7 de nov. de 2012

Reino do Céu


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3 - Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: vê, o Reino está no céu, então os pássaros vos precederão. Se vos disserem: ele está no mar, então os peixes vos precederão. Mas o reino está dentro de vós e está fora de vós. Se vos reconhecerdes, então sereis reconhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se vos não reconhecerdes, então estareis na pobreza, sereis a pobreza.

Se o Reino é algo no mundo das quantidades, então o homem tem de alcançar esse Reino no tempo e no espaço das quantidades. Mas, se o Reino é qualidade, então o homem deve despertar em si esse Reino, que é como uma luz sob o velador, como um tesouro oculto, como uma pérola no fundo do mar. O advento do Reino é o despertamento da Realidade do Eu divino dentro de todas as facticidades humanas. E, se esse Reino, que é a luz do mundo, despertar no homem, iluminará todos os setores da vida humana, porque será como uma luz no alto do candelabro, beneficiando todos os que estão na casa.

A mística divina atuará em forma de ética humana; o despertamento da consciência divina transbordará como vivência humana. O Reino de dentro será necessariamente o Reino de fora.


Auto-conhecimento é a raiz de toda a auto-realização. Onde falta a raiz vertical não podem expandir-se os ramos horizontais.


O agir ético é uma consequência inevitável do ser místico.



 

6 de nov. de 2012

Reforma Íntima


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2 - Quem procura, não cesse de procurar até achar; e, quando achar, será estupefato; e, quando estupefato, ficará maravilhado – e então terá domínio sobre o Universo.

Repetidas vezes, nos quatro Evangelhos, Jesus insiste: “Procurai, e achareis...”. Também em outros documentos encontramos a insistência no procurar: “Quem procura não desista até que ache, e, depois de achar ficará estupefato, e, maravilhado, achará o Reino, e, depois de achá-lo, terá domínio sobre o Universo”.

A vida do ego humano é como a periferia de uma roda girante: quanto mais no exterior, tanto maior é o movimento e menor a força; mas, quando o homem entra no eixo da roda, cessa o movimento, porque no centro há força sem movimento, energia tranquila. Na periferia há quantidade no tempo e no espaço; no centro há qualidade no Eterno e no Infinito. Vida empírico-analítica lá fora – vida intuitiva cá dentro.

Procurar rumo à periferia acaba em morte. Procurar rumo ao centro leva à vida. E esse procurar se torna tanto mais intenso quanto mais o homem se aproxima do centro. Ele sofre e goza a sua procura. Tanto mais procura quanto mais acha. Só quando possui totalmente, deixa de sofrer. Mas, enquanto não atingir o centro de si mesmo, o eixo central do seu Ser, admira-se de que procurar a verdade seja um misto de gozo e sofrimento. Entretanto, esse homem prefere gozar sofrendo a gozar gozando, porque sente que este é o caminho certo.

Se o homem não fosse potencialmente Deus, não poderia atualmente encontrar Deus. O Homem só pode procurar explicitamente o que ele é implicitamente. “Se o olho não fosse solar, jamais poderia ver o sol”. (Goethe).

São Jerônimo cita uma palavra de Jesus, talvez tirada do Evangelho de Tomé: “Há uma estupefação que leva à morte – e há uma estupefação que leva à vida”.

O homem sempre satisfeito consigo, ou ainda não soletrou o abc do seu ego, ou já ultrapassou esse ego e repousa no Eu. A transição do ego para o Eu é envolta em estupefação e admiração, porque vai em demanda de um novo mundo desconhecido. Mas, uma vez que o homem entrou nesse mundo desconhecido de Deus, terá domínio sobre o Universo.

5 de nov. de 2012

Vida e Morte

 
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A recente descoberta do Evangelho de Tomé, precisamente em nosso tempo, foi um acontecimento singularmente providencial e sumamente oportuno.

Nunca esteve a humanidade ocidental tão ansiosa de auto-redenção como em nossos dias – e este Evangelho proclama a imperiosa necessidade de auto-conhecimento, que é o fundamento da auto-realização ou auto-redenção.

Os teólogos antigos falam em salvação, no sentido de uma alo-redenção, de uma salvação de fora do homem –  mas essas teologias estão em declínio, ao passo que a auto-redenção do Evangelho está numa gloriosa ascensão. Também os quatro Evangelhos segundo, Mateus, Marcos, Lucas e João, proclamam a verdade central da auto-redenção pela consciência e pela vivência do Cristo interno, a redenção pela mística e pela ética. Mas, em face do estado primitivo da humanidade, as teologias deram excessiva importância a diversos tipos de alo-redenção: 1) redenção por meio de objetos e fórmulas sacras, 2) redenção pelo sangue de um homem inocente.  Essa ideologia pagã-judaica de alo-redenção por fatores alheios e externos está sendo superada. Na alvorada do terceiro milênio, a elite espiritual da cristandade está despertando para a verdade central da mensagem do Cristo: a redenção do homem pelo Deus imanente, pelo Cristo interno, pelo divino autós da sua alma divina. No Evangelho do Cristo só consta a redenção ou realização do homem pela mística do primeiro e maior de todos os mandamentos, revelada pela ética do segundo mandamento; e nestes dois mandamentos se baseiam toda a lei e os profetas, a quintessência do Cristianismo. 

