25 de fev. de 2013

Pedra Angular


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66 - Disse Jesus: Mostrai-me a pedra que os arquitetos rejeitaram. Ela é a pedra angular.

Em todos os livros sacros é o Cristo chamado pedra angular, isto é, a pedra sobre a qual repousa toda a firmeza e segurança do edifício.

Através de quase 20 séculos, essa pedra fundamental do cristianismo tem sido grandemente ignorada ou descompreendida. Certas teologias eclesiásticas substituíram o Cristo por algum santo, sobretudo pela mãe de Jesus, que é chamada “rainha dos céus”, “medianeira de todas as graças”, da qual dependeria toda a salvação do homem.

Outras ideologias religiosas identificam o Cristo com a personalidade humana de Jesus, que, segundo eles, seria um homem como nós, embora com evolução mais avançada. A redenção do homem viria da personalidade humana de Jesus, do seu sangue, e não da identidade divina do Cristo. E, como Jesus viveu e morreu no passado, em terra longínqua, a pedra fundamental da redenção seria distante de nós no tempo e no espaço.

http://www.sca.org.au/scribe/images/fig3a.jpgEntretanto a verdadeira pedra fundamental é o Cristo eternamente presente, aqui e agora, o Cristo interno que está conosco todos os dias. Auto-redenção é Cristo-redenção. Quem realiza o seu Cristo interno pela consciência mística e vivência ética, esse se auto-realiza. A parábola da videira e seus ramos é a magnífica ilustração para esta verdade, mostrando que a mesma vida do Cristo que vitaliza o tronco vitaliza também os ramos da videira. Auto-realização é Cristo-realização.

Neste sentido é o Jesus cristificado a pedra fundamental para toda a humanidade, o precursor e pioneiro para todo o homem que queira realizar-se e atingir o supremo destino da sua existência. Rejeitar essa pedra fundamental é o mesmo que falhar o seu destino existencial. De maneira que as palavras acima são uma continuação do capítulo precedente, e um alargamento que ultrapassa o destino particular de Israel e é um aviso para o destino de toda a humanidade. A salvação de todo o homem está em realizar em sua pessoa o que Jesus realizou em sua pessoa: a total cristificação da sua natureza humana, ao ponto de poder dizer: está consumada a minha missão.



24 de fev. de 2013

Os Necessitados


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65 - Disse ele: Um homem tinha uma vinha. Arrendou-a a uns colonos para a cultivarem, a fim de receber deles o fruto. Enviou seu servo para receber o fruto da vinha. Os colonos prenderam o servo e o espancaram a ponto de quase o matar.
O servo foi da parte a seu senhor. Esse disse: Talvez eles não o tenham conhecido, e enviou-lhes outro servo. Mas eles espancaram também este. Então o senhor mandou seu filho, dizendo: Talvez tenham respeito a meu filho.
Mas, como os colonos soubessem que esse era o herdeiro da vinha, prenderam-no e o mataram. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

 Em face do perverso procedimento desses colonos, parece impossível admitir a existência do livre arbítrio em todo o ser humano; parece que há homens necessariamente maus.

Cientistas modernos afirmam, e tentam provar com experiências de laboratório, que a liberdade é um mito, uma ilusão.

Entretanto, todo ser humano normal é potencialmente livre – mas poucos são atualmente livres. A liberdade potencial é um presente de berço, faz parte da natureza humana – mas a liberdade atual é uma conquista da consciência, que nem todos fizeram. Quem não conquistou a liberdade pela consciência é apenas potencialmente livre, mas é atualmente escravizado pelas circunstâncias.

Disto não se segue todavia que esse homem não seja responsável por seus atos; ele é culpado por seus atos maus porque não se libertou da escravidão em que vive, quando devia libertar-se. Ele é culpado na causa. Quem pode deve, e quem pode e deve e não faz crea débito, culpa.

Quando um cientista submete centenas ou milhares de pessoas a um teste psicológico, e depois conclui que não há liberdade, porque os testes realizados não a revelaram, comete ele uma monstruosa falta de lógica: de muitos conclui ele para todos. É bem possível que todas essas cobaias não tenham conquistado jamais a sua liberdade atual – mas, apesar disto, são potencialmente livres. E sua grande culpa consiste precisamente no fato de não terem atualizado a sua liberdade potencial. Se um Buda, um Cristo, um Gandhi tivessem passado pelo laboratório desses cientistas, bem diferente teria sido o resultado.

