e pintou seus dentes para que parecessem os de uma serpente. E assim Quetzalcoatl ficou disfarçado de serpente emplumada.
Mas Tezcatlipoca tinha pensado em uma nova peça para pregar em seu irmão. Ofereceu-lhe vinho, dizendo que era uma poção para curar seu problema. Quetzalcoatl, que nunca havia bebido álcool antes, ficou bêbado. Quando já estava em estupor, Tezcatlipoca persuadiu-o a fazer amor com sua própria irmã, Quetzalpetatl.
Quando Quetzalcoatl acordou, ficou amargamente envergonhado com o que tinha feito. "Este é um mau dia", disse e resolveu morrer. Quetzalcoatl ordenou a seus servos que fizessem uma caixa de pedra, e ficou dentro dela quatro dias. Depois se levantou e pediu aos servos para encher a caixa com todos os seus maiores tesouros e depois selá-la.
Foi até o mar e lá colocou seu manto de plumas de Quetzal e sua máscara de turquesa. E pôs fogo em si mesmo e queimou até que só restassem cinzas na praia. Dessas cinzas, aves raras se levantaram e voaram para o céu.
Quando Quetzalcoatl morreu, a aurora não se levantou por quatro dias, pois ele tinha descido para a terra dos mortos com seu duplo, Xolotl, para ver seu pai, Mictlantecuhtli. Ele disse a seu pai, o Senhor dos Mortos, "Vim buscar os preciosos ossos que o senhor tem aqui para povoar a Terra".
E o Senhor dos Mortos respondeu: "Está bem".
Quetzalcoatl e Xolotl pegaram os ossos preciosos e voltaram à terra dos vivos. Quando a aurora se levantou outra vez, Quetzalcoatl borrifou seu sangue sobre os ossos e deu-lhes vida. Os ossos se transformaram nas primeiras pessoas.
Quetzalcoatl ensinou à Humanidade muitas coisas importantes. Ele encontrou o milho, que as formigas tinham escondido, e roubou um grão para dar ao povo que tinha criado para que eles pudessem cultivar seu próprio alimento.
Ensinou-lhes a polir o jade, a tecer e a fazer mosaicos. O melhor de tudo, ensinou-lhes a medir o tempo e a entender as estrelas, e distribuiu o curso do ano e das estações.
Finalmente, chegou o tempo de Quetzalcoatl deixar os humanos cuidarem-se de si mesmos. Quando a aurora surgiu, no céu apareceu a estrela Quetzalcoatl, que conhecemos como Vênus. Por essa razão, Quetzalcoatl é conhecido como o Senhor da Aurora. Alguns dizem que Quetzalcoatl partiu para o leste em uma jangada de serpentes e um dia retornará.



Kukulcán era a versão maia do deus asteca Quetzalcóatl, a serpente emplumada.
Para os maias "kukul" significa sagrado ou divino e "can" significa serpente.
Para alguns pesquisadores este Deus (o mesmo Quetzalcoatl dos astecas) provém da cultura tolteca, para outros provém da cultura olmeca.
Em todo caso sua origem é muito anterior aos maias e esta presente em toda a América Central.
Entre os restos arqueológicos de Chichen Itza se lhe pode observar como uma serpente que desce nos vértices do edifício em forma de colunas de ar durante os dois solstícios. Foi uma deidade rapidamente assimilada pela aristocracia, apesar de que tenha se incorporado ao panteão maia em uma época tardia. Aparece como uma das divindades criadoras sob o nome de Gucumatz, e como deidade dos ventos com o nome de Ehecatl na esteira 19 de Ceibal. Em Chichen Itza foi conhecido como o "Estrela d'Alva". 
É a deidade que mais freqüentemente aparece nos manuscritos do Códice de Dresden e outros. Tem o nariz comprido e truncado, como o de um tapir, e nele se encontram todos e cada um dos signos de um deus dos elementos. Caminha sobre a água, maneja tochas ardentes e se senta na árvore cruciforme dos quatro ventos que com tanta freqüência aparece nos mitos americanos. Evidentemente é um deus do cultivo e herói, já que se lhe vê plantando milho, levando ferramentas e continuando uma viagem, feito com que estabelece sua conexão solar.