A redenção, segundo o Evangelho, está na consciência da paternidade única de Deus manifestada na vivência da fraternidade universal dos homens. A elite espiritual da cristandade do nosso tempo está redescobrindo esse tesouro oculto da mensagem do Cristo. O Cristianismo está proclamando a sua autonomia crística sobre a heteronomia de contágios alheios, que retardaram a sua evolução bi-milenar. Didymos Thomas não se cansa de frisar essa auto-redenção do homem pelo despertamento do Deus imanente. As crenças teológicas dos homens estão cedendo lugar à experiência crística de Deus.

Tomé, outrora o descrente no meio de crentes, revela-se hoje o pioneiro dos experientes para os inexperientes desejosos de experiência própria sobre o mistério de Deus no homem. No Evangelho de Tomé não aparece o menor indício de uma hierarquia eclesiástica nem hegemonia clerical. O Cristianismo primevo era uma fraternidade espiritual, uma espécie de democracia crística, e não uma monocracia hierárquica. Nada consta de uma primazia de Pedro; pelo contrário, Simão Pedro aparece numa luz assaz desfavorável, sobretudo no último capítulo 114, onde ele revela estranho pensar anti-feminista. No Evangelho de Tomé não há referência à transubstanciação nem ao poder de perdoar pecados conferido por Jesus aos seus discípulos. Tudo visa unicamente o despertamento do poder espiritual no homem.

 Os comentários aos 114 textos são exclusivamente nossos, que, em face do caráter misterioso do texto, comportam explicações várias, consoante a intuição espiritual dos leitores.

1 –  Quem descobrir o sentido destas palavras, não provará a morte.

Esta primeira palavra de Jesus referida por Tomé, logo revela o caráter místico do seu Evangelho. Os livros sacros usam a palavra “morte” tanto em sentido físico como metafísico; e aqui “morte” quer dizer a permanência no plano do ego humano, ignorando o Eu divino do homem; porquanto nenhum homem se imortaliza pela mentalização do seu ego, mas tão-somente pela transmentalização rumo a seu Eu, ao seu Atman, à sua Alma, que é o espírito de Deus em forma individual.

Já no livro do Gênesis, a palavra “morte” é usada em sentido metafísico, quando os Elohim, as potências divinas, dizem a Adão: “Se comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (do ego), logo morrerás”. Adão comeu desse fruto e viveu ainda diversos séculos. O texto não se refere à morte do corpo físico, mas sim à morte pelo ego mental: O homem, pelo despertamento da ego-consciência,  permanece no plano da mortalidade.

Somente subindo ao plano superior da “árvore da vida” é que ele entrará na  imortalidade. O homem pode mortalizar-se, e pode também imortalizar-se. A serpente do Gênesis simboliza o ego mortal, o poder que esmagará a cabeçada serpente representa o Eu imortal. Esse processo evolutivo do ego-mortal para o Eu-imortal, vai através de todos os livros sacros. O próprio Cristo se identifica com o Eu-imortal quando se compara à “serpente erguida às alturas”,  que preserva da morte os que haviam sido mordidos pelas serpentes rastejantes do ego humano. Na Filosofia Oriental, aparece a palavra kundalini , cujo radical kundala, significa serpente, símbolo da energia cósmica. A kundalini  dormente no chackra inferior da coluna vertebral representa o subconsciente do homem primitivo; quando ela desperta e rasteja horizontalmente, entra o homem na zona do ego-consciente; e, quando kundalini se verticaliza e atinge as alturas, então entra o homem no mundo do cosmo-consciente, onde ele se imortaliza. O homem é potencialmente imortal, ou imortalizável, mas não é atualmente imortal; se assim fosse, não poderia sucumbir à morte metafísica. 

A imortalização, ou imortalidade atual, é a conquista suprema da consciênciacosmo- crística do homem. Nesse sentido afirma o Evangelho: “A tal ponto amou Deus o mundo que lhe enviou seu filho unigênito, para que todos aqueles que com ele tenham fidelidade não pereçam, mas tenham a vida eterna”.