Os exemplos acima provam que poucos homens conquistaram a liberdade.

O que Jesus visa com estas palavras é o procedimento de Israel através de séculos: alguns dos profetas que Deus lhe enviou foram perseguidos, e o próprio Jesus previa a sua morte violenta às mãos dos sacerdotes da Sinagoga. Os profetas eram os locutores de Deus, ao passo que os sacerdotes eram apenas organizadores humanos. O último dos profetas, Malaquias, morreu quatro séculos antes do aparecimento de Jesus, e desde então foi Israel entregue exclusivamente aos sacerdotes, que haviam “tirado a chave do conhecimento do Reino de Deus” e eram “guias cegos guiando outros cegos”.

Por isto, não foi Jesus reconhecido pela Sinagoga como o Messias anunciado pelos profetas.

Israel, decadente, esperava um Messias político-militar que o libertasse do poder dos invasores romanos. E, como Jesus não se interessava pela libertação política, os sacerdotes o rejeitaram como falso Messias – e até hoje aguardam o seu libertador.

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23 de fev. de 2013

Individualismo


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64 - Disse Jesus: Um homem fez um banquete e, depois de tudo preparado, enviou seu servo para chamar os convidados. Este foi ter com o primeiro e lhe disse: Meu senhor te convida para o banquete. O homem respondeu: Uns negociantes me devem dinheiro; eles vêm à minha casa esta noite, e eu tenho de falar com eles; peço-te que me dispenses de comparecer ao jantar.
O servo foi ter com outro e lhe disse: Meu senhor te convidou.
Este respondeu: Comprei uma casa, e marcaram um dia para mim; não tenho tempo para vir.
Foi ter com outro, dizendo: Meu senhor te convida. Este respondeu: Um amigo meu vai casar-se, e eu fui convidado para preparar a refeição; não posso atender; favor dispensar-me.
Foi ter com outro e disse: Meu senhor te convida. Este respondeu: Comprei uma vila e vou cobrar a renda; não posso comparecer; queira excusar-me.
O servo voltou e comunicou a seu senhor: Os convidados ao banquete pedem que os dispenses de comparecerem.
Disse o senhor a seu servo: Vai pelos caminhos e traze os que encontrares, para que venham ao meu banquete; mas os compradores e negociantes não entrarão nos lugares de meu Pai.

Como em outro Evangelho, Jesus faz ver que as ocupações mundanas são o grande obstáculo que impede os homens de atenderem ao convite para a realização do Reino de Deus dentro deles. Alo-realizações dificilmente são compatíveis com auto-realização. Não é possível convencer o ego para não ser egoísta; o ego não vê nada senão objetos externos; falar-lhe no sujeito interno é o mesmo que falar de luz a um cego, ou de música a um surdo.

Que fazer então?

Não é possível interessar o ego por algo que não seja do ego. A única coisa que um mestre espiritual pode e deve fazer é mostrar-lhe um tesouro maior do que ele mesmo. Se o mestre for capaz de fazer isto, tudo está resolvido – assim como é fácil levar alguém que tem 10 cruzeiros acenando-lhe com uma nota de 100 cruzeiros em troca dos 10. Mas, como mostrar ao ego um tesouro além do ego? Será ele capaz de enxergar esse tesouro para ele invisível? Pois o ego é praticamente um cego.

Aqui está a grande dificuldade. Boas palavras e bons conselhos nem sempre resolvem o problema.

A única esperança é o invisível impacto que o mestre exerce sobre o discípulo. Ninguém sabe dizer o que é esse impacto do Mestre. Uns pensam que é seu bom exemplo; outros dizem que são suas auras, seus fluidos espirituais, etc.

Não sabemos o que realmente move o homem-ego para ultrapassar a sua egoidade e deixar-se invadir pelo espírito de Deus. Por que Judas não se converteu na presença do melhor dos Mestres, dentro das mais poderosas auras do Cristo? E por que Saulo de Tarso se converteu no pior dos ambientes?

