28 de abr. de 2012

A Gnosis de Roger Waters

Um texto de Giordano Cimadon -  Sociedade Gnóstica

Há algum tempo vimos insistindo que a Gnosis não é propriedade intelectual de qualquer um, seja mestre, discípulo ou leigo, que a tenha experimentado e comunicado na forma de alegorias ou doutrinas. Pelo contrário, a Gnosis corresponde à uma experiência mística única e transcendente de lembrança e reconhecimento de uma identidade divina original.

Desta forma, qualquer um que experimente a Gnosis em sua intimidade espiritual, se assim desejar, pode comunicá-la com o instrumental simbólico de que dispõe, dando origem a uma mitologia particular e exclusiva, mas que em essência está conectada com a jornada de todas as essências espirituais que num momento perdido no tempo desprenderam do absoluto e hoje estão condenadas à existência humana.

Mesmo que alguns resistam à ideia, aqueles que já viveram a experiência da Gnosis jamais deixariam de reconhecer que uma destas mitologias gnósticas particulares é a ópera rock The Wall, idealizada por Roger Waters, um dos fundadores e líder da banda britânica de rock progressivo Pink Floyd, conhecida mundialmente por suas letras filosóficas e sua música psicodélica.
 
Em síntese, The Wall fala sobre a angústia vivida pelo personagem Pink, que não consegue lidar com os fatores que o oprimem desde a infância e acaba se isolando atrás de um muro metafórico. As músicas narram os episódios de sua vida física e psíquica, dos tormentos sofridos pela ausência do pai, a sufocação de uma mãe protetora e da opressão sofrida na escola por professores tirânicos. Estas vivências se tornam tijolos que vão formar o muro de seu isolamento.
 
The Wall foi convertido em um filme que por vezes é considerado um mega videoclipe, mas qua a maioria considera uma animação musical. Foi produzido no ano de 1982 pelo diretor britânico Alan Parker, baseado no álbum The Wall, da banda Pink Floyd. O roteiro foi escrito pelo vocalista e baixista da banda, Roger Waters, e possui poucos diálogos, sendo mais metafórico e movido pelas músicas de fundo sendo interpretadas e sequências de animação.

No filme de Alan Parker, o personagem central acaba se tornando uma estrela do rock, e seus relacionamentos são marcados pela infidelidade, pelo abuso de drogas e por rompantes de violência. A ruína de seu casamento é o elemento que completa a construção do muro. Ali dentro, escondido, Pink se refugia num mundo de fantasia que cria para si, onde se transforma num ditador ao estilo fascista, que ordena a perseguição daqueles que são considerados diferentes e indignos.
 
Depois de muitos abusos, Pink se arrepende e se submete a um julgamento, onde é acusado de mostrar seus sentimentos humanos. Ele enfrenta os três personagens que causaram a construção do muro: o professor tirano, a esposa superexigente e vingativa que o acusa de abandono para justificar sua infidelidade e a mãe excessivamente protetora. No fim, ele é condenado, e seu juiz interior ordena a destruição do mundo.

Sem dúvida, The Wall é uma impressionante e profunda metáfora do isolamento humano provocado pela a submissão do indivíduo às rígidas estruturas sociais formadas pelas instituições religiosas, pelas forças militares e pelo complexo educacional, que dificultam relacionamentos baseados na autenticidade e causam embotamento emocional. Além disso, a biografia de Waters e algumas de suas experiências desagradáveis com um antigo membro da banda e com um fã canadense serviram de inspiração para a história.
Não é nossa intenção reduzir esta complexa mistura de experiências a uma revelação mística traduzida através de elementos traumáticos e psicodélicos, mas sim ressaltar os aspectos presentes em The Wall que narram a epopeia gnóstica da alma desde o seu desprendimento de sua fonte primária, passando pelo tormento da prisão existencial até o seu retorno apoteótico à origem mediante a resignificação de suas próprias experiências.

Em síntese, a mitologia gnóstica que descreve a jornada da alma consiste na existência de uma fonte primária espiritual, chamada em algumas correntes gnósticas de Absoluto, de onde foram emanadas as essências espirituais, chamadas Eons. Um destes Eons, chamado Demiurgo, construiu um mundo material semelhante ao mundo espiritual, mas falho, cheio de regras e de mecanicidade, e marcado pela impermanência. Neste mundo vieram parar as essências emanadas do Absoluto, na mitologia representadas por Sophia, que aqui chega e fica aprisionada, padecendo de múltiplos sofrimentos, até resolver se arrepender e retornar à sua origem.

Para os gnósticos, o mundo criado pelo Demiurgo é o nosso mundo material e finito, um ambiente falho e ilusório. Contudo, o Absoluto precisa deste mundo demiúrgico pois é somente através dele que as essências espirituais serão capazes de alcançar o conhecimento de si mesmas, fenômeno este que é chamado de Gnosis. Uma vez conciliadas em corpos materiais, estas essências sofrem, choram, riem e brincam, e em todas estas experiências humanas existe a oportunidade de alcançar a Gnosis.

Mas esta humanidade que as essências espirituais adquirem fica registrada como memória e acaba formando uma espécie de identidade, que é chamada de Ego. À princípio, este Ego é criado como uma forma da alma se proteger da angústia que sente por estar longe do Absoluto. Mas, logo o Ego se mostra inútil para este fim, e se converte em um grande obstáculo para a lembrança da unidade transcendente e uma grande fonte de novos sofrimentos.

Esta breve descrição mitológica possui elementos que são identificáveis em The Wall, mesmo que Roger Waters nunca tenha se declarado gnóstico, pois a mitologia gnóstica é conta a história da alma, não importa em qual corpo ela esteja encarnada.

E o primeiro, e talvez mais evidente, elemento gnóstico presente em The Wall é o sentimento da ausência paterna, retratado logo pela primeira música, intitulada In The Flesh (Em Carne e Osso), e que se apresenta como resultado da emanação da alma da fonte primária absoluta e espiritual e a sua consequente encarnação, que é o mesmo que entrar na carne.

Nesta primeira canção, Roger Waters apresenta o drama da alma que, sob a ótica gnóstica, desejava separar-se da luz e fazer-se de carne e osso para experimentar um espetáculo de múltiplas sensações oferecidas pela criação, mas que aqui chegando se deu conta de que cometeu um engano ao perseguir uma ilusão, e encontrou apenas a sensação esquiva de felicidade e a frieza da matéria:
So ya’… Thought ya’… Might like to… Go to the show… To feel… The warm thrill of confusion… That space cadet glow… Tell me is something eluding you sunshine?… Is this not what you expected to see?… If you wanna’ find out what’s behind these cold eyes… You’ll just have to claw your way through this disguise!… ”Lights! Turn on the sound effects! Action!”… ”Drop it, drop it on ‘em! Drop it on them!” (In The Flesh)
Então você… achou que… poderia gostar de… ir ao espetáculo… Para sentir… A excitação calorosa da confusão… Aquele jovem brilho espacial… Diga-me… Tem algo o iludindo querido (luz do sol)?… Não era isso o que você esperava ver?… Se você quiser encontrar o que esta por trás deste olhos frios… Você terá de atravessar com dificuldades este disfarce!… “Luzes! Ligue os efeitos sonoros! Ação!”… “Solte, solte-os sobre eles! Solte-os sobre eles!” (Em Carne e Osso)
A alma é chamada de jovem brilho espacial e de luz do sol, algo muito significativo, pois para os gnósticos a alma é um raio proveniente das profundezas da luz cósmica universal que concilia a si mesma no universo material. Para Waters, a criação e a matéria são um disfarce que oculta um mistério, que é a própria alma, e que ela mesma será capaz de encontrar somente depois de muitos esforços.

E é aqui que entra em cena o segundo elemento gnóstico, agora representado pelas canções seguintes, tratando da angústia experimentada por Pink – a alma – ao sentir-se oprimido pela estrutura social – o mundo material. De início, a segunda música, intitulada Thin Ice (Gelo Fino), narra a dificuldade de viver nesta estrutura, e a perspectiva sempre presente de retorno ao abismo espiritual, que implicaria numa saída de si mesmo.
Momma loves her baby… And Daddy loves he too… And the sea may look warm to you Babe… And the sky may look blue (…) If you should go skating… On the thin ice of modern life… Dragging behind you the silent reproach… Of a million tear stained eyes… Don’t be surprised, when a crack in the ice… Appears under your feet… You slip out of your depth and out of your mind… With your fear flowing out behind you… As you claw the thin ice. (Thin Ice)
Mamãe ama o seu filho… E papai também o ama… E o mar pode parecer morno para você querido… E o céu pode parecer azul… Se você patinasse… Sobre o gelo fino da vida moderna… Arrastando atrás de você a censura silenciosa… De um milhão de olhos cheios de lágrimas… Não fique surpreso, quando uma rachadura no gelo… Aparecer debaixo de seus pés… Você deslizaria na sua profundidade e sairia fora de si… Com seu medo fluindo atrás de você… Enquanto você arranha o gelo fino. (Gelo Fino)
A metáfora do andar apreensivo sobre o gelo fino que se forma sobre o oceano profundo e misterioso descreve como as próprias estruturas sociais e os condicionamentos demiúrgicos dão origem ao medo da liberdade, que em conjunto com as promessas do amor maternal e da proteção paternal aprisionam a alma numa sensação de segurança. Esta última, ao longo de toda a obra, será provada insuficiente para aplacar a angústia, levando à construção do muro.

