20 de set. de 2011

Filantropia, Caridade, Divulgação da Verdade...


 
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Pergunta: Que pensais da caridade e da filantropia social?
Krishnamurti: A filantropia social restitui à vítima um pouco daquilo que o filantropo violentamente lhe arrancou. Primeiro, vós a explorais, (…) amontoando grande riqueza (…), e depois voltai-vos com magnanimidade, e dais um pouco à pobre vítima. (Palestras no Brasil, pág. 60)
Talvez não sejais astutos, hábeis, violentos o bastante para amontoar riquezas; (…) porém, espiritualista e idealisticamente amontoais aquilo que chamais conhecimento. A caridade é inconsciente de si própria; não há acúmulo prévio nem distribuição consecutiva. É semelhante a uma flor: natural, aberta, espontânea. (Idem, pág. 60)

Pergunta: Desejo auxiliar e servir meus semelhantes. Qual a melhor maneira de fazê-lo?
Krishnamurti: A melhor maneira é começar por compreender-vos e modificar-vos. No desejo de auxiliar e servir a outrem, oculta-se o orgulho e a vaidade. Se tiverdes amor, auxiliareis. A ajuda clamorosa nasce da vaidade.
(…) Como podereis saber quais as necessidades de outrem, sem conhecer-vos? Se não compreenderdes a vós mesmos, não podereis compreender nem servir a outrem. Faltando-vos autoconhecimento, agireis com ignorância (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 80)

Pergunta: Já me convenci de que a minha infelicidade se deve à grande vontade que tenho de ajudar (…)
Krishnamurti: Quer dizer que sois infeliz porque não podeis ajudar a outros! (…) Logo, tirais a vossa felicidade do ajudar a outros. Fazeis uso dos outros para obterdes vossa própria satisfação. (A Renovação da Mente, pág. 30-31)
Ora, a ação de ajudar não é coisa da mente. A generosidade da mente não é a generosidade do coração. Mas, visto que perdemos a generosidade do coração, somos generosos com a mente, que, quando encontra resistência, se revolta e sofre. (…) (Idem, pág. 31)

Pergunta: Desejo ajudar os outros. Qual a melhor maneira de o fazer?
Krishnamurti: Eu quisera saber por que desejais ajudar os outros. É porque amais o próximo? E, se o amais, precisais perguntar (…)? (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 153)
Há diversas maneiras de “servir” os nossos semelhantes (…) O comércio serve as pessoas; o médico, o advogado, o cientista, o lavrador - todos estão “servindo” os outros, não é exato? O desejo de servir ao próximo tornou-se uma profissão, ligado a uma recompensa. (…) Assim, pois, quando dizeis que desejais “ajudar” os outros, que significa essa palavra? (…) Em que nível desejais ajudar os outros? No nível econômico, ou no chamado espiritual ou psicológico? (…) Mas, uma simples reforma cria sempre a necessidade de outra reforma, e nunca se acabará de reformar. (…) Mas, para ajudar o próximo no sentido psicológico ou espiritual, não será preciso, primeiro, que compreendais a vós mesmo? (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 154)
Se desejais pôr termo ao conflito, à confusão e às tribulações, (…) de onde deveis partir? Do mundo, do exterior, procurando reorganizar os seus valores (…)? Ou deveis partir de vós mesmos, a fim eliminardes radicalmente as causas de todos os conflitos e sofrimentos? Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da mundanidade, em que se baseia a atual civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno, esse valor que não se ajusta a molde algum. Sereis então, quiçá, capazes de ajudar a outros a se libertarem da servidão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 115)
O mendigo que encontramos ao descer a rua nenhum auxílio recebe, mas falamos muito alto sobre a necessidade de socorrer os desvalidos. Ingressais em grupos, aderis a sistemas, e o necessitado continua de mãos vazias. (…) (A Arte da Libertação, pág. 101)

