29 de set. de 2012

A Evolução da Forma



Toda forma que vês
tem seu arquétipo no mundo sem-lugar.
Se a forma esvanece, não importa,
permanece o original.
 
As belas figuras que viste,
as sábias palavras que escutaste,
não te entristeças se pereceram.
 
Enquanto a fonte é abundante,
o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum dos dois se detém?
 
A alma é a fonte,
e as coisas criadas, os rios.
Enquanto a fonte jorra, correm os rios.
Tira da cabeça todo o pesar
e sorve aos borbotões a água deste rio.
Que a água não seca, ela não tem fim.

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode ser isto segredo para ti?
 
Finalmente foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo – um punhado de pó –
vê quão perfeito se tornou!
 
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
 
Passa de novo pela vida angelical,
entra naquele oceano,
e que tua gota se torne mar,
cem vezes maior que o Mar de Oman.
 
Abandona este filho que chamas corpo
e diz sempre “Um” com toda a alma.
Se teu corpo envelhece, que importa?
Ainda é fresca tua alma.
  
Jalal ud-Din Rumi

 
 

26 de set. de 2012

Plotino e a União da Alma com o Um


Simples apresentação sobre a mística neoplatônica do filósofo Plotino. Como a alma retorna a seu estado divino. Sob a ótica teosófica, por Aláya Dullius






22 de set. de 2012

Nem Deuses, Nem Astronautas (2 Anos)



 

A Virtude do Amor





Sucesso e Fracasso

O sucesso de alguém só incomoda outra pessoa, se o sucesso for construído às custas daquela outra pessoa;

Se alguém tem inveja de outra pessoa, a inveja vive e se alimenta naquele alguém, e é ele que paga o ônus (vida) de manter isto;

O conceito do que é sucesso é que define o que é uma vida de fracassos;

O fracasso é tido como ausência de sucesso. Assim, se sucesso é satisfação de desejos, a vida será uma continuidade de fracassos, pois desejos são o lazer de vidas inconscientes;

O maior sucesso é o evolucional, é aquele que justifica a própria existência, e é feito de vitórias as quais nós nunca contaremos aos outros;

Isto de vencer a qualquer custo, de ter sucesso, de ser o melhor, o mais rápido, é só uma imposição social destinada ao consumo. A vida é (ou deveria ser) uma sucessão de dias tranquilos, de aprendizado, de maturação da alma, onde a obrigação evolucional é só fazer o nosso melhor, nem mais, nem menos.

Sucesso não é não errar. Sucesso é aprender com os erros, para sublimar o erro e a nós mesmos;

A vida não é uma escada, é um caminho em todas as direções, simultaneamente. Isto de escada é coisa de religiões, pois imagina-se que deus está no alto. Não está. Depois de andarmos, veremos que já está em cada um. Falta é coragem para contemplar nossa própria divindade, e quem não tem coragem de fazer isto, são os medos, dores e desejos que em nós (e de nós) vivem.

Trair alguém, é simplesmente trair a expectativa que alguém tinha, gerando desilusão. Só que para que haja desilusão, antes deve haver ilusão. E se há ilusão, é pq quem construiu a realidade, foram expectativas, isto em um eterno ciclo vicioso.

Trair, vem do latim tráditor, traditóris, e significa aquele que entrega deslealmente.

Só que veja que interessante: a raiz desta palavra é do, das, dátum dare, que significa presentear, dar, oferecer. Donde deriva, por exemplo, dádiva.

Assim, as vezes, o que pensamos ser uma traição, é uma dádiva evolucional, que vem para desconstruir, abrindo espaço para que a pessoa reconstrua, o novo!

Tamanho da traição, quem determina não é quem trai, mas aquele que se sente traído, pois é nele que as dores da traição se manifestarão. Quanto maior o entrelaçamento emocional em relação a alguém, maiores são as dores vitais no momento em que isto se rompe, e aplica-se a traição passional, afetiva, fraterna ou o que seja.

Sucesso, vem do latim sucéssus, e significa chegada. Assim, se não definirmos onde queremos chegar, jamais teremos sucesso. Se o sucesso for pautado na realização de desejos, a vida será uma contínua corrida, sem chegar nunca a um lugar definitivo, onde reine a paz, interna, preferencialmente;

A raiz de sucesso é céo, cédis, .. cédere, e significa ir, andar passar. Desta forma o maior sucesso, na essência, é ir, ceder o lugar, afastar-se. Abrir mão! Se vc cede, afasta-se, não haverá nunca traição, ficando o ônus da ação, residente e alimentando-se de quem a praticou.