O início de Thin Ice introduz os fatores que formam a sensação de segurança que anda de mãos dadas com o autoritarismo, sua única garantia, ao mencionar as figuras paternais e a promessa de um oceano morno e de um céu azul. Adiante, nas canções que seguem, Waters apresenta com mais detalhes a censura e as regras rígidas mescladas com o conforto que premia os que as respeitam e a elas se adaptam. Antes disso, contudo, a saudades do pai e a ânsia de sua recordação reaparecem na forma de uma certa decepção manifestada por uma alma que não compreende ainda os motivos e as razões da existência, o que se converte no primeiro dos tijolos do muro que começa a ser construído.
Daddy’s flown across the ocean… Leaving just a memory… The snapshot in the family album… Daddy what else did you leave for me?… Dad, what you leave behind for me?… All in all it was just a brick in the wall… All in all it was all just bricks in the wall. (Another Brick In The Wall, Pt. 1)
Papai voou através do oceano… Deixando apenas uma memória… A foto no álbum da família… Papai, o que mais você deixou para mim?… Pai, o que mais você deixou para trás para mim?… Foi tudo apenas um tijolo na parede… Tudo foram apenas tijolos na parede. (Outro Tijolo no Muro, Pt. 1)
Esta decepção dá origem à rebeldia da alma em relação ao objetivo de sua existência, que para os gnósticos corresponde ao retorno à unidade com a fonte espiritual originária através do encontro com o eterno que está conciliado na multiplicidade da criação. Mas a alma também começa a se mostrar revoltada com as estruturas sociais, prenunciando o desajuste social que será revelado mais adiante.
When we grew up and went to school… There were certain teachers… Who would hurt the children any way they could… By pouring their derision upon anything we did… Exposing every weakness… However carefully hidden by the kids… (mananical laughter)… We don’t need no education… We don’t need no thought control… No dark sarcasm in the classroom… Teachers leave them kids alone… (The Happiest Days of Our Lives & Another Brick In The Wall, Pt. 2)
Quando nós crescemos e fomos para a escola… Havia certos professores… que machucavam as crianças de qualquer forma possível… Zombando de qualquer coisa que fazíamos… E expondo qualquer fraqueza… Tão bem escondida pelas crianças… (gargalhada mecânica)… Nós não precisamos de nenhuma educação… Nós não precisamos de nenhum controle de pensamento… Nenhum humor negro na sala de aula… Professor, deixe essas crianças em paz… (Os Dias Mais Felizes de Nossas Vidas & Outro Tijolo No Muro, Pt. 2)
Em Mother (Mãe), a verdadeira face da sensação de segurança se revela ao oferecer conforto e proteção em troca da vigilância e do controle pelo medo. Este processo iniciado em Thin Ice culmina com Goodbye Blue Sky (Adeus Céu Azul), onde ocorre o reconhecimento da decepção provocada pela falha do cumprimento da promessa de um admirável mundo novo.
Did you ever wonder?… Why we had to run for shelter?… When the promise of a brave new world… Unfurled beneath a clear blue sky. (Goodbye Blue Sky)
Você já se perguntou?… Por que tivemos que correr em busca de abrigo?… Quando a promessa de um admirável mundo novo… Abriu-se sob um limpo céu azul? (Adeus Céu Azul)
Nada do que a criação demiúrgica ofereceu até agora foi suficiente para aplacar o desconforto da alma que decorre de sua separação do absoluto espiritual, representado na obra pela figura paterna morta na guerra. O vazio primordial que ela sentiu em sua vinda para o espetáculo da matéria – expresso em In The Flesh – aumentou ao invés de diminuir, obrigando a alma a partir em busca de meios para preencher com sensações materiais esta falta que, para os gnósticos, é completamente espiritual.
What shall we use to fill the empty… Spaces where we used to talk… How shall I fill the final places… How shall I complete the wall. (Empty Spaces)
O que devemos usar para preencher vazios… Espaços onde costumávamos falar… Como devo preencher os últimos lugares… Como posso completar o muro… (Espaços Vazios)
Na canção Empty Spaces acontece uma das mais belas cenas do filme de Alan Parker, onde as faces de atração e repulsa provocadas pelo erotismo são mostradas numa representação artística perfeita. De acordo com o gnosticismo, o erotismo é o elemento biológico e espiritual que move o indivíduo na direção da complementação, também biológica e espiritual, oferecendo a possibilidade do reencontro tântrico com a divindade através do prazer sempre crescente em intensidade e sublimidade, ao mesmo tempo em que também apresenta a possibilidade de alienação espiritual devido à concupiscência.
A três canções seguintes, Young Lust (Desejo Imaturo), One of My Turns (Uma de Minhas Crises) e Don’t Leave Me Now (Não Me Deixe Agora), mostram a dificuldade que a alma enfrenta diante dos múltiplos e deslumbrantes prazeres que o erotismo lhe traz através de seus desejos. Contudo, esta dificuldade mostra sua verdadeira face quando a alma constata a impossibilidade de satisfação completa destes mesmos desejos, levando Pink ao desespero, ao aprofundamento da fragmentação de sua identidade e ao consequente rompimento de sua união matrimonial.

Não é demais lembrar que, para muitos grupos gnósticos da antiguidade, havia um sacramento chamado Mistério da Câmara Nupcial, através do qual era possível compreender e trabalhar positivamente com os desejos e com a força erótica, de modo que sua multiplicidade não ocasionasse um mergulho num estado anímico esquizofrênico, mas que servisse de impulso para o encontro do mistério divino conciliado nos matizes do universo material.

Finalmente, depois de tantos sofrimentos, tantos erros e tantas tentativas frustradas de recuperar sua identidade espiritual originária e fugir do medo que de diversas formas lhe foi imposto pela criação material, vem a canção Another Brick in the Wall, Pt 3, onde o personagem começa a consolidar o muro que vem construindo desde a segunda canção, e que representa uma identidade ilusória, chamada pelas tradições orientais e pelos gnósticos contemporâneos de Ego.
I don’t need no arms around me… And I dont need no drugs to calm me… I have seen the writing on the wall… Don’t think I need anything at all…. No!… Don’t think I’ll need anything at all… All in all it was all just bricks in the wall… (Another Brick In The Wall, Pt. 3)
Eu não preciso de braços ao meu redor.. E eu não preciso de nenhuma droga para me acalmar… Eu vi a escrita na parede… Não pense que eu preciso de alguma coisa… Não!… Não pense que vou precisar de algo… Afinal, foram apenas tijolos no muro. (Outro Tijolo Na Parede, Pt. 3)
O Ego é o elemento psíquico responsável pela separação definitiva da alma do mundo espiritual e pelas sensações de auto-suficiência, superioridade e onipotência. Esta separação da alma do Pleroma, termo gnóstico que corresponde ao mundo espiritual, decorre da ausência de Gnosis, o conhecimento (no sentido de lembrança e reconhecimento) de Deus, e pode ser encontrada nas canções seguintes, Good Bye Cruel World (Adeus Mundo Cruel), Hey You (Ei, Você), Is There Anybody Out There (Tem Alguém Aí Fora) e Nobody Home (Ninguém em Casa).

Mas a obra permite entender os sofrimentos que se transformam nas razões pelas quais a alma acaba assumindo o Ego como sua identidade, já que ele oferece a ela a possibilidade de permanecer Comfortably Numb, a música seguinte, que significa “confortavelmente paralisado, entorpecido, insensível e ignorante”. E assim, ela estaria definitivamente livre da sua angústia primordial, das decepções do mundo e da culpa pelos seus próprios erros.

Com a identificação completa da alma com o Ego ocorre um novo nascimento, representado pelo retorno da música In The Flesh (Em Carne e Osso). Nesta encarnação psíquica o personagem principal é um ditador carismático e adorado, distante como a figura paterna morta na guerra, controlador como a figura materna acolhedora e vigilante, autoritário e discriminador como o professor que escarnece os erros dos outros e exigente como a ex-mulher que o abandonou e traiu.

Seu Ego é mostrado emulando as características que formaram seu muro, e esta é a última alternativa da alma para enxergar sua própria ignorância. Inclusive os membros do auditório que assistem ao discurso do ditador gritam “hammer, hammer, hammer”, ou seja, “martele, martele, martele”, representando que mesmo os elementos que formam seu egoísmo oferecem uma alternativa de libertação.