Pergunta: Se um homem está passando fome e eu sinto que posso ajudá-lo, é isso ambição, ou é amor?
Krishnamurti: Tudo depende do motivo pelo qual você o ajuda. Alegando ser favorável ao amparo à pobreza, o político chega a Nova Delhi, vive numa bela casa e exibe-se. Isso é amor? (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 75)
Ele está faminto e você o ajuda com comida. Isso é amor? Por que você deseja ajudá-lo? Não terá você outro motivo, nenhum outro incentivo, além do desejo de ajudá-lo? Você não obtém nenhum benefício daí? (…) Se você está procurando algum benefício, político ou não, benefício interior ou exterior, então você não o ama. Se você o alimenta para tornar-se mais popular, ou na esperança de que, assim, seus amigos o ajudarão a chegar a Nova Delhi, então isso não é amor, é? (Idem, pág. 75)
Mas se você o ama, você o alimentará sem abrigar nenhum motivo oculto, sem querer nada em troca. Se você o alimenta e ele se mostra ingrato, você se sente magoado? Se assim for, você não o ama. Se ele diz (…) que você é um homem maravilhoso, e você se sente muito lisonjeado, isso significa que você está pensando em si mesmo, e certamente isso não é amor. Portanto, é preciso estar muito alerta para descobrir se estamos auferindo algum tipo de benefício ao ajudar os outros. (…) (Idem, pág. 75-76)
Se uma pessoa teme, não tem iniciativa. Sabeis o que é iniciativa? Será muito difícil averiguá-lo? Ter iniciativa é fazer algo original, espontaneamente, com naturalidade, sem ser guiado, nem forçado, nem influenciado; fazer as coisas por amor a elas. Às vezes, quando passeais pela cidade, vedes uma pedra no meio da rua e um carro passar sobre ela, com abalo mais ou menos violento. Já alguma vez tirastes essa pedra do caminho? (Novos Roteiros em Educação, pág. 10-11)
Já observastes, quando passeais, os pobres, os camponeses, os aldeões? Já fizestes alguma coisa por eles, espontaneamente, com naturalidade, com bondade, do fundo do vosso coração, sem que alguém vos diga o que deveis fazer? Mas, se há temor, todas essas coisas vos ficam vedadas; tudo isso desaparece da vossa existência; não percebeis o que se passa ao redor de vós, sois incapazes de observá-lo. (…) (Idem, pág. 11)
(…) Assim, pois, para realmente ajudar o mundo - tal como falais em ajudá-lo - se realmente estais disposto a ajudá-lo a libertar-se de todos os seus compromissos, de seus interesses adquiridos, de seus ambientes, então tendes de verificar que jamais falareis em ajudar o mundo; então não vos colocareis sobre um pedestal para ajudar alguém à distância e mais abaixo. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 82)
Que valor tem a vossa compreensão, vossos nobres e elevados pensamentos, vossa vida pura, se não ajudais aqueles que estão em contínuo sofrimento, nas trevas e em confusão? Que valor tem a verdade que vislumbrastes, se não podeis dar daquela verdade aos que estão famintos e sedentos do eterno? (“Vida em Liberdade”, III, pág. 21, em “Carta de Notícias”, nº 1 a 6, de 1945)

Pergunta: É difícil entender-vos, e acho mais fácil seguir as pessoas que compreenderam os vossos ensinamentos e nô-los podem explicar. Não achais que há necessidade de tais pessoas, para divulgação do vosso ensino? (…)
Krishnamurti: Sempre que alguém deseja seguir, encontra um guia, e o segui-lo destrói a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. (…) (Visão da Realidade, pág. 116-117)
E não precisais divulgar o meu ensino, porque, se não compreendeis a vós mesmo, não podereis divulgá-lo. Podeis por ventura comprar e distribuir uns poucos livros, mas isso por certo não é tão essencial como o compreenderdes a vós mesmo. Compreendendo a vós mesmo, havereis de disseminar a compreensão no mundo (…) (Idem, pág. 118)

Pergunta: Posso compreender mais facilmente o que dizeis, ensinando-o a outros?
Krishnamurti: Comunicando-o a outros, podeis, talvez, aprender uma nova maneira de expressar as coisas, de transmitir o que desejais dizer; mas, francamente, isso não é compreensão. Se não compreendeis a vós mesmo, como (…) podeis expressá-lo a outros? Isso é apenas propaganda. (Solução para os nossos Conflitos, pág. 13-14)
Vós não compreendeis uma coisa, mas falais sobre ela a outras pessoas; (…) Podeis comunicá-lo verbalmente; mas podeis contar a outros o que foi a vossa experiência (…) da coisa? (…) Podeis descrever a experiência, mas não se pode transmitir o estado de experimentar. Assim, pois, verdade repetida não é mais verdade.(…) (Idem, pág. 14)
Nessas, condições (…) Quereis ensinar a outros, sem experimentardes; e esperais que, ensinando, possais experimentar (…) A experiência é muito mais importante, (…) significativa do que a comunicação verbal. (Idem, pág. 14)