Em última análise, o homem é tão livre para ser mau no meio dos bons como é livre de ser bom no meio dos maus. O livre arbítrio é o maior dos mistérios do fenômeno humano. É uma fortaleza inexpugnável; suas portas só abrem para dentro, e não para fora.

Em face dessa inexpugnabilidade do livre arbítrio alheio, deve o Mestre e educador contentar-se com a semeadura da verdade e do bem, e não contar com colheita alguma da parte de seu discípulo ou educando. A lei da constância das energias, que a física conhece, vale também para a metafísica:

nenhuma energia se perde, todas se transformam. Se o Mestre ou educador não vê nenhum resultado dos seus esforços, não considere perdidos esses esforços. Essas energias espirituais por ele creadas produzirão efeitos em outros homens, talvez em outros mundos em outros séculos. Semear sem esperança de colheita exige a mais completa libertação de toda e qualquer espécie de egoísmo.






21 de fev. de 2013

Essência da Vida

63 - Disse Jesus: havia um homem rico que tinha muito dinheiro. E ele disse: usarei meu dinheiro para semear, colher e plantar, e encherei meu celeiro de frutas, para que nada me falte. Era isso que ele sentia em seu coração. E naquela noite ele veio a morrer. Aquele que tem ouvidos que ouça.

Muitas vezes aparecem nos Evangelhos palavras como essas. Daí muitos concluem que os mestres espirituais recomendam a desistência de qualquer trabalho, a total passividade. Nos países orientais, muitas pessoas se guiaram por essa passividade – e acabaram na miséria. Mas, nem por isto, se espiritualizaram.

É necessário saber compreender devidamente palavras como essas. Nenhum grande mestre espiritual recomenda a passividade como supremo ideal de santidade. Krishna, na Bhagavad Gita, recomenda a seu discípulo Arjuna: “Trabalha intensamente, mas renuncia a cada momento aos frutos do teu trabalho”. Lao-Tse, no seu livro Tao, não cessa de repetir: “É necessário agir pelo não-agir”. No Evangelho do Cristo lemos: “Meu Pai age até hoje, e eu também ajo”. E a seus discípulos diz ele: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa merecemos por isto”.

A filosofia oriental reduziu a três as atitudes do homem em face do mundo material: 1) Falso-agir, 2) não-agir, 3) reto-agir.

Sendo que milhões de homens profanos pecam pelo falso-agir, que eles chamam agir, alguns místicos acharam que é preferível o não-agir ao agir. Mas os verdadeiros homens espirituais descobriram uma terceira atitude, que não é falso-agir nem não-agir, mas sim reto-agir.

O falso-agir consiste em agir por amor às coisas do ego, que é um agir condenável, uma vez que o ego é uma ilusão, e não se deve agir por amor a uma ilusão.

O reto-agir consiste em agir por amor ao Eu divino no homem, a fim de realizar Deus no homem, que é auto-realização; embora esse reto-agir seja feito através do ego, que é inevitável, não é feito por amor a esse ego ilusório. É possível exercer qualquer atividade profissional sem ser egoísta; quem age para realizar o seu Eu divino, age corretamente.

Não basta, para esse reto-agir, fazer uma “boa intenção”, que é outra atividade do ego. Agir por amor à alma é agir de dentro da substância total e permanente do seu ser.

Entretanto, é difícil ser sincero consigo mesmo, usar os bens materiais externamente sem ser apegado a eles internamente. É mais fácil abandoná-los também externamente do que ser sincero consigo mesmo, fazendo camuflagem de estar desapegado, quando não se está. Sem nada entramos neste mundo, e sem nada sairemos dele. Mais ai de nós, se não nos tivermos enriquecido internamente! Seremos como aquele “servo mau e preguiçoso”, que devolveu a Deus o que de Deus recebera, sem nada ter creado com o poder creativo da sua alma.

O rico de que fala o texto acima acumulou bens materiais, sem nenhuma realização espiritual.



20 de fev. de 2013

As Quatro Âncoras


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62 - Disse Jesus: eu conto meu segredo aos que forem dignos do meu segredo. O que tua mão direita fizer, não deixes que a esquerda saiba.

 Palavras como estas, em formas várias, vão através de todos os livros sacros da humanidade, do oriente e do ocidente. A Bhagavad Gita diz: “Quando o discípulo está pronto, então o Mestre aparece”.

