Way of the Serpent.
Trez ramos ascendentes, com trez ordens de subida em cada um. Ao todo são sete ordens, sendo trez angulares, seis externas, uma interna. Considerar isto.
Na ordem externa inferior esquerda, Ordo Solis, a congregação dos infiéis, a quem só o Sol, realidade externa, é visível, actual ou symbolicamente.
Na ordem externa inferior direita, Ordo Signi (Solis), a congregação dos fieis externos, que aceitam não propugnar senão certos princípios abstractos e christãos, cuja similhança com outros não vêem.
Na ordem interna-externa inferior, Ordo a congregação dos ingressos, sub modo, na O. de C.
Na ordem media esquerda, Ordo Serpentis, a congregação dos iniciados da O. Solis. Na ordem media direita, Ordo Sepulchri, a congregação dos in Na ordem media central (a occulta e sem exterior); Ordo Sebastica, a congregação Ordo Sanctissimorum.
(Esp. 53-80)
Way of the Serpent.
A Serpente, cujo olho direito é o sol em sua gloria...
as lagrimas alchymicas do Christo (a magua alchymica do Christo).
É preciso, quando se é Serpente, passar em Satan para chegar a Deus.
A Serpente, retida pela Vesica.... No vértice nada a retém...
Os Evangelhos Synopticos não são mais do que o Quarto Evangelho em processo de formação...
(Esp. 54A-1)
Way of the Serpent.
A Serpente, que, na ordem divina é o SS, na ordem espiritual direita e na esquerda é na ordem material direita Portugal.
A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a comprehensão intellectual da vacuidade d'ellas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ella ergue-se á Altura que é a sua origem e evita os logares por onde os homens passam. O entendimento de tudo, a fusão dos oppostos, a sciencia da indifferença do bem e do mal, a sciencia da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade, a egual ironia para com os sábios como para com os néscios. No seu culto adultaram os últimos maghos no seu nome adolesceram os primeiros.
_ S _
E R P
E N S
É ignóbil na terra porque não é da terra. É subtil porque está fora.
A tentação de Eva é a admissão da Intelligencia na Vida. O fructo prohibido é
Conto: «O Senhor das Sete Ordens», indicando exactamente o que se queria fazer.
(Esp. 54A-2)
Way of the Serpent.
Ella atravessa todos os mysterios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a illusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pôde deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como a pelle largada, deixa Saturno e Satan como pelle largada, as fôrmas que assume não são mais que pelles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ella, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou alli de fora.
O Caminho da Serpente.
Manuscripto por encontrar.
Foi a Cobra (Serpente) do Éden, mas só em sua pelle, e largou a pelle. Foi Saturno do Mundo, mas só em sua pelle, e largou a pelle. Foi Satan de Deus, mas só em sua pelle, e largou a pelle.
A sua fuga é o seu mysterio, e o seu caminho a chave de todos os mysterios. Mas ella não sabe nem do seu mysterio nem de todos os mysterios, porque conhece tudo, e conhecer é não existir.
(Esp. 54A-3)
A consciência transcende a unidade. É o ponto absoluto que só 'existe' porque para que qualquer cousa exista, tem elle que existir infinitamente nella. O ponto, sendo a negação do espaço é a vida d'elle.
Way of the Serpent.
No seu feitio de S (que, se se considerar fechado, é 8, e, deitado, egualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclue dois espaços, que rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo o mundo superior.) Em outra figuração serpentina — a da cobra em circulo, a bocca mordendo a cauda — reproduz-se, não o S, de que a letra é signal, mas o circulo, symbolo da terra, ou do mundo tal qual o temos. No feitio de S a Serpente evade-se das duas Realidades e desapparece dos Mundos e Universos.
A illusão é a substancia do mundo, e, segundo a Regra, tanto no mundo superior como no mundo inferior, no occulto como no patente. Assim, quando fugimos do mundo inferior, por elle ser illusorio, o mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos illusorio; é illusorio de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos abertos — ou os círculos «incompletos» — dos dois mundos foge á illusão e conhece o principio da verdade.