É muito fácil julgar os erros alheios, aqueles que enxergamos à distância, estando nós confortáveis em nossa própria ignorância. Mas quando somos nós os autores dos erros, aí sim temos a possibilidade de enxergá-los In The Flesh, na própria carne, e desta auto-observação virá a oportunidade de quebrar o muro mediante o arrependimento, exatamente o que acontece na canção Stop (Pare):
Do you remember me… How we used to be… Don’t you think we should be closer?… And I put out my hand just to touch your soft hair… To make sure in the darkness that you were still there… And I have to admit… I was a little afraid…  Stop… I wanna go home… Take off this uniform… And leave the show… I’ve been waiting in this cell… Because I have to know… Have I been guilty all this time? (Stop)
Você se lembra de mim… Como costumava ser… Não acha que deveríamos nos aproximar?… Eu estico minha mão pra tocar seu cabelo macio… Para ter certeza que você está aí no meio da escuridão… E tenho que admitir… Eu estava com medo… Pare… Quero ir pra casa… Tirar este uniforme… Deixar o espetáculo… Estive esperando nesta cela… Porque tenho que saber… Tenho sido culpado todo este tempo? (Pare)
No filme, a sequência traz a angustiante cena do julgamento, no qual todos os medos e todos os elementos que ajudaram a construir o muro são trazidos diante de Pink. Curiosamente, ao longo de todo o julgamento ele permanece absolutamente neutro, sem manifestar desespero ou revolta, como se contemplasse serenamente seus erros do passado, aprendendo sobre eles ao invés de sofrer.

Por fim, o muro é destruído por ordem do juiz interior de Pink, o que corresponde à libertação da alma mediante seus próprios esforços de arrependimento, palavra que vem do grego metanoia, e significa mudança de perspectiva. Mesmo que representado de forma bizarra e psicodélica, a figura do juiz representa a figura mítica do Cristo, o elemento salvífico da mitologia gnóstica, que resgata a alma de seu aprisionamento no mundo material e no Ego e a leva à uma reunião com as demais essências divinas no Peleroma, o mundo espiritual, que para Waters é o lado de fora do muro:
All alone, or in twos… The ones who really love you… Walk up and down outside the wall… Some hand in hand… Some gathering together in bands… The bleeding hearts and the artists… Make their stand… And when they’ve given you their all… Some stagger and fall after all it’s not easy… Banging your heart against some mad buggers wall… (Outside The Wall)
Sozinhos, ou em pares… Aqueles que realmente te amam… Caminham pra cima e pra baixo do lado de fora do muro… Alguns de mãos dadas… Outros em bandos… Os de coração aberto e os artistas… Se manifestam… E quando eles tiverem dado tudo de si à você… Alguns tropeçam e caem, afinal não é fácil… Bater seu coração contra o muro de algum maluco indesejado… (Fora do Muro)


 

13 de abr. de 2012

O Diabo Fascinosum

Lygia Aride Fuentes - Instituto Junguiano do Rio de Janeiro

Vou iniciar este trabalho com uma declaração:

“Eu faço um profissão amoral, onde todas as possibilidades humanas podem ser discutidas. Numa profissão como essa você tem que se lambuzar na alma humana! Nada que é próprio do homem pode te estarrecer ou inibir.”

A propósito, essa declaração é da atriz Fernanda Montenegro que nos faz questionar se, como analistas, temos a mesma disponibilidade para acolher imagens tão aterradoras quanto as que se apresentaram a nós. Estou convidando vocês a experimentarem a emoção do encontro com o Diabo, ou seja, com essa imagem que surge autonomamente na psique humana.


A experiência emocional com o Diabo, esse ser monstruoso, nos faz constatar o quanto ele é, também, sagrado e divino. Nas palavras de Rudolf Otto: “O divino, sob forma do demoníaco, é para a alma objeto de terror e de horror. A imagem demoníaca é, também, numinosa por conter em si um mysterium terrible et fascinans. O mistério não é só o espantoso, é também o maravilhoso.” Este é ao mesmo tempo terrível, porque se dá como prufundo choque, e fascinante porque, paradoxalmente, exerce uma atração irresistível.

Jung diz que, mesmo que não possuíssemos nenhuma imaginação para o mal, ele ainda assim nos possuiria. E isso nos fez compreender o que nos ocorreu, pois que nós não procuramos o Diabo, ele é que veio até nós.

Foi mais ou menos assim como nos fala um personagem de Guimarães Rosa:

“Enquanto a gente brincava, descuidoso, as coisas ruins já estavam armando a assanhação de acontecer. Elas esperavam a gente atrás das portas.”3



E foi assim que ele se apresentou num sonho de uma cliente, o primeiro de uma série. Em suas palavras:
“Encontro-me diante de uma grande porta pesada que está se fechando. Isso se dá num rítmo compassado, e conta-se assim: ’1, 2, 3, ...’. No instante em que a porta vai se fechar, num milionésimo de segundo, o Diabo passa por ela, sorrateiramente, e então ela se fecha no compasso de número 4.” Lá do outro lado da porta, ela diz, “sei que é a casa de Deus. E agora sei, também, que Deus e o Diabo se encontram ali reunidos.”

A cliente fica assustada e atônita com esta constatação, pois vivencia este sonho como uma verdade irrefutável, a ponto de sentir necessidade de dividir essa experiência com todo mundo. Ou, como ela diz, “pelo menos com aquelas pessoas que se iludem sobre um Deus que está no Céu, e que o Inferno fica lá embaixo, bem separado.” Não interpretamos este sonho enquanto referido à Sombra Pessoal da cliente, mas à Sombra Arquetípica, a partir da observação de que essa imagem do inconsciente estaria tratando da transformação da visão maniqueísta de Bem e Mal, constelado na consciência dessa cliente a partir da cultura judeu-cristã, onde ela está inserida. Compreendemos essas imagens como uma experiência gnóstica.

Tanto a cliente quanto os gnósticos foram fortemente afetados por experiências íntimas dessa natureza, e essas experiências contêm uma idéia que compensa uma assimetria divina introduzida e preconizada pela Igreja Cristã, influenciada tanto pela doutrina da Privatio boni, ou seja, da idéia do mal apenas como privação do bem, tanto quanto pela idéia de Deus como Summum Bonum, isto é, totalmente bom. Idéias essas que influenciaram toda a cultura Ocidental.

Esse sonho parece compensar a cisão que se deu na divindade Cristã, resgatando uma coniunctio oppositorum, melhor dizendo, uma antinomia interna total em Deus.

A cliente, após este sonho, entrou em contato com um problema profundo, apresentado não racionalmente, que é a relação entre o homem e a Sombra de Deus. Ou seja, aqui, a questão que se coloca é a do Mal Absoluto preexistindo em Deus. Em termos psicológicos, inicia-se uma profunda relação dialética entre o Ego e a Sombra do Arquétipo do SI-Mesmo.

Segundo Jung4, é bem possível que o indivíduo possa reconhecer o aspectorelativamente mau de sua natureza, isto é, confrontar-se com a Sombra Pessoal ou com a Sombra Coletiva, mas defrontar-se com o absolutamente mau, ou seja, com a Sombra Arquetípica, representa uma experiência ao mesmo tempo rara e assustadora. A O mal é uma realidade e não é possível desembaraçar-se dele por meio de eufemismo, de negação ou de projeção, por isso é necessário aprendermos a conviver com ele. E, ainda, como diz Jung: “o Diabo quer participar da vida, mesmo que até a hora atual, ainda é inconcebível como isso será possível, sem maiores danos.”5

Jung também reconhece que há algo intrínsico ao próprio Si-Mesmo que não se coaduna, não se relaciona, e que, fundamentalmente, não se submete a uma hierarquia. Considerar o Si-Mesmo apenas como o centro ordenador da psique é deixar “escapar” este aspecto sombrio do próprio Si-Mesmo, que é o diabólico, o suicida, o terrorista, etc. Ou como diz Hillmann: “atrás da escuridão reprimida e da sombra pessoal (...) existe a sombra arquetípica, o princípio do não-ser, que foi chamado e descrito como o Demônio, o Mal, o Pecado Original, a Morte, o Nada.”6

Isso nos faz pensar nas palavras de Jung quando ele diz ter esperança que o homem possa, APESAR do mal, libertar-se Deo concendente (pela Graça de Deus), ou seja, obter o impossível que só é possível por Graça. Da mesma forma que Jó, que, após ter esgotado racionalmente suas tentativas para compreender seu sofrimento, abandona-se à antinomia divina dizendo: “(...) meus olhos recorrem a Deus, desfeitos em lágrimas, para que Deus defenda o homem diante de Deus”. 7

A partir daquele primeiro sonho, outros vieram, e o Diabo não mais deixou a cliente em paz até que lhe déssemos a devida atenção, até que dialogássemos com ele, até que o acolhêssemos e o entendêssemos. Soubemos, então, que o Diabo tem seus motivos, e podemos afirmar, agora, que eles são bem legítimos.
A questão da existência ou não do Diabo, enquanto uma entidade externa, real, no sentido literal, perdeu, então, a razão de ser. Pois que se tratava, com efeito, e que efeitos!, da experiência emocional com ele. 

Com isso nos limitamos a confirmar a terrível presença da fenomenologia do Diabo na vida e nos sonhos dos homens; sua relaidade transcendental, enquanto realidade psíquica; a evidência de sua sacralidade, e o significado psicológico correspondente a profundos conflitos internos que ele vem representar.