A prontidão do discípulo não é a causa da vinda do Mestre, mas é a condição pré-disponente para seu aparecimento.

A lei de causa e efeito governa todo o mundo da física; mas na metafísica não funciona essa lei. No mundo espiritual as coisas acontecem livremente, embora não arbitrariamente. Também o mundo metafísico é regido pela lei, mas uma lei superior que a inteligência analítica do homem profano não pode compreender. O mundo superior é governado pela graça, e não pela causa. A causalidade escraviza, a graça liberta.

Através de séculos se tem discutido sobre o mistério da graça. O que acontece pela graça, ou de graça, não obedece à lei de causa e efeito. Nem um homem pode merecer (ou causar) a graça; se assim fosse, não seria graça.

Por outro lado, porém, os dons divinos não são dados arbitrariamente a qualquer homem, o que seria o domínio do caos. Gratuitamente, sim – arbitrariamente, não.

Quando o homem ultrapassa o limite estreito da análise intelectual e entra na vasta zona da intuição espiritual, então compreende ele o mistério da graça, equidistante de causalidade e arbitrariedade. 

Compreende esse mistério, mas não o pode analisar. A palavra grega analyein, de que fizemos “analisar”, quer dizer literalmente “dissolver”. Quem analisa, dissolve, destrói. Quem analisa uma rosa no laboratório, não tem mais uma rosa, porque a análise a dissolveu, destruiu. E, ainda que o cientista recomponha os seus componentes decompostos, o composto resultante não é a rosa; falta-lhe o principal, a alma ou vida, que o cientista analítico não pode analisar nem reconstruir.

Para inteligir a rosa basta analisá-la – mas, para compreendê-la, é necessário intuí-la sem a analisar. Análise se refere às partes, a intuição visa o Todo.

Para compreender os mistérios de Deus e do Cristo, é necessário intuir, em silenciosa auscultação. Pode a análise intelectual preceder, pode mesmo chegar à sua penúltima etapa, mas nunca chegará à última meta da verdadeira compreensão intuitiva.

6 de fev. de 2013

Imagem e Semelhança de Deus


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61 - Disse Jesus: dois descansarão em um leito: um morrerá, outro viverá. Perguntou Salomé: Quem és tu, homem, e de quem és filho? Tu te sentaste em meu banco e comes de minha mesa. Respondeu-lhe Jesus: sou o que vem daquele que é Igual; a mim me foi dado das coisas de meu Pai. Disse Salomé: Sou tua discípula. Disse Jesus a ela: por conseguinte te digo: se alguém pertencer ao Igual, será preenchido de Luz, mas se for dividido, estará cheio de trevas.

 Salomé, a mãe de João e Tiago, está no caminho duma evolução espiritual; tempos atrás, ela fizera a Jesus o pedido de fazer dos seus dois filhos os primeiros ministros “no Reino de sua glória”. Mas agora, ela parece ter renunciado à sua ambição política e estar aberta para uma compreensão mais completa. Ela se mostra estupecfata em face da unidade e unicidade da pessoa de Jesus, que ela conhecera como hospedeira, quando o profeta ambulante de Nazaré pernoitava em sua casa e comia à sua mesa. Mas agora ela está vislumbrando o Cristo divino através do Jesus humano – esse homem uno e único, esse homem monolítico.

Jesus faz ver à sua discípula a origem do seu Cristo, luz cósmica da luz divina. E Salomé, toda feliz, se confessa entusiasticamente discípula do cristo.

Jesus lhe faz ver que o homem deve ser “uno e vácuo” para poder ver a luz; vazio do seu ego humano e uno em seu Eu divino; pois, quando ainda se sente dividido em si mesmo, desunido como personalidade humana, esse ainda está nas trevas. O homem-ego anda sempre “frustrado”, isto é, fragmentado, dividido; os seus muitos egos estão desunidos entre si, porque não estão unidos no seu Eu individual, indiviso, indivisível.

Dois homens parecem os mesmos por fora; moram sob o mesmo teto; mas um é um vivo, e o outro um morto, um está na ego-consciência profana, o outro está na cosmo-consciência crística.
Estas palavras de Jesus devem ter sido para Salomé como um lampejo em plena noite.