A magia e a alchimia teem ilusões como a sciencia e a sexualidade, que são as suas figurações no baixo mundo. Construimos ficções, com a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca determinado demônio, e vê apparecer materialmente esse demônio, pôde crer que esse demônio existe; mas não está provado que elle exista. Existe, porventura, só porque foi creado; e ser creado não é existir, no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser Deus — isto é, ter-se creado a si-mesmo; em outras palavras, não depender substancialmente de nada e de ninguém.
A G.O. é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do desfolhavel no morto, do perecível no perecido, para que nada pereça. A G.O., em outras palavras, é a creação de Deus.
A magia e a alchimia são caminhos de illusão. A verdade está só no instincto directo (representado nos symbolos pelos cornos) e na linha directa da sua ascenção ao instincto supremo; no instincto directo, cuja fôrma activa é a sexualidade, cuja fôrma intermedia é a imaginação, fantasia, ou creação pelo espirito, cuja fôrma final é a creação de Deus, a união com Deus, a identificação abstracta e absoluta comsigo mesmo, a verdade.
(Esp. 54A-4)
Way of the Serpent.
Sendo os números e as figuras os typos externos da ordem e destino do mundo, a mais simples operação arithmetica, algebrica ou geométrica, desde que seja bem feita, contém grandes revelações; e, sem precisão de mais signaes, na mathematica estão as chaves de todos os mysterios. Isto não quere dizer — o que seria absurdo — que todos os mathematicos conscientemente nos estão communicando os signaes de segredos, quando fazem os seus cálculos. Assim, não ha razão para suppor que Euclides, nos livros da sua Geometria, tenha tido outra especulação senão a geométrica; mas os livros de Euclides, da primeira proposição á ultima, são signaes reveladores, para quem os saiba ler. Nos próprios irracionaes da álgebra estão contidos grandes mysterios.
(Esp. 54A-5)
Way of the Serpent.
Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto, encontrará obstáculos incomprehensiveis e constantes. Se não fossem mais que os obstáculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou pela resistência directa, bem iria, e os próprios obstáculos seriam o clarim para o avanço. Mas encontrará outros — os obstáculos reles que vexam e vergam, os obstáculos suaves que adormecem e viciam, os obstáculos ternos que o farão, como Orpheu, volver o erro do olhar para o vedado Averno. Cercal-o-hão, não só resistências duras, como as que os penhascos erguem como tropeço, mas resistências brandas, como as memórias dos valles, e a dos lares nas faldas. E o triumpho consiste na força para, sabendo sentir essas attracções intensamente (pois não sabel-as sentir é não ter alma para a subida), as submeter á emoção superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra, saber submettel-as á vontade do espirito do mundo. Este processo de victoria, figuram-o os emblemadores no symbolo da Crucifixão da Rosa — ou seja no sacrifício da emoção do mundo (a Rosa, que é o circulo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é o Circulo) mas como producto do Espirito (que isso é a Cruz).
(Esp. 54A-6)
Way of the Serpent.
Há em tudo trez ordens de coisas: ha trez ordens de cousas no Ser, trez ordens de cousas no Universo, trez ordens de cousas no Mundo, e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada cousa consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro médio, outro alto. Tudo que se dá numa camada se reflecte e figura em outra. É este o principio Hermes Trismegistos na formula, «o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima». fundamental de toda a sciencia secreta, e assim o representou o
Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nascimento de um homem, ou no inicio de um emprehendimento, mostre, em suas relações e aspectos, o destino d'esse homem ou o curso d'esse emprehendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem ou o successo. Opera sobre elles um destino, e esse destino, que existe como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal successo de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, bem e mal. Digo bem porque, de facto, seguindo a leitura do horóscopo, posso prever esse successo pela previsão do aspecto de Saturno, que apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que materialmente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo material, que causa o successo.
