90 – Jesus disse: Vinde a mim, porque o meu jugo é suave e o meu domínio é agradável – e achareis repouso para vós mesmos.
Este convite do Cristo consta, em forma semelhante, de outros Evangelhos.
Surge a eterna pergunta: Como pode um jugo ser suave? Como pode um domínio ser agradável?
Jugo e domínio lembram um dever que o homem tem relativamente a um superior. A expressão "tu deves” lembra sujeição, servidão por parte de um inferior, e lembra também domínio da parte de um superior. Lembra renúncia, que parece o contrário de liberdade.
E como pode alguém ser feliz e achar repouso, enquanto deve algo a alguém e não goza de liberdade própria? Não implica isto numa contradição? O dever, o julgo, a servidão não destroem a liberdade do homem? E como pode ser feliz quem não é livre?
De fato, enquanto o tu deves não coincidir com o eu quero, não há nenhuma solução deste problema.
Mas, como pode o homem querer livremente hoje o que ontem lhe era imposto como um dever compulsório?
Essa metamorfose mágica do dever em querer é impossível enquanto o homem continuar a se identificar com o seu ego humano; mas é possível, quando ele se desidentifica, quando ele se transmentaliza e entra na nova dimensão da identificação com o seu Eu divino, com o seu Deus imanente (S.A.G.).
Somente a transição da ilusória ego-consciência para a verdadeira cosmo-consciência torna possível a transformação do tu deves compulsório no eu quero espontâneo, no jugo suave e no domínio agradável.
Quer dizer que a chave do enigma está na verdade do auto-conhecimento. Enquanto o homem se identifica com o seu ego ilusório, não é possível querer espontaneamente o que ele deve compulsoriamente. Por isto, o Mestre faz preceder essa afirmação pelo convite “vinde a mim”. Quem não se encontrou com o seu Cristo interno, não pode transformar o dever compulsório num querer espontâneo; esse homem pode, no melhor dos casos ser um bom escravo, um doloroso cumpridor do seu dever, um carregador virtuoso do jugo amargo e um servidor forçado sob um dominador alheio. E isto não é encontrar repouso dentro de si mesmo.
O que não se faz por um gozoso querer, mas apenas por um doloroso dever não dá repouso definitivo nem dá garantia de perpetuidade.
Todas as funções da vida humana que a natureza quer ver realizadas infalivelmente são feitas sob o signo do prazer. Se comer, beber, dormir não fossem gostosos, o homem se esqueceria dessas funções básicas do indivíduo. E se as funções sexuais não viessem acompanhadas de prazer, há muito tempo estaria extinto do gênero humano.
Se não houvesse no mundo alguém que fosse jubilosamente bom, não haveria mais religiosidade sobre a face da terra, porque os que são apenas dolorosamente bons, virtuosos, por um maldito dever não oferecem garantia de perpetuidade espiritual. Somente um bendito querer é que garante espiritualidade permanente.
Esse bendito querer é fruto do verdadeiro auto-conhecimento. Quem pode responder à eterna pergunta “quem sou eu?” com as palavras jubilosas: “Eu e o Pai somos um; o Pai está em mim, e eu estou no Pai; as obras que eu faço não sou eu que as faço, mas é o Pai em mim que as faz” – esse sabe o que é jugo suave e domínio agradável, porque age em virtude de um bendito querer.
Esses acharam repouso para a sua alma.
Há homens escravizadamente escravos.
Há homens livremente livres.
E há homens livremente escravos – homens cuja suprema libertação os levou a se tornarem voluntariamente escravos por amor. Preferem sofrer a sua liberdade a gozar a sua liberdade.
Quem puder compreendê-lo, compreenda-o!
+ Uma dimensão diferente
+ Respeitabilidade
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