Pergunta: Como podemos ajudar melhor a humanidade a compreender e viver vossos ensinos?
Krishnamurti: É muito simples: vivendo-os vós mesmos. (…) Todos desejamos prestar auxílio ao mundo, porém jamais começamos por nós mesmos. (…) Principiais, portanto, por libertar a mente e o coração do sentimento de posse. Isso exige, não apenas renúncia, porém o discernimento, a inteligência. (Palestras no Brasil, pág. 27-28)

Pergunta: Eu gostaria de vos ajudar, fazendo propaganda de vossos ensinamentos. Podeis aconselhar-me a melhor maneira de o fazer?
Krishnamurti: (…) Não podeis repetir a verdade, porque a verdade não é constante. A verdade é um estado de experimentar (…) O propagandista é mero repetidor, e não um arauto da verdade; (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 179)
Agora, com essa compreensão, que podeis fazer (…) para divulgar os meus ensinamentos? O que podeis fazer é, unicamente, vivê-los. (…) Então, como uma flor num jardim, esse próprio viver espalha o seu perfume. Não precisais fazer propaganda do jasmim. O jasmim faz a sua própria propaganda: sua beleza, seu perfume, sua delicadeza, dizem tudo. (…) (Idem, pág. 180)

Pergunta: Qual é o mais sábio caminho a seguir - proteger e abrigar o ignorante, por meio de conselho e orientação, ou deixá-lo descobrir, por experiência e sofrimento próprios (…)?
Krishnamurti: Eu diria: nenhum dos dois (…) auxiliai-o a ser inteligente, o que é coisa inteiramente diferente. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 135-136)
Se puderdes auxiliar outrem a tornar-se inteligente, isso é tudo quanto necessitamos fazer. A inteligência é livre, desimpedida, sem temor ou superficialidade. Somente podemos auxiliar alguém a libertar-se da aquisitividade, das muitas ilusões e empecilhos que o aprisionam, quando começamos a nos libertar a nós próprios. Temos, porém, essa extraordinária atitude de desejar melhorar as massas enquanto nós próprios somos ainda ignorantes. (…) (Idem, pág. 136-137)
Trabalha, trabalha pela humanidade, Serve, serve os teus semelhantes, Segue esta Senda, mas cuidado nela, Cumpre a vontade de Deus, Segue cegamente, (…) tenho a chave de Sua morada, Aproveita esta oportunidade que Ele te oferece, A tristeza e a dita a Ele levam, Se isto fizeres tua busca cessará - E então O encontrarás, bradaram muitos. (O Amigo Imortal, pág. 49)

 

7 de set. de 2011

Nem Deuses, Nem Astronautas (Um Ano)



 

   

 

A História Secreta do Brasil


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Quando falamos no "homem ante-diluviano" estamos nos referindo ao homem atlante da 4ª Raça-Raiz antecessora da 5ª Raça-Raiz, a Ária ou Ariana. Boa parte do Período Terciário correspondeu ao da existência dessa raça, e é dessa época que se registam os primeiros afloramentos humanos, cientificamente aceitos, no Brasil. O homem brasileiro original, Tupi-Guarani, é todo ele descendente degenerado dessa raça em cujo continente vasto, hoje a maior parte sepultado sob o Atlântico, oceano que lhe herda o nome, o Brasil se integrava. Era Pedro Álvares Cabral um Templário? Ele "descobriu" o Brasil "por acaso"? Quem eram os Tupinambás Tibiriçá, Icaraí e Saixê? Quem foi José de Anchieta? Fenícios no Brasil?




6 de set. de 2011

A Busca do Homem # 3


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A Consciência — A Totalidade da Vida — O Percebimento

Ao vos tornardes cônscio do vosso condicionamento compreendereis a totalidade de vossa consciência. A consciência é o campo total onde funciona o pensamento e existem as relações. Todos os motivos, intenções, desejos, prazeres, temores, inspiração, anseios, esperanças, dores, alegrias, se encontram nesse campo.