Para os effeitos do mundo em que vivemos — não digo a terra, mas o conjunto de matéria animada que forma este universo — as coisas dividem-se em trez camadas — a material, a espiritual, e a divina. Entre ellas ha uma exacta correspondência. Cada uma, por sua vez, se divide em trez. A camada material divide-se na camada physica ou exterior, na camada magnética ou media, e na camada astral ou interior. A camada espiritual divide-se (incompleto)
(Esp. 54A-7)
Way of the Serpent.
Christo, que, na dispensação material é um deus christão, e na dispensação mágica um deus, é, na dispensação divina, Deus. Na primeira ordem podem ser-lhe dirigidas orações, que terão ou não effeito segundo as regras mágicas d'essas operações da fé. Na segunda ordem podem ser-lhe feitas invocações, como a Osiris, que é o mesmo deus, e o effeito derivar-se-ha da perfeição do incantamento e do rito. Na terceira ordem não poderão ser-lhe dirigidas orações nem invocações; o processo de união com Elle não pode ser indicado em palavras nem comprehendido com a intelligencia. Aquelle que, tendo chegado até onde esse processo existe como formula de relação, pôde assistir á revelação intima, só esse o saberá, se é que, no mesmo sabel-o, o souber.
(Esp. 54A-8)
Way of the Serpent.
Considerar todas as coisas como accidentes de uma illusão irracional, embora cada uma se apresente racional para si mesma — nisto reside o principio da sabedoria. Mas este principio da sabedoria não é mais que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do entendimento consiste no conhecimento d'essas coisas, na participação intima d'ellas. Temos que viver intimamente aquillo que repudiamos. Nada custa a quem não é capaz de sentir o Christianismo o repudiar o Christianismo; o que custa é repudial-o, como a tudo, depois de verdadeiramente o sentir, o viver, o ser. O que custa é repudial-o, ou saber repudial-o, não como fôrma da mentira, senão como fôrma da verdade. Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os acceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo — quando o homem se ergue a este pincaro, está livre, como em todos os pincaros, está só, como em todos os pincaros, está unido ao céu, a que nunca está unido, como em todos os pincaros.
A luz falsa da realidade, a luz falsa da ficção, a luz falsa da iniciação e do secreto — dia, crepúsculo, noite, que são ellas a quem contempla a Razão limpa, a Serpente colleante atravez de mais que os mundos?
A Serpente está acima das ordens e dos systemas, e, ainda que ascenda como o sentido d'elles, dispensa as linhas e os caminhos. O seu movimento, para a direita na ordem inferior das coisas e dos seres, é-o apenas para que possa ser para a esquerda na ordem superior d'elles. O que os homens não podem conseguir senão dominando-se, ou conjugando-se, ou impondo-se, consegue a Serpente sòsinha na sua liberdade. Para ella mandar é subordinar-se á idéia de mandar; livre e cauta, ella segue rasteira atravez do mundo, e do espirito, até que sahe do mundo e do espirito.
Ella liga os contrários verdadeiros, porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ella segue um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ella parte, como o caminho direito e o esquerdo, do Instincto para Deus, mas não sofre a quebra onde os triângulos se unem; não fôrma angulo comsigo mesma.
(Não a traçam os symbolos senão em O ou em S, limitando ou evitando o mundo.) Nem ascende sem quebra, como o caminho médio, do Instincto a Deus. Conhecendo que ha outros caminhos, que não o médio, ella reconhece-os, pois se desvia do médio, e repudia-os, pois não segue a nenhum d'elles. Ao sahir do vértice instinctivo, ao sahir para o vértice divino, ella roça a curva produzida da vesica involvente, e assim mostra que sabe d'ella; mas roça-a e passa-a, e não segue a sua curva nem a sua maneira. Ella assim se distingue de todos os modos e condições de Deus e dos Seres. Onde parece que é egual é differente, e os dois (por assim dizer) que a formam são oppostos em seu feitio e natureza. No baixo mundo ella é a lua crescente, no mundo superior a minguante...
