28 de jun. de 2011

Dal profondo dell´ anima

Extraordinário documentário baseado em testemunhos e em material fotográfico inédito, um retrato fiel de Jung...


2 de jun. de 2011

Nada Era em Vão


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Brilhai eternamente no tempo, astro do mundo em que brilhais. Voai sem fim nem cansaço, aves
da terra de que sois aves.

[CORO] – Cantai nas árvores das estradas, ó aves que consolais o ouvido dos tristes! Correi docemente na sombra, ó fontes! Dormi quietos na relva calma, ó feras agora em sossego! Dai a vossa alegria a todos os ventos, cantai a vitória do amor em todas as brisas! Morreu a sua vida o Salvador do Mundo!

Para Ele não haverá nada. Só para Ele nada haverá! Tudo quanto sofreu será consolado nesta hora sem tempo. Tudo quanto fez mal agora passará a nunca o ter feito. Tudo quanto sofreu o mal feito eis que nunca sofreu hoje, e nunca soube o que era o sofrimento! Só Ele, o Coração Amante do Universo, é volvido a Sombra e [o] Apagamento! Só Ele vai esquecer de todo, levando em seu seio nocturno todo o mal que nele concebeu para alívio e descanso do Mundo. Só Ele desaparece, só Ele é nada. O próprio amor a ele acabará, porque ele acabará. Não há para ele a recompensa, porque ele passa agora, no triunfo maior do que os deuses, a não ser nada, a nunca ter sido cousa nenhuma. Através do Sofrimento Absoluto ele entra na Morte sem resgate.

O Mundo é livre! O Mundo é Deus! As cousas renascem em extemporâneo e Divino!

Raiam Deus todas as luzes, aquiescem Deus todas as Sombras, todos os espaços são Deus.

As flores desabrocham Deus, cada árvore é uma divindade todas elas, cada folha é Deus Todo.

Este é o Mundo! Este é o Mundo! Nunca houve tempo nem espaço! Nunca houve alegria nem dor!

O que era bom é hoje o Bem. O que era doce e humano na imperfeição é hoje a Perfeição.

Tudo quanto era divisão de repente (?) não é, nem nunca foi (subitamente nunca foi).

O que se perdeu nunca se tinha perdido!

As pequenas ternuras são grandes hoje com o calor de pequenas. As afeições da terra são hoje do Céu em que a terra toda está. Todos os filhos estão com todas as mães. Nada falta, nada sobra, nada limita. Tudo é tudo em Deus.


[CORO] – Acabou o amor, porque nada se busca, estando tudo encontrado. O que era amado por ser pequeno continua a ser amado por ser pequeno, mas é grande. O que era amado por ser humano continua a ser amado por ser humano, mas é divino. O que era amado por ser imperfeito continua a ser amado por ser imperfeito, mas é perfeito. Tudo tem o que tinha de belo e Deus a mais. Tudo está liberto. Nada era em vão.

s.d.
«Sakyamuni». Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986 - 229.
1ª publ. in Fernando Pessoa et le Drame Symboliste. Teresa Rita Lopes. Paris: F. C. Gulbenkian, 1977

fonte: Textos para Reflexão


  
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