44 - Disse Jesus: aquele que blasfemar contra o Pai será perdoado, e aquele
que blasfemar contra o Filho será perdoado; mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, este não será perdoado nem na Terra nem no céu.
Os outros Evangelhos referem as mesmas palavras de Jesus, com ligeiros variantes; mas o sentido é invariavelmente o mesmo.
Esse sentido, porém, é incompreensível à luz das nossas teologias analíticas, que entendem por Pai, Filho e Espírito Santo três pessoas ou personalidades divinas.
Na linguagem dos livros sacros, não se trata de três personalidades, mas de três aspectos ou funções da única e suprema Divindade.
Quando o homem conhece apenas o primeiro ou segundo aspecto da Divindade, peca por ignorância, e dele se pode dizer: Liberta-o, porque ele não sabe o que faz. As conhecidas palavras “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”, não correspondem nem ao texto grego do primeiro século, nem à tradução latina da Vulgata; ambos dizem: “libertar” (aphíemi, em grego; demittere, em latim). Perdoar pecados, no sentido tradicional da palavra não é o mesmo que libertar de pecados.
Mas, quando homem peca por maldade pleni-consciente, se exclui ele mesmo da possibilidade de libertação, fechando todas as portas à sua conversão; quem se torna auto-inconvertível não se converte.
Há quem julgue impossível uma creatura pecar por maldade; há quem diga que todo o pecado é cometido por ignorância. Na presente humanidade primitiva talvez seja exata esta tese; mas numa humanidade altamente evolvida, numa humanidade conscientemente satanizada, é possível essa “blasfêmia contra o Espírito Santo”, esse pecado contra a própria consciência.
O livre arbítrio abre duas portas para o Infinito: para o Infinito positivo (vida eterna) e para o Infinito negativo (morte eterna). O livre arbítrio é uma onipotência creadora, rumo ao Todo – ou então uma onipotência destruidora rumo ao Nada.
Não há creatura imortal, mas há creatura imortalizável.
A creatura que, pela blasfêmia contra o Espírito Santo, nadifica a sua creaturidade acaba necessariamente no nadir do Nada.
Assim como a creatura que realiza a sua creaturidade vai rumo ao zênite do Todo.
A metafísica e a mística são idênticas à matemática. E, na matemática, diz Einstein, reside o princípio creador – e reside também seu contrário, o princípio nulificador.
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