Ella não conhece os mysterios mas os envolve, desvia-se dos caminhos e das iniciações; deixa a sciencia por onde passa; nega a magia, que atravessa; e quando chega a Deus não para.
(Esp. 54A-9)
The Way of the Serpent.
Só o contacto com qualquer coisa do Vértice, isto é, da Unidade, dá o poder completo, ou alguma cousa completa no poder, sobre nós e as cousas. Nos graus intermédios a força é muitas vezes confusão, e o conhecimento vertigem. É por vezes imprudente aventurar-se o espirito feliz em caminhos para que não tem bússola. Assim é que, sendo Lytton sem duvida um conhecedor de grandes segredos da ordem menor, isso o não privou de ser um péssimo escriptor; não houve magia que o fizesse mestre do próprio equilíbrio e dono da sua personalidade. Com ser iniciado, qualquer que fosse o modo em alguns dos mysterios do próprio Segundo Limiar, não conseguiu Robert Flood ser senão um expositor confuso e indigesto. Esta fallencia do dominio esthetico e superior — e a esthetica é a saliência da figuração divina, pois a belleza é a fôrma Divina em matéria — encontra-se freqüentemente em homens que são innegavelmente versados nos mysterios do mundo mágico.
Certo que estas considerações podem ser tomadas ao contrario: ha certas disposições intimas e próprias, que fazem com que o indivíduo seja chamado, e assim elle recebe o que nasceu para merecer. Por isto foi que Shakespeare, desde que a Grande Fraternidade o chamou a si sem lhe fallar, pôde adquirir aquelle commando de sua própria alma que o ergueu, como expressor, acima de todos os poetas do mundo; por isso é que este homem que não buscou, senão com a substancia intima do seu ser, entrou em mais intima (embora inconsciente) posse dos Segredos Maiores do que o buscador Flood ou o maçon Bacon.
Na «Tormenta» estão dados mais Íntimos mysterios que em todo Flood, e estão dados em belleza, porque teem o signal de Deus na Matéria, que é essa mesma belleza.
(Esp. 54A-10)
Way of the Serpent.
A disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem a figura do symbolo do Fogo, que é a Pyramide (de pyr, que em grego é Fogo). Quer dizer, as Ordens das cousas são Um em cima, Dois a meio, e Trez em baixo. São um em cima, porque o vértice é um ponto; são trez em baixo porque a pyramide real tem trez faces, cada uma composta de um triângulo equilatero; são dois em meio porque, embora nada em meio seja materialmente, ou numericamente, dois, é dois todavia o que está entre Um e Trez.
E assim é que os trez graus de significação — o actual ou material, o mágico, e o divino — conteem respectivamente trez, duas, e uma ordem, havendo duas pontes, transeptos ou passagens, entre a ordem material e a mágica, e a ordem mágica e a divina.
(Esp. 54A-11)
Way of the Serpent.
O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está, até, fora das leis (rectilineas) dos mundos e de Deus. O caracter maldito, o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Opposição ao Universo—profundo e obscuro Mysterio Magno. Ella é o Spirito que Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se entende ou se pôde entender. Nega o bem no seu baixo nivel, em que é só Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nivel, em que é nega o bem e o mal no seu terceiro nivel, em que é Satan; nega a verdade e o erro no seu quarto nivel, em que é Lucifer; (ou Venus); nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nivel, e fuga, em que é SS, a Revelação Suprema. e a si mesma se tenta e se mata.
Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilineos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial, que pôde exprimir-se, poeticamente, na phrase de que Deus é o cadáver de si-mesmo; a descoberta do Triângulo Mystico em que os trez vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e atravez de Deus Morto.
(Esp. 54A-12)
Way of the Serpent.
No seu feitio de S (que, se se considerar fechado, é 8, e, deitado, egualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclue dois espaços, que rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo o mundo superior.) Em outra figuração serpentina — a da cobra em circulo, a bocca mordendo a cauda — reproduz-se, não o S, de que a letra é signal, mas o circulo, symbolo da terra, ou do mundo tal qual o temos. No feitio de S a Serpente evade-se das duas Realidades e desapparece dos Mundos e Universos.
