10 de jan. de 2013

O Ladrão


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35 - Disse Jesus: Não é possível que alguém entre na casa de um forte e o submeta; a não ser que lhe ate as mãos; aí, então, pode pilhar-lhe a casa.

Quem é este forte?

Nos outros Evangelhos, este texto é relacionado com o episódio em que Jesus expulsara um demônio, e seus inimigos o acusaram ser aliado de satanás ou o diabo. Então Jesus fez o paralelo entre “o forte”, que é satanás, e “o mais forte”, que é o Cristo. Podemos pois admitir que também aqui, no Evangelho de Tomé, o forte seja satanás.

Por outro lado, Jesus identifica satanás com o ego humano, quando este se opõe a Deus; assim no caso de Pedro, cujo ego é chamado satanás. Também Judas quando descrente das palavras de Jesus é chamado diabo, palavra grega equivalente ao hebraico satan, adversário.

O forte é pois o ego humano, antidivino, anticrístico.

E o mais forte?

Se o forte no homem é seu ego, o mais forte é seu Eu, sua alma. Para que a alma espiritual possa penetrar na casa do ego mental, é necessário que ela seja mais forte do que este; só assim o pode prender e apoderar-se dos seus haveres.

Este texto é pois um convite para auto-realização. Enquanto o homem está dominado pelo seu ego humano, o mais forte, o seu ser divino não pode penetrar nos domínios do ego poderoso.

É pois necessário que o Eu divino se fortaleça ao ponto de se igualar, ou até superar o poder do anticristo no homem.

Como fortalecer o Eu divino no homem? E por que fortalecê-lo se o Eu é Deus? Não basta revelá-lo? Não deveríamos antes falar em auto-revelação em vez de auto-realização?
É verdade que o Eu é Deus, é o Pai em nós, é o Cristo interno – e, apesar disto, deve todo homem realizar o seu Eu, o seu Deus, o seu Cristo.

Deus em sua transcendência, em sua essência, não pode ser realizado, porque é a própria realidade. Mas o Deus em sua imanência, em sua existencialidade humana, pode e deve ser realizado.

A tarefa do homem aqui na terra é realizar o seu Deus, que consiste no despertamento da consciência divina. Esta realização de Deus no homem não se faz a não ser por meio de resistência, de dificuldade e sofrimento. Assim como na física, a eletricidade só se revela como luz, calor e força, quando encontra resistência nos filamentos metálicos da lâmpada (luz), na passagem por um ferro cromado (calor) ou por um enrolamento no dínamo (força) – de modo análogo também na metafísica: o espírito de Deus individualizado em forma de alma, encarnou na matéria para se realizar pela resistência que encontra em luta com a matéria. Quando a alma é derrotada pela matéria, ela se extingue; mas, quando ela é vencedora da matéria, ela se realiza plenamente. Quanto maior a resistência (sofrimento) e quanto maior a superação da matéria, tanto mais se fortalece e realiza a alma. O mais forte derrota o forte.


À noite novamente retornaram os mortos, dizendo entre queixas: - Uma coisa mais devemos saber, pois esquecemos de discuti-la: ensina-nos a respeito do homem!

- O homem é um portal por meio do qual penetramos, do mundo exterior dos deuses, demônios e almas, no mundo interior; do mundo maior no mundo menor. Pequeno e insignificante é o homem; logo o deixamos para trás e assim entramos uma vez mais no espaço infinito, no microcosmo, na eternidade interior.

À imensurável distância cintila solitária uma estrela, no ponto mais alto do céu. Trata-se do único Deus desse solitário ser. É seu mundo, seu Pleroma, sua divindade.

Nesse mundo, o homem é Abraxas, que dá discernimento a seu próprio mundo e devora-o.
Essa estrela é o Deus do homem e seu destino.
Ela é sua divindade tutelar; nela o homem encontra o repouso.

A ela conduz a longa jornada da alma após a morte; nela reluzem todas as coisas que, de outro modo, poderiam afastar o homem do mundo maior, com o brilho de uma grande luz.

A esse Ser, o homem deveria orar.
Tal prece aumenta a luz da estrela.
Tal prece constrói uma ponte sobre a morte.
Ela aumenta a vida no microcosmo; quando o mundo exterior esfria, essa estrela ainda brilha.

Nada poderá separar o homem de seu Próprio Deus, se ele ao menos conseguir desviar o olhar do feérico espetáculo de Abraxas.

Homem aqui, Deus lá. Fraqueza e insignificância aqui, eterno poder criador lá. Aqui, há somente treva e frio úmido. Lá tudo é luz solar.
Tendo assim ouvido, os mortos silenciaram e elevaram-se como a fumaça da fogueira do pastor que guarda o seu rebanho à noite.

 

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