O que trai, destrói a ligação com o que foi traído. Mas destruir tem sua origem em "de"(sentido contrário) e "struere"(que é construir, edificar). Assim, as vezes, algo pode ser destruído simplesmente pq não foi construído, edificado, em bases sólidas. E qualquer coisa construída, que tenha suas bases no astral, nas emoções densas, é séria candidata a ser desconstruída, simplesmente pq o astral é plástico.

Quando há uma traição, um rompimento (de rúmpo... rúmpere, que significa rasgar, dilacerar), o que fica é exatamente isto: as dores de uma dilaceração.

Mas quem é que sente estas dores da traição, do rompimento, da dilaceração, quem é que fica como coração ferido??? O sofrimento da pessoa que foi traída é derivado da falta de alimento. Aquele alimento que era dado pelo traidor, e que alimentavam (no traído) aquelas emoções, aqueles desejos, aquelas expectativas, aquelas esperanças, que faziam o mundo parecer "cor de rosa".

Assim, quanto maior o número de expectativas, quanto maior o número de emoções que se alimentavam daquela relação, maior é a dor no caso de um "de struere"!.

A traição só dói na pessoa traída enquanto ela quiser, e enquanto optar por ficar sentindo prazer em sofrer, sabendo que este sofrimento é só uma forma de alimentar aquela realidade que ela havia construído em relação a outra pessoa.

E aproveitando a oportunidade, por ter a ver com traição, paixão (vem da raiz pátior.. páti que significa sofrer, suportar), vem do latim passiónis que significa sofrimento, passividade. E é exatamente isto: o ser humano assiste passivo, sofendo, a festa astral em si mesmo, provocada pelas ilusões que crie com relação a outra pessoa.

E quando a outra pessoa não corresponde, ou quando a relação termina, de struere!! Mas quem construiu, o que foi destruído??? Ninguém constrói nada em outra pessoa, só em si mesmo. Assim, nós é que fazemos nossas próprias dores.

Por fim, a pessoa traída deveria dizer: " eu aprendi com a traição, e lhe agradeço, pois em mim, tuas dores não doem mais. Sublimei!!! Mas lhe pergunto: vc aprendeu a não trair mais?"

J. Oro


4 de set. de 2012

Verdadeira Vontade

 
De todas as Virtudes Mágicas, de todas as Graças da Alma, de todas as Consecuções do Espírito, nenhuma tem sido tão mal-compreendida, até quando foi sequer vislumbrada, quanto o Silêncio.
 

Não seria possível enumerarmos os erros mais freqüentes; podemos dizer que mesmo o ato de pensarmos no silêncio é em si um erro; pois a natureza do Silêncio é Puro Ser, isto é, Nada; de forma que ele está além de qualquer intelecção ou intuição. Assim, o máximo que este nosso Ensaio pode fazer é ser uma espécie de Sentinela, uma Clafetagem, como se fosse, da loja onde o Mistério do Silêncio é celebrado.  

Para esta atitude há grande autoridade tradicional: pois Harpocrates, Deus do Silêncio, é chamado "O Senhor de Defesa e Proteção".  

Mas Sua natureza de forma alguma é aquele silêncio negativo e passivo que a palavra comumente conota; pois Ele é o Espírito que Vaga Aonde quer; o Puro e Perfeito Cavaleiro-Andante, que soluciona todos os Enigmas, e abre o Portal Fechado da Filha do Rei. Silêncio, no senso vulgar da palavra, não é a resposta ao Enigma da Esfinge; é aquilo que é criado por essa resposta. Pois Silêncio é o Equilíbrio de Perfeição; de maneira que Harpocrates é a Chave uniforme, universal, de todo e qualquer Mistério. A Esfinge é o Enigma, ou Donzela: a Idéia Feminina, para a qual só existe um complemento, sempre diverso em forma, sempre igual em essência. Este é o significado do Gesto do Deus; é surgido mais claramente na forma adulta d'Ele como o Tolo do Taro e como Bachus Diphues; e é mostrado sem qualquer possibilidade de engano quando Ele aparece como Baphomet.  