4 de fev. de 2013

Doação da Razão (2)


Cronos


60 - Ao entrarem na Judéia, eles viram um samaritano que carregava uma ovelha. Jesus disse a seus discípulos: Por que a carrega? Responderam eles: para matá-la e comê-la.
Disse-lhes Jesus: Enquanto a ovelha está viva, ele não a poderá comer; só depois de morta e cadáver.
Replicaram eles: De outro modo não a pode comer.
Respondeu-lhes Jesus: Procurai para vós um lugar de repouso, para que não vos torneis cadáveres e sejais devorados.

Para compreender devidamente essas palavras, convém voltar a uma das sentenças anteriores, onde Jesus compara o mundo material-mental com um cadáver, e o mundo espiritual com um ser vivo. Aliás, através de toda a sagrada escritura, tanto do antigo como do novo testamento, como já vimos, o homem ego é chamado “morto”. Esse homem é como um cadáver e pode ser devorado pelo mundo. Mas, quando o homem entra na cosmo-consciência, ele nasce e é vivo, e não pode ser comido pelo mundo.

A profunda sabedoria da filosofia oriental desenvolve este conceito e diz que o homem deve “comer o mundo”. Quem ingere e digere um alimento, vitaliza este alimento e o integra na substância do seu próprio ser. Quem assimila é mais forte do que aquilo que é assimilado. O homem profano é assimilado pelo mundo, porque é mais fraco que este. O homem místico, do misticismo isolacionista, não assimila o mundo nem é assimilado pelo mundo, porque se separou dele. O homem cósmico, porém, que pratica mística dinâmica, integra o mundo em si, transformando-o pelo poder do seu espírito. Isto é “comer o mundo”, em vez de “ser comido pelo mundo”.

Para que o homem possa deste modo comer e assimilar o mundo pela consciência cósmica, tem de intensificar, em primeiro lugar, a consciência da sua essencial identidade com o espírito divino; se não conseguir essa suprema conscientização “Eu e o Pai somos um”, está sempre em perigo de ser comido pelo mundo, em vez de comer o mundo.

As palavras de Jesus, no Evangelho de Tomé, dizem misteriosamente: “Procurai um lugar de repouso, para que não vos torneis cadáveres e sejais devorados”. Quem não busca regularmente esse “lugar de repouso”, na cosmo-meditação diária, está sempre em vésperas de ser devorado pelo mundo – se é que ainda não foi devorado como carniça espiritualmente morta.

 

3 de fev. de 2013

Consciência


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59 - Disse Jesus: levai em consideração o Vivo enquanto estais vivos, senão morrereis e tentareis vê-lo e não o conseguireis.

O “Vivo”, no Evangelho de Tomé, é sempre Jesus. Os livros sacros chamam “morto” o homem que vive nas trevas do seu ego; e chamam “vivo” o homem que já despertou para a luz do seu Eu.

Jesus é o Vivo por excelência, porque superou plenamente as trevas e penumbras do ego humano. A Epístola aos Hebreus descreve o roteiro evolutivo da personalidade de Jesus, sob os auspícios do seu Cristo divino. E o próprio Jesus diz aos discípulos de Emaús que ele sofreu voluntariamente tudo o que sofreu “para entrar em sua glória”, na plenitude da vida do Cristo.

Olhar para o Vivo é conscientizar a presença do Cristo em nós e harmonizar a nossa vida diária com a vida do Cristo Vivo.

Durante o ciclo evolutivo da sua vivência terrestre e extra-terrestre, deve o homem realizar a Cristo-consciência e a Cristo-vivência. Se o homem terminar esse ciclo evolutivo sem a devida realização crística, acontecer-lhe-á o que aconteceu às cinco virgens tolas, que não tinham as suas lâmpadas acesas, quando veio o divino esposo, e foram excluídas do banquete do Reino de Deus. Pelo menos no presente eon, ou ciclo evolutivo, essas almas não Cristo-lucificadas não se encontraram com o Cristo.



2 de fev. de 2013

Situações de Sofrimento


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58 - Disse Jesus: bendito o homem que sofreu porque encontrou a Vida.

O sofrimento é o eterno e doloroso enigma da nossa vida e de todas as nossas filosofias. Muitos se tornam descrentes e ateus por causa do problema do sofrimento. Se houvesse um Deus de amor e poder, dizem eles, não poderia ele permitir o sofrimento, sobretudo o sofrimento do inocente.