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O último chefe azteca, Montezuma, usava como enfeite um Toucado de Penas do pássaro Quetzal. Em 1519, ele deu este toucado ao aventureiro espanhol, Cortez, pensando que era Quetzalcoatl que havia retornado (Segundo fontes incertas e tradições orais, uma das representações deste deus é um homem branco, barbado e de olhos claros). Dois anos mais tarde, o espanhol conquistou o seu império.

Link Interessante:: http://iglesiadequetzalcoatl.blogspot.com/



17 de jan. de 2011

Fernando Pessoa - O Caminho da Serpente

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Way of the Serpent. 

Trez ramos ascendentes, com trez ordens de subida em cada um. Ao todo são sete ordens, sendo trez angulares, seis externas, uma interna. Considerar isto.

Na ordem externa inferior esquerda, Ordo Solis, a congregação dos infiéis, a quem só o Sol, realidade externa, é visível, actual ou symbolicamente.

Na ordem externa inferior direita, Ordo Signi (Solis), a congregação dos fieis externos, que aceitam não propugnar senão certos princípios abstractos e christãos, cuja similhança com outros não vêem.

Na ordem interna-externa inferior, Ordo a congregação dos ingressos, sub modo, na O. de C.

Na ordem media esquerda, Ordo Serpentis, a congregação dos iniciados da O. Solis. Na ordem media direita, Ordo Sepulchri, a congregação dos in Na ordem media central (a occulta e sem exterior); Ordo Sebastica, a congregação Ordo Sanctissimorum.

(Esp. 53-80)

Way of the Serpent.

A Serpente, cujo olho direito é o sol em sua gloria...

as lagrimas alchymicas do Christo (a magua alchymica do Christo).

É preciso, quando se é Serpente, passar em Satan para chegar a Deus.

A Serpente, retida pela Vesica.... No vértice nada a retém...

Os Evangelhos Synopticos não são mais do que o Quarto Evangelho em processo de formação...

(Esp. 54A-1)

Way of the Serpent.

A Serpente, que, na ordem divina é o SS, na ordem espiritual direita e na esquerda é na ordem material direita Portugal.

A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a comprehensão intellectual da vacuidade d'ellas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ella ergue-se á Altura que é a sua origem e evita os logares por onde os homens passam. O entendimento de tudo, a fusão dos oppostos, a sciencia da indifferença do bem e do mal, a sciencia da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade, a egual ironia para com os sábios como para com os néscios. No seu culto adultaram os últimos maghos no seu nome adolesceram os primeiros.

_ S _
E R P
E N S

É ignóbil na terra porque não é da terra. É subtil porque está fora.

A tentação de Eva é a admissão da Intelligencia na Vida. O fructo prohibido é

Conto: «O Senhor das Sete Ordens», indicando exactamente o que se queria fazer.

(Esp. 54A-2)

Way of the Serpent.

Ella atravessa todos os mysterios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a illusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pôde deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como a pelle largada, deixa Saturno e Satan como pelle largada, as fôrmas que assume não são mais que pelles que larga.

E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ella, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou alli de fora.

O Caminho da Serpente.

Manuscripto por encontrar.

Foi a Cobra (Serpente) do Éden, mas só em sua pelle, e largou a pelle. Foi Saturno do Mundo, mas só em sua pelle, e largou a pelle. Foi Satan de Deus, mas só em sua pelle, e largou a pelle.

A sua fuga é o seu mysterio, e o seu caminho a chave de todos os mysterios. Mas ella não sabe nem do seu mysterio nem de todos os mysterios, porque conhece tudo, e conhecer é não existir.

(Esp. 54A-3)
A consciência transcende a unidade. É o ponto absoluto que só 'existe' porque para que qualquer cousa exista, tem elle que existir infinitamente nella. O ponto, sendo a negação do espaço é a vida d'elle.

Way of the Serpent.