Na compreensão psicológica de Jung, os enunciados religiosos, tais como Deus, Diabo, Espírito, constituem uma realidade psíquica que não se pode duvidar, pois são a expressão de afetos autônomos da alma. Falamos, então, não da existência do Diabo literalmente, mas sim de um fenômeno que tem seu quantum de energia psíquica, ou afeto, constelado num complexo, desligado da consciência, que podemos observar somente através de símbolos ou imagens organizados a partir de estruturas arquetípicas. A imagem do Diabo é sempre uma projeção da experiência emocional, vivida no momento de uma confrontação e uma tensão entre opostos, criada por uma cisão psíquica, e que tem uma função psicológica.

Percorreremos, então, a imagem do Diabo, tal como um espírito ou um daimon, cuja existência jamais poderá ser provada no mundo exterior, nem ser conhecida por via racional.

Jung recomenda que esse daimon, que foi traduzido por demônio sob a influência dos valores cristãos, não seja tomado neste sentido, mas sim, no sentido do vocábulo grego usado por Diotima, quando se dirige a Sócrates, no Symposium de Platão, correspondendo, então, a um poder determinante, sem consciência, que vem ao nosso encontro, tal como o poder da Providência e do destino. Ficando as decisões éticas, resultantes dessa confrontação, relegadas ao próprio homem.

Assim também se faz necessário explicar que o termo espírito é empregado no Oriente com uma conotação metafísica, mas que, no Ocidente, desde a Idade Média, ele perdeu esse sentido e, posteriormente, se diferenciou a partir do pensamento de Kant, filósofo este que influenciou Jung em algumas de suas idéias.

Jung diz: “A psicologia não os considera [os espíritos] como possuidores de valor absoluto, nem também lhes reconhece a capacidade de expressar uma verdade metafísica”.8

Jung nos diz, ainda, que “os enunciados religiosos são uma espécie de confissão da alma, os quais (...) têm suas raízes em processos inconscientes e (...) transcendentais.”9

Ao utilizar o termo transcendental, Jung baseia-se em Kant, referindo-se àquilo que torna possível o conhecimento da experiência e não vai mais além da experiência, diferindo do termo transcendente, que alude ao que se encontra mais além de toda experiência, é incognoscível e, portanto, inominável.
Jung, tal como Kant, nos fala da falta de meios intelectuais que nos permitam verificar a existência de algo transcendental, pois que “a imagem e o enunciado são processos psíquicos que não se confundem com o seu objeto transcendental”.10 Os processos psíquicos não produzem o objeto transcendental, simplismente o indicam. Dito isto, concluimos que menos meios teríamos, ainda, para conhecer o transcendente. Vemos, então, que Jung trabalha com conceitos tais como: o Inominável, Deus, Diabo, Espírito, Realidade, Verdade, como transcendentais, no sentido kantiano, e não num sentido absoluto. Jung constata também o quanto é reduzida a nossa capacidade de representação e as limitações e pobreza de nossa linguagem para apreendermos esses conceitos na sua realidade última.

Encontramos no filósofo Alain Badiou idéias que corroboram as de Jung a este respeito. Sobre a Verdade Alain Badiou diz: “Que a verdade não tenha potência total significa (...) que a língua-sujeito, produção do processo de verdade, não tem poder de nomeação sobre todos os elementos da situação. Deve haver ao menos um elemento real (...) que permanece inacessível às nominações. (...) Chamaremos esse elemento de o inominável de uma verdade.”11

Mais importante ainda, para a nossa discussão, é percebermos a aproximação das idéias de Jung e desse filósofo acerca, não da existência ou não do Mal ou do Diabo no sentido absoluto, mas sobre a origem do Mal, quando Badiou diz que “toda a absolutização da potência de uma verdade organiza um mal.”12

Jung nos ensina sobre as estruturas arquetípicas, que estas são potencialidades, como o arquétipo do Si-Mesmo, e que este, apesar de constituir a potencialidade da totalidade da psique, não é possível ser apreendido enquanto tal. Sabemos com Jung, que só podemos apreender partes ou aspectos do Si-Mesmo quando estes se constelam na consciência. Se entendemos Deus como uma representação desse arquétipo total, podemos considerar o Diabo como o Todo em forma de parte, ou mesmo, a expressão daquela parte que ficou fora do Todo. Dito isto, nos parece, então, que o Diabo não é, em si, o Mal, mas um mal é criado dependendo de como nos relacionamos com qualquer das potências arquetípicas inconscientes. Quando tomamos, por exemplo, a parte pelo Todo, aí se cria um mal.Além do que, com isso, nos aproximamos do perigo da inflação, ou seja, em função da possessão pela hybris, o homem possuído por uma imagem de totalidade corre o risco de entrar num estado de inflação.

Ao pesquisarmos sobre o Diabo, estamos irremediavelmente ligados à religiosidade e à idéia de Deus, contudo, restringimo-nos à idéia de divindade formulada pela religião judeu-cristã.
Como nos diz a historiadora Karen Armstrong: “Sempre que um conceito de Deus deixou de ter sentido ou importância, foi discretamente abandonado e substituído por uma nova ideologia. (...) Apesar de sua transcendência, a religião é muitíssimo pragmática.”13

Acompanhamos as teorias de Jung, a partir de seus estudos sobre o processo da metamorfose nessa divindade judeu-cristã, e compreendemos como esta metamorfose antecipa uma transformação histórica, na consciência ocidental. Através das mudanças ocorridas em Javeh, da criação de um Deus cristão e da atualização desse Deus, na figura de Cristo, o homem acreditou vislumbrar a totalidade da divindade. Ã primeira vista, pode parecer que os homens haviam se libertado das trevas, do inconsciente, mas o que surgiu foi um monoteísmo unilateral: Deus havia se despojado de seus elementos sombrios e nefastos e se tornara o Summum bonum.

O Mal, era, inicialmente, deflagrado pela mão esquerda de Javeh, além do que, o próprio Javeh operava através de inversões tais como a exigência à Abraão para que matasse o próprio filho Isaac, desobedecendo o mandamento “não matarás”; ou como na história de Jacó, onde este, ludibria seu irmão Esaú, e também o pai. Ele luta contra um anjo durante toda a noite e é ferido na coxa. Jacó exige ao anjo que se revele, este o abençoa, então Jacó vê a sua face e vê que é Deus. Com isso, tornou-se um iniciado e recebeu um novo nome: Israel, que significa, aquele que lutou contra o Senhor.

É com esses homens que Deus fará uma aliança, os terá como “o filho eleito” e dará sua proteção. Mas não nos enganemos, pois a natureza dessa aliança com Deus significava responsabilidade, não privilégio. Ou seja, num nível psicológico, essas experiências requerem uma atitude moral do indivíduo que com elas se relacionam. Nas palavras de Jung: “o critério da ação ética não pode consistir no fato de que aquilo que é considerado bom tome o caráter de um imperativo categórico; inversamente, o que é considerado mau não deve ser evitado de modo absoluto.”14

Goethe parece ir ao âmago da questão ao confessar jamais ter ouvido falar de um crime que ele mesmo não fosse capaz de cometer.

Acompanhamos esse jogo de inversões como um exercício fundamental para que não nos esqueçamos e não nos mantenhamos rigidamente acreditando apenas em um dos lados de qualquer história.

Em uma das passagens mais interessantes do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo15, o romancista português José Saramago, apresenta-nos um diálogo entre Jesus, Deus e o Diabo numa barca em alto mar. Jesus ao perguntar ao Diabo se é mesmo verdade que ele, com a finalidade de levar os homens à tentação, atormentava suas pobres vidas, obtem do Diabo a seguinte resposta: “Mais ou menos, limitei-me a tomar para mim o que Deus não quis, a carne, com a sua alegria e a sua tristeza, a juventude e a velhice, a frescura e a podridão, mas não é verdade que o medo seja uma arma minha, não me lembro de ter sido eu quem inventou o pecado e o seu castigo, e o medo que nelas há sempre.” Além do que, Saramago inverte que seja o Bem algo de Deus, e o Mal, do Diabo, quando, ao continuar o diálogo, Jesus pergunta à Deus: “Com quanto de sofrimento e de morte se pagarão as lutas que, em seu nome e no meu, os homens que em nós vão crer travarão uns contra os outros?”. E Deus desfia inúmeros feitos terríveis: atrocidades, carnificinas, torturas, perseguições, guerras, assassinatos e mortes; que, em nome Dele ou pelas suas próprias mãos, já teriam havido e continuariam ocorrendo ao longo da história da humanidade.

Percebemos nesses confrontos entre o homem e essas entidades tais como Deus, anjos, e o Diabo, a presença do numinoso, e a busca de significação que esse conflito moral impõe.

Jung diz que o problema da moralidade e da ética se apresenta psicologicamente ao homem quando, por um lado, ele tem que refletir e agir de acordo com um julgamento moral que esteja em concordância com sua própria consciência, e por outro, estar em relação com as exigências supra-ordenadas do Si-Mesmo, que é capaz de fazer as mais arbitrárias e penosas solicitações. Ele enfatiza que por trás da ação de um homem não se encontra nem a opinião pública nem o código moral, mas a personalidade da qual ele ainda é inconsciente. E é por ela, por esta personalidade inconsciente, que o homem terá que responsabilizar-se.

