19 - Jesus disse: “Bendito aquele que era antes de existir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minha palavra, estas pedras vos servirão. Há, pois, cinco árvores no paraíso* que não se movem no verão nem no inverno, e suas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará da morte.
O homem é, na essência divina do seu Ser, antes de existir na existência humana do seu agir. A essência divina da alma vem de Deus; a existência humana vem dos nossos pais e da natureza. A alma é uma emanação individual da Divindade Universal; o corpo material é apenas uma geração transitória.
Quando o homem morre, depois de haver vivido corretamente, imortaliza também o seu corpo, não a matéria, mas a substância imaterial do seu corpo. As cinco árvores do seu paraíso são os cinco sentidos.
Até as pedras e a natureza toda servirão espontaneamente ao homem que se cristificar totalmente; a hostilidade entre a natureza e o homem começou com o despertamento do ego mental, e terminará com o despertamento do seu Eu espiritual. A natureza toda é amiga de Deus, e amiga também do homem divinizado, como mostra a vida de certos homens altamente espiritualizados, como a de Francisco de Assis, e sobretudo do próprio Jesus, que dava ordem aos elementos da natureza e era por ela obedecido.
* Segundo as mitologias hindu e buddhista, as árvores dos desejos ou Kalpadrumas são as cinco árvores celestiais que dão como fruto tudo aquilo que desejamos.
* 1 / Excertos de "Mitologia Cristã"
Manuel João Ramos
Certas temáticas teológicas dualistas, caras ao gnosticismo helênico assim como às tradições sírias e iranianas, valorizam a referência às noções de «invólucro», de «espelho» e de «imagem» no âmbito particular de uma ontologia mística. O recurso a esta literatura permitirá, adicionalmente, circunscrever os contornos que envolvem a figura, quase tutelar nessas tradições, do apóstolo Tomé, e a sua associação com o Preste João, tal como é expressa na Carta.
No logion 84 do Evangelho segundo Tomé, que segundo Henri-Charles Puech constitui uma das passagens mais enigmáticas e fundamentais do texto (Puech, 1978, II:111-112), está escrito: «Jesus disse: vendo a vossa aparência, vós alegrai-vos. Mas vendo as vossas imagens («enhikon»)1, produzidas antes de vós, que não morrem nem se manifestam, muito será o que suportareis» (Puech, 1978, II:23). Evocado o pessimismo do dualismo gnóstico e as ligações e divergências entre a Gnose e o neoplatonismo (Puech, 1978, I:55 segs., 83 segs.), Puech propõe interpretar este aforismo, em confronto com o logion 19 («feliz o que foi antes de o ser; aquele que conhecer as cinco árvores do Paraíso2 não conhecerá a morte»), nos termos seguintes: «(...) o eikon particular de cada Espiritual (individual) é a «imagem» eterna e pré-existente deste: ela é ele próprio tal como era originalmente, no seu princípio, antes da sua aparição no mundo, ele — arriscar-nos-íamos a escrever — tal como pré-existia a si próprio, a sua pessoa inteligível, integral, verdadeira, anterior ao personagem de quem, revestido de carne, ele tomou e conserva atualmente a aparência» (Puech, 1978, II:114)3. No contexto específico do Evangelho, uma dialética ontológica assente sobre a oposição Corpo (corruptível) / Espírito (eterno), sugere a necessidade de conhecer e sofrer a corrupção exterior para a poder negar (renunciando a ela): «Jesus disse: aquele que conheceu o mundo encontrou o corpo, e o mundo não é digno daquele que encontrou o corpo» (logion 80) 4. Porque «o Reino (de Deus) está no interior de vós e no exterior de vós» e porque «quando vós vos conhecerdes sereis conhecidos (por Deus)» (logion 3), este conhecimento é em si condição para a união dos termos contrários (Interior/Exterior, Eu/Outro, Espírito/Corpo, Homem/Divindade). O indivíduo, ao ver a sua alma imortal, ao ver as «imagens» (logion 84) ou ao ouvir as «palavras» escondidas (logia 13 e 108), e ao encontrar-se a si próprio (logion 111), tornar-se-á um com Deus (logion 108), isto é, tornar-se-á «estranho» ao mundo corruptível e à morte (logia 19 e 111).
* 2 / Panchavati — Pequeno bosque onde se praticam disciplinas espirituais; compõe-se de cinco árvores sagradas — uma ashvattha (ou pipal), um baniano, um bel (ou bilva), uma amalaki e uma ashoka — plantadas em círculo, de acordo com as indicações das Escrituras, tendo ao centro um altar. O panchavati do jardim de Dakshineswar foi plantado por Sri Ramakrishna e Hriday.
* 3 / Arvore dos Desejos - No conceito Védico indiano, o Paraíso é composto por Árvores dos Desejos. Basta alguém sentar debaixo de uma delas e desejar qualquer coisa, que imediatamente o desejo se realizará, sem intervalo de tempo entre o desejo e a realização.Conta uma velha lenda que, certa vez um homem estava viajando e acidentalmente, sentou-se embaixo de uma dessas Árvores dos Desejos. Sem nada saber sobre isso e dominado pelo cansaço, o homem pegou no sono, à sombra de sua frondosa copa. Quando despertou estava com muita fome, e então disse: - Estou com tanta fome! Ah, como eu desejaria conseguir alguma comida agora! E imediatamente apareceu um prato de comida à sua frente, vinda do nada, simplesmente uma deliciosa comida, flutuando no ar.Ele estava tão faminto que não prestou atenção de onde viera a comida. Começou a comê-la assim que a viu. Somente depois que sua fome foi saciada é que voltou a olhar ao redor. Outro pensamento surgiu em sua mente: - Se ao menos eu conseguisse algo para beber... Imediatamente apareceram excelentes sucos e vinhos. Bebendo e relaxando na brisa fresca, sob a sombra da árvore, o homem começou a pensar: - O que está acontecendo? O que está havendo? Estou sonhando ou existem espíritos ao meu redor que estão fazendo truques comigo?E diversos espíritos apareceram. O homem começou a tremer e novamente um pensamento surgiu em sua mente: - Serão esses espíritos perigosos?... Logo os espíritos se tornaram nauseantes, ferozes e começaram a fazer gestos ameaçadores para ele. Ai, meu Deus! Agora certamente eles vão me matar! E assim aconteceu...Esta parábola tem apenas um significado: sua mente é a Árvore dos Desejos, e o que você pensa, mais cedo ou mais tarde, há de se realizar. Às vezes o intervalo entre o pensamento e o acontecimento é tão grande que nos esquecemos completamente que, de alguma maneira, desejamos o ocorrido. Mas, se olharmos profundamente, perceberemos que todos os nossos pensamentos, desejos, medos e receios estão criando nossas vidas. Eles criam nosso inferno ou nosso paraíso, criam nosso tormento ou nossa alegria.Todos nós temos mentes "mágicas" capazes de manifestar externamente, nossos desejos e pensamentos. Estamos fiando a trama de nossas vidas, tecendo o mundo dentro e fora de nós, sem ao menos termos consciência disso. Sua vida está em suas mãos. Você pode escolher transformá-la num inferno ou num paraíso. A responsabilidade é toda sua. Isso depende somente de você! (Osho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário