58 - Disse Jesus: bendito o homem que sofreu porque encontrou a Vida.
O sofrimento é o eterno e doloroso enigma da nossa vida e de todas as nossas filosofias. Muitos se tornam descrentes e ateus por causa do problema do sofrimento. Se houvesse um Deus de amor e poder, dizem eles, não poderia ele permitir o sofrimento, sobretudo o sofrimento do inocente.
Entretanto, exatamente o contrário devia ser a nossa conclusão. Os três casos de grandes sofrimentos que encontramos nos livros sacros são sofrimentos de inocentes – e nenhum dos sofredores se tornou ateu ou descrente: Jó, o Cego de nascença e Jesus. São três casos de sofrimento crédito, sofrimento evolutivo; nenhum caso de sofrimento débito, sofrimento punitivo. Com isto, todavia, não queremos negar que possa haver sofrimento débito, sofrimento como punição de pecados.
A suposta incompatibilidade do sofrimento do inocente com a justiça divina é uma das maiores cegueiras da inteligência humana. Exatamente o contrário é verdade: se não houvesse sofrimento, dificilmente poderíamos aceitar a existência de um Deus sábio, justo e bom.
Ultimamente, os maiores cientistas da época, corifeus atômicos, astrônomos e biólogos, elaboraram a chamada “Gnose de Princeton”, em que esse sábios estabelecem a seguinte tese: a alma humana produz o seu corpo material para encontrar “resistência”, indispensável para a evolução do espírito. Resistência é dificuldade, sofrimento.
Este é o Deus dos maiores cientistas da atualidade: o Deus que creou o sofrimento, a resistência. Se Deus fosse um Deus de estagnação ou de involução, não seria necessário haver sofrimento; mas, como Deus é um Deus de evolução, é necessário que haja resistência ou sofrimento.
Verdade é que o Creador creou também creaturas não creativas, creaturas simplesmente creadas, que não necessitam de sofrimento evolutivo. O homem, porém, é uma creatura creadora, e por isto uma creatura que necessita de sofrimento evolutivo.
Como dizíamos, os três casos de sofrimento nos livros sacros são casos de sofrimento evolutivo, que é um argumento pró-existência de Deus, e não um argumento contra Deus, como pensam certos desorientados.
Felizes são pois os sofredores, sobretudo os sofredores inocentes, porque eles acharam a vida, a vida ascensional em plena evolução. Felizes são eles, porque não estagnaram no STATUS QUO, nem involveram rumo ao nada. Felizes, porque o seu sofrimento evolutivo lhes oferece a necessária resistência para intensificarem cada vez mais a sua vitalidade espiritual.
Se, além do sofrimento evolutivo, há sofrimento punitivo, nada tem que ver com Deus; foi o homem que desequilibrou as leis cósmicas, e é ele que tem de reequilibrar essas leis. Todo o débito gera sofrimento.
Também não é certo que todo o sofrimento-débito seja necessariamente pagamento de um débito individual. Há também um débito coletivo da humanidade, e os melhores pagadores duma parcela desse débito alheio são os que não têm débito próprio, os santos, os justos, os homens espirituais, quites com a justiça cósmica. Nem todos os sofredores sofrem por débito próprio, mas também por débito alheio. E, enquanto sofrem por débitos alheios, acumulam também crédito próprio.
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