1 - Tema Livre apresentado no V Simpósio da Associação Junguiana do Brasil, realizado em setembro de 1997, em Belo Horizonte, M.G., baseado na Dissertação O Diabo Fascinosum apresentada ao Instituto Junguiano do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de analista no mesmo ano.
2 - OTTO, Rudolf. O Sagrado. Ed. Edições 70. Série Perspectivas do Homem. RJ. 1992. Pg 49.
3 -APUD, Guimarães ROSA, in O Sertão Místico de Rosa. Caderno Mais do Jornal Folha de São Paulo. SP.30/06/96.
4 - JUNG, Carl Gustav. Aion. Vol.IX/2 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1986. Pg 08.
5 - JUNG, Carl Gustav. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira. 6a Edição. RJ. 1984. Pg 284.
6 - APUD James HILLMANN, in Ao Encontro da Sombra, Connie ZWEIG e Jeremiah ABRAMS (Org.). Ed. Cultrix. SP.1991. Pg 150.
7 - JUNG, Carl Gustav. Resposta à Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 10.
8 - JUNG, Carl Gustav. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental. Vol. XI das Obras Completas. Ed. Vozes. 1983. Pg 481.[O grifo é nosso].
9 - JUNG, Carl Gustav. Resposta a Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 02. [O grifo é nosso].
10 - JUNG, Carl Gustav. Resposta a Jó. Vol. XI/4 das Obras Completas. Ed. Vozes. RJ. 1979. Pg 05.
11 - BADIOU, Alain. Ética - Um Ensaio sobre a Consciência do Mal. Ed. Relume-Dumará. RJ. 1995. Pg 94.
12 - BADIOU, Alain. Ética - Um Ensaio sobre a Consciência do Mal. Ed. Relume-Dumará. RJ. 1995. Pg 93. [O grifo é nosso].
13 - ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus: Quatro Milênios de Busca do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Ed. Companhia das Letras. SP. 1994. Pg 10.
14 - JUNG, Carl Gustav. Memórias,Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira. 6a Edição. RJ. 1984. Pg 284.
15 - SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Ed. Companhia das Letras. SP. 1992. Pgs 380 e 386.


   

31 de mar. de 2012

Saque contra o Futuro

Há uma passagem do livro: A Sublimação de Deus, de autor desconhecido, mas com pseudônimo de Domiciano, cuja seção 5, códice 16 diz textualmente: "Como Deus, Ele se oculta em si mesmo. Para todos os efeitos é o Pai. Como seu duplo, apresenta-se aos possuidores de maior luminosidade, em forma de mulher e, portanto, de Mãe. É a "Divina Mãe Celeste", cercada de anjos, que também traz nos pés, em forma de serpente, a própria Lua. Como Ele só, é o íntegro Sol não conhecido dos homens vulgares. Como ambos, Ele é o Pai-Mãe cósmico. Dele e Dela surgiram os sete pais menores e as sete mães da mesma natureza. Aí reside o grande mistério do "saque contra o futuro", em nossa Cadeia".




 

30 de mar. de 2012

O Arcanjo Rebelde e seus Mistérios



Um post original de Busca Interior

Irmãos! Dizia o Mestre Henrique José de Souza: “Devemos fazer luz sobre tudo aquilo que o povo desconhece”. Portanto, ao iniciarmos nossa palestra, que diz respeito ao ARCANJO REBELDE, LÚCIFER, e seus mistérios, queiram os Deuses que possamos demonstrar que sobre o referido Arcanjo, foram cometidas as maiores injustiças que a ignóbil maldade humana concebeu e praticou. Também pudera! Se crucificaram o próprio Filho de Deus, o que não fariam com o suposto inimigo do referido Deus? Mas, diz o ditado popular: “O Diabo não é tão feio como se pinta”. A este respeito é que vai corresponder o espírito do nosso assunto de hoje, quando faremos uma síntese para todos aqueles cujos valores espirituais os trouxeram até aqui, para escutarem a abordagem que faremos sobre um tema tão vital, tema que criou o germe de quantas filosofias já frutificaram no seio dos povos, e que sempre gerou a dúvida sofrida por todo homem de pensamento, sob a influência de todos os climas, em todas as épocas e porque não dizer, em cada problemática de sua peregrinação; ou seja, o Mistério do Bem e do Mal, ou o cruel dualismo que se manifesta na vida de cada Ser Humano.

No entanto os próprios designativos que nas várias tradições e idiomas vieram a ser atribuídos a esse hipotético “Ser” já permitem ao pesquisador isento induzir sua verdadeira e transcendental natureza e função.
Veja-se por exemplo, sob uma análise etimológica; a expressão:

DIABO - formado pela contração do termo (latino) DEO + o radical AB (sânscrito) = Primeiro, significando o termo, literalmente: o Deus Primeiro ou Primordial;

SATANÁS (do sânscrito) = SAT = Aquele, Aquilo, etc. (como Causa Una manifestada) + UR = Fogo + ANÁS = Veste. Portanto literalmente: Aquele que tem as Vestes Ígneas (aqui com alusão ao “AGNI”, o Fogo Sagrado e também ao Mental, que gera todas as coisas); daí o designativo:

LÚCIFER = LUX (Luz) + FERO (Carregar) - latinos, ou seja: O Portador da Luz (aqui como Mental, Inteligência, etc..); 
 
SATAN - SAT + OM (contração da palavra sagrada AUM), representativa dos 3 mundos, etc., significando alegoricamente: Aquele (UNO) Manifestado nos 3 mundos, Tronos, etc.

Assim, melhor do que pudessem conceber toda a riqueza da retórica humana, expressa um fragmento de antiquíssimo livro (o “Sutra Dharma”) a grandiosidade desse eterno choque ou jogo entre as duas “Forças Cósmicas”; indispensáveis à própria evolução Universal:

Os dois existem. Um como Espirito, outro como Matéria... nenhum dos dois se entendem, porque um anda em busca do outro. O que está em baixo, nunca sobe.... O que está em cima, desce sempre para salvar a sua “Sombra”, sob a tutela do Divino.
A Um sobra esta parte, e a Outro, esta falta...”

“O verdadeiro sentido esotérico acerca de “Satan” e a opinião que sobre este assunto tinham as filosofias antigas, acha-se admiravelmente apresentada em um apêndice intitulado “O Segredo de Satã”, 2ª edição, de “Perfect Way”, do Dr. A. Kinsford, (página 214):

No Sétimo dia (ou criação) produziu-se da presença de Deus um Anjo poderoso, cheio de ardimento, e Deus lhe deu o domínio da esfera extrema. A eternidade produziu o tempo; o ilimitado deu nascimento ao limite; o SER desceu à geração. Entre os Deuses não há nenhum que se assemelhe aquele em cujas mãos estão depositados o Reino, o Poder, e a Glória dos Mundos... pois, como diz Hermés; Satã é o Guardião da Porta do Templo do Rei, e no pórtico de Salomão estão guardadas as Chaves do Santuário, para que não penetre nele Profano algum, mas tão somente os Ungidos que possuem o Arcano de Hermés. Temei-o e não pequeis; pronunciai tremendo seu nome..., pois Satan é o magistrado da Justiça de Deus. Ele tem nas suas mãos a Balança e a Espada... Satan é, em suma, o Ministro de Deus, o Senhor das Sete Mansões dos Hades e o Anjo dos mundos manifestados.

Somente as religiões exotéricas é que ignoram que o LOGOS é o doador do Mental e da Sabedoria, (Lúcifer) ou Satan. “Satan é o Deus de nosso planeta” representa o Deus Único, e isso sem qualquer sombra de perversidade, pois é UNO com o LOGOS... portanto, quando os religiosos maldizem a Satã, maldizem o reflexo cósmico de Deus na Terra.

Sabemos por outro lado que, existe cosmicamente UM MOMENTO EM QUE SAINDO A CAUSA UNA (ou Unidade Primordial) DE SEU ESTADO DE DESCANSO (Pralaya) ou imanifestação, ao iniciar-se uma nova etapa ou grande Ciclo evolutivo, entram esses dois Aspectos (Bem e Mal) em simultânea e necessária atividade.
Eis aí o instante em que um Luzeiro (Dhyan-Choan, Ishwara, Arcanjo etc.) passa a atuar no mundo manifestado, assumindo o papel e função de “Opositor, necessário pólo de confronto ou contraste com o Princípio Criador, Positivo. Embora esse metabolismo possua particularidades próprias a cada um dos estágios evolutivos, representa essa condição aquilo que, genericamente, pode-se chamar de “Queda do Espirito na Matéria”, o que tanto vale por um Luzeiro, com toda sua série tulkuística imediata (compondo sua própria Jerarquia) desligar-se transitoriamente de sua consciência Divina e passar a atuar cegamente nos planos inferiores ou mais densos da Criação.

Veio com isso a suceder um fato que as antigas tradições registram com o nome de “Queda dos Anjos”, a Taraka Raja Maya (Guerra simbólica nos Céus), da tradição indú, etc., ou mais precisamente, a chamada “Queda dos Assuras”, embora que em verdade a referida “Queda” ou projeção nos planos mais densos do Sistema fosse do Superior sideral imediato dos mesmos Assuras, ou seja o QUINTO SENHOR, ou Luzeiro.