No seu feitio de S (que, se se considerar fechado, é 8, e, deitado, egualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclue dois espaços, que rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo o mundo superior.) Em outra figuração serpentina — a da cobra em circulo, a bocca mordendo a cauda — reproduz-se, não o S, de que a letra é signal, mas o circulo, symbolo da terra, ou do mundo tal qual o temos. No feitio de S a Serpente evade-se das duas Realidades e desapparece dos Mundos e Universos.

A illusão é a substancia do mundo, e, segundo a Regra, tanto no mundo superior como no mundo inferior, no occulto como no patente. Assim, quando fugimos do mundo inferior, por elle ser illusorio, o mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos illusorio; é illusorio de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos abertos — ou os círculos «incompletos» — dos dois mundos foge á illusão e conhece o principio da verdade.

A magia e a alchimia teem ilusões como a sciencia e a sexualidade, que são as suas figurações no baixo mundo. Construimos ficções, com a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca determinado demônio, e vê apparecer materialmente esse demônio, pôde crer que esse demônio existe; mas não está provado que elle exista. Existe, porventura, só porque foi creado; e ser creado não é existir, no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser Deus — isto é, ter-se creado a si-mesmo; em outras palavras, não depender substancialmente de nada e de ninguém.

A G.O. é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do desfolhavel no morto, do perecível no perecido, para que nada pereça. A G.O., em outras palavras, é a creação de Deus.

A magia e a alchimia são caminhos de illusão. A verdade está só no instincto directo (representado nos symbolos pelos cornos) e na linha directa da sua ascenção ao instincto supremo; no instincto directo, cuja fôrma activa é a sexualidade, cuja fôrma intermedia é a imaginação, fantasia, ou creação pelo espirito, cuja fôrma final é a creação de Deus, a união com Deus, a identificação abstracta e absoluta comsigo mesmo, a verdade.

(Esp. 54A-4)

Way of the Serpent.

Sendo os números e as figuras os typos externos da ordem e destino do mundo, a mais simples operação arithmetica, algebrica ou geométrica, desde que seja bem feita, contém grandes revelações; e, sem precisão de mais signaes, na mathematica estão as chaves de todos os mysterios. Isto não quere dizer — o que seria absurdo — que todos os mathematicos conscientemente nos estão communicando os signaes de segredos, quando fazem os seus cálculos. Assim, não ha razão para suppor que Euclides, nos livros da sua Geometria, tenha tido outra especulação senão a geométrica; mas os livros de Euclides, da primeira proposição á ultima, são signaes reveladores, para quem os saiba ler. Nos próprios irracionaes da álgebra estão contidos grandes mysterios.

(Esp. 54A-5)

Way of the Serpent.

Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto, encontrará obstáculos incomprehensiveis e constantes. Se não fossem mais que os obstáculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou pela resistência directa, bem iria, e os próprios obstáculos seriam o clarim para o avanço. Mas encontrará outros — os obstáculos reles que vexam e vergam, os obstáculos suaves que adormecem e viciam, os obstáculos ternos que o farão, como Orpheu, volver o erro do olhar para o vedado Averno. Cercal-o-hão, não só resistências duras, como as que os penhascos erguem como tropeço, mas resistências brandas, como as memórias dos valles, e a dos lares nas faldas. E o triumpho consiste na força para, sabendo sentir essas attracções intensamente (pois não sabel-as sentir é não ter alma para a subida), as submeter á emoção superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra, saber submettel-as á vontade do espirito do mundo. Este processo de victoria, figuram-o os emblemadores no symbolo da Crucifixão da Rosa — ou seja no sacrifício da emoção do mundo (a Rosa, que é o circulo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é o Circulo) mas como producto do Espirito (que isso é a Cruz).

(Esp. 54A-6)

Way of the Serpent.