Mas nós dividimos a consciência em ativa e latente, em nível superior e nível inferior; quer dizer, na superfície todos os pensamentos, sentimentos e atividades de cada dia e, abaixo deles, o chamado subconsciente, as coisas que não nos são familiares, que ocasionalmente se expressam por meio de certas sugestões, intuições e sonhos. Ocupamo-nos com um pequeno canto da consciência, que constitui a maior parte de nossa vida; quanto ao resto, a que chamamos subconsciente, com todos os seus motivos, temores, atributos raciais e hereditários, não sabemos sequer como penetrá-lo. Agora, pergunto-vos: Existe mesmo tal coisa — o subconsciente? Empregamos muito livremente essa palavra. Admitimos que essa coisa existe e todas as frases e terminologias dos analistas e psicólogos se insinuaram na nossa linguagem; mas, existe ela? E, por que razão lhe atribuímos tamanha importância?

A mim ela parece tão trivial e estúpida como a mente consciente, tão estreita, tão fanática, condicionada, ansiosa e sem valor quanto ela. Assim, será possível ficarmos completamente cônscios de todo o campo da consciência e não meramente de uma parte, de um fragmento? Se puderdes tornar-vos cônscio da totalidade, agireis sempre com vossa atenção total e não com uma atenção parcial. Importa compreender isso, porque, quando se está cônscio de todo o campo da consciência, não há atrito. Quando se divide a consciência — toda ela constituída de pensamento, sentimento e ação — em diferentes níveis, é então que há atrito.


Vivemos de maneira fragmentária. No escritório som os uma coisa, em casa somos outra coisa; falais de democracia e, no íntimo, sois autocrata; falais em amor ao próximo e ao mesmo tempo o estais matando na competição; uma parte de vós está ativa, a olhar, independentemente da outra. Estais cônscio dessa existência fragmentária  em vós mesmo? E será possível ao cérebro, que dividiu o seu próprio funcionamento, o seu próprio pensar em fragmentos, tornar-se cônscio do campo inteiro? É possível olharmos o todo da consciência completa e totalmente, o que significa sermos entes humanos totais? Se, a fim de compreender a estrutura total do "eu", de extraordinária complexidade, procederdes passo a passo, descobrindo camada por camada, examinando cada pensamento, sentimento e_ motivo, ver-vos-eis todo enredado no processo analítico, que vos levará semanas, meses, anos; e quando admitimos o tempo no processo da  autocompreensão, temos de estar preparados para toda espécie de deformação, porquanto o "eu" é uma entidade complexa, que se move, vive, luta, deseja, nega; sujeita a pressões e tensões de toda espécie, que nela atuam continuamente.

Descobrireis, assim, por vós mesmo, que não é esse o caminho que deveis seguir; compreendereis que a única maneira de olhardes a vós mesmo é fazê-lo totalmente, imediatamente, fora do tempo; e só podeis ver a totalidade de vós mesmo quando a mente não está fragmentada. O que vedes em sua totalidade é a verdade. Mas, sois capaz disso? A maioria não o é, porque nunca nos abeiramos do problema com seriedade, porque na realidade nunca olhamos a nós mesmos.

Nunca! Lançamos a culpa a outros, satisfazemo-nos com explicações, ou temos medo de olhar. Mas, quando olhardes totalmente, aplicareis toda a vossa atenção, todo o vosso ser, tudo o que tendes, vossos olhos, vossos ouvidos, vossos nervos; estareis atento com o mais completo auto-abandono e não haverá então mais lugar para o medo, para a contradição e, por conseguinte, não haverá mais conflito. Atenção não é a mesma coisa que concentração. A concentração é exclusão; a atenção é percebimento total, que nada exclui. A maioria de nós não me parece estar cônscia, não só do que estamos dizendo aqui, mas também de nosso ambiente, das cores que nos rodeiam, das pessoas, da forma das árvores, das nuvens, do movimento da água. Isso acontece, talvez, porque estamos tão interessados em nós mesmos, em nossos insignificantes problemas, nossas próprias idéias, nossos prazeres, ocupações e ambições, que não podemos ficar objetivamente cônscios.

Entretanto, muito se fala de percebimento. Certa vez, na índia, eu viajava de automóvel. Um motorista conduzia o carro, e eu ia sentado a seu lado. Atrás, três homens discutiam com muito ardor sobre o percebimento, fazendo-me de vez em quando perguntas sobre o assunto. Naquele momento, o motorista, que estava a olhar para outra parte, infelizmente, atropelou uma cabra, e aqueles três homens prosseguiram na discussão sobre o percebimento, completamente alheios ao atropelamento da cabra. Quando essa falta de atenção lhes foi apontada, os três cavalheiros, que tanto se empenhavam em estar atentos, demonstraram grande surpresa.