No já referido “Sutra Dharma”, relata-se que o SENHOR DOS ASSURAS (Os Assuras são os Seres que iniciaram a evolução na 1ª Cadeia), (LUZBEL), tendo idéias próprias relativamente à orientação a ser dada aos seres da Terra, sonegou seu trabalho ao Eterno, sendo consequentemente, projetado (ou expulso) com suas Hostes Divinas, do Mundo Superior para o novo mundo que surgia das regiões mais densas do Sistema.

Embora perdendo temporariamente sua Consciência Divina e suas dignidades, veio Ele a adotar no mundo humano o patronímico de LÚCIFER.
Literalmente: Aquele que carrega a Luz, o Portador do facho, mas na verdade a Luz da Inteligência, do MENTAL a ser plenamente desenvolvido pelos seres da terra, até as fronteiras de seu ultimo estágio, o Mental Superior, Abstrato, como pródromo da etapa seguinte, a intuição ou Budhi, apanágio do 6º Luzeiro.

Veja-se por exemplo, como até o Apocalipse, livro Canônico de grande credibilidade, não é bastante explícito, chegando mesmo as fronteiras da infantilidade, quando fala a respeito de Satã. (Apocalipse - XII, 7-9; que relata a “QUEDA”).

E houve batalha no céu, Miguel e os seus Anjos combateram com o Dragão, e o Dragão e os seus Anjos combateram, mas não conseguiram levar a melhor e daí por diante não houve no céu lugar para eles. E o Grande Dragão, a antiga Serpente, o sedutor do mundo inteiro, foi precipitado sobre a Terra e com ele foram precipitados os seus Anjos”. Em seguida fala o seguinte: que “o acusador dos nossos irmãos, que dia e noite os acusavam perante Deus, foi precipitado”.

De qualquer forma embora exista sobre o fato uma deliberada Maya lançada pelos grandes Iniciados de todas as épocas remanesce nessa instância a idéia de haver ocorrido uma sonegação ou rebeldia contra a determinação da Lei em completar-se a evolução interrompida na Lua, por entender o 5º Luzeiro, que as formas ou Seres da Terra eram por demais vis e grosseiros para receberem a infusão do principio Mental.

Consequentemente, veio a Lei a realizar um verdadeiro “saque contra o futuro”, lançando mão de seu 6º Raio (Luzeiro) - AKBEL, o qual passou a assumir na terra a função de pólo positivo ou construtivo, alem de arcar com a responsabilidade de reconduzir seu Irmão (O QUINTO) ao Trono que lhe pertence, passando este último, destarte a personificar o pólo opositor, com as conseqüências e implicações já vistas.

Toda essa problemática, relatando a fusão dos ASSURAS com as chamadas “Filhas dos Homens”, a Humanidade incipiente, e as causas verdadeiras da chamada Queda dos Anjos, vêm sendo registradas em vários Livros Sagrados, Tradições, Folclores e Mitologias, entre elas, o famoso “LIVRO DE ENOCH” - em seu Capítulo VI, texto esse que os Judeus e a própria Igreja católica esconderam e retiraram do contexto de seus respectivos Livros Sagrados.



Lúcifer

Começamos por dizer que LÚCIFER significa o Portador da Luz, da Inteligência, da Sabedoria; é o Divino Rebelde, que através de idades sem conta, gerou e manifestou o poder obstaculizante, a fim de gerar na alma humana a força propulsora do progresso e da evolução, força esta que animou a todos os gênios, guias e inspiradores da humanidade. Lúcifer é o Arcanjo que tendo se sacrificado no Cáucaso da vida física ou nos mundos mais concretos da manifestação universal, houve por bem brandir a espada do Conhecimento Superior, a fim de libertar as humanas criaturas do abutre das paixões grosseiras, das negativas inércias, da ignorância e os seus filhos morbosos: a Superstição e o Fanatismo.

De acordo com os ensinamentos da Sabedoria Iniciática das Idades ou Ciência Esotérica, Lúcifer não é o ANTI-CRISTO.


O Anti-Cristo

Este é o fruto, o resultado, a síntese das emoções e pensamentos maléficos de toda a humanidade. Mas, para demonstrar o que acabamos de afirmar, teremos que nos reportar a estes mesmos ensinamentos, para dizer que o pensamento é força cósmica manipulada pelas Hierarquias Criadoras, responsáveis pela criação de tudo quanto existe nos planos da manifestação universal. Portanto, tudo quanto existe, foi precedido pelo pensamento.

Para melhor compreensão da atuação desta força nos Seres Humanos, diremos o seguinte: assim como o Gerador não é a Energia, nem a Música o instrumento musical, nem a lâmpada a luz, do mesmo modo o pensamento não é o cérebro, mas este, o transmissor e o receptor desta força, que na etapa atual da evolução, se manifesta nos Seres Humanos como pensamento, gerador da inteligência em suas várias gradações. O cérebro humano é, portanto, uma antena que capta também pensamentos de seres encarnados e desencarnados que estejam vibrando na mesma faixa de interesses e propósitos. Se carregado de maus pensamentos, tornar-se-á instrumento de mortíferas energias condensadas na atmosfera, pela baixa condição espiritual dos seres humanos. Sabemos que o Espírito Humano está terminando a etapa evolutiva da Quinta Sub-Raça da Raça Ariana, cujo estado de consciência da humanidade inteira é psico-mental; isto é, Mental Concreto intimamente ligado ao Corpo Emocional. Portanto, a hierarquia humana ainda é mais brutalizada do que propriamente humanizada; razão pela qual ainda existe a Inveja, o Orgulho, a Vaidade, o Egoísmo, o Ciúme, a Avareza; enfim, todas as imperfeições da Alma Humana, que impedem a sua marcha ascensional para um futuro melhor.

Nestas condições, cada Ser Humano, pensando e sentindo a já referida ordem de pensamentos e sentimentos, percorrendo em ondas vibratórias o oceano infinito da matéria substancial que constituem os planos universais, adquirem Vida e Forma que lhes são dadas pelos Elementais – forças plasmadoras da matéria – passando a ser Elementares porque foram criados pelo pensamento humano – a continuidade das mesmas ordens de pensamentos e sentimentos – no caso, maléficos - gerados pela Humanidade durante milhares e milhares de anos, deram como resultado poderosíssimas egrégoras – entidades psico-mentais - verdadeiras centrais de energia psico-mental. A unificação de todas estas egrégoras maléficas é que passaram a construir ou a formar o Buda Negro do Oriente e o Anti-Cristo do Ocidente. Este é, portanto, o fruto dos pensamentos e dos sentimentos maléficos, principalmente dos religiosos, supersticiosos e fanáticos que o alimentam a todos instante e a toda hora, como lhe ensinam os maus Pastores ou Pastores sombrios, Pastófaros ou Condutores do Gado Humano.

Se Lúcifer, como o portador da inteligência e Eterno Rebelde porque sempre se rebelou contra a estupidez e a ignorância humana, lançou mão destas egrégoras e lançou-as contra a humanidade, manifestando-se como Justiça Universal, isto não se discute.


O que nos revelam algumas Tradições

O verdadeiro ponto de vista exotérico acerca de “Satã” e a opinião que sobre este assunto tinha toda a filosofia antiga, acha-se admiravelmente apresentada em um apêndice intitulado “O Segredo de Satã”, na 2ª edição de “Perfect Way”, do Dr. A. Kins Ford (pág 214): “No sétimo dia (ou criação) produziu-se da presença de Deus um Anjo poderoso, cheio de ardimento, e Deus lhe deu o domínio da esfera extrema. A eternidade produziu o tempo; o ilimitado deu nascimento ao limite; o Ser desceu à geração. Entre os Deuses não há nenhum que se assemelhe aquele em cujas mãos estão depositados o Reino, o Poder e a Glória dos Mundos; pois, como dizia Hermes, Satã é o Guardião da Porta do Templo do Rei, e no pórtico de Salomão estão guardadas as chaves do Santuário, para que não penetre nele Profano algum, mas tão somente os Ungidos que possuem o Arcano de Hermes. Temei-o e não pequeis; pronunciai tremendo seu nome, pois Satã é o Magistrado da Justiça de Deus. Ele tem nas suas mãos a Balança e a Espada, pois a Ele estão encomendados o NÚMERO, O PESO E A MEDIDA. Satã é, em suma, o Ministro de Deus, Senhor das Sete Mansões do Hades e o Anjo dos mundos manifestados (idem, 214 e 215)”.


Somente as pecadoras religiões exotéricas é que ignoram – ou os seus falsos sacerdotes ávidos de dinheiro e de poder fingem ignorar – que o LOGOS é Sabedoria e também Lúcifer ou Satã. “Satã é o Deus de nosso planeta e o Deus único, e isso sem sombra alguma, nem metáfora de perversidade, pois é uno com o LOGOS. Portanto, quando os religiosos maldizem a Satã, maldizem o reflexo cósmico de DEUS, anatematizam DEUS manifestado na matéria ou no objetivo; maldizem a Sabedoria para sempre incompreensível, revelada como LUZ e SOMBRA, BEM e MAL na natureza, na única forma compreensível à limitada inteligência do Gênero Humano”. Todos os Cabalistas e Simbologistas demonstram suma repugnância a confessar a queda dos Anjos, desde que os teólogos inventaram o Demônio, colocando um véu teológico entre a Humanidade e Lúcifer, a DIVINA ESTRELA, ou seja, O FILHO DA MANHÃ, criaram os mais gigantescos de todos os paradoxos, uma Luz Tenebrosa e Negra.

