67 - Disse Jesus: Quem conhece o Universo, mas não se possui a si mesmo, esse não possui nada.
O Evangelho, como se vê, é puro auto-conhecimento, que culmina em auto-realização. Todos os grandes Mestres da humanidade, do Oriente e do Ocidente, são unânimes em pôr o auto-conhecimento acima de qualquer alo-conhecimento.
As teologias antigas giram em torno do conceito “salvação”. O conceito salvação sugere uma conotação de escapismo futurista, póstumo, ao passo que o conceito auto-realização é decididamente presentista, compreendendo a vida total do homem, terrestre e celeste; o homem deve iniciar a sua verdadeira realização, o Reino de Deus, interno e externo, aqui e agora, harmonizando a sua consciência mística e sua vivência ética com a Divindade.
Quem só conhece o Universo, mas ignora a si mesmo, conhece muitos nadas; mas quem se conhece a si mesmo, conhece sua alma, que é também a alma do Universo. O homem e o cosmos são concêntricos – o centro de ambos é Deus. Realizar-se é conscientizar Deus em si mesmo e conscientizar Deus no Universo. Realizar-se é Universificar-se.
O homem intelectual – escreve Einstein – descobre aquilo que é (das was ist), mas o homem espiritual realiza em si aquilo que deve ser (das was sein soll); aquele é um descobridor de fatos, este é um creador de valores. Valor é Realidade eterna, fatos são reflexos passageiros. Do substantivo latino factum veio o adjetivo facticium, que mais tarde deu ficticium; quer dizer que os fatos são fictícios e não reais.
Quem conhece o Universo todo conhece mil coisas fictícias, como quem se apoderou de um grande número de zeros: 000000. Mas se conhece a si mesmo possui um valor real, como o “1”. Nenhum zero se pode auto-valorizar, porque representa uma nulidade, uma vacuidade, uma ficção; mas, quando a nulidade do zero se coloca ao lado direito da Realidade “1” , deixa de ser nulidade e adquire quantidade: 1000000. Todos os zeros foram valorizados pelo valor “1”; todas essas nulidades foram desnulificadas e quantificadas pela qualidade.
O homem que crea valores metafísicos em si mesmo pelo auto-conhecimento pode desnulificar as nulidades físicas e valorizá-las.
O homem profano joga só com zeros, é milionário de zeros: 00000000.
O místico isolacionista descobriu o valor “1” e rejeitou os zeros.
O homem-cósmico depois de abandonar os zeros para realizar o “1” e depois revogou do exílio os zeros, construiu a grande síntese: 1000000.
Nesse sentido escreveu Albert Schweitzer: “O cristianismo é uma afirmação do mundo que passou pela negação do mundo”.
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