A illusão é a substancia do mundo, e, segundo a Regra, tanto no mundo superior como no mundo inferior, no occulto como no patente. Assim, quando fugimos do mundo inferior, por elle ser illusorio, o mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos illusorio; é illusorio de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos abertos — ou os círculos «incompletos» — dos dois mundos foge á illusão e conhece o principio da verdade.
A magia e a alchimia teem ilusões como a sciencia e a sexualidade, que são as suas figurações no baixo mundo. Construimos ficções, com a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca determinado demônio, e vê apparecer materialmente esse demônio, pôde crer que esse demônio existe; mas não está provado que elle exista. Existe, porventura, só porque foi creado; e ser creado não é existir, no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser Deus — isto é, ter-se creado a si-mesmo; em outras palavras, não depender substancialmente de nada e de ninguém.
A G.O. é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do desfolhavel no morto, do perecível no perecido, para que nada pereça. A G.O., em outras palavras, é a creação de Deus.
A magia e a alchimia são caminhos de illusão. A verdade está só no instincto directo (representado nos symbolos pelos cornos) e na linha directa da sua ascenção ao instincto supremo; no instincto directo, cuja fôrma activa é a sexualidade, cuja fôrma intermedia é a imaginação, fantasia, ou creação pelo espirito, cuja fôrma final é a creação de Deus, a união com Deus, a identificação abstracta e absoluta comsigo mesmo, a verdade.
(Esp. 54A-4)
Way of the Serpent.
Sendo os números e as figuras os typos externos da ordem e destino do mundo, a mais simples operação arithmetica, algebrica ou geométrica, desde que seja bem feita, contém grandes revelações; e, sem precisão de mais signaes, na mathematica estão as chaves de todos os mysterios. Isto não quere dizer — o que seria absurdo — que todos os mathematicos conscientemente nos estão communicando os signaes de segredos, quando fazem os seus cálculos. Assim, não ha razão para suppor que Euclides, nos livros da sua Geometria, tenha tido outra especulação senão a geométrica; mas os livros de Euclides, da primeira proposição á ultima, são signaes reveladores, para quem os saiba ler. Nos próprios irracionaes da álgebra estão contidos grandes mysterios.
(Esp. 54A-5)
Way of the Serpent.
Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto, encontrará obstáculos incomprehensiveis e constantes. Se não fossem mais que os obstáculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou pela resistência directa, bem iria, e os próprios obstáculos seriam o clarim para o avanço. Mas encontrará outros — os obstáculos reles que vexam e vergam, os obstáculos suaves que adormecem e viciam, os obstáculos ternos que o farão, como Orpheu, volver o erro do olhar para o vedado Averno. Cercal-o-hão, não só resistências duras, como as que os penhascos erguem como tropeço, mas resistências brandas, como as memórias dos valles, e a dos lares nas faldas. E o triumpho consiste na força para, sabendo sentir essas attracções intensamente (pois não sabel-as sentir é não ter alma para a subida), as submeter á emoção superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra, saber submettel-as á vontade do espirito do mundo. Este processo de victoria, figuram-o os emblemadores no symbolo da Crucifixão da Rosa — ou seja no sacrifício da emoção do mundo (a Rosa, que é o circulo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é o Circulo) mas como producto do Espirito (que isso é a Cruz).
(Esp. 54A-6)
Way of the Serpent.
Há em tudo trez ordens de coisas: ha trez ordens de cousas no Ser, trez ordens de cousas no Universo, trez ordens de cousas no Mundo, e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada cousa consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro médio, outro alto. Tudo que se dá numa camada se reflecte e figura em outra. É este o principio Hermes Trismegistos na formula, «o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima». fundamental de toda a sciencia secreta, e assim o representou o
Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nascimento de um homem, ou no inicio de um emprehendimento, mostre, em suas relações e aspectos, o destino d'esse homem ou o curso d'esse emprehendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem ou o successo. Opera sobre elles um destino, e esse destino, que existe como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal successo de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, bem e mal. Digo bem porque, de facto, seguindo a leitura do horóscopo, posso prever esse successo pela previsão do aspecto de Saturno, que apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que materialmente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo material, que causa o successo.