Todas as tradições religiosas, inclusive a Bíblia, desde o Gênese até o Apocalipse, são unânimes em afirmar que a Queda dos Anjos se deve ao Orgulho, Ambição e Vaidade do Arcanjo Rebelde. Assim sendo, lançando-se mãos dos ensinamentos da Ciência Esotérica, poderemos esclarecer que os citados sentimentos que fazem parte da imperfeita personalidade humana, não podem ser atribuídas a uma CONSCIÊNCIA CÓSMICA; que tal fato ocorreu e ocorre devido a incapacidade das humanas criaturas para compreenderem a Missão de que foi investido pelo próprio LOGOS-DEUS – tão Excelso SER. Esta incapacidade qual nos referimos se deve a diferença de natureza. Enquanto o Ser Humano evolui seguindo a linha da transitoriedade das formas; isto é, NASCE, CRESCE, MORRE, Lúcifer é Eterno. Entretanto, apesar de estar muito acima da linha traçada para a evolução da Hierarquia Humana, a responsabilidade de sua missão junto a referida Hierarquia, o levou a influenciar de tal maneira o Espírito Humano, que este se viu arrastado para uma dualidade poderosa, que poderá receber o nome de Luta – SIM e NÃO, BEM e MAL, pois que é CAINDO E LEVANTANDO QUE SE REALIZA A EVOLUÇÃO, libertando-se das trevas da ignorância para alcançar a Luz da Sabedoria.

A ignorância dos pecadores sacerdotes é que deu origem a todas as formas imensamente horrorosas, que erroneamente se atribuem a LÚCIFER. Enquanto outros mais evoluídos o consideram ALTIVO E BELO; duma beleza Supra Terrestre, de porte altivo e majestoso. Entretanto, a bem da verdade, devemos esclarecer que por diferença de natureza, olhar humano algum jamais o contemplou.

Irmãos! O estudante da Sabedoria Iniciática das Idades compreende que as massas populares necessitam de um freio moral, porque o Ser Humano está sempre ansioso de um céu, de um paraíso e não pode viver sem um ideal qualquer que lhe sirva de um fanal e de consolo. Mas, neste difícil momento de transição de um Ciclo para outro, e o início da Civilização Aquariana, quando começará o detronamento do “DEUS de cada país e a proclamação da única e universal Divindade; o DEUS da imutável Lei, não o DEUS da piedade; mas o DEUS da justiça distributiva; não o DEUS da misericórdia, que é simplesmente um incentivo para se cometer o Mal e reincidir nele”, e se para nós, não há religião superior a verdade, é nossa obrigação primeira, já que a nossa ESCOLA INICIÁTICA, a Confraria Mística Brasileira, seguindo os ensinamentos do Excelso Mestre Henrique José de Souza, vem trabalhando para a formação da elite espiritual (Humanidade), precursora e construtora da Nova Era, é justo que se diga que se a religião em determinados períodos históricos serviu de armadura protetora para o Ser Humano na sua evolução, também é justo que se diga que foi a pior capa, pois bitolou, dogmatizou a alma humana, impedindo o desenvolvimento mental da Humanidade. Contra esta Capa de Hipocrisia, tecida pela mão velhaca dos falsos sacerdotes, ávidos de domínio e poderio, muitos dos quais na época atual fizeram do sacerdócio um emprego, sempre lutaram contra os supostos demônios e grandes pensadores.

Todas as religiões deturparam a verdade primitiva que foi ensinada por todos os Avataras Cíclicos, que diga-se de passagem, nenhum deles fundou religião alguma. “Todas elas foram fundadas pelo interesse mercantil de seus falsos sacerdotes”.

Queremos com isto dar uma conceituação exata, correta e nítida a respeito do Grande Espírito de Luz.

Quando Jeoshua – o Jesus Bíblico afirma: “Vi Satã cair do céu como um raio (Lucas 10:18)”, é uma simples declaração de seus poderes clarividentes e uma referência à encarnação do Raio Divino.

O sistema cristão não é o único que degradou estes Deuses em Demônios (os Suras ou Deuses em Assuras ou não-Deuses).

O Zoroastrismo e ainda o Brahamanismo aproveitaram-se disso para impor-se a mente do povo e escravizá-la. Quando Jeoshua fala às mentes e aos corações dos convertidos à antiga Religião Sabedoria – que outra não é senão a sempre e eterna renovadora Ciência Esotérica – apresentada com uma nova forma pelo respectivo Avatara, os ensinamentos por ele transmitido, foram desfigurados até o ponto de não serem reconhecíveis, do mesmo modo que o foi a sua própria personalidade, estruturada para ser amoldada ao mais cruel e pernicioso dos dogmas teológicos. Vejamos por exemplo, como até o Apocalipse, livro canônico de grande credibilidade, não é o bastante explícito, chegando mesmo as fronteiras da infantilidade quando fala a respeito de Satã. Vale a pena ler (Apocalipse 12:7-9): “E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos combateram com o Dragão, e o Dragão e os seus anjos combateram, mas não conseguiram levar a melhor e daí por diante não houve no céu lugar para eles. E o grande Dragão, a antiga Serpente, o sedutor do mundo inteiro, foi precipitado sobre a Terra e com ele, foram precipitados os seus anjos”. Em seguida, fala o seguinte: “Que o acusador dos nossos irmãos, que dia e noite os acusava perante Deus, foi precipitado”.

Apesar da simplicidade da narração, entretanto, a mesma não nos parece tão clara como deveria ser. Senão vejamos:

a. Por que razão o Arcanjo Miguel ou Mikael, juntamente com os seus anjos, usaram a força para derrotar o Diabo?

b. Será que Deus, que é Onipresente, Onisciente e Onipotente, não poderia ter evitado a luta e com um só gesto de sua vontade, ter afastado o Rebelde?

c. Se Deus é Onisciente, sabia que o epílogo da batalha lhe seria favorável; e se não sabia, o que teria ocorrido se as milícias de Lúcifer vencessem as de Mikael?

d. A maioria das tradições afirmam que lúcifer foi precipitado no abismo, nas trevas, onde posteriormente foi denominado de Inferno. Entretanto, o Apocalipse afirma o contrário, isto é, que o Diabo, o Dragão, juntamente com os seus seguidores, foi precipitado sobre a Terra. É justo relacionar a Terra onde Satã é o príncipe, com o Inferno? Estas perguntas poderão ser respondidas quando dissertarmos a respeito de:


Lúcifer à luz da Sabedoria Iniciática das Idades

Na sua maravilhosa Obra, a Doutrina Secreta, diz a Mestra Helena Petrovna Blavatsky: “Ou aceitamos a emanação do Bem e do Mal, como ramos do mesmo tronco da árvore da existência, ou teremos que nos resignar ao absurdo de CRER em dois ABSOLUTOS ETERNOS”. Para que possamos tentar interpretar tão sábios ensinamentos, teremos que lançar mão de dois ramos da Ciência Esotérica, ou sejam: a COSMOGÊNESE – origem do Cosmo – e a ANTROPOGÊNESE – origem do Ser Humano; ciências que acreditamos, serão ensinadas nas Universidades do futuro porque somente através delas o Ser Humano, pelo menos de maneira geral, virá a saber quem foi, de onde veio e para onde vai. Portanto, de onde viemos? Suponhamos que houvesse um desequilíbrio na correlação das forças cósmicas, um desequilíbrio na mecânica celeste, e que este desequilíbrio provocasse uma catástrofe cósmica que fizesse desaparecer a Terra, a Lua, o Sol, as Estrelas, os Cometas, a poeira sideral, o Som, a Vibração, a Luz; enfim, desaparecesse tudo, absolutamente tudo. Ficaria o quê? Nada ou a não existência. A esta Não Existência é que Moisés, usando a linguajar da época, chamou de águas do abismo e atualmente, a Sabedoria Iniciática das Idades denomina de Substância Primordial. Esta Substância é alguma coisa; porém, na atual etapa evolutiva é incompreensível, mesmo para o Ser Humano considerado sábio. Todavia, a Ciência Esotérica ensina que inerentes a essa não existência ou Substância Primordial, sub-existem 3 Leis fundamentais; ou sejam: LEI CÍCLICA, LEI DA POLARIDADE, LEI DA EVOLUÇÃO. Portanto, obedecendo a LEI CÍCLICA, a não existência passa a ser existência, o não Ser passa a Ser. Usando a linguagem do Dr. A. Kinsford: “A Eternidade produziu o tempo; o ILIMITADO deu nascimento ao LIMITE”.