Também a história do filho pródigo usa a palavra “morto” em sentido  metafísico: O pai daquele jovem diz que seu filho estava morto e reviveu, estava no ego e passou para o Eu. E toda a subsequente alegria e solenidade só se compreende quando se sabe que simboliza a apoteose de um ser humano que se auto-realizou, passando da ego-consciência mortal para a Eu-consciência imortal. Também no caso do discípulo que queria sepultar seu pai antes de atender ao convite de Jesus, o Mestre usa a palavra “morte” em dois sentidos, físico e metafísico: “Deixa os (espiritualmente) mortos sepultar os seus (fisicamente) mortos”.

O Credo Apostólico afirma que o Cristo julgará os vivos e os mortos, isto é, os que vivem na cosmo-consciência e os que ainda rastejam na ego-consciência. Tomé refere as palavras do Cristo divino proferidas através do veículo da  personalidade humana de Jesus: “Quem descobrir o sentido destas palavras não provará a morte”, quem compreender pela intuição o sentido profundo das palavras deste Evangelho, esse não ficará no plano do ego humano, mas se imortalizará pela consciência do Eu divino. Compreender não é inteligir, entender, mas é saber ou saborear com todas as potências do espírito. Essa sapiência, ou saboreamento espiritual, só acontece ao homem quando ele se abre rumo ao Infinito em cosmo-meditação, em Cristo-conscientização. A verdadeira meditação é uma invasão Cristo-cósmica na alma do homem. Enquanto o homem é ego-pensante, nada de grande lhe acontece; mas, quando ele se torna cosmo-pensado, cosmo-agido, cosmo-vivido, então lhe acontece a invasão cósmica do espírito de Deus, que resolve todos os problemas da vida terrestre e introduz o homem na vida verdadeira. Nesta primeira palavra do seu Evangelho, Tomé já antecipa uma verdadeira síntese de todas as verdades seguintes. E, à luz dessa intuição mística, indigitou ele o caráter fundamental da sua mensagem. A tal ponto Tomé descreu no princípio que, por fim, ultrapassou todo o descrer e também todo o crer e atingiu as culminâncias de um saber e saborear crístico.

 

3 de nov. de 2012

O Quinto Evangelho (Introdução)

Por Huberto Rohden


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“Se não lhe vir nas mãos à marca dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos, e não lhe introduzir a mão no lado, não acreditarei absolutamente.” Esta dúvida assinala a fugaz passagem do apóstolo Tomé pelos evangelhos. Exigiu prova empírico-analítica: meter o dedo no lugar transpassado pelos cravos e enfiar toda a mão no lugar por onde a lança entrou. Quer fazer como o cego que, às vezes, é menos enganado que os que enxergam."

A exigência de Tomé transformou-o num dos homens mais famosos de todos os tempos.

Quando Jesus voltou ao Cenáculo, procurou Tomé com o olhar. Viera por causa dele, por causa dele somente, porque lhe dedicava um amor maior que todas as negações. Chama-o pelo nome e aproximando-se dele, diz:

- “Chega aqui teu dedo e vê minhas mãos; vem com tua mão e mete-a em meu lado; e não sejas incrédulo, mas tem fé”.
Tomé não obedece. Não ousa tocar com o dedo a chaga e, com a mão, a ferida. Estupefato, prostra-se aos pés de Jesus e brada:
- “Meu Senhor e meu Deus”.

Por estas palavras, semelhantes a uma simples saudação, confessa Tomé a sua derrota. Derrota essa mais bela que qualquer vitória.

Quase dois milênios se passaram desde essa cena. Agora, em plena era atômica e cosmonáutica, no início da era de aquário, surge Tomé como um fogo a iluminar a treva de nosso coração e a demolir a montanha de nossa incredulidade.

Em 1945, num antigo cemitério de Nag Hammadi, no alto Egito, potes de barro, contendo doze manuscritos em caracteres coptas, colocaram novamente Tomé no centro do cenário do cristianismo.

Agora, está sendo anunciado ao mundo perplexo, que o texto copta seria, na realidade, o QUINTO EVANGELHO, tão insistentemente referido pela tradição oral do cristianismo.

Este evangelho segundo Tomé não trata da vida histórica de Jesus.

São 114 sentenças profundamente metafísicas. Tomé abre seu evangelho com a afirmação: “Estas são as palavras secretas de Jesus, o Vivo, que foram escritas por Didymos Thomas”. (A palavra aramáica “Thomas” quer dizer “gêmeo”,  em grego “Didy mos”).

As “palavras secretas são ensinamentos esotéricos de Jesus, proferidas, não para as massas populares, mas para um seleto grupo de discípulos escolhida do divino Mestre, capazes de compreender o sentido místico de certas verdades profundas”.

Também pelos outros Evangelhos consta que Jesus disse a seus discípulos: “A vós é dado compreender os mistérios do Reino de Deus, enquanto ao povo só lhe falo em parábolas”.

 
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