Entretanto, exatamente o contrário devia ser a nossa conclusão. Os três casos de grandes sofrimentos que encontramos nos livros sacros são sofrimentos de inocentes – e nenhum dos sofredores se tornou ateu ou descrente: Jó, o Cego de nascença e Jesus. São três casos de sofrimento crédito, sofrimento evolutivo; nenhum caso de sofrimento débito, sofrimento punitivo. Com isto, todavia, não queremos negar que possa haver sofrimento débito, sofrimento como punição de pecados.

A suposta incompatibilidade do sofrimento do inocente com a justiça divina é uma das maiores cegueiras da inteligência humana. Exatamente o contrário é verdade: se não houvesse sofrimento, dificilmente poderíamos aceitar a existência de um Deus sábio, justo e bom.

Ultimamente, os maiores cientistas da época, corifeus atômicos, astrônomos e biólogos, elaboraram a chamada “Gnose de Princeton”, em que esse sábios estabelecem a seguinte tese: a alma humana produz o seu corpo material para encontrar “resistência”, indispensável para a evolução do espírito. Resistência é dificuldade, sofrimento.

Este é o Deus dos maiores cientistas da atualidade: o Deus que creou o sofrimento, a resistência. Se Deus fosse um Deus de estagnação ou de involução, não seria necessário haver sofrimento; mas, como Deus é um Deus de evolução, é necessário que haja resistência ou sofrimento.

Verdade é que o Creador creou também creaturas não creativas, creaturas simplesmente creadas, que não necessitam de sofrimento evolutivo. O homem, porém, é uma creatura creadora, e por isto uma creatura que necessita de sofrimento evolutivo.

Como dizíamos, os três casos de sofrimento nos livros sacros são casos de sofrimento evolutivo, que é um argumento pró-existência de Deus, e não um argumento contra Deus, como pensam certos desorientados.

Felizes são pois os sofredores, sobretudo os sofredores inocentes, porque eles acharam a vida, a vida ascensional em plena evolução. Felizes são eles, porque não estagnaram no STATUS QUO, nem involveram rumo ao nada. Felizes, porque o seu sofrimento evolutivo lhes oferece a necessária resistência para intensificarem cada vez mais a sua vitalidade espiritual.

Se, além do sofrimento evolutivo, há sofrimento punitivo, nada tem que ver com Deus; foi o homem que desequilibrou as leis cósmicas, e é ele que tem de reequilibrar essas leis. Todo o débito gera sofrimento.

Também não é certo que todo o sofrimento-débito seja necessariamente pagamento de um débito individual. Há também um débito coletivo da humanidade, e os melhores pagadores duma parcela desse débito alheio são os que não têm débito próprio, os santos, os justos, os homens espirituais, quites com a justiça cósmica. Nem todos os sofredores sofrem por débito próprio, mas também por débito alheio. E, enquanto sofrem por débitos alheios, acumulam também crédito próprio.

Esses felizardos!

+ JUNG RESPONDE A JÓ 

 

1 de fev. de 2013

O Joio e o Trigo


57 -  Jesus disse: O Reino do Pai é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo. De noite, porém, veio seu inimigo e semeou erva má no meio da semente boa. O senhor do campo não permitiu que se arrancasse a erva má, para evitar que, arrancando esta, também fosse arrancada a erva boa. No dia da colheita se manifestará a erva má. Então será ela arrancada e queimada.

É esta a conhecida parábola do joio no meio do trigo, no Evangelho de Mateus. Advertência é sempre esta: Deus não quer que os maus sejam separados dos bons durante o período evolutivo dos dois. Os maus têm o mesmo direito de serem maus como os bons têm o direito de serem bons. As leis cósmicas não exterminam os maus por amor aos bons, mas deixam crescer os dois um ao lado do outro, até a total maturação deles.

Por que?

Porque a separação entre bons e maus não deve ser feita por interferência alheia; ela é feita por eles mesmos como consequência da sua evolução interna, positiva ou negativa. São os próprios bons e os próprios maus que fazem a separação definitiva; não há nenhum fator externo que intervenha; nenhum Deus externo manda os bons para o céu, nem manda os maus para o inferno; céu e inferno são o produto automático da própria evolução humana. Tanto o bem como o mal culminam no Infinito, seja no Infinito positivo do Todo (Self), seja no Infinito negativo do Nada (Ego). Os bons se integram no Eterno Existir; os maus se desintegram no eterno Inexistir.