http://www.keepsilence.org/liberxxii/assets/img/medium/trump_00_thefool.jpg
Conhece o Nada !
Todos os Caminhos são lícitos à Inocencia.
A Loucura pura é a Chave da Iniciação.
O Silêncio rompe o Arrebatamento.
Não sê tu homem ou mulher, mas Ambos em Um.
Sê Silencioso, bebê no Ovo azul. Que Tu
possas crescer para portar a Lança e o Graal !
Perambula só , e canta ! no Palácio do Rei
Sua Filha espera por Ti. (Livro de Toth p.244)

Quando nós perscrutamos mais estreitamente o simbolismo d'Ele, a primeira qualidade que nos chama atenção é, sem dúvida, a Sua inocência. Não é sem profunda sabedoria que Ele é chamado o gêmeo de Hórus; e este é o Aeon de Hórus; foi Ele quem enviou Aiwass Seu ministro para proclamar Sua chegada. O Quarto Poder da Esfinge é o Silêncio; para nós, então, que aspiramos a este poder como a coroa de nossa Obra, será da máxima importância conquistarmos por inteiro a inocência d'Ele. Nós devemos antes de mais nada compreender qual a raiz da Idéia de Responsabilidade Moral, da qual o homem estupidamente se orgulha como distinguindo-o dos outros animais, é Restrição, que é a Palavra de Pecado. Em verdade há significado na fábula hebraica de que o conhecimento do Bem e o Mal produz a Morte. Readquirir Inocência é conquistar o Éden. Nós devemos aprender a viver sem a consciência assassinada de que cada alento que tomamos impele as velas dos nossos frágeis barcos ao Porto do Túmulo. Nós devemos descartar o Medo através de Amor; desde que todo Ato é um Orgasmo, a resultante-consequência da totalidade dos atos não pode ser senão Nascimento. 
 
Também, Amor é a lei; portanto, todo ato tem que ser Retidão e Verdade em sua realidade essencial. Através de certas Meditações isto pode ser compreendido e assimilado e deve ser tornado tão completo que nos tornarmos inconscientes de nossa Santificação; pois só então a Inocência é perfeita. Esta atitude é, de fato, uma condição necessária de qualquer contemplação correta daquilo que estamos habituados a considerar como a primordial tarefa do Aspirante: a solução do problema, "Qual é a minha Verdadeira Vontade?" Pois até que nos tornemos inocentes nós seguramente tenderemos a julgar nossa Vontade por algum Padrão que nos parece "certo" ou "errado"; em outras palavras, tenderemos a criticar nossa Vontade de fora, enquanto que a Verdadeira Vontade deve saltar, uma fonte de Luz, de dentro de nós, e fluir desimpedida, fervente de Amor, para o Oceano da Vida.

Esta é a verdadeira idéia de Silêncio; é a nossa Vontade que surge, perfeitamente elástica, sublimemente protéica, para encher todo e cada interstício do Universo de Manifestação que ela encontra em seu caminho. Não existe qualquer golfo demasiado grande para sua força imensurável; não existe qualquer canal demasiado estreito para sua imperturbável sutileza. Ela se adapta com precisão a toda e qualquer necessidade; a fluidez dela é a garantia de sua fidelidade. Sua forma é sempre modificada por essa da particular imperfeição que ela encontra: sua essência é idêntica em todo e cada caso. E sempre o efeito de sua ação é Perfeição, isto é, Silêncio; e esta Perfeição é sempre a mesma, sendo perfeita; no entanto sempre diversa, porque cada caso apresenta sus próprias quantidades e qualidades particulares.


É possível até para a inspiração poética produzir um ditirambo sobre o Silêncio; pois cada novo aspecto de Harpocrates é digno da música do Universo através da Eternidade. Eu simplesmente fui levado por meu leal Amor àquela estranha Raça entre a qual me encontro encarnado a compor esta imperfeita senda da infinita Epopéia de Harpocrates, como sendo a faceta da fecunda Luminosidade d'Ele que refratou a mais necessária luz sobre minha própria tateante Entrada no Sacrário de Sua fulminante, de Sua inefável Divindade.


Eu louvo a luxuriante Raptura de Inocência, o viril e pantemorfo Êxtase de toda Fruição; eu louvo a Criança Coroada e Conquistadora cujo nome é Força e Fogo, cuja sutileza e pujança tornam a serenidade certa, cuja Energia e Persistência alcançam a Consecução da Virgem do Absoluto; que, manifestada, é o Flautista que sopra na flauta de sete bocas, o Grande Deus Pã; e que, retirando-se à Perfeição que ela quis, é o Silêncio.
 

Silêncio - Pequenos Ensaios em Direção à Verdade - Aleister Crowley 

 

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