Há em tudo trez ordens de coisas: ha trez ordens de cousas no Ser, trez ordens de cousas no Universo, trez ordens de cousas no Mundo, e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada cousa consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro médio, outro alto. Tudo que se dá numa camada se reflecte e figura em outra. É este o principio Hermes Trismegistos na formula, «o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima». fundamental de toda a sciencia secreta, e assim o representou o

Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nascimento de um homem, ou no inicio de um emprehendimento, mostre, em suas relações e aspectos, o destino d'esse homem ou o curso d'esse emprehendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem ou o successo. Opera sobre elles um destino, e esse destino, que existe como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal successo de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, bem e mal. Digo bem porque, de facto, seguindo a leitura do horóscopo, posso prever esse successo pela previsão do aspecto de Saturno, que apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que materialmente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo material, que causa o successo.

Para os effeitos do mundo em que vivemos — não digo a terra, mas o conjunto de matéria animada que forma este universo — as coisas dividem-se em trez camadas — a material, a espiritual, e a divina. Entre ellas ha uma exacta correspondência. Cada uma, por sua vez, se divide em trez. A camada material divide-se na camada physica ou exterior, na camada magnética ou media, e na camada astral ou interior. A camada espiritual divide-se (incompleto)

(Esp. 54A-7)

Way of the Serpent.

Christo, que, na dispensação material é um deus christão, e na dispensação mágica um deus, é, na dispensação divina, Deus. Na primeira ordem podem ser-lhe dirigidas orações, que terão ou não effeito segundo as regras mágicas d'essas operações da fé. Na segunda ordem podem ser-lhe feitas invocações, como a Osiris, que é o mesmo deus, e o effeito derivar-se-ha da perfeição do incantamento e do rito. Na terceira ordem não poderão ser-lhe dirigidas orações nem invocações; o processo de união com Elle não pode ser indicado em palavras nem comprehendido com a intelligencia. Aquelle que, tendo chegado até onde esse processo existe como formula de relação, pôde assistir á revelação intima, só esse o saberá, se é que, no mesmo sabel-o, o souber.

(Esp. 54A-8)


Way of the Serpent.

Considerar todas as coisas como accidentes de uma illusão irracional, embora cada uma se apresente racional para si mesma — nisto reside o principio da sabedoria. Mas este principio da sabedoria não é mais que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do entendimento consiste no conhecimento d'essas coisas, na participação intima d'ellas. Temos que viver intimamente aquillo que repudiamos. Nada custa a quem não é capaz de sentir o Christianismo o repudiar o Christianismo; o que custa é repudial-o, como a tudo, depois de verdadeiramente o sentir, o viver, o ser. O que custa é repudial-o, ou saber repudial-o, não como fôrma da mentira, senão como fôrma da verdade. Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os acceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo — quando o homem se ergue a este pincaro, está livre, como em todos os pincaros, está só, como em todos os pincaros, está unido ao céu, a que nunca está unido, como em todos os pincaros.

A luz falsa da realidade, a luz falsa da ficção, a luz falsa da iniciação e do secreto — dia, crepúsculo, noite, que são ellas a quem contempla a Razão limpa, a Serpente colleante atravez de mais que os mundos?

A Serpente está acima das ordens e dos systemas, e, ainda que ascenda como o sentido d'elles, dispensa as linhas e os caminhos. O seu movimento, para a direita na ordem inferior das coisas e dos seres, é-o apenas para que possa ser para a esquerda na ordem superior d'elles. O que os homens não podem conseguir senão dominando-se, ou conjugando-se, ou impondo-se, consegue a Serpente sòsinha na sua liberdade. Para ella mandar é subordinar-se á idéia de mandar; livre e cauta, ella segue rasteira atravez do mundo, e do espirito, até que sahe do mundo e do espirito.

Ella liga os contrários verdadeiros, porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ella segue um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ella parte, como o caminho direito e o esquerdo, do Instincto para Deus, mas não sofre a quebra onde os triângulos se unem; não fôrma angulo comsigo mesma.

(Não a traçam os symbolos senão em O ou em S, limitando ou evitando o mundo.) Nem ascende sem quebra, como o caminho médio, do Instincto a Deus. Conhecendo que ha outros caminhos, que não o médio, ella reconhece-os, pois se desvia do médio, e repudia-os, pois não segue a nenhum d'elles. Ao sahir do vértice instinctivo, ao sahir para o vértice divino, ella roça a curva produzida da vesica involvente, e assim mostra que sabe d'ella; mas roça-a e passa-a, e não segue a sua curva nem a sua maneira. Ella assim se distingue de todos os modos e condições de Deus e dos Seres. Onde parece que é egual é differente, e os dois (por assim dizer) que a formam são oppostos em seu feitio e natureza. No baixo mundo ella é a lua crescente, no mundo superior a minguante...