Neste ponto, todas as grandes religiões são unânimes ao afirmar que quando este Algo algo surgiu, do ILIMITADO para o LIMITE, surgiu de forma trina, assim representada: é OSIRIS, ÍSIS E HÓRUS para os Egípcios; BRAHMA, VISHNU E SHIVA para os Hindus; PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO para os cristãos; PACHACAMAC, INTI E VIRACOCHA, para os Incas; o SUPREMO ARQUITETO para os Maçons ; o SAGRADO PELICANO para os Rosa Cruzes; o LOGOS para os antigos Gregos; enfim, é DEUS no seu aspecto cósmico.

Diz a tradição oculta que do Uno Trino surgiram os Sete Auto-Gerados, que são sete Consciências Cósmicas que vão criar os Mundos, os Seres, as Coisas, as Multidões. Cada uma dessas Consciências cria o seu próprio mundo e nele se infunde; isto é, o DEUS MANIFESTADO na natureza como VIDA ENERGIA da respectiva CADEIA. Quando isso ocorre, quando o ARCANJO está manifestado, constituindo o próprio corpo da Cadeia em evolução, é sempre orientado espiritualmente pelo ARCANJO que vem a seguir, na escala cronológica de Um a Sete, com exceção da Primeira Cadeia, que foi orientada pelo próprio SUPREMO ARTQUITETO; daí dizer a tradição que a Primeira Cadeia é filha das Trevas ou das noites de Brahma. Por exemplo: a Primeira Cadeia foi orientada pelo Supremo Arquiteto. A Segunda Cadeia pelo 3° Arcanjo. A Terceira Cadeia pelo 4°. A Quarta Cadeia deveria ser dirigida pelo 5°, o que não ocorreu (daí a origem de todos os mistérios relacionados com Lúcifer). A 5ª Cadeia pelo 6°. A 6ª Cadeia pelo 7°, e a 7ª Cadeia pelo Supremo Arquiteto, DEUS. É a manifestação voltando a sua origem, ou a Serpente mordendo a própria cauda, da Simbologia Tradicional.

Devido a grandes dificuldades encontradas pelo Dirigente Espiritual da 3ª Cadeia, o 4° Arcanjo, a Cadeia Terrestre inicia a sua evolução com atraso e com bastante deficiência evolucional, razão pela qual as duas Primeiras Raças da referida cadeia – ETÉRIA E HIPERBÓREA – não tiveram desenvolvimento de Estado de Consciência, apenas as formas se transformaram.

Como poderia então, o Portador da Luz, o Senhor da Inteligência, do Mental, encarnar juntamente com os seus Anjos nestas formas primitivas, cujas, não correspondiam ao seu Estado de Consciência? Aí está a razão da revolta, da batalha travada nos céus e da posterior queda dos Anjos de que nos falam as tradições religiosas, que diga-se de passagem, muito mal interpretada. Mas, nos meados da RAÇA LEMURIANA, quando a onda de vida que alimenta a Cadeia Terrestre chegou ao máximo de densificação, houve necessidade de que o Pólo Espiritual se manifestasse em toda a sua potência, o que ocorreu com a vinda para a terra dos 6° e 7° Arcanjos, e que forçou a descida do 5°, após a batalha travada com o ARCANJO MIKAEL, e que levou milhões de anos depois, o Avatara do Ciclo de Pisces a dizer: “Vi Satã cair do Céu como um raio”.

Com a vinda das já citadas Consciências Cósmicas para o Globo Terrestre, grandes modificações ocorreram e que vieram a beneficiar a nascente Humanidade. A sua consciência que estava focada no Sistema Neuro-Vegetativo passou a se desenvolver juntamente com o Cérebro Espinhal para o desenvolvimento do Mental, que é a tônica do Divino Rebelde. Sabemos que a polaridade existe em toda a natureza; entretanto, era necessário que esta polaridade se fizesse consciente no aspecto humano, para o pleno desenvolvimento do Mental Concreto, porque só neste Estado de Consciência é que se concebe o que seja Bem e o que seja Mal. A polaridade foi instituída, ficando o pólo positivo da evolução com o 6° Arcanjo e o pólo negativo com o 5° Arcanjo – Lúcifer; e que deveria durar até o pleno desenvolvimento do Mental Concreto. Lúcifer e seu irmão, o 6° Arcanjo, passaram a ser dois pólos através dos quais girou toda a evolução da criatura humana. “Sem a atuação desses dois pólos, seria o Ser Humano um simples autômato estático, mas não um realizador dinâmico do seu destino”. Enquanto o Pólo Positivo, através de seus Avataras, lançava as diretrizes evolucionais de acordo com as necessidades cíclicas, inspirando, orientando e amparando as humanas criaturas pela tortuosa estrada evolucional, o Pólo Negativo, Lúcifer, através da tentação e do poder obstaculizante, testava o Ser Humano em evolução, a fim de despertar-lhe a força de vontade, a persistência, a atenção, para poderem alcançar admiravelmente a evolução espiritual.

“A historia da tentação no paraíso contada pela Bíblia mostra o efeito da entrada do principio de Lúcifer quando expõe simbolicamente como, por meio da tentação, foram postas à prova a força e a persistência do par humano. “Os que não venceram tal principio, o da tentação, e que ficaram à margem da evolução, somente eles é que apresentam os efeitos do referido Princípio, com as características da vulgaridade e da infâmia, fazendo com que o Divino Rebelde veja nestas criaturas apenas seres que merecem exclusivamente a destruição, e não o amor e o cuidado”. Teve ele ocasião de dizer, segundo as palavras de um Membro da Fraternidade Branca: “Tenho horror a tudo que seja corriqueiro e vulgar”. O atrito entre estes dois pólos – Positivo e Negativo – atuando dentro da alma humana, criando a harmonia dos opostos, e que veio a ser a causa do desenvolvimento Mental Concreto das criaturas humanas, foi sempre uma realização paradoxal, realizada pela luta evolutiva travada entre Lúcifer e seu irmão, o 6° Arcanjo, no campo da batalha da Humanidade.

Disse o Excelso Mestre Henrique José de Souza: “O Mal perseguindo o Bem, ambos caminham para a neutralidade”. Portanto, a consciência do Bem e do Mal existentes na consciência humana, fazem parte dos planos evolucionais, muito embora a prática do bem proporcione felicidade, enquanto a prática do Mal proporcione infelicidade, mas servirá como experiência, embora dolorosa, para o Espírito Humano em evolução, porque é entre Altos e Baixos, entre Luzes e Trevas, que a Lei Evolucional se fará sentir.

Conforme diziam algumas tradições, o Divino Rebelde, Lúcifer, foi investido pelo próprio LOGOS-DEUS da dolorosa e incompreendida Missão de testar o Ser Humano, criar obstáculos evolucionais, a fim de que o referido Ser Humano pudesse distinguir o Bem do Mal, e com isto, ganhar o desenvolvimento do Estado de Consciência Mental Concreto. Os meios usados pelo Divino Rebelde, para dar cumprimento a sua Missão, são assuntos que dizem respeito a Consciência Cósmica, e jamais poderão ser entendidas por uma consciência humana. Entretanto, a Ciência Esotérica ensina, através da Confraria Mística Brasileira que diga-se de passagem, é uma Escola Iniciática constituída de 9 graus, através dos quais, iniciaticamente, o Discípulo se prepara para quando chegar ao 10° grau, preparado esteja para receber ensinamentos que foram deixados pelo Excelso Senhor Henrique José de Souza, ensinamentos que fazem “arder como nunca, chamas de supremas verdades virgens, jamais entrevistas antes, para o deslumbramento das almas ricas, sensíveis aos grandes mistérios da vida”. Mas, dizíamos: o desenvolvimento do Mental Concreto, que começou muito antes da catástrofe atlante, e se desenvolveu por todo o desenrolar da RAÇA ARIANA, no qual teve papel preponderante a dinâmica do ARCANJO REBELDE, no está chegando ao seu final.

Desde o julgamento cíclico de 1956, a Humanidade absolvida pelo referido Julgamento, ainda que inconsciente, ansiosa está pela construção de um mundo melhor; mundo sem violência, sem crimes, sem miséria, sem desonestidade, sem corrupção, sem desamor. Com o advento da Civilização Aquariana e o início do desenvolvimento do MENTAL ABSTRATO, cujas bases estarão inseridas na Mensagem que será lançada pelo AVATARA MAITRÉIA (que é um estado de ser), conceito de Bem e de Mal, que até então serviu como mola propulsora para o desenvolvimento do Mental Concreto, deixará de existir, e a polaridade cósmica no aspecto humano, que foi formada pela influência dos 5° e 6° ARCANJOS, e que gerou a Consciência Humana, estará equilibrada e o ARCANJO REBELDE terá cumprido a sua Missão, quando simbolicamente, os Dois Irmãos estarão bebendo na mesma Taça.


Final

Irmãos! Para finalizar: Os tempos esperados são chegados. Por isso diremos: dia virá em que a Humanidade inteira reconhecerá que se não houvesse o Poder Obstaculizante, ela, Humanidade, jamais chegaria ao ponto em que chegou.

Pretendemos com os esclarecimentos que foram oferecidos, termos feito um ato de suma justiça, libertando os Seres Humanos do DIABO, ao mesmo tempo que livramos LÚCIFER da ignorância humana.


Mário Amazonas Guimarães
“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã.” Apocalipse 22:16
 
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