As leis cósmicas agem com absoluta matematicidade. É o próprio homem que, por seu livre arbítrio, se integra ou se desintegra, se realiza ou se desrealiza. Nenhum suposto Deus externo é necessário para isto, como ensinam certas teologias. O Deus interno, ou o anti-Deus interno do homem é o autor do céu ou do inferno, da vida ou da morte.

Esta parábola como se vê, não identifica a sorte final dos bons e dos maus; esta sorte final é diametralmente oposta uma à outra. O que a parábola afirma claramente é que a decisão final depende do homem e não de Deus.

Aqui poderíamos repetir as palavras do poeta-filósofo inglês: “Eu sou o senhor do meu destino, eu sou o comandante da minha vida”.

+ A Hipóstase dos Arcontes (A Realidade dos Regentes)
+ A Interpretação Psicológica do Kundalini Yoga


A Travessia do Abismo de Daath

Em Malkuth começa o trabalho do despertar da centelha e elevação da mesma atraves dos Sephiroth.
Malkuth pode ser comparada ao mito de Persefone (ou Proserpina entre os romanos), onde a historia do mito narra a violação de Persefone por Hades obrigando-a a seu exílio sob a Terra, assim como também o mito dos gnósticos sobre a queda de Sophia.
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Segundo Israel Regardie existem dois métodos básicos de consecução espiritual baseados no uso direto da Arvore da Vida: Um eh a meditação e o outro eh o Ritual. O objetivo de seguir esses dois processos, eh atingir o Coração da Arvore, o centro cristico nele mesmo – Tipheret, onde terah a visao e conversação do Sagrado Anjo Guardião. Os dois métodos acima referidos na verdade sao um. Assim trabalhando ele transcende o que ele pensa ser, ascendendo pelos sephiroth.
Esta subida realiza-se pela coluna do meio ou pilar do meio, isto eh, a coluna central da arvore formada por Malkuth, Yesod, Tiphareth, Daath, Kether.

No sistema oriental  isto equivale ao canal Shushuma, por onde eleva-se Kundalini. O Sushuma eh o mais importante dos Nadis e consiste no eixo ou canal central que se situa ao longo da coluna, por onde circula energia neutra. Ele eh conhecido como o sustentador do universo e o “caminho da salvacao”.

Na tradicao Greco-Romana, o caduceu de Thot eh o simbolo do segredo, tanto quanto a Serpente de Bronze erguida por Moises no Egito.
Segundo Israel Regardie, esse metodo de elevacao da Kundalini, ou de conscientizacao da Essencia, se dah atraves da conciliacao  das energies opostas na Arvore, essa conciliacao se efetua no pilar central, ou pilar do meio/equilibrio, e eh nesse equilibrio onde nasce o Filho em Tiphereth, ou seja, o dialogo com o Sagrado Anjo, o Self. Essa eh a meta e o objetivo de todo praticante de magia ou de todos aqueles que se dedicam ao auto-conhecimento, pois eh o proprio Anjo quem prepara o adepto para a proxima etapa, a travessia do abismo de Daath. 


Daath eh uma sephira oculta, invisivel, que se encontra entre Tiphereth e Kether. Daath representa o abismo que separa a nossa percepcao dual da percepcao una. Acima do abismo de Daath nao ha dualidade, abaixo do abismo tudo eh dual.

Em Daath se encontra toda a hipertrofia de toda a ilusão do Universo e de todas as esferas abaixo dele que vao de Chesed a Malkuth. Eh Visudh Chakra, o Chakra do pescoço, que segundo os Hindus, eh onde sao gerados os pensamentos. Para os Budistas aqui eh onde habita  Mara, o senhor da ilusão, ou Chorozon, o monturo de lixo do Universo de cuja travessia nasce o Magister Templi, segundo Crowley. Daath eh considerada uma “esfera que nao eh esfera”, pois sua funcao eh o desviar da atencao da verdade inexprimivel atraves do pensamento. Eh o deserto de Apep, o inimigo de Osiris que precisa ser derrotado por este ultimo para sua ressurreicao. Para os gregos era Hades, o deus do mundo ctônico, para os romanos era Plutão, o Senhor dos infernos. Aqui também estao os demônios da Goetia, os Qliphot, e os 50 nomes de Marduk.

