87 - Disse Jesus: maldito o corpo que depende de um corpo e maldita a alma que depende desses dois.
O corpo do filho depende dos corpos dos pais – e isto é vida perecível; pelos sexos só se engendra uma continuação de corpos mortais, e isto é miséria.
Pelo altruísmo alarga o homem o seu egoísmo próprio para um egoísmo alheio – e isto também é miséria.
Nem pelo egoísmo individual, nem pelo altruísmo social alcança o homem a sua auto-realização, razão-de-ser da sua existência terrestre.
Muitos pensam e proclamam que o homem se salva e aperfeiçoa pela caridade, entendendo por caridade a filantropia e beneficência material, o enchimento de muitos estômagos vazios e o revestimento de corpos nus. Esse altruísmo lhes parece contrário do egoísmo, quando na realidade é apenas um alargamento do egoísmo individual em forma de um egoísmo social. Pois, que fazem esses benfeitores? Fazem bem a muitos egos, em vez de beneficiar um único ego, como faz o egoísta comum. O altruísmo é um “remendo novo em roupa velha”.
O que redime e liberta o homem não é egoísmo nem altruísmo, mas é uma atitude que ultrapassa esses dois.
Quando o homem descobre algo para além do seu ego próprio e para além dos egos alheios, então descobre ele a “verdade libertadora” do seu Eu divino e começa a realizar em si a centelha divina da sua alma, ultrapassando egoísmo e altruísmo.
Verdade é que essa realização da alma pode ser feita através de altruísmo, caridade, filantropia, por serem renúncia ao próprio ego; mas, neste caso, a beneficência material deixou de ser um fim, passando a ser apenas um meio para o fim supremo e único da auto-realização. Quem vive por amor ao seu ego é um egoísta. Quem vive por amor aos egos alheios é um altruísta. Mas nem este nem aquele tem amor ao seu Eu divino, ao seu Cristo, o seu Deus imanente, única razão-de-ser da sua encarnação terrestre.
Ninguém pode realizar o Eu do outro. Cada um só pode realizar o seu Eu próprio. Mas quem realiza o seu Eu próprio e assim se faz bom faz bem aos outros e lhes facilita o caminho para a sua própria auto-realização. Quem atinge a plenitude do ser-bom faz transbordar essa plenitude em benefício dos outros. O único modo de fazer bem aos outros é ser bom em si mesmo.
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