Ella não conhece os mysterios mas os envolve, desvia-se dos caminhos e das iniciações; deixa a sciencia por onde passa; nega a magia, que atravessa; e quando chega a Deus não para.

(Esp. 54A-9)


The Way of the Serpent.

Só o contacto com qualquer coisa do Vértice, isto é, da Unidade, dá o poder completo, ou alguma cousa completa no poder, sobre nós e as cousas. Nos graus intermédios a força é muitas vezes confusão, e o conhecimento vertigem. É por vezes imprudente aventurar-se o espirito feliz em caminhos para que não tem bússola. Assim é que, sendo Lytton sem duvida um conhecedor de grandes segredos da ordem menor, isso o não privou de ser um péssimo escriptor; não houve magia que o fizesse mestre do próprio equilíbrio e dono da sua personalidade. Com ser iniciado, qualquer que fosse o modo em alguns dos mysterios do próprio Segundo Limiar, não conseguiu Robert Flood ser senão um expositor confuso e indigesto. Esta fallencia do dominio esthetico e superior — e a esthetica é a saliência da figuração divina, pois a belleza é a fôrma Divina em matéria — encontra-se freqüentemente em homens que são innegavelmente versados nos mysterios do mundo mágico.

Certo que estas considerações podem ser tomadas ao contrario: ha certas disposições intimas e próprias, que fazem com que o indivíduo seja chamado, e assim elle recebe o que nasceu para merecer. Por isto foi que Shakespeare, desde que a Grande Fraternidade o chamou a si sem lhe fallar, pôde adquirir aquelle commando de sua própria alma que o ergueu, como expressor, acima de todos os poetas do mundo; por isso é que este homem que não buscou, senão com a substancia intima do seu ser, entrou em mais intima (embora inconsciente) posse dos Segredos Maiores do que o buscador Flood ou o maçon Bacon.

Na «Tormenta» estão dados mais Íntimos mysterios que em todo Flood, e estão dados em belleza, porque teem o signal de Deus na Matéria, que é essa mesma belleza.

(Esp. 54A-10)


Way of the Serpent.

A disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem a figura do symbolo do Fogo, que é a Pyramide (de pyr, que em grego é Fogo). Quer dizer, as Ordens das cousas são Um em cima, Dois a meio, e Trez em baixo. São um em cima, porque o vértice é um ponto; são trez em baixo porque a pyramide real tem trez faces, cada uma composta de um triângulo equilatero; são dois em meio porque, embora nada em meio seja materialmente, ou numericamente, dois, é dois todavia o que está entre Um e Trez.

E assim é que os trez graus de significação — o actual ou material, o mágico, e o divino — conteem respectivamente trez, duas, e uma ordem, havendo duas pontes, transeptos ou passagens, entre a ordem material e a mágica, e a ordem mágica e a divina.

(Esp. 54A-11)


Way of the Serpent.

O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está, até, fora das leis (rectilineas) dos mundos e de Deus. O caracter maldito, o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Opposição ao Universo—profundo e obscuro Mysterio Magno. Ella é o Spirito que Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se entende ou se pôde entender. Nega o bem no seu baixo nivel, em que é só Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nivel, em que é nega o bem e o mal no seu terceiro nivel, em que é Satan; nega a verdade e o erro no seu quarto nivel, em que é Lucifer; (ou Venus); nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nivel, e fuga, em que é SS, a Revelação Suprema. e a si mesma se tenta e se mata.

Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilineos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial, que pôde exprimir-se, poeticamente, na phrase de que Deus é o cadáver de si-mesmo; a descoberta do Triângulo Mystico em que os trez vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e atravez de Deus Morto.

(Esp. 54A-12)

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