Eh como se houvesse uma dobra na Criacao que criasse a divisao da realidade na ilusao do espaco e do tempo atraves daquilo que foi gerado em Binah, portanto Daath paira sobre o abismo na fronteira entre os mundos da criacao e da formacao.

Abaixo do abismo eh o plano da existência finita e condicionada.  O abismo eh uma regiao de tensão permanente entre o Macrocosmo e o Microcosmo, sendo a sede das forcas dissolventes que o profano conhece como demônios. Isso eh referente na bíblia segundo o qual  Cristo (o iniciado em Tipheret) deve primeiro “descer aos infernos” Qliphoticos antes de proceder aos ceus das Supernas.
Segundo Crowley, no Abismo todas as coisas existem, realmente, pelo menos em posse, porém não possuem nenhum significado possível; pois elas carecem do substrato da realidade espiritual. Elas são aparências sem Lei. Elas são, pois Ilusões Insanas. Choronzon é o Habitante do Abismo; ele é lá a obstrução final. Se ele for enfrentado com a preparação própria, então ele estará lá para destruir o ego, o que permitirá ao adepto mover-se para além do Abismo. Se não estiver preparado, então o desafortunado viajante será completamente disperso em aniquilação. “O nome do Habitante do Abismo é Choronzon, porém ele não é realmente um indivíduo.”

Para Jung a sombra tem um componente pessoal, formado pelos aspectos da psique individual que são rejeitados e recalcados pelo ego, mas além disso, o núcleo da sombra é uma estrutura arquetípica que atrai esse material e o organiza segundo uma configuração transpessoal, porque Daath é a fronteira entre o eu pessoal, imerso no espaco tempo e o plano arquetípico da realidade. É a energia aprisionada na sombra que depois de assimilada e integrada pela consciência, permite que a consciéncia se libere do ego e vá em direção ao núcleo da estrutura arquetípica da sombra, que corresponde ao Demiurgo dos gnosticos ou Choronzon.  Essa estrutura arquetípica da sombra equivale a sombra coletiva, ou sombra da Anima Mundi. Chorozon equivale ao sistema de aprisionamento que rege a sociedade, cultura e o coletivo, e que é o nucleo arquetípico que organiza a formação da sombra bem como do ego. Ele é como os filtros que estão nos chacras limitando a percepção da realidade da vida, essa estrutura que também é condicionamento também é equivalente ao Carma individual e coletivo.

alquimia3Quando da descida da substancia que emana de Binah, para os mundos formativos atraves das sephiroth abaixo do abismo, estes perdem a conexao com a energia espiritual, como que se a cada revestimento de materia, sua forma original fosse diminuida, isso se chama Kenosis, onde o arquetipo diminiu a sua potencia, ateh ficar adormecido na forma da kundalini no corpo humano. Esses mesmos sephiroth isolados se tornam como cascas vazias da essencia espiritual, se tornam como os arcontes do Mito de Sofia. O despertar na base do corpo e a consequente subida eh como quebrar o estado de sistase ou amarras de cada chakra ou sephirah, recuperar a sua potencialidade original e assim a consciencia vai se desvencilhando da irrealidade do ego e do mundo como eh percebido. Na travessia do abismo de Daath, eh onde a consciencia transcende totalmente o ego e o nucleo arquetipico que gera e dah forma a sociedade e cultura como um todo, se unindo a sua Contra-parte Espiritual de acima do abismo, recuperando e preenchendo o Ser de sua plenitude/potencia original. A consciencia se une ao Self e recupera a substancia espiritual, transformando os arcontes em Eons.
Daath tambem eh “Conhecimento”, ou seja,  a pura Gnose, e desta forma os demonios sao transformados em Deuses, recuperando a plenitude do Ser.

Fontes e Ref.  “A Arvore da Vida” – Israel Regardie;  “A Cabala Mistica” – Dion Fortune; Ocultura; O Franco Atirador.
 Post Original:  http://anoitan.wordpress.com





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