A mesma coisa acontece com a maioria de nós. Não estamos conscientes nem das coisas exteriores nem das interiores. Se desejais compreender a beleza de uma ave, de uma mosca, de uma folha, de uma pessoa, com todas as suas complexidades, tendes de dispensar-lhe toda a vossa atenção — e isso é percebimento. E só podeis dar toda a atenção quando tendes zelo, quer dizer, quando amais realmente o compreender; aplicais então ao descobrimento todo o vosso coração e toda a vossa mente.


Esse percebimento é coisa semelhante a viverdes com uma serpente em vosso quarto; observais cada um dos seus movimentos, sois altamente sensível a cada ruído que ela produz. Um tal estado de atenção é energia total; nesse percebimento se revela instantaneamente a totalidade de vós mesmo.


Ao vos olhardes dessa maneira profunda, podeis descer mais fundo ainda. Empregando as palavras "mais fundo" não estamos fazendo comparação. Nós pensamos comparativamente — profundo e superficial, feliz e infeliz. Estamos sempre a medir, a comparar. Mas, será que existe em alguém mesmo tal estado — o superficial e o profundo? Quando digo "minha mente é superficial, mesquinha, estreita, limitada" — como sei dessas coisas? Porque comparei minha mente com vossa mente, que é mais brilhante, tem mais capacidade, é mais inteligente e alertada. Posso conhecer minha pequenez sem comparação? Quando sinto fome, não comparo essa fome com a fome que ontem senti. A fome de ontem é uma idéia, uma lembrança. Se estou sempre a medir-me por vós, a esforçar-me para ser igual a vós, estou então negando a mim mesmo. Por conseguinte, estou criando uma ilusão.

Ao compreender que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analiso a mim mesmo, aumentando o meu conhecimento pouco a pouco, ou identificando-me com algo fora de mim mesmo — o Estado, um salvador ou uma ideologia), ao compreender que todos esses processos só levam a mais ajustamento e conflito, abandono toda comparação. Minha mente já não está a buscar. Muito importa compreender isso.

Minha mente já não está então a tatear, a buscar, a indagar. Isso não significa estar satisfeito com as coisas como são, porém, sim, que a mente não tem ilusão nenhuma. Pode então mover-se numa dimensão totalmente diferente. A dimensão na qual vivemos nossa vida cotidiana, de dor, de prazer, de medo, condiciona a mente, limita-lhe a natureza, e quando aquela dor, aquele prazer e aquele medo deixaram de existir (o que não significa não ter mais alegria; a alegria é coisa totalmente diferente do prazer), a mente passa então a funcionar numa dimensão diferente, na qual não existe conflito, nenhuma idéia de diferença.

Verbalmente, só podemos chegar até esse ponto; o que existe além não pode ser expresso em palavras, porque a palavra não é a coisa. Até aqui, pudemos descrever, explicar, mas nem palavras nem explicações podem abrir a porta. O que abrirá a porta é o percebimento e a atenção diários — percebimento da maneira como falamos, do que dizemos, de nossa maneira de andar, do que pensamos. Isso é como limpar e manter em ordem um aposento. Manter o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância a outro respeito.

Deve haver ordem no aposento, mas a ordem não abrirá a porta ou a janela. O que abre a porta não é vossa volição ou desejo. Não se pode de modo nenhum chamar o outro "estado de espírito". O que se pode fazer é apenas manter o aposento em ordem, o que significa ser virtuoso por amor à virtude e não pelo que isso nos trará, ser equilibrado, racional, ordenado. Então, talvez, se tiverdes sorte, a janela se abrirá e a brisa entrará. Ou pode ser que não. Tudo depende do estado de vossa mente.

E esse estado da mente só pode ser compreendido por vós mesmo ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo, sem jamais concordar, justificar, condenar, julgar; quer dizer, estar vigilante sem fazer nenhuma escolha. E, em razão desse percebimento sem escolha, a porta talvez se abrirá e conhecereis aquela dimensão em que não existe o conflito nem o tempo.

 
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