21 de fev. de 2013

Essência da Vida

63 - Disse Jesus: havia um homem rico que tinha muito dinheiro. E ele disse: usarei meu dinheiro para semear, colher e plantar, e encherei meu celeiro de frutas, para que nada me falte. Era isso que ele sentia em seu coração. E naquela noite ele veio a morrer. Aquele que tem ouvidos que ouça.

Muitas vezes aparecem nos Evangelhos palavras como essas. Daí muitos concluem que os mestres espirituais recomendam a desistência de qualquer trabalho, a total passividade. Nos países orientais, muitas pessoas se guiaram por essa passividade – e acabaram na miséria. Mas, nem por isto, se espiritualizaram.

É necessário saber compreender devidamente palavras como essas. Nenhum grande mestre espiritual recomenda a passividade como supremo ideal de santidade. Krishna, na Bhagavad Gita, recomenda a seu discípulo Arjuna: “Trabalha intensamente, mas renuncia a cada momento aos frutos do teu trabalho”. Lao-Tse, no seu livro Tao, não cessa de repetir: “É necessário agir pelo não-agir”. No Evangelho do Cristo lemos: “Meu Pai age até hoje, e eu também ajo”. E a seus discípulos diz ele: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa merecemos por isto”.

A filosofia oriental reduziu a três as atitudes do homem em face do mundo material: 1) Falso-agir, 2) não-agir, 3) reto-agir.

Sendo que milhões de homens profanos pecam pelo falso-agir, que eles chamam agir, alguns místicos acharam que é preferível o não-agir ao agir. Mas os verdadeiros homens espirituais descobriram uma terceira atitude, que não é falso-agir nem não-agir, mas sim reto-agir.

O falso-agir consiste em agir por amor às coisas do ego, que é um agir condenável, uma vez que o ego é uma ilusão, e não se deve agir por amor a uma ilusão.

O reto-agir consiste em agir por amor ao Eu divino no homem, a fim de realizar Deus no homem, que é auto-realização; embora esse reto-agir seja feito através do ego, que é inevitável, não é feito por amor a esse ego ilusório. É possível exercer qualquer atividade profissional sem ser egoísta; quem age para realizar o seu Eu divino, age corretamente.

Não basta, para esse reto-agir, fazer uma “boa intenção”, que é outra atividade do ego. Agir por amor à alma é agir de dentro da substância total e permanente do seu ser.

Entretanto, é difícil ser sincero consigo mesmo, usar os bens materiais externamente sem ser apegado a eles internamente. É mais fácil abandoná-los também externamente do que ser sincero consigo mesmo, fazendo camuflagem de estar desapegado, quando não se está. Sem nada entramos neste mundo, e sem nada sairemos dele. Mais ai de nós, se não nos tivermos enriquecido internamente! Seremos como aquele “servo mau e preguiçoso”, que devolveu a Deus o que de Deus recebera, sem nada ter creado com o poder creativo da sua alma.

O rico de que fala o texto acima acumulou bens materiais, sem nenhuma realização espiritual.



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