Para os effeitos do mundo em que vivemos — não digo a terra, mas o conjunto de matéria animada que forma este universo — as coisas dividem-se em trez camadas — a material, a espiritual, e a divina. Entre ellas ha uma exacta correspondência. Cada uma, por sua vez, se divide em trez. A camada material divide-se na camada physica ou exterior, na camada magnética ou media, e na camada astral ou interior. A camada espiritual divide-se (incompleto)
(Esp. 54A-7)
Way of the Serpent.
Christo, que, na dispensação material é um deus christão, e na dispensação mágica um deus, é, na dispensação divina, Deus. Na primeira ordem podem ser-lhe dirigidas orações, que terão ou não effeito segundo as regras mágicas d'essas operações da fé. Na segunda ordem podem ser-lhe feitas invocações, como a Osiris, que é o mesmo deus, e o effeito derivar-se-ha da perfeição do incantamento e do rito. Na terceira ordem não poderão ser-lhe dirigidas orações nem invocações; o processo de união com Elle não pode ser indicado em palavras nem comprehendido com a intelligencia. Aquelle que, tendo chegado até onde esse processo existe como formula de relação, pôde assistir á revelação intima, só esse o saberá, se é que, no mesmo sabel-o, o souber.
(Esp. 54A-8)
Way of the Serpent.
Considerar todas as coisas como accidentes de uma illusão irracional, embora cada uma se apresente racional para si mesma — nisto reside o principio da sabedoria. Mas este principio da sabedoria não é mais que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do entendimento consiste no conhecimento d'essas coisas, na participação intima d'ellas. Temos que viver intimamente aquillo que repudiamos. Nada custa a quem não é capaz de sentir o Christianismo o repudiar o Christianismo; o que custa é repudial-o, como a tudo, depois de verdadeiramente o sentir, o viver, o ser. O que custa é repudial-o, ou saber repudial-o, não como fôrma da mentira, senão como fôrma da verdade. Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os acceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo — quando o homem se ergue a este pincaro, está livre, como em todos os pincaros, está só, como em todos os pincaros, está unido ao céu, a que nunca está unido, como em todos os pincaros.
A luz falsa da realidade, a luz falsa da ficção, a luz falsa da iniciação e do secreto — dia, crepúsculo, noite, que são ellas a quem contempla a Razão limpa, a Serpente colleante atravez de mais que os mundos?
A Serpente está acima das ordens e dos systemas, e, ainda que ascenda como o sentido d'elles, dispensa as linhas e os caminhos. O seu movimento, para a direita na ordem inferior das coisas e dos seres, é-o apenas para que possa ser para a esquerda na ordem superior d'elles. O que os homens não podem conseguir senão dominando-se, ou conjugando-se, ou impondo-se, consegue a Serpente sòsinha na sua liberdade. Para ella mandar é subordinar-se á idéia de mandar; livre e cauta, ella segue rasteira atravez do mundo, e do espirito, até que sahe do mundo e do espirito.
Ella liga os contrários verdadeiros, porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ella segue um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ella parte, como o caminho direito e o esquerdo, do Instincto para Deus, mas não sofre a quebra onde os triângulos se unem; não fôrma angulo comsigo mesma.
(Não a traçam os symbolos senão em O ou em S, limitando ou evitando o mundo.) Nem ascende sem quebra, como o caminho médio, do Instincto a Deus. Conhecendo que ha outros caminhos, que não o médio, ella reconhece-os, pois se desvia do médio, e repudia-os, pois não segue a nenhum d'elles. Ao sahir do vértice instinctivo, ao sahir para o vértice divino, ella roça a curva produzida da vesica involvente, e assim mostra que sabe d'ella; mas roça-a e passa-a, e não segue a sua curva nem a sua maneira. Ella assim se distingue de todos os modos e condições de Deus e dos Seres. Onde parece que é egual é differente, e os dois (por assim dizer) que a formam são oppostos em seu feitio e natureza. No baixo mundo ella é a lua crescente, no mundo superior a minguante...
Ella não conhece os mysterios mas os envolve, desvia-se dos caminhos e das iniciações; deixa a sciencia por onde passa; nega a magia, que atravessa; e quando chega a Deus não para.
(Esp. 54A-9)
The Way of the Serpent.
Só o contacto com qualquer coisa do Vértice, isto é, da Unidade, dá o poder completo, ou alguma cousa completa no poder, sobre nós e as cousas. Nos graus intermédios a força é muitas vezes confusão, e o conhecimento vertigem. É por vezes imprudente aventurar-se o espirito feliz em caminhos para que não tem bússola. Assim é que, sendo Lytton sem duvida um conhecedor de grandes segredos da ordem menor, isso o não privou de ser um péssimo escriptor; não houve magia que o fizesse mestre do próprio equilíbrio e dono da sua personalidade. Com ser iniciado, qualquer que fosse o modo em alguns dos mysterios do próprio Segundo Limiar, não conseguiu Robert Flood ser senão um expositor confuso e indigesto. Esta fallencia do dominio esthetico e superior — e a esthetica é a saliência da figuração divina, pois a belleza é a fôrma Divina em matéria — encontra-se freqüentemente em homens que são innegavelmente versados nos mysterios do mundo mágico.
Certo que estas considerações podem ser tomadas ao contrario: ha certas disposições intimas e próprias, que fazem com que o indivíduo seja chamado, e assim elle recebe o que nasceu para merecer. Por isto foi que Shakespeare, desde que a Grande Fraternidade o chamou a si sem lhe fallar, pôde adquirir aquelle commando de sua própria alma que o ergueu, como expressor, acima de todos os poetas do mundo; por isso é que este homem que não buscou, senão com a substancia intima do seu ser, entrou em mais intima (embora inconsciente) posse dos Segredos Maiores do que o buscador Flood ou o maçon Bacon.
Na «Tormenta» estão dados mais Íntimos mysterios que em todo Flood, e estão dados em belleza, porque teem o signal de Deus na Matéria, que é essa mesma belleza.
(Esp. 54A-10)
Way of the Serpent.
A disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem a figura do symbolo do Fogo, que é a Pyramide (de pyr, que em grego é Fogo). Quer dizer, as Ordens das cousas são Um em cima, Dois a meio, e Trez em baixo. São um em cima, porque o vértice é um ponto; são trez em baixo porque a pyramide real tem trez faces, cada uma composta de um triângulo equilatero; são dois em meio porque, embora nada em meio seja materialmente, ou numericamente, dois, é dois todavia o que está entre Um e Trez.
E assim é que os trez graus de significação — o actual ou material, o mágico, e o divino — conteem respectivamente trez, duas, e uma ordem, havendo duas pontes, transeptos ou passagens, entre a ordem material e a mágica, e a ordem mágica e a divina.
(Esp. 54A-11)
Way of the Serpent.
O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está, até, fora das leis (rectilineas) dos mundos e de Deus. O caracter maldito, o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Opposição ao Universo—profundo e obscuro Mysterio Magno. Ella é o Spirito que Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se entende ou se pôde entender. Nega o bem no seu baixo nivel, em que é só Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nivel, em que é nega o bem e o mal no seu terceiro nivel, em que é Satan; nega a verdade e o erro no seu quarto nivel, em que é Lucifer; (ou Venus); nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nivel, e fuga, em que é SS, a Revelação Suprema. e a si mesma se tenta e se mata.
Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilineos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial, que pôde exprimir-se, poeticamente, na phrase de que Deus é o cadáver de si-mesmo; a descoberta do Triângulo Mystico em que os trez vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e atravez de Deus Morto.
(